Recursos que aproximam dois textos
Atividades
- Uma das mais marcantes características da linguagem poética é a utilização da linguagem figurada. Vamos agora tratar de três das mais importantes figuras de linguagem: comparação, metáfora e personificação. Nesta oficina, os alunos e as alunas vão identificar, aprender e empregar esses recursos. Para começar, apresente-lhes a segunda parte do programa “Figuras de linguagem”, da série Palavra Puxa Palavra.
- Diga-lhes que vão trabalhar, primeiramente, com um trecho da letra de uma canção infantil feita por um poeta famoso, Vinicius de Moraes. Divida a classe em grupos, e projete o texto “O leão”.
- Pergunte por que no verso “Rugindo como o trovão” o poeta aproxima o rugido do leão do trovão. É provável que falem do barulho do rugido, similar ao trovão. Amplie o comentário e converse sobre força, poder, capacidade de assustar e causar medo. Questione se a comparação também poderia ser estendida a esses aspectos.
- Peça-lhes que grifem a palavra “como” e explique-lhes que se trata de um termo de comparação. Isso ocorre também quando usamos as expressões “é pequeno como uma formiga”, “suas unhas são tão afiadas como as de um gato”. A comparação é uma relação de semelhança entre elementos por meio de termos comparativos, entre os quais: como, qual, feito, que nem, parece etc. Os e as poetas costumam utilizar comparações, instituindo relações de sentido, ora previsíveis, ora inesperadas, entre as palavras.
- Há casos em que o escritor ou escritora elimina o termo comparativo. Por exemplo, em vez de dizer “O leão rugiu como um trovão”, ele prefere: “O leão é um trovão rugindo”. Quando isso ocorre, temos outra figura, a metáfora, como nos três primeiros versos da estrofe seguinte:
- Converse com o grupo sobre os possíveis sentidos desses três versos. Mostre que aqui se sugere uma semelhança; no entanto, o poeta não utilizou nenhum termo de comparação (como, qual, feito etc.). A transição rápida de “goela” para “fornalha” traz várias sugestões: a visão da boca enorme do leão; o efeito tátil da “fornalha”, assim como o ruído imaginário de seu crepitar. O mesmo se aplicaria às outras duas metáforas: “labareda” e “navalha”, esta última com a indicação imaginária de ferimento, corte, sangue etc. Ao aproximar dois substantivos completamente diferentes sem nenhum termo comparativo, a metáfora produz efeitos de sentido que ampliam a significação do texto, as possibilidades de interpretação e suscita perguntas como “o que navalha e labareda têm em comum?”, “o que justifica a aproximação comparativa entre ambas”?
O leão
Leão! Leão! Leão!
Rugindo como o trovão
Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montês.
Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação!
Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.
[…]
Vinicius de Moraes. A arca de Noé: poemas infantis. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
Autorizado pela VM Empreendimentos Artísticos e Culturais Ltda. ©VM.
Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.