Estudo da construção da voz, da organização composicional e dos efeitos de sentido de aspectos linguístico-discursivos

Atividades

  1. Analise com o grupo a construção da voz na crônica (em primeira pessoa: autor-personagem).
  2. Observe com a turma a organização de parágrafos e os efeitos de sentido de tempos verbais e justaposição de orações no texto.
  3. Explore o início e o final da crônica, e levante outras possibilidades para compreender efeitos de sentido pretendidos.
  4. Escreva na lousa as citações a seguir e, após discuti-las com a turma, proponha que, em duplas ou grupos, os alunos apontem na crônica trechos em que a voz do texto (o “eu” da escrita, a persona ficcional) se constitui como a voz do autor empírico (o sujeito social, histórico e ideológico que produziu o texto e que fala de si próprio, do que observa e do que pensa). Você pode perguntar: Que marcas textuais constroem a voz do texto (quem escreve)? Esses trechos poderiam ser também a voz do autor empírico? Qual é o efeito de sentido dessa reciprocidade?
  5. Discuta os trechos apontados pelos alunos, salientando como, na crônica, a construção da voz no texto é essencial para que o diálogo com o leitor seja estabelecido. O pacto de leitura leva em conta que a crônica é um gênero que pode reunir características de realidade e de ficção.
  6. [...] nas crônicas de inscrição subjetiva, há uma voz textual recíproca à identidade do autor empírico, o que verificamos por meio de indícios textuais, entre eles informações biográficas, nome do autor, entre outros. Esse enunciador fala sobre sua identidade, sobre sua trajetória, como acontece em gêneros biográficos – autobiografia, cartas, diários etc. Ao falar de si, o cronista cria uma persona, uma imagem, quase uma personagem [...]. Dessas imprecisões, bem como dos discursos assumidos, pode surgir uma autoficção, um “dizer a si mesmo” que não se aprisiona ao factual, que é, também, criação. (BECKER, 2013a, p. 46)

    [...] por definição [a crônica] não pretende ser ficcional in toto, e portanto [é] um texto da ordem da dissertação no sentido de ser um depoimento de uma voz real, de alguma pessoa real. (FISCHER, 2009, p. 82)

  7. Registre na lousa o quadro a seguir, para analisar o propósito de cada parágrafo e os tempos verbais utilizados. Complete as informações sobre o primeiro parágrafo com a turma, para dar um exemplo, e peça que, em duplas, completem as informações sobre os demais parágrafos. Após, discuta as respostas com a turma.
  8. Parágrafo Propósito Tempo verbal e função
    1 Apresentação da questão: a partir da vontade de fazer uma tatuagem, pergunta sobre a razão de as pessoas quererem fazer uma tatuagem Passado – referir-se a uma ação no passado
    Presente – descrever fluxo de pensamento e narrar um acontecimento no passado
    2 A partir da questão levantada, relaciona a tatuagem com uma geração Presente – descrever fluxo de pensamento
    Passado – apresentar resultado de pesquisa
    3 Relaciona a tatuagem com a necessidade contemporânea de exposição da identidade Presente – refletir sobre os sentidos atuais da tatuagem
    4 Relaciona a tatuagem com a necessidade contemporânea de construir a identidade Presente – refletir sobre os sentidos atuais da tatuagem
    Passado – fala para referir-se a uma tatuagem feita
    5 Expressa a mudança de opinião sobre o sentido atribuído à tatuagem Passado – expressar opinião anterior
    Presente – expressar opinião atual
  9. Analise com a turma as opções da autora para a construção do primeiro parágrafo e os efeitos de sentido provocados pelos tempos verbais e pelas orações justapostas (ao invés de orações coordenadas). Com base nas atividades a seguir, explique os efeitos de sentido do uso do presente histórico, contrastando-o com o uso dos verbos no passado. Discuta também o efeito de sentido do uso de orações justapostas em contraste com orações subordinadas temporais. Confira se os alunos percebem como o uso do presente histórico e a justaposição de orações conferem vivacidade ao texto, convidando o leitor a se colocar na cena descrita como se tivesse presenciando os acontecimentos.
    • “Sou o último ser humano que se imaginava com uma tatuagem” Quais efeitos esse modo de iniciar a crônica pode causar no leitor? Sugira outros modos de começar. Que efeitos poderiam causar?
    • “Por que agora todo o tipo de gente, de todas as idades, quer rosas, nomes de filho, frases em alemão ou robôs guerreiros na pele?” Que efeitos esse modo de finalizar o primeiro parágrafo pode causar no leitor? Sugira outros modos de escrever esse trecho. Que efeitos poderiam causar?
  10. Compare as seguintes versões com o mesmo trecho escrito pela autora. Quais são as diferenças? Em comparação com o original, que efeitos de sentido são perdidos ou acrescentados pelos diferentes modos de dizer?
  11. Um belo dia, no entanto, comecei a pensar em carregar para sempre no braço um tipo específico de árvore, que simbolizaria uma experiência x, muito importante na minha vida, e blá-blá-blá. Instantes depois, estava falando sobre essa vontade no facebook. Estava pedindo opiniões. Estava recebendo incontáveis incentivos. Um conhecido me passou o contato de uma tatuadora que estava com a agenda cheia pelos dez meses seguintes. Um belo dia, no entanto, comecei a pensar em carregar para sempre no braço um tipo específico de árvore, que simbolizaria uma experiência x, muito importante na minha vida, e blá-blá-blá. Logo que surgiu a ideia, falei sobre essa vontade no facebook. Depois de pedir opiniões e receber incontáveis incentivos, um conhecido me passou o contato de uma tatuadora que estava com a agenda cheia pelos dez meses seguintes.
  12. Verifique com a turma as opções da autora para a construção do último parágrafo discutindo as seguintes perguntas: De que modo o texto apresenta a mudança de opinião sobre o sentido de tatuagens? O que a frase “Faz sentido” expressa nesse parágrafo? De que modo a última frase se relaciona com o título da crônica?
    Depois, levante com a turma modos alternativos para:
    • expressar a mudança de opinião da narradora, por exemplo, com expressões referenciais opostas (substantivos e adjetivos); orações justapostas ou subordinadas para marcar o antes e o agora; uma narrativa de ter feito uma tatuagem e o que o corpo dizia antes e diz agora;
    • finalizar a crônica, por exemplo, expressando um sentimento, formulando uma pergunta, marcando uma nova voz para o autor do texto.
  13. Pratique o uso do presente histórico e de orações justapostas na narrativa. Você pode solicitar aos alunos que contem algum acontecimento que vivenciaram usando esses recursos. Eles podem contar oralmente em aula, e depois a turma reflete sobre como esse jeito de contar e descrever uma sequência de ações se relaciona com movimentos do corpo (inflexões de voz, gestos, olhares, etc.) para trazer a cena para o momento atual. Podem também selecionar cenas de filmes e contá-las por escrito (um grupo usa presente histórico e orações justapostas; outro grupo usa verbos no passado e orações subordinadas temporais) para que o outro grupo descubra de que filme é a cena. Depois analisarem em conjunto as diferenças dos modos de narrar.