Público-alvo:
9º ano do Ensino Fundamental. Pode ser adaptada também para o Ensino Médio.
A recente preocupação em trabalhar, por meio da literatura, com temas antes considerados tabu na educação de crianças e jovens representou uma transformação na abordagem escolar. Aborto, morte, guerras, suicídio estão entre os temas que a literatura acadêmica chama de “fraturantes” – ou seja, temas sensíveis. Quando se defende que temas como esses devem ser tratados em sala de aula, o ponto central é desmistificar a ideia de que isso significa fazer apologia deles, ou então de que crianças e jovens ainda não têm maturidade para compreendê-los. Afinal, tais situações podem aparecer a qualquer momento na vida das e dos estudantes, ou mesmo já terem aparecido. Nada mais importante, então, que dar a oportunidade de enfrentá-los com a mediação de uma pessoa docente.
O caso da homossexualidade é ainda mais complicado, dado que se trata não de uma situação traumática ou violenta, e sim da possibilidade de realização afetivo-amorosa de duas (ou mais) pessoas. Nesse sentido, a ideia de “fratura” se aplica quer seja pela existência do preconceito, quer seja por haver um desafio a parâmetros morais por muito tempo sustentados pelos detentores do saber (Gama-Khalil, Borges e Oliveira-Iguma, 2022, p. 9).
Se a literatura é um direito e contribui decisivamente para a humanização (Candido, 2011), o conto “Frederico Paciência”, de Mário de Andrade, trabalhado nesta sequência didática, abre a leitoras e leitores a possibilidade de sentir empatia diante das dificuldades impostas pelos tabus da época ou de compreender as dificuldades da realização homoafetiva no contexto em que o autor escreveu. Esta fresta para a(o) leitora(or) “espiar” o que costuma estar interditado – é aberta pela franqueza e delicadeza com que o narrador-personagem expõe a ambiguidade de seus sentimentos e ações com relação ao personagem que dá nome ao conto.
A preparação docente para abordar em sala de aula a temática da homossexualidade e da amizade íntima entre dois jovens pode ser feita em diálogo com obras contemporâneas, tais como:
Acessar essas e tantas outras obras estimula a reflexão sobre a construção da cumplicidade e do desejo entre pessoas do mesmo gênero e serve de alerta aos danos que o preconceito e o silenciamento sobre o tema podem acarretar.
Dois personagens centrais, algumas situações esparsas vividas por eles, amarradas pela recordação deslumbrada que o narrador-protagonista faz do amigo. “Frederico Paciência” é um conto extenso que, em vez de centrar o foco nas situações narradas, explora tensões presentes na relação entre os personagens. Ou melhor: sugere-as. Se hoje debatemos publicamente – apesar da resistência de parcelas conservadoras da sociedade – a homossexualidade e a homoafetividade, inclusive com jovens, o tema era cercado de interdições na época em que Mário de Andrade escreveu esse conto.
Pardo, solteiro e de classe média, com avós negras dos dois lados da família, o paulistano Mário de Andrade (1893-1945) não se enquadrava no perfil social da maioria dos intelectuais públicos brasileiros da primeira metade do século XX. Dedicou-se profissionalmente como professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo por quase toda a vida, tendo começado a lecionar piano quando ainda se formava nessa instituição, e nela atuou até sua morte, à exceção do período em que morou no Rio de Janeiro, entre 1938 e 1941.
Por maior que seja sua contribuição para a formação musical na capital paulista e para a pesquisa sobre as músicas e os festejos populares brasileiros – com destaque à pioneira Missão de Pesquisas Folclóricas –, foi como escritor que Mário de Andrade se notabilizou para o grande público. Os poemas modernistas de Pauliceia desvairada (1922) e a rapsódia Macunaíma (1928) são suas obras literárias mais reconhecidas, pela inventividade formal de inspiração modernista e reelaboração de mitos e personagens populares ameríndios e brasileiros. No entanto, Mário de Andrade teve também uma extensa produção de contos e crônicas de qualidade.
“Frederico Paciência” é um conto intimista, relatado em primeira pessoa, que traz uma sucessão de recordações sobre situações vividas por dois amigos, avivadas pela admiração do narrador pelo personagem-título. Retrabalhado por Mário de Andrade sucessivas vezes em um período de 18 anos, foi publicado apenas postumamente, em 1947.
Muito se pode especular a respeito da demora do autor em dar forma final a esse texto. Afinal, a ambiguidade da relação entre Juca e Frederico – sintetizada na ideia da “assombração insatisfeita”, ao fim do conto – envolvia um tema tabu à época, a homossexualidade, ainda mais entre adolescentes. Some-se a isso o fato de Juca, o protagonista e narrador da história em questão, ser um personagem recorrente nos contos do autor, quase como um alter ego, ou seja, uma personalidade alternativa de Mário – algo que se torna plausível à luz de sua biografia.
Mário de Andrade (São Paulo, Brasil, 1823 – 1945), Aposta de ridículo em Tefé, 12/06/1927. Acervo pessoal de Mário de Andrade mantido pelo (IEB - USP).
Durante décadas, a orientação sexual de Mário de Andrade foi objeto, ao mesmo tempo, de especulações e apagamentos. Os apelidos pejorativos dados, em vida, por pessoas de seu convívio, como Oswald de Andrade, e os comentários posteriores à sua morte feitos por outras pessoas de seu círculo social, como Rachel de Queiroz, fizeram pairar sobre Mário a sombra do “armário”. O zelo com que estudiosos e estudiosas do autor se esquivaram do tema ao longo da segunda metade do século XX, apesar da presença do homoerotismo em diferentes textos literários dele, apenas reforçou uma espécie de suspeição.
Na profusa troca epistolar de Mário de Andrade com personalidades artísticas de seu tempo podemos entrever questões de sua tão silenciada vida afetiva. A carta de Anita Malfatti a ele de setembro ou outubro de 1923, destruída a pedido da própria (Ionta, 2004, p. 100), tal como o foi a resposta de Mário a ela, seria um primeiro indício de que, ao menos em parte, sua não correspondência aos sentimentos da pintora teria relação com sua sexualidade. Como escreveu Malfatti em 27 de outubro de 1923:
“Ao sentimento exaltado, belíssimo que davas o nome de amizade, Mário, eu correspondi ao pé da letra, mas ultrapassou o limite da amizade e ficou uma coisa terrível, exigente e falsa neste caso… não sou inteligente de coração e custei um pouco mais a compreender. Eis meu erro, meu querido – Outra coisa, não creio em amores fraternais, fora da própria família.” (apud Ionta, 2004, p. 100)
A revelação, em 2015, de um trecho até então censurado de uma correspondência trocada com o poeta pernambucano Manuel Bandeira jogou alguma luz não sobre sua vida amorosa, mas sobre sua maneira de lidar com as intrigas feitas ao redor dela – as quais, diz o escritor paulistano, “não desminto” (apud Braga-Pinto, 2022). O fato é que, apesar da discrição em sua vida afetivo-sexual, o interesse homoerótico e a apresentação pessoal pouco aderida à heteronormatividade da época sustentaram durante toda sua vida essa ambiguidade.
Uma exposição recente realizada no Museu de Arte de São Paulo (Masp) com base no acervo, mantido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), de Mário, revela o seu interesse por pinturas, gravuras e desenhos que exploram as formas do corpo masculino, além de fotografias suas em momentos íntimos e descontraídos nas quais, em lugar de poses formais, o escritor aparece de riso aberto usando, com acessórios e adornos tais como leques.
Grilos paulistas, desenho atribuído a Joaquim Alves Iokanaan. Acervo pessoal de Mário de Andrade mantido pelo (IEB - USP).
Rugby II (dois jogadores), litogravura de Josué Gaboriaud. Acervo pessoal de Mário de Andrade mantido pelo (IEB - USP).
Não é apenas na esfera afetiva que se constrói de Mário a impressão de uma figura angustiada em meio à busca de um equilíbrio entre posições íntimas e imagem pública. Em sua correspondência há muito indícios de seu olhar crítico e seus receios sobre suas possibilidades de atuação como intelectual e como servidor público: afinal, após ter chefiado a partir de 1935, o pioneiro Departamento de Cultura do município de São Paulo, durante a administração de Fábio da Silva Prado, que mantinha ligações com o Partido Democrático, de oposição a Getúlio Vargas, depois, entre 1938 e 1941, trabalhou no Rio de Janeiro com o Ministério da Educação e Saúde comandado por Gustavo Capanema, já sob a ditadura do Estado Novo, que havia exonerado Prado da Prefeitura.
Competências Específicas de Língua Portuguesa:
Práticas de linguagem / Objetos do conhecimento:
Objetos de conhecimento:
Habilidades (clique ou passe o cursor do mouse sobre os códigos das habilidades para ler suas descrições):
EF69LP44 Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção. EF69LP46 Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas, como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias, de leituras dramáticas, de apresentações teatrais, musicais e de filmes, cineclubes, festivais de vídeo, saraus, slams, canais de booktubers, redes sociais temáticas (de leitores, de cinéfilos, de música etc.), dentre outros, tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva e justificando suas apreciações, escrevendo comentários e resenhas para jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão das culturas juvenis, tais como, vlogs e podcasts culturais (literatura, cinema, teatro, música), playlists comentadas, fanfics, fanzines, e-zines, fanvídeos, fanclipes, posts em fanpages, trailer honesto, vídeo-minuto, dentre outras possibilidades de práticas de apreciação e de manifestação da cultura de fãs. EF69LP47 Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo. EF69LP49 Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras produções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor. EF89LP33 Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos, fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de forma livre e fixa (como haicai), poema concreto, ciberpoema, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.
Objetos de conhecimento:
Habilidades (clique ou passe o cursor do mouse sobre os códigos das habilidades para ler suas descrições):
EF69LP51 Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e estilísticas dos textos pretendidos e as configurações da situação de produção – o leitor pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etc. – e considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário. EF89LP35 Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.
Objetos de conhecimento:
Habilidade (clique ou passe o cursor do mouse sobre o código da habilidade para ler sua descrição):
EF89LP37 Analisar os efeitos de sentido do uso de figuras de linguagem como ironia, eufemismo, antítese, aliteração, assonância, dentre outras.
Objetivos:
Atividades:
1. Para a atividade inicial do plano de aula, comece pela preparação para a temática do conto, fazendo as seguintes perguntas à turma:
Registre as respostas dadas no quadro ou em um suporte digital compartilhado com os estudantes.
Então, pergunte a eles sobre o amor entre dois garotos da idade deles: como esse amor é visto hoje? E no passado, será que seria considerado um amor proibido?
Comente que nos próximos encontros a turma vai explorar um conto de amizade profunda entre dois meninos, ambientado há mais de cem anos. Caso algum ou alguma estudante pergunte qual é a história, reforce que o tema principal dela é a amizade entre duas pessoas na juventude, sem criar falsas expectativas a respeito da narrativa: é fundamental que os jovens entendam que, em alguns textos literários, os fatos importam menos do que aquilo de que se fala.
A mediação de temas sensíveis
Não é de hoje que o mundo do imaginário é usado para trabalhar com temas do real – basta pensarmos na tradição das fábulas. A literatura, portanto, não poderia deixar de ter relevância como facilitadora da abordagem de temas sensíveis na escola. Veja algumas sugestões para se preparar para essa mediação:
2. Oriente a turma em relação ao uso do diário de leitura ao longo das aulas seguintes. O suporte material desse diário poderá variar conforme as condições da escola e das alunas e alunos: pode ser uma caderneta avulsa, por exemplo, ou uma nova seção aberta no caderno ou fichário da(do) estudante. Recomendamos, de todo modo, que a escrita seja à mão e não virtual. Comente que a ideia é anotar, ao fim de cada seção de leitura, o máximo de impressões possíveis a respeito do trecho lido, dando opiniões francas, sem se preocupar com o certo ou o errado – aliás, o diário também é espaço para registrar dúvidas. Para garantir a localização das observações feitas, oriente sua turma a sempre anotar a data do registro e o trecho lido. Essas anotações podem ser acompanhadas por desenhos ou colagens, caso assim o desejem.
O diário de leitura é um documento pessoal. Você pode definir como fará o acompanhamento da produção do diário: se apenas folheando, para verificar se as(os) estudantes compreenderam a proposta e mantêm a constância nos registros, ou se fazendo a leitura silenciosa de cada diário, em comum acordo com a turma toda. Essa segunda possibilidade, se por um lado é mais delicada, por outro pode abrir espaço para uma melhor compreensão de como a temática ressoa para cada estudante.
Saiba mais sobre como usar essa estratégia com sua turma no artigo Diário de leituras: caminhos de mediação do texto literário no cotidiano escolar, escrito pela professora Maria Coelho.
Objetivos:
Atividades:
1. Comece a aula perguntando às(aos) estudantes o que sabem sobre o gênero conto. Liste no quadro as características que elas(eles) forem citando.
Pergunte, em seguida, que contos a turma se lembra de ter lido. Anote os textos mencionados em uma coluna separada e questione as(os) estudantes em relação às características elencadas anteriormente: aqueles textos seguem o formato usual do conto?
Saiba mais:
Assista ao vídeo "O que é um conto, como surgiu e dicas para escrever" para saber mais sobre as características dos contos contemporâneos e dicas para a escrita de um bom texto deste gênero.
Produzido por Wlange Keindé para o canal Ficçomos, do Youtube | 11 min 16 seg
2. Uma vez feita essa rememoração sobre o gênero, é hora de iniciar a leitura. Divida a sala em grupos para que as(os) integrantes compartilhem entre si as impressões sobre o texto, com base nas questões propostas no encaminhamento que se segue. O ideal é que cada estudante leia o conto em um suporte individual, seja ele impresso (em cópia avulsa ou no volume de contos), seja digital (tablet, computador etc.).
Inicie questionando a turma a respeito do título do conto: O que eles esperam da história com base nele? Quem é o autor desse conto? Após a leitura dos dois primeiros parágrafos, peça aos grupos que conversem sobre estas questões:
Explique para os(as) estudantes que o conto é narrado por Juca, personagem que também aparece em outras histórias de Mário de Andrade, como “Vestida de preto” e “Peru de Natal”. A primeira relata sua relação com seu primeiro amor de infância, Maria; na segunda, ambientada em uma reunião familiar natalina pouco após a morte do pai, um Juca já adulto faz alusões a Rose, uma mulher com quem ele teria algum tipo de relação amorosa.
Peça à turma que dê continuidade à leitura do conto até o trecho em que Juca e Frederico se despedem diante da casa do narrador (na frase "Só na porta de casa nos separamos, de novo esquerdos, na primeira palavra que trocávamos amigos, aquele ‘até-logo’ torto”). Então, proponha aos grupos que discutam as seguintes questões:
3. Antes de prosseguir com a leitura de “Frederico Paciência”, as(os) estudantes vão produzir individualmente um texto com uma proposta de continuação para o conto a partir dos primeiros parágrafos lidos. Espera-se, portanto, que as alunas e alunos mobilizem as características do gênero conto para redigir um desenvolvimento e uma conclusão tendo como base o trecho já lido do conto de Mário de Andrade.
A produção não deve ser extensa, ocupando de uma a duas páginas manuscritas. Oriente a sua turma a não se limitar a descrições e ações na produção: o conto deve mostrar algo do universo sentimental do narrador-personagem. Além disso, reforce a importância de garantir a coerência com o tempo histórico do conto original: para tanto, se julgar necessário, faça uma atividade coletiva de aquecimento, em que cada estudante deve apontar uma diferença entre os dias de hoje e aquela época em termos de costumes, objetos tecnológicos etc.
Uma vez entregue esta primeira produção – provavelmente, com os mais variados desfechos –, é hora de dar continuidade à leitura. Sua devolutiva a respeito dessa produção será entregue mais à frente e será muito útil não apenas para o aprimoramento das alunas e alunos nas características do gênero conto como também para demonstrar a diversidade de possibilidades que existem para o desenvolvimento narrativo, mesmo em um gênero breve, com base no compartilhamento entre a turma.
4. Após a entrega da versão preliminar da produção textual, oriente a turma a realizar a leitura do conto em casa e, aos poucos, registrar suas impressões pessoais no diário de leitura. Nessas anotações, que devem se iniciar com a data do registro e indicar o trecho que foi lido nesse dia, cada leitora(or) deve se sentir à vontade para comentar os aspectos da leitura que mais chamaram sua atenção, sem necessariamente se ater às questões discutidas em sala. Lembre a turma de que são anotações pessoais, mas que serão lidas por você, professora e professor, e que podem ser acompanhadas de desenhos, colagens, ilustrações, citações.
Objetivos:
Atividades:
1. Conforme a turma avance na leitura, apresente mais questões para os grupos discutirem conjuntamente. Você pode alternar momentos de leitura individual silenciosa com outros de leitura protocolada, a fim de dar ritmo ao desenvolvimento da leitura e destacar à turma aspectos que julgar importantes, por meio da proposição de questões.
A cena em que Juca empresta a Frederico o livro sobre a prostituição na Antiguidade, por exemplo, é um bom momento a ser explorado conjuntamente, não só para verificar se as(os) estudantes entendem o que está acontecendo mas, principalmente, para avaliar se compreendem a ambiguidade das intenções de Juca ao fazê-lo: o narrador-personagem se mostra dividido em relação ao resultado esperado.
No encaminhamento, algumas perguntas que podem ser feitas são:
2. Procure escolher, entre os trechos de leitura protocolada, um em que fique marcado o uso de eufemismos pelo narrador para fazer perguntas sobre o estilo da escrita. Uma situação possível é aquela em que Frederico bate no colega que havia feito insinuações a respeito de sua ligação com Juca.
Objetivos:
Atividades:
1. Uma vez terminada a leitura, peça à turma que apresente suas impressões sobre o conto:
Se considerar produtivo, você pode pedir à turma, antes de apresentar as questões, que releiam as anotações feitas no diário de leitura.
2. Em seguida, retome as características do conto que foram elencadas no início da 2ª etapa, buscando verificar conjuntamente as correspondências com momentos de “Frederico Paciência”. Espera-se, por exemplo, que as(os) estudantes identifiquem que a complicação ou desenvolvimento do conflito ocorre no momento em que Juca beija o nariz do personagem-título, na medida em que isso, nas palavras do próprio narrador, os coloca diante da consciência de que “aquilo ou nos levava para infernos insolúveis, ou era o princípio dum fim”. A alternância entre manifestações afetuosas e rompantes ou brigas intensifica a ambiguidade da relação entre os amigos.
Por sua vez, as(os) estudantes podem identificar como clímax do conto – o que, neste caso, não é algo evidente – a passagem dos últimos dias antes da despedida dos personagens, período que o narrador chama de “dias de noivado”. Ali, a intimidade dos amigos chega ao ponto máximo, logo antes de o distanciamento físico ir se traduzindo em distanciamento afetivo.
Neste momento de encerramento de trabalho com o conto, aproveite para falar mais detalhadamente a respeito do autor, recorrendo às informações presentes no início deste material e a outras mais que porventura selecionar. É importante comentar com sua turma sobre o debate a respeito da orientação sexual de Mário de Andrade, a fim de que eles possam estabelecer relações com o tratamento dado a “Frederico Paciência”.
Objetivos:
Atividades:
1. Devolva às(aos) estudantes a primeira produção que eles fizeram, no início da sequência didática. Esses textos devem ser entregues já corrigidos e com observações. Proponha às alunas e alunos que apresentem à turma, um por um, uma sinopse da história que haviam elaborado. Então, estimule-as(o)s a comparar seus textos com o conto original:
2. Proponha, então, a reescrita individual dos textos preliminares. Nela, as(os) estudantes devem considerar os subsídios obtidos nas discussões e nos textos lidos, podendo ajustar o texto preservando o enfoque inicial ou alterá-lo completamente. O importante é que a produção tematize a relação de afeto e intimidade entre dois garotos ou duas garotas da faixa etária deles, tratando dos limites da amizade ou do amor, e siga as características do gênero conto.
Durante a produção individual em sala, observe como cada aluna e aluno realiza a atividade, andando entre as carteiras com atenção para a eventual necessidade de suporte às(aos) estudantes com mais dificuldade. Uma vez prontos os textos, eles deverão ser novamente corrigidos por você, podendo ser, depois disso, reunidos em uma coletânea publicada digitalmente.
Referências
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Botelho, André; Hoelz, Maurício. “Macunaíma contra o Estado Novo: Mário de Andrade e a democracia”. Novos estudos CEBRAP, v. 37, n. 2, p. 335-357, maio 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/YKgBQgtRPspS3jDNhk6nprp/.
Braga-Pinto, César. “A sexualidade de Mário: menos velocidade, mais paciência”. Iberic@, n. 22, dez. 2022, disponível em: http://journals.openedition.org/iberical/344; acesso em: 14 maio 2024.
Candido, Antonio. “O direito à literatura”. Em: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011, p. 171-93.
Companhia na Educação. Práticas de leitura: mediação de temas fraturantes na literatura. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uR0UK6EjSPw.
Cunha, Bruna Araújo. “Arte de combate: a atuação de Mário de Andrade na Era Vargas”. Alea: Estudos Neolatinos, v. 24, n. 3, p. 137-152, set. 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/alea/a/RbtZngsv6zNLY4GHSSFRmSv/.
Gama-Khalil, Marisa Martins; Borges, Lilliân Alves; Oliveira-Iguma, Andréia de. “Apresentação”. Em: “Espiar pra dentro”: um diálogo por meio dos temas fraturantes. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2022. Disponível em: https://www.dialogarts.uerj.br/wp-content/uploads/2023/01/EspiarPraDentro.pdf.
Ionta, Marilda Aparecida. As cores da amizade na escrita epistolar de Anita Malfatti, Oneyda Alvarenga, Henriqueta Lisboa e Mário de Andrade. Tese (doutorado em História) – IFCH-Unicamp, Campinas, 2004.
Madi, Sônia. “Sequência didática: por que trilhar o caminho proposto”. Na Ponta do Lápis, ano IX, n. 23, dez. 2013. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/revista-digital/artigo/48/sequencia-didatica-por-que-trilhar-o-caminho-proposto.
Moira, Amara. O que é literatura LGBTQIA+. Escrevendo o futuro. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/blog/literatura-em-movimento/o-que-e-literatura-lgbtqia/
Museu de Arte de São Paulo. Mário de Andrade: duas vidas. São Paulo, 2024. Disponível em: https://assets.masp.org.br/pdf/mario_de_andrade.pdf.
Ritto, Cecilia et al. “Carta de Mário de Andrade rompe ‘conspiração do pudor’”. Veja, São Paulo, 20 jun. 2015. Disponível em: https://veja.abril.com.br/cultura/carta-de-mario-de-andrade-rompe-conspiracao-do-pudor.
Schlatter, Margarate. “Aula de português para a formação de leitores”. Escrevendo o Futuro. 7 ago. 2023. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/revista-digital/artigo/84/aula-de-portugues-para-a-formacao-de-leitores.
Soares, Magda. “Ensinar leitura lendo”. Escrevendo o Futuro. 1 ago. 2013. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/revista-digital/artigo/46/ensinar-leitura-lendo.
André Albert é editor, tradutor e elaborador de materiais didáticos, além de professor na rede estadual paulista. Colabora regularmente com editoras como Ática, Boitempo, Edições Sesc, Palavras, Saraiva, Scipione e Ubu, além das revistas Zum e Phenomenal World Brasil.
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