Oficina 2

Etapa 1

A arte da crônica

A melhor forma de aprender a fazer alguma coisa é observar uma(um) mestra(e) no assunto em ação. Por isso, nesta e em outras oficinas, as(os) estudantes vão ler crônicas de grandes escritoras(es) brasileiras(os). Elas estão neste Caderno e também em sites na web, como o Portal da Crônica Brasileira.

Nesta primeira oficina, o mestre será Tiago Germano. Sugerimos um roteiro para trabalhar a crônica desse autor, que você poderá seguir nas outras oficinas, a cada nova(o) cronista apresentada(o).

Atividades

  1. Pergunte o que a turma já sabe sobre o autor.
  2. Depois de ouvi-los, apresente algumas informações sobre quem é Tiago Germano. O quadro abaixo poderá ajudar.

Tiago Germano

O escritor Tiago Germano nasceu na cidade de Picuí, localizada na região Seridó do estado da Paraíba, em 1982. Ele é jornalista, formado pela Universidade Federal da Paraíba, e foi no jornalismo que iniciou sua escrita de crônicas, desde que se formou, no ano de 2005.

Germano foi o vencedor do Prêmio Sesc de Crônicas Rubem Braga (2017), com o texto intitulado “Óculos Ray-Ban”, escrito em homenagem ao pai. Esta crônica se soma a tantas outras que se encontram reunidas no livro Demônios Domésticos.

Para o escritor paraibano, o cotidiano é um tema que sempre aparece em seus textos, e por isso ele sempre procura não somente anotar aquilo que lhe chama atenção no dia a dia, mas também segue pesquisando, para no momento em que for escrever se sentir mais preparado: “É um aprendizado e treinamento constante, temos que trabalhar muito pela inspiração. Picasso dizia muito isso, que a inspiração existe, mas ela tem que te achar trabalhando”.

Entrevista com Tiago Germano: Portal Correio

1. Por meio de perguntas, explore o título “O papa vai ao banheiro?” – isso vai ajudar as(os) alunas(os) a descobrir as características de um bom título e aprender a criá-lo para as crônicas delas(es).

  1. Esse título chama a atenção do leitor? Por quê?
  2. O que ele sugere?
  3. Pelo título dá para imaginar o assunto da crônica?
  4. Que situação vocês acham que essa crônica vai retratar?
  5. Peça que leiam “O papa vai ao banheiro?” disponível na coletânea deste Caderno.
  6. Pergunte o que mudou sobre a percepção do texto após a leitura. Em seguida, faça comentários sobre essa diferença. Utilize como apoio o texto “Buscando sentido”, disponível abaixo.

Buscando sentido

Para ler um texto, não basta identificar letras, sílabas e palavras; é preciso buscar o sentido, compreender, interpretar, relacionar e reter o que for mais relevante.

Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar informação, ampliar conhecimento, meditar, entreter-nos. O objetivo da leitura é o que vai mobilizar as estratégias que o leitor utilizará. Sendo assim, ler um artigo de jornal é diferente de ler um romance, uma história em quadrinhos ou um poema.

Ler textos traz desafios para as(os) alunas(os). Para vencê-los é fundamental a mediação docente, que deve ajudá-los a compreender, gradativamente, diferentes gêneros textuais por meio da leitura individual e autônoma. Algumas estratégias podem facilitar essa conquista: uma delas é a leitura cativante, emocionada, enfática, feita pela(o) professora(or); outra, ouvir os áudios dos textos disponíveis neste Caderno.

Contudo, ouvir textos lidos em voz alta não pode substituir a leitura das(os) estudantes, pois são jeitos diferentes de conhecer um mesmo texto. Além disso, é papel da escola desenvolver habilidades de leitura.

2. Depois de ler e acompanhar a leitura da crônica de Tiago Germano, é hora de questionar o que a crônica provocou na turma:

  1. Deixe que falem livremente: se gostaram, se não gostaram, se eles se surpreenderam, ou se emocionaram, ficaram com raiva… Abra espaço, neste momento inicial, para depoimentos livres, bem do campo das sensações mesmo.
  2. Alguém já viveu uma situação como a descrita na crônica? Ou conhece outra pessoa que vivenciou algo parecido?
  3. Há algo que ficou difícil de entender?
  4. Quem gostaria de citar um trecho curioso da crônica?
  5. Você consegue identificar no texto os momentos em que o autor utilizou humor?
  6. Quais são os personagens que aparecem na história? O autor se faz presente? Sua história compõe parte da crônica? Destaque os trechos que apontam isso.
  7. Ofereça a análise do texto abaixo. Assim, a turma poderá compará-la com sua própria interpretação da crônica.

Sobre: O papa vai ao banheiro?

Só pelo título da crônica de Tiago Germano já é possível reconhecer o humor presente nela, ao aproximar a figura de uma autoridade religiosa da prática mais corriqueira de ir ao banheiro. Ao discutir o texto com a turma, é importante mostrar que não se trata de ser ou não religioso, muito menos de ser ou não um seguidor da Igreja da qual o papa é o líder, a Católica. Trata-se de se colocar no ponto de vista do cronista, que recorda um episódio de sua infância e procura mostrar o mundo a partir dessa visão infantil.

Esse traço, o humor do autor, ganha espaço em algumas passagens da crônica. Olhem só este trecho: “Ainda hoje me pego imaginando o Papa no banheiro, as vestes santas despidas do corpo enorme, e rio o riso proibido do catecismo”. O cronista faz aqui aquele exercício de imaginação que todos nós fazemos quando somos crianças e também quando somos adultos. Sem vergonha, sem preocupação de cair no ridículo, sem nenhuma repressão. Muito à vontade, o autor desenha em seu pensamento aquela figura sem roupas, peladão, ali no banheiro, como qualquer um de nós, seres humanos, fazendo xixi, fazendo cocô, escovando os dentes, tomando banho.

Pois então é esse um dos traços mais marcantes nas crônicas, o humor, a ironia, a gozação. É muito natural e corriqueiro as pessoas fazerem comentários divertidos com situações consideradas sagradas. E é justamente esse comentário comum no nosso dia a dia que o autor foi buscar no trecho apontado.

Outro ponto bem importante nessa crônica é a presença da história do autor, que aparece quando ele cita a avó: “A minha avó só não conseguiu me esclarecer por que João Paulo II lia os discursos tão devagar, como se não tivesse passado da alfabetização, ele que, segundo ela, era um dos homens mais inteligentes do mundo, sabia todas as línguas faladas por todos os povos.”.

Essa figura feminina que é um dos personagens da crônica é um membro da família, e ela passa a fazer parte da narrativa, da história. E ao integrar a avó para a narrativa, é como se todos nós (o escritor e nós, os leitores) já fôssemos velhos conhecidos. Ao falar de sua avó, o autor permite que nós, seus leitores, imaginemos que a avó estivesse ali, presente, participando da conversa.

Esse é outro recurso que a crônica permite. Trazer pessoas para entrar na roda de conversa, como se estivéssemos numa cena presencial. Mais ou menos assim: a pessoa puxa uma cadeira e entra na conversa.

Outro ponto que vale destacar é a sinceridade que o autor usa para dizer que sentia medo do papa quando era criança. Como neste trecho: “Na verdade, continuei com um medo brutal do Papa. Todos choravam quando se aproximavam dele”. Essa confissão, de que tinha medo daquela figura papal, nos mostra que isso acontece com muitas crianças, que por receio do desconhecido acabam travando uma relação de apreensão, de receio e de medo. Esse é um sentimento que nos toma a todos, jovens, crianças e adultos. Todos somos de carne e osso, somos seres humanos que temos medo de muita coisa, em particular do que é desconhecido. A crônica dá espaço para esse tipo de revelação/confissão, porque é uma espécie de conversa entre amigos.

Há palavras que o vento não leva

O registro é muito importante para você aperfeiçoar o seu trabalho. Ele nos ajuda a fazer questionamentos e descobrir soluções que nos fazem crescer. Sabemos que é mais uma tarefa, mas precisamos desenvolver essa prática e vencer a falta de tempo.

Você pode utilizar o campo de anotações para registrar as atividades desenvolvidas, suas impressões e dificuldades e as reações do grupo. Como diz a educadora Madalena Freire (1996): “O registrar de sua reflexão cotidiana significa abrir-se para seu processo de aprendizagem”.