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sua aula / planos de aula

Leitura literária: debatendo a violência nas escolas por meio da literatura

Eduarda Rodrigues e Lara Rocha

05 de junho de 2024

Público-alvo:

9º ano do Ensino Fundamental. Pode ser adaptada também para o Ensino Médio.

Duração:

5 a 8 aulas

Alinhamento à BNCC:

3 Competências
3 Habilidades

Público-alvo:

9º ano do Ensino Fundamental. Pode ser adaptada também para o Ensino Médio.

Duração:

5 a 8 aulas

Alinhamento à BNCC:

3 Competências
3 Habilidades

Introdução


Nos últimos anos percebemos que os noticiários foram tomados por episódios devastadores de violência escolar. Nós, atuantes na educação, nos vimos num misto de angústia, impotência e despreparo para lidar com situações que até então pareciam distantes da realidade brasileira. Sabemos bem que para resolver questões estruturais como a violência são necessárias ações coletivas e organizadas de longo prazo, mas não é possível que o tema passe despercebido nas salas de aula. Assim, a partir da literatura, propomos aqui um trabalho de sensibilização. Nosso objetivo não é encerrar o debate, ou resolver a violência escolar, até porque não é tão simples. Mas instigar um olhar cuidadoso para o tema, tendo a literatura afrofuturista de Octavia Butler como um disparador.

***

Octavia E. Butler, em uma imagem da década de 19801

O desejo de criar universos faz parte do espírito que permeia o afrofuturismo2,tendência que tem ganhado cada vez mais força e que foi fortemente influenciada pela literatura de Butler. Podemos observar esse movimento no conto "Sons da Fala" (2019)3.  Neste conto, que é um dos que a autora chamou de “contos de verdade”, Rye (personagem principal) após uma pandemia misteriosa, perde seu marido e filhos, bem como sua capacidade de ler e escrever, e a liberdade de falar. Nessa pandemia, um provável vírus afeta irreversivelmente a aptidão de comunicar-se através da fala e/ou da escrita e, aqueles que conseguiram conservar mesmo que um resquício dessas habilidades, correm um risco ainda maior que os demais, isso porque ao menor sinal de sociabilidade, aqueles que a perderam por completo são dominados por um sentimento incontrolável de ódio e inveja que os leva a um enfrentamento violento cujo resultado é quase sempre fatal. Sendo assim, para Rye restou o silêncio, mesmo quando ela ainda pode falar.

O conto inicia com Rye em meio a uma confusão generalizada em um ônibus e, para se salvar, ela aceita a carona de um desconhecido e viajam juntos em busca da sobrevivência. A descrição aponta para um mundo que parece uma paródia distópica do nosso, em que uma simples viagem para obter suprimentos torna-se uma jornada perigosa.

Outro ponto importante é que só a Rye e duas outras personagens que aparecem no final são nomeadas (ela imagina um nome para o homem que encontra). Nessa realidade criada pela Octavia Butler, a humanidade está desprovida daquilo que a torna única: sua individualidade. Nenhuma instituição funciona e o que impera é a luta pela sobrevivência.

A ausência da linguagem verbal é central para compreender a (des)organização da narrativa e pode mover potentes reflexões em sala de aula. A dificuldade da comunicação enquanto impulsionador da violência, embora em um universo distópico, pode se aproximar, em diferentes aspectos, das angústias presentes no cotidiano escolar. Sobretudo no pós-pandemia, sentimos que o comportamento explosivo, violento, está insistentemente presente na escola. Seja pelo contexto social brasileiro que afeta diretamente nossas(os) estudantes, pelo período de isolamento que mexeu com a socialização, ou pelo afastamento do dia-a-dia escolar, percebemos que crianças e jovens têm sofrido psicologicamente, e a forma de externalizar suas dores se dá raramente pela fala. Esta é uma reflexão complexa, cheia de variáveis e sem soluções imediatas. Assim, um dos caminhos para a abertura de diálogos possíveis pode ser o de promover paralelos entre o mundo distópico de Butler e a realidade pós-pandemia brasileira, possibilitando o olhar para si e para o outro a partir da ficção.

O universo proposto por Octavia Butler tem forte potencial de atrair o interesse dos estudantes: o universo distópico, a trama misteriosa e a narrativa instigante. Por isso, criamos uma sequência didática cujo objetivo é instigar a reflexão sobre o poder da comunicação, violência e sonho, a partir do conto de Octavia e de conceitos como distopia e afrofuturismo. Assim, visamos incentivar a leitura, a alteridade, o olhar para a subjetividade e a interação entre estudantes e docentes.

Por uma mediação de temas sensíveis…

A literatura nos oferece a oportunidade de conhecer o real por intermédio do imaginário e pode, portanto, se constituir como um espaço seguro para explorar temas difíceis na escola.

Para realizar a mediação de obras que abordam questões sensíveis com sua turma é importante:

  • se planejar:

Pensar quem é o público dessa leitura, buscar uma boa apropriação do livro – ou do texto – e das temáticas que ele aborda, além de propor questões que permitam a reflexão, e não apenas uma exploração objetiva da narrativa (quem são os personagens principais, onde a história se passa, etc), fazem parte de um bom planejamento. No caso de as conversas entabuladas com as alunas e alunos tomarem um rumo inesperado ou causarem algum tipo de desconforto (em você, professora(or), ou em alguém de sua turma), retome o diálogo estabelecendo comparações com os elementos presentes na narrativa, ou seja, recorrendo ao universo literário compartilhando no texto que está sendo lido ou discutido.

  • cuidar da construção do espaço de leitura:

Não se trata apenas de buscar um espaço físico que permita as(os) estudantes construírem uma relação mais dialógica com a leitura, como por exemplo um pátio aberto ou uma sala onde seja possível sentar em roda, mas também promover uma escuta aberta, tanto para a voz quanto para o corpo que age e reage às interlocuções com o texto. Validar sensações, experiências e percepções individuais sem avaliar as interpretações da turma, estar preparada(o) e aberta(o) para opiniões divergentes e permitir momentos de silêncio – prescindindo da urgência de sempre preenchê-los – são algumas posturas que você pode adotar nas rodas de leitura.

Recursos materiais necessários


  • Cópias do conto “Sons da fala”, de Octavia Butler, disponibilizado pelo Projeto Cápsula.

BNCC (clique na seta)

Competências Específicas de Língua Portuguesa:

  • Competência específica nº7 
    Reconhecer o texto como lugar de manifestação e negociação de sentidos, valores e ideologias.

  • Competência específica nº8
    Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo, formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho etc.).

  • Competência específica nº9
    Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.


Práticas de linguagem / Objetos do conhecimento:

  • Leitura


Objetos de conhecimento:

  1. Estratégias de leitura;
  2. Apreciação e réplica;
  3. Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção.

Habilidades (clique ou passe o cursor do mouse sobre os códigos das habilidades para ler suas descrições):

EF69LP44   Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.  EF69LP46   Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas, como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias, de leituras dramáticas, de apresentações teatrais, musicais e de filmes, cineclubes, festivais de vídeo, saraus, slams, canais de booktubers, redes sociais temáticas (de leitores, de cinéfilos, de música etc.), dentre outros, tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva e justificando suas apreciações, escrevendo comentários e resenhas para jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão das culturas juvenis, tais como, vlogs e podcasts culturais (literatura, cinema, teatro, música), playlists comentadas, fanfics, fanzines, e-zines, fanvídeos, fanclipes, posts em fanpages, trailer honesto, vídeo-minuto, dentre outras possibilidades de práticas de apreciação e de manifestação da cultura de fãs.  EF89LP33  Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos, fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de forma livre e fixa (como haicai), poema concreto, ciberpoema, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores. 

 

Objetivos gerais


  1. Conhecer a autora Octavia Butler e os conceitos "distopia" e "afrofuturismo" presentes em sua obra.
  2. Realizar uma leitura coletiva do conto "Sons da fala", de Octavia Butler.
  3. Refletir, a partir da leitura literária realizada, sobre a violência que vem acometendo o espaço escolar e abrir um diálogo com as(os) estudantes sobre a escola que elas(es) sonham.

Roteiro de atividades (clique nas setas abaixo)

Roteiro de atividades (clique nas setas abaixo)

1ª Etapa: Octavia Butler: “a grande dama da ficção científica” (1 aula)

Objetivo:

  • Apresentar a biografia e obra de Octavia Butler, considerando o contexto em que viveu e as principais características de suas obras.

 

Atividades:

Em sala, apresente um pouco da trajetória de Octavia Butler. Trazemos aqui algumas informações interessantes:

Conhecida como a Grande Dama da ficção científica, Octavia Butler nasceu em 1947 nos Estados Unidos da América. Filha de uma empregada doméstica e de um engraxate, ela decidiu ser escritora aos 12 anos, após assistir um filme que achou muito ruim e decidir que escreveria uma história melhor. Ao longo da sua carreira, a escritora enfrentou muito preconceito por ser mulher, negra, pobre e, além disso, uma mulher, negra, pobre que escrevia ficção científica.

Mesmo com todos esses desafios, Octavia Butler continuou a produzir, não por talento ou inspiração, segundo ela, mas para praticar. Em seu ensaio de orientação para novos escritores, Furor Scribendi (1993), ela defende que o primeiro passo para a escrita é a leitura, então seu primeiro conselho é:

"Leia. Leia sobre arte, artesanato e o negócio da escrita. Leia o tipo de obra que você gostaria de escrever. Leia boa e má literatura, ficção e realidade. Leia todos os dias e aprenda com o que leu".

Octavia Butler dizia não acreditar em inspiração e talento, mas sim na força do hábito. Assim como defendia que o aprendizado é algo contínuo. Ela se denominava essencialmente como romancista e dizia odiar escrever contos, mas mesmo assim continuava a escrever enfrentando seu desespero e frustração, tendo como resultado dessa perseverança, vez ou outra, um “conto de verdade”.

O vídeo a seguir apresenta um pouco das características literárias de Butler, além de informações sobre sua vida. Embora o áudio esteja em inglês, é possível ativar as legendas em português. Se possível, exiba-o para a turma.

Why should you read sci-fi superstar Octavia E. Butler? (tradução livre: Por que você deve ler a dama da ficção científica Octavia E. Butler?)

Roteiro: Ayana Jamieson e Moya Bailey | Direção: Tomás Pichardo-Espaillat (4 min 14 seg)

2ª Etapa: Conhecendo os “sons da fala” (1 aula)

Objetivo:

  • Propiciar a primeira conexão da turma com o texto a partir da leitura em grupos.

 

Atividades:

1. Divida a sala em grupos. Entregue para cada grupo uma cópia do trecho inicial do conto "Sons da fala" (sugestão: da página 1 até a 4), para que, em um primeiro momento, seja feita uma leitura coletiva do conto. Ao final da leitura, peça que conversem entre si sobre as impressões.

Caso a turma tenha acesso a tablet/computador, disponibilize o texto integralmente para que possam seguir a leitura em casa.

Peça que cada grupo defina uma ou duas pessoas responsáveis por registrar e, em seguida, compartilhar com a turma os pontos que chamaram atenção. Como o conto  escolhido é cheio de nuances, detalhes subentendidos, pode ser interessante uma primeira leitura livre, observando com atenção quais são os pontos destacados pelos grupos.

O conto "Sons da fala" foi publicado originalmente no livro "Filhos de sangue e outras histórias". Imagem retirada do site da editora Morro Branco.

 

2. Instigue o grupo a partir de algumas questões sobre a situação inicial da narrativa:

  • Por que vocês imaginam que começou a confusão?
  • Por que vocês acham que as pessoas não interviram?
  • Para descrever os sons emitidos pelas personagens, a autora utiliza verbos como “guinchavam”, “urravam”, “soltavam ruídos”... que sensação essa escolha lexical transmite?
  • Por que vocês imaginam que ela escolheu estas palavras?
  • Qual é a principal característica dessas personagens?
  • Quais são os elementos que compõem esta obra? Ex.: enredo,  personagens, espaço, tempo e narrador.

É importante que, ao final desta aula, o grupo compreenda de que maneira as informações apresentadas constroem a situação inicial do conto.

 

3. Levante hipóteses entre os grupos sobre o que imaginam ser os próximos acontecimentos da narrativa.

3ª Etapa: O enredo afrofuturista de Octavia Butler (1 a 2 aulas)

Objetivos:

  • Apresentar o conceito “distopia” e “afrofuturismo”, conectando-os com os elementos da narrativa.

  • Dar continuidade à leitura do conto, a partir da estratégia de leitura protocolada.

 

Atividades:

1. Comece a aula retomando oralmente a leitura da aula anterior: do que se lembram?

Talvez alguém já tenha compreendido e compartilhado a hipótese de que as personagens do conto não podem falar. Se tiverem, pergunte que relação a ausência de fala pode ter com o comportamento violento de parte das personagens ou com a situação de destruição que acometeu a cidade.

Caso ninguém tenha falado sobre isso, questione sobre que fator pode ter levado as personagens a se comportarem de maneira tão agressiva no ônibus, local onde se desenrola a situação inicial do conto.

 

2. Apresente para a turma o conceito de distopia. Reflita sobre o mundo distópico apresentado pela autora e sobre quais elementos nos transmitem a sensação de destruição, animalização, autoritarismo e opressão que compõem este universo.

A ideia de um vírus que assola a população, leva à destruição das cidades e, aos poucos, à perda da humanidade, ao mesmo tempo que parece ser muito distante, possui fortes conexões com o que vivemos em 2020. Busque traçar associações que permitam a compreensão de sua turma, reforçando a noção de verossimilhança presente na narrativa.

Busque também dialogar sobre o cenário de violência apresentado e de que maneira ele se aproxima do nosso cotidiano.

 

3. Em seguida, retome elementos já apresentados sobre a autora Octavia Butler e sua proposta literária. Conhecida como a Dama da Ficção Científica, Octavia foi uma das primeiras pessoas a propor o que hoje conhecemos como afrofuturismo. Este é um conceito importante na contemporaneidade e bastante presente na cultura pop – um exemplo são os filmes do herói Pantera Negra.

A partir daí, reintroduza a narrativa e siga a leitura. A leitura em voz alta pode ser um bom caminho de aproximação da turma com a literatura de Octavia. Embora o conto não seja tão curto, vale a pena separar duas aulas para realizar a leitura integral da obra em sala de aula, aproveitando para ressaltar aspectos importantes durante a leitura.

Leitura protocolada

A ‘leitura protocolada’ é uma estratégia interessante: a partir de perguntas feitas durante a leitura, suscitamos a inferência e estimulamos a turma a acionar seus repertórios prévios, articulando com as informações extraídas do texto.

Essa estratégia contempla a habilidade EF69LP44 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que consiste em  “inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.”

Assim, as alunas e os alunos aprendem, aos poucos, a ler as diferentes camadas do texto, expandido a compreensão de seus sentidos.

Leia mais sobre a leitura protocolada no artigo Ensinar leitura lendo, de Magda Soares, publicado na edição nº 22 da Revista na Ponta do Lápis.

 

4. A leitura recomeça a partir da página 5 e pode seguir até a página 21. Faça pausas para estimular a atenção e a compreensão:

  • O que pode ter acontecido para que as pessoas deixassem de falar?
  • Que estratégia as personagens usam para apresentar seus nomes?
  • Qual a relação entre a violência e a incapacidade de falar?
  • Qual é a importância da arma de fogo para Rye?
  • Por que Rye fica com tanta raiva quando descobre que Obsidian sabia ler?
  • Qual era o medo de Rye ao se envolver com Obsidian?
  • O que Rye buscava em Pasadena? Por que ela desiste de ir para lá?

 

5. Levante hipóteses sobre como imaginam que o conto terminará, ou seja, sobre como será seu desfecho.

4ª Etapa: O desfecho da fala (1 a 2 aulas)

Objetivos:

  • Concluir a leitura protocolada.

  • Aprofundar as reflexões sobre a trama.

 

Atividades:

1. Retome a leitura da aula anterior, levantando os principais pontos abordados até então. Hoje, o objetivo é concluir a leitura do conto “Sons da fala”. Leia, seguindo a estratégia da leitura protocolada, as páginas 22 a 28.

 

2. Peça que, durante a sua leitura, mantenham em mãos o caderno e a caneta, a fim de registrarem pontos que chamem a atenção.

Lembre-se de fazer pausas para instigar a leitura a partir de questões:

  • O que possivelmente aconteceu entre a mulher e o homem que estavam correndo na rua?
  • Por que Obsidian decide parar?
  • Que sentimento predominou em Rye quando ela percebe o que aconteceu com Obsidian?
  • Por que Rye cogita não levar as crianças?
  • Por que uma das crianças diz que a outra não deve falar?
  • Qual é a hipótese de Rye com relação ao que motivou a briga entre o homem e a mulher?
  • Para ela, esta raiva que moveu o homem é algo distante e incompreensível ou é um sentimento partilhado por ela em alguns momentos?
  • O que permite o vínculo entre Rye e as crianças?
5ª Etapa: A escola que sonhamos (1 a 2 aulas)

Objetivos:

  • Refletir sobre a violência escolar a partir da leitura do conto “Sons da fala” da Octavia Butler.

  • Dialogar sobre a escola que sonhamos e de que maneira a violência tem nos impedido de construí-la.

 

Atividades:

1. Durante a leitura, muitos aspectos já devem ter sido debatidos, então vale adaptar as questões deste encontro, considerando que o objetivo é aprofundar as reflexões sobre a falta de comunicação e a violência, aproximando do contexto escolar.

Se for viável, você pode realizar esta conversa fora da sala de aula. Escolha um ambiente agradável e acolhedor. Pode ser a sala de leitura, o pátio ou a quadra. O principal é que a turma se sinta envolvida.

Retome coletivamente a narrativa. Busque relembrar aspectos centrais do conto, como personagens, principais acontecimentos, desfecho…

 

2. Em seguida, instigue o grupo a partir de algumas questões sobre a narrativa:

  • Como a autora aborda a questão da linguagem e da comunicação no conto?
  • Qual é o papel dos "Sons da Fala" na história e como isso reflete a mensagem mais ampla do conto?
  • De que maneira o conto aborda questões de poder e opressão em relação à linguagem?
  • Como as personagens principais do conto lidam com os desafios de se comunicar em um mundo onde a linguagem é restrita ou controlada?
  • Existe alguma conexão entre o contexto apresentado, em que a dificuldade de comunicação instiga a violência, e situações presentes no ambiente escolar? Qual?
  • Quais são os paralelos entre a restrição da linguagem no conto e as restrições culturais e sociais que podem contribuir para a violência escolar no Brasil?
  • Como as personagens do conto resistem às restrições de comunicação, e de que maneira essa resistência pode ser relacionada à necessidade de fortalecimento e defesa dos direitos de estudantes no ambiente escolar?
  • De que forma os rumos da narrativa podem servir de inspiração para lidarmos com situações de violência escolar no Brasil?

Este não é um debate simples e pode tocar em pontos sensíveis para a turma. A violência pode atravessar a vida de cada estudante de maneiras muito diferentes, então é importante que o debate seja realizado de maneira acolhedora. O objetivo não é aprofundar em questões individuais, mas sabemos que muitas vezes isso foge do nosso controle, então busque manter a calma e, previamente, já conversar com a equipe gestora sobre o trabalho que será feito. Assim, caso seja necessário, outras pessoas da escola podem apoiar no acolhimento.

A violência pode ser encarada como antônimo do sonho. Quando estudantes sofrem qualquer tipo de opressão, suas aspirações, expectativas, esperanças também são violentadas. Por outro lado, é também o sonho que é capaz de romper com a lógica violenta.

  • Com que escolas sonhamos? De que maneira é possível construí-la?
  • O que nos impede hoje de vivermos a escola que sonhamos?
  • De que maneira a violência tem atrapalhado nossos sonhos?

 

3. Para finalizar, se possível, exiba o vídeo-clipe “Sonho”, de Renan Inquérito e dialogue sobre com a turma.

Direção: Levi Riera Vatavuk | Direção de Fotografia: Leo Kawabe | Produção Musical: Pop Black (5 min, Brasil)

Aqui estão algumas questões que podem ser abordadas em relação a essa música:

  • Qual é a mensagem principal transmitida pela letra da música "Sonhos" de Inquérito e como essa mensagem reflete as realidades sociais e culturais do Brasil?
  • Como Inquérito utiliza elementos musicais e líricos na música "Sonhos" para transmitir uma mensagem de esperança e resistência em face de desafios sociais e políticos?
  • De que maneira as experiências e desafios apresentados na música se relacionam com questões contemporâneas e desafios enfrentados por jovens no Brasil?
  • Como as escolhas líricas e musicais da música contribuem para a construção de um discurso sobre justiça social, igualdade e oportunidades para os jovens no Brasil?
  • Quais são os valores e ideais promovidos na música “Sonhos” que podem inspirar ações e mudanças positivas na sociedade brasileira, especialmente no contexto da juventude e das comunidades periféricas?

Para a escola

Este conto pode promover debates entre diferentes grupos, inclusive, pode ser utilizado nos momentos de formação docente. Além disso, vale compartilhar com a gestão escolar esta cartilha produzida pelo MEC, que apresenta estratégias de promoção de segurança na escola:

ESCOLA SEGURA – Como lidar com conteúdos de violência online e conversar com crianças e jovens sobre o tema

 

 


  1. Imagem disponível no artigo Octavia E. Butler: a ressurreição da grande dama da ficção científica, publicado no jornal El País.
  2. Segundo o dicionário da Academia Brasileira de Letras, o Afrofuturismo é um movimento cultural, estético e político estabelecido a partir da perspectiva negra, que utiliza elementos da fantasia e da ficção científica para construir narrativas que reconhecem e valorizam a identidade, ancestralidade e história negra. Obras afrofuturistas tendem a retratar um futuro imponente, permeado por tecnologias avançadas e próximo da superação do racismo.
  3. Disponivel em: https://viewer.joomag.com/projeto-c%C3%A1psula-sons-da-fala-octavia-e-butler/0561402001568660208

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Cartilha: Escola segura: Como lidar com conteúdos de violência online e conversar com crianças e jovens sobre o tema. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/cartilha_escola_segura.pdf. Acesso em: 21/05/2024.

BUTLER, Octavia Estelle. Kindred: Laços de Sangue. Tradução: Carolina Caires Coelho. São Paulo: Editora Morro Branco, 2019.

_____________________. Sons da fala. In: Filhos de sangue e outras histórias. São Paulo: Editora Morro Branco, 2019. Disponível em: https://viewer.joomag.com/projeto-c%C3%A1psula-sons-da-fala-octavia-e-butler/0561402001568660208/p2?short&. Acesso em: 21/05/2024.

REY, Beatriz R. Vence: Entenda o que foram as Leis Jim Crow nos Estados Unidos, Politize, 2023. Disponível em: https://www.politize.com.br/leis-jim-crow/. Acesso em: 21/05/2024.

75 anos de Octavia E. Butler, a "grande dama da ficção científica", Universidade Federal de Minas Gerais, 2022. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/75-anos-de-octavia-e-butler-a-grande-dama-da-ficcao-cientifica. Acesso em: 21/05/2024.

Sobre as autoras:

Sobre as autoras:

Eduarda Rodrigues é graduada em História pela Universidade Nove de Julho e Educadora Social pelo Senac. Escritora com textos publicados nas coletâneas “Narrativas Periféricas: entre pontes e saberes plurais” (2020), “Carolinas: a nova geração de escritoras negras brasileiras” (2021), “Comunidades e famílias multiespécies: aportes à saúde única em periferias” (2022) e “Micro-uai!” (2023). Em 2023, lançou seu primeiro livro de contos, intitulado “Pedras de Malacacheta”, através da Editora Mondru. Atualmente, Eduarda é graduanda do curso de Letras Português/Francês na Universidade de São Paulo.

Lara Rocha é mestre em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, na área de Literatura Afrobrasileira e Educação Antirracista, e gestora da área de Educação do CEERT. Foi professora de Língua Portuguesa e Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de São Paulo. Além disso, foi por 10 anos coordenadora pedagógica e educadora no Cursinho Popular Florestan Fernandes. Participou da concepção e execução do Projeto Travessia - Remição de pena através da leitura na Penitenciária Feminina da Capital. Atua também como consultora sobre Educação e Diversidade em instituições privadas e do terceiro setor.

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