A leitura literária é capaz de criar espaços para a elaboração e a reelaboração das nossas visões de mundo e da nossa subjetividade. Quando lemos literatura, entramos em contato com uma linguagem distinta daquela que usamos no cotidiano, capaz de dilatar os sentidos da palavra, organizar de forma peculiar os eventos de uma história, oferecer outras perspectivas.
Já está posto que a arte literária é indispensável para pensar a formação integral de crianças e jovens, é parte de um todo essencial que compõe as aprendizagens e o sentido do ensino de Língua Portuguesa na escola. No entanto, mesmo que as orientações curriculares para este componente contemplem cada vez mais a dimensão subjetiva na formação leitora, a abordagem da literatura na sala de aula ainda guarda um caráter predominantemente historiográfico, valorizando em primeiro plano a apropriação de informações sobre contexto, movimentos literários, obras e autores paradigmáticos.
Este especial é um convite para pensar a literatura também como um espaço de transgressão, de desvio do que é ordinário em direção a novos lugares, ao encontro com outros. E formar leitoras e leitores é permitir que esse encontro ocorra, favorecendo uma experiência estética com o texto que conduza suas alunas e alunos a uma ampliação de horizontes, à reflexão crítica e à expressão e afloramento da sensibilidade.
Pensando nesse tema, selecionamos alguns materiais para apoiar a reflexão de professoras e professores sobre as práticas pedagógicas em torno do ensino de literatura e propor caminhos para trabalhar o texto literário com suas turmas.
Planos de aula e projetos de escrita
Conheça planos de aulas e projetos de escrita que proporcionam experiências de formação leitora, apresentando atividades que valorizam a dimensão subjetiva da leitura:
- No plano de aula Leitura literária: debatendo a violência nas escolas por meio da literatura, as autoras Eduarda Rodrigues e Lara Rocha propõem um debate sobre a violência no espaço escolar a partir da leitura do conto "Sons da fala", de Octavia Butler.
- O plano de aula Amizade e intimidade entre garotos em um conto de Mário de Andrade, elaborado pelo professor André Albert, aborda temas sensíveis como a homoafetividade e a sexualidade na adolescência a partir da leitura do conto "Frederico Paciência".
- Confira as atividades propostas por Sony Ferseck em Apresentando a literatura indígena: orientações para a leitura do conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo”, de Yaguarê Yamã e veja como a literatura pode auxiliar na desconstrução de narrativas estigmatizantes e preconceituosas sobre os povos originários.
- No projeto de escrita Booktube: potencializando a leitura literária e as práticas letradas digitais, as professoras Aline Carolino e Lucimere Santos propõem atividades para estimular as práticas de leitura e escrita aproximando e relacionando os campos da literatura e da tecnologia.
- Conheça também o projeto de escrita Nossas vivências e as escrevivências de Conceição Evaristo, das professoras Elaine, Karla e Marilane, sobre uma proposta de leitura das obras dessa escritora que favorece a abordagem de temáticas sociais, de raça e de gênero, além de propor atividades pedagógicas conectadas com a cultura digital.
Dicas e estratégias para abordar o texto literário em suas aulas
Confira artigos e vídeos com sugestões, dicas e estratégias para desenvolver a leitura com suas turmas e engajar estudantes nesta prática:
- Leia o artigo Ensinar leitura lendo, publicado na revista Na Ponta do Lápis, edição nº 22 e saiba mais sobre a leitura protocolada, uma estratégia que pode contribuir para o desenvolvimento da prática leitora de suas alunas e alunos.
- Em Diário de leituras: caminhos de mediação do texto literário no cotidiano escolar, a professora Maria Coelho conta como o diário de leitura pode valorizar as experiências de estudantes com o texto literário e quais são as suas principais estratégias para acompanhar o processo de recepção das obras estudadas com a turma.
- No Episódio 3: Leitor e literatura: encorajar esse encontro, da série Pérolas da Imaculada, esta professora conta como driblou as dificuldades com os temas e os vocabulários desafiadores ao trabalhar obras clássicas com sua turma.
- Confira o texto Aula de português para a formação de leitores, escrito por Margarete Schlatter e publicado na edição nº 31 da revista Na Ponta do Lápis, com alguns pressupostos sobre a leitura e o ensino da leitura para embasar o seu trabalho com alunas e alunos.
- Já no vídeo Níveis de complexidade e seleção de texto para a aula de leitura, também da professora Margarete Schlatter, conferimos dicas de como trazer as melhores leituras para a sala de aula, além de refletir sobre os níveis de complexidade na compreensão de um texto.
- Em Jogo Perigoso: brincando com antecipação e adivinhações do leitor, o autor Luiz Percival Leme Britto reflete sobre as estratégias de leitura da antecipação e da quebra de expectativas ao trabalhar a leitura com estudantes.
- Veja também o que acontece quando a leitura, prática normalmente associada à componente de Língua Portuguesa, encontra a Educação Artística em A bomba da leitura e a leitura da bomba – arte e literatura na escola, de Luiz Percival Britto e Maria José de Oliveira.
Reflexões sobre a formação de leitoras e leitores na escola
Veja artigos e vídeos com reflexões sobre a importância de investir tempo para trabalhar com literatura em suas aulas, os desafios e o papel de mediação de leitura para a formação leitora:
- No artigo A literatura, os jovens e a escola: caminhos para a leitura literária e a formação de leitores, publicado da edição 35 da revista Na Ponta do Lápis, Esdras Soares e Lara Rocha buscam traçar o percurso histórico da interface entre literatura e educação, problematizando o modo como a literatura aparece na sala de aula e compartilhando abordagens possíveis do texto literário com estudantes.
- Assista à entrevista com a professora Vima Lia de Rossi Martin sobre a relação das(os) jovens com a leitura, as possibilidades de abordagem da literatura em sala de aula e algumas indicações de autoras e autores importantes que podem contribuir para a formação contínua de professoras(es) de literatura.
- Em O verbo ler não aceita o imperativo, a autora Gina Vieira apresenta, a partir de sua trajetória como professoras de Língua Portuguesa, uma reflexão sobre a importância de investir tempo e criar espaços para a leitura literária nas aulas.
- Leia as Máximas impertinentes de Luiz Percival Leme Britto, publicadas na edição nº 27 da revista Na Ponta do Lápis, e reflita sobre alguns subentendidos presentes em certos discursos sobre a formação leitora e que, muitas vezes, resultam em perigosos consensos.
- No artigo Algumas reflexões sobre formação de leitores, publicado na edição nº 22 da revista Na Ponta do Lápis, a autora Maria Zélia Versiani Machado reflete sobre as etapas presentes no processo de formar leitoras e leitores, que deve ter início mesmo antes de as crianças estarem alfabetizadas, e os desafios encontrados pelo caminho.
A arte do encontro
A literatura é uma linguagem artística que guarda em si a essência do encontro – com outras(os) e consigo, em espaços-tempo diversos – de modo a promover a empatia, na medida em que nós, leitoras(es), somos convocadas(os) a conhecer e a nos relacionar com realidades diferentes das nossas. Leia artigos, entrevistas e confira algumas aproximações com o texto literário que favorecem esse olhar para a diversidade:
- Conheça a trajetória de Jeane Almeida Macuxi enquanto professora indígena de Língua Portuguesa, sua relação com a literatura e reflexões sobre o ensino e abordagens da Literatura Indígena em seu texto Lê, para se encontrar no mundo: a Literatura Indígena na sala de aula, publicado na edição nº 40 da revista Na Ponta do Lápis.
- No artigo Pela literatura, conhecer jovens indígenas brasileiros, a autora Marina Almeida parte do exercício comparativo de vivências cotidianas de estudantes ao de crianças e jovens apresentadas(os) em obras literárias indígenas como uma forma de conhecer mais sobre esses povos.
- Leia Unindo o discurso à prática: não basta ser antirracista. É preciso ler o que as autoras e autores negros escrevem, de Bel Santos Mayer, publicado na edição nº 39 da revista Na Ponta do Lápis, que reflete sobre o lugar ocupado pela literatura no enfrentamento do racismo e na promoção da igualdade racial.
- Já no artigo Por que trabalhar literatura afro-brasileira na escola?, a autora Lara Rocha apresenta um breve olhar sobre o lugar de negras(os) na literatura brasileira e a importância da escola em se comprometer com uma formação leitora alicerçada na educação antirracista.
- Em Literatura, afeto e comprometimento social: a importância da obra de Conceição Evaristo na educação, a pesquisadora Oluwa Seyi reflete como a obra dessa importante escritora brasileira é capaz de mobilizar reflexões sobre problemas sociais que atingem a comunidade negra.
- Ainda considerando a contribuição da arte literária para o fortalecimento das lutas antirracistas, não deixe de ler o texto A contação de história para o empoderamento da criança negra e a literatura negro-brasileira do encantamento infantil e juvenil: mudanças necessárias de paradigmas, de Kiusam de Oliveira.
- Já na entrevista Slam das Minas: mulheres na batalha poética, as poetas Pam e Carol falam sobre como uma batalha de poesias autorais, exclusiva para vozes femininas, pode se transformar em um espaço seguro para mulheres se expressarem literariamente sobre questões que permeiam suas vidas como assédio, machismo, racismo e maternidade.
- Não deixe de conferir o texto O que é literatura LGBTQIAPN+?, no qual a autora Amara Moira recupera as lutas por visibilidade através da escrita literária ao longo da história de indivíduos com orientação sexual e identidades de gênero que fogem da norma estabelecida por parte da sociedade.
O que pode a literatura?
A literatura é capaz de mobilizar conhecimentos para além da apreensão de informações que organiza e categoriza autoras, autores e suas obras de acordo com os contextos estéticos de seus tempos. A partir da leitura literária é possível desenvolver a escuta atenta de estudantes e uma disposição para conhecer realidades distintas através do outro. Confira as entrevistas com Jeferson Tenório, Bel Santos Mayer e Michèle Petit sobre as potencialidades do trabalho com a leitura literária:
Experiências com rodas de leitura em espaços diversos
Conheça também outras experiências mediadas e alimentadas pela arte literária em espaços diversos que podem inspirar sua prática docente: