Sequências

Didáticas - Poema

Sequência Didática 2

Palavras, imagem e imaginação

Poemas indicados:

  • O Bicho, Manuel Bandeira
  • Bestiário, Marco de Menezes
  • [um fusca], Angélica Freitas

* Todos esses poemas são facilmente encontrados com uma busca rápida na internet.

Poemas sugeridos para ampliação de repertório:

  • Calafrio, Miriam Alves
  • Poeminha Inventado, Marcelino Freire
  • Menina, Conceição Evaristo

* Todos esses poemas são facilmente encontrados com uma busca rápida na internet.

Outros materiais:

  • Matéria sobre dicionário feito por crianças
  • Adriana Falcão – Mania de explicação (2001) e Pequeno dicionário de palavras ao vento (2003)
  • Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas, Everton Ballardin e Marcelo Zocchio
  • Ilustrações - Rafael Sicca
  • Ilustrações - Desenhos invisíveis - Troche

Objetivos: Sensibilização para ao uso de sentido figurado na linguagem e os efeitos de sentido gerados. Reconhecimento e contraste entre sentido figurado e sentido literal. O efeito de estranhamento na leitura a partir do uso de imagens e do sentido figurado. Reconhecimento de figuras de estilo como metáfora e analogia. Produção de uma legenda poética para uma imagem.


Na aula de hoje vamos começar a pensar sobre imagens poéticas tanto na nossa linguagem do dia a dia quanto em poemas. Como será que isso aparece?

1. Reflita sobre o sentido das expressões a seguir e sobre o sentido das palavras utilizadas em sua formulação. Converse com um colega e depois compartilhe com o grupo.

Céu da boca

Batata da perna

Chutar o balde

Pulga atrás da orelha

Planta do pé

Pé da mesa

Bater as botas

Plantar bananeira

2. Você conhece o sentido das expressões a seguir? Explique com as suas palavras o que essas expressões significam.

  • Engolir sapo
  • Pagar o pato
  • Tirar água do joelho
  • Sentir-se um peixe fora d'água
  • Encher linguiça
  • Chorar pelo leite derramado

3. Observe algumas outras imagens e explique o que elas significam.

O objetivo da discussão inicial é incentivar o aluno a pensar sobre sentidos figurados ou construções metafóricas que são parte do uso da linguagem em cenários diversos, não só na poesia. Para isso, vamos começar pelo reconhecimento de sentidos figurados a partir de expressões idiomáticas, chamando atenção para desvios do sentido literal das palavras.

Nas atividades 1 e 2, incentive os alunos a compartilhar seus comentários. Converse com eles sobre esses desvios do sentido literal passarem despercebidos nesse tipo de expressão, e convide-os a ampliar a lista de expressões idiomáticas.

Após a discussão, distribua para os alunos (ou projete) imagens literais referentes às expressões da atividade 2 e outras do livro Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas, para que os alunos expliquem a que as imagens se referem. O objetivo dessa atividade é explorar os sentidos literal e figurado nas palavras que compõem as expressões e nas imagens que as representam.


1. Você já procurou alguma definição no dicionário? Como elas são?

2. Leia a definição da palavra “adulto”.

adj. Que terminou sua adolescência. Que chegou ao termo do período de crescimento: animal, planta adulta.
S.m. Aquele que atingiu maioridade civil.
(Fonte:<http://www.dicio.com.br/adulto/>)

3. Pense ou converse com um colega sobre como você explicaria os seguintes termos: água – céu – Deus – inveja – Mãe – igreja

4. Leia alguns verbetes de um dicionário escrito por crianças e responda:

a) O que você acha das definições fornecidas?

b) Que elementos são usados para elaborar essas definições? c) Qual delas você achou mais interessante? Por quê?

O objetivo dessa seção é ler definições construídas a partir de sentidos figurados e explorar alguns elementos que as compõem. Na atividade 1, você pode comentar que as definições de dicionário geralmente são claras, objetivas, precisas, descritivas etc. A partir dessas características, proponha que os alunos analisem a definição de “adulto”.

Na atividade 3, convide os alunos a pensar sobre a forma mais literal possível de definição dessas palavras. Apresente a atividade 4 de forma provocativa, sugerindo que pode haver outras formas de algo ser definido . Na discussão das perguntas, compare as definições das crianças com as definições literais discutidas em 3.

Para fazer a transição para a leitura de poemas, explique que esses efeitos (de algo engraçado, inesperado, estranho, surpreendente) e essas combinações de palavras que nos levam a pensar em algo diferente do que seria o mais óbvio também podem ser alcançados na poesia.


Nosso primeiro poema é “O Bicho”, de Manuel Bandeira. Vamos ler e ver o que você descobre sobre esse bicho.

1. Quando você pensa na palavra “bicho”, que outras palavras ou imagens vêm à sua cabeça?

2. Leia o poema (o último verso está faltando!) e pense sobre esse bicho. Converse com um colega sobre que bicho pode aparecer no último verso. O que você acha?

3. Acompanhe a leitura do poema completo feita pelo professor. Pense sobre a sua sensação na leitura. O que você sentiu ao saber o que era esse bicho?

4. Como o cenário é descrito no poema?

5. O que há de comum entre os bichos que imaginamos no início da leitura e o bicho que aparece no poema?

6. Como você acha que o eu-lírico se sente ao olhar para esse bicho? Como ele demonstra esse sentimento no poema?

7. Qual é a sensação que você tem ao fazer a leitura desse poema? Sobre o que ele nos faz pensar?

Agora vamos explorar a construção de analogias e como construímos possíveis sentidos no poema a partir delas. Antes de entregar o poema aos alunos, apresente a primeira pergunta e explore as ideias compartilhadas, listando os termos no quadro. Entregue aos alunos o poema sem o último verso. Peça que leiam e conversem sobre o bicho. Para revelar o último verso, faça uma leitura em voz alta , adicionando o último verso à leitura.

Antes de apresentar as perguntas 4 a 7 , explore a reação da leitura dos alunos perguntando o que está acontecendo no poema, que "história" esse poema conta.

Na pergunta 4, discuta a caracterização do espaço a partir dos sentidos de alguns termos, como imundície, detritos. É possível também começar a explorar aqui o bicho (homem) que faz parte do cenário pensando a partir dos termos engolia e voracidade .

Agora vamos ler um poema com um título um pouco mais estranho: “Bestiário”, de Marco de Menezes. Você vai ver que algumas outras coisas também vão parecer meio estranhas, mas não se preocupe, isso é parte da poesia e vai ser parte da nossa conversa!

a) Depois de ouvir o poema pela primeira vez, que sentimentos o poema despertou em você? Você gostou desse poema? O que você entendeu sobre esse poema?

b) Agora vamos olhar o poema mais de pertinho.

1. Na primeira estrofe, o que o eu-lírico vê?

2. Por que você acha que a planta não sabe que é planta?

3. O que o pedúnculo e a cor parecem demonstrar sobre a planta?

4. Na terceira estrofe, o eu-lírico explica o motivo por que acha que a planta não sabe que é planta. Qual é esse motivo? O que a planta parece estar fazendo?

5. Além da planta pensar que não é uma planta, a mesa pensa que é rio. Que características essa mesa pode ter, para ser parecida com um rio?

6. Que imagem é sugerida pelo poema nas três últimas estrofes?

7. Por que esses pares de elementos (planta/flamingo, mesa/rio) foram aproximados? O que há de comum entre eles?

8. Como você imagina uma planta que se pensa um flamingo?

c) Agora vamos ouvir o poema novamente? Pense na sua sensação na hora da primeira leitura e agora. O que mudou? O que você apontaria como aspecto mais interessante desse poema?

Leia o poema em voz alta enquanto os alunos acompanham a leitura visualizando o poema escrito. Para começar a discussão, explore bastante as impressões iniciais sobre o poema.

A próxima etapa é uma análise conjunta mais detalhada do poema. Você pode ler novamente o poema em voz alta e ir fazendo as perguntas.

Nas perguntas 1 a 6, explore a visão do eu-lírico de que, para ele, a planta não parece uma planta. Esse não saber é transferido para a planta, como se fosse ela que não soubesse que é planta. Converse sobre como o eu-lírico parece se aproximar da planta, constatando que é uma planta saudável. Explore a posição em que a planta está . Assim como a planta não parece a ele uma planta, ele enxerga a mesa como se fosse um rio. Incentive os alunos a pensar sobre características de um rio e sobre quais dessas características poderiam também ser da mesa . Nas duas últimas perguntas, explore o aspecto visual do poema , as imagens sobrepostas, planta e flamingo.

Ao final, retome ideias, reveja as impressões, complemente as primeiras interpretações. Comente com os alunos sobre como várias leituras e conversas com outros leitores nos fazem ver novas possibilidades de significados e de sentimentos em relação ao que lemos.

Agora vamos ler o poema "[um fusca]", de Angélica Freitas. Tem fusca e tem bala soft nesse poema, mas antes... será que você conhece a bala soft?

a) Em duplas, leiam o poema em voz alta. Vocês gostaram do poema? Que sentimentos o poema despertou em vocês? Por quê? Você acha que tem alguma história contada nesse poema? Qual seria?

b) Vamos olhar o poema mais de pertinho?

1. Leia o poema e explique por que você acha que o eu-lírico se refere ao carro como “fusca vermelho bala soft”.

2. O eu-lírico está próximo ou distante do fusca? Como isso pode ser percebido no poema?

3. Se pensarmos que o poema se divide em dois momentos marcados por “ali ó” e por “e ó”, explique o que acontece em cada um deles.

4. Como você interpreta o verso “pó pó pó”?

5. Pensando na imagem do fusca e da bala soft, de que forma essas duas imagens se unem no final do poema?

6. O que você achou desse poema?

Antes de iniciar a leitura, proponha uma atividade simples para falar sobre a bala soft . Para iniciar, proponha uma leitura em duplas e, depois, que compartilhem suas ideias com o grande grupo.

Para a discussão detalhada, leia o poema em voz alta e, depois, vá fazendo as perguntas. Explore as relações entre o formato e a cor do fusca e da bala; o fato de que o poema sugere que o eu-lírico está mostrando, e até mesmo apontando , para uma cena que observa ou lembra ter visto um dia: o fusca que parou na estrada. Converse também sobre a sonoridade que “pó pó pó” confere ao poema, os efeitos de sentido de alguns termos, como "morreu" e "pegou", a relação entre fusca, bala e a "a boca sem dentes do túnel": a boca representando a entrada do túnel e a boca que come a bala.

Depois da análise coletiva, enquanto os alunos vão trazendo suas impressões sobre o poema, você pode listar termos no quadro a partir do que eles disserem e conversar sobre como imagens (fusca e bala) e linguagem (ali ó, pó, pó, pó) podem ser aparentemente simples e singelas, mas causar sensações profundas , por conta de relações que podem evocar com lembranças, pessoas, acontecimentos etc.

Mais alguns poemas? Vamos lá!

Agora vamos nos dividir em três grupos e cada grupo vai ler e discutir um poema diferente!

Calafrio, Miriam Alves

Poeminha Inventado, Marcelino Freire

Menina, Conceição Evaristo

Discutam o poema escolhido e depois contem para a turma o que vocês conversaram.

1) Qual é a sua primeira impressão ao realizar a leitura desse poema?

2) Que partes do poema causaram essa impressão?

3) Como aparece o eu-lírico nesse poema? A que/quem ele se dirige?

4) Esse poema apresenta alguma imagem interessante (como as que vimos nos poemas anteriores)? Que palavras são usadas para construir essa imagem?

5) Nos três poemas, alguns conceitos concretos são usados para falar sobre algo abstrato. Como você identifica isso no poema lido?

O objetivo desta etapa é que os alunos leiam, comentem e explorem outros poemas em pequenos grupos, praticando e compreendendo melhor os conceitos que discutimos até aqui.

Depois das discussões em pequenos grupos, convide os alunos a compartilhar com o grande grupo o seu poema e a sua leitura. Incentive os outros grupos a pensar em perguntas sobre os poemas .


Até aqui, nos baseamos nas palavras (dos poemas) e fomos levados a pensar em diversas imagens. Será que agora podemos olhar para imagens e deixar que elas nos levem para as palavras?

Vamos elaborar uma legenda poética?

1. Observe as imagens mostradas pelo professor. Selecione uma delas (não conte para os colegas sobre a sua escolha!) e crie uma legenda original para ela, explorando um sentido figurado que possa descrevê-la, como uma legenda estranha ou não tão óbvia.

2. Leia a sua legenda para seus colegas e veja se eles identificam a imagem que você selecionou.

O objetivo desta atividade é colocar em prática as noções trabalhadas na elaboração de uma legenda poética.

Disponibilize cerca de 5 imagens, e cada aluno cria uma legenda para uma delas. Depois, os alunos leem suas legendas, e os colegas tentam adivinhar para qual imagem a legenda foi feita e, assim, o grupo brinca com as possíveis associações entre a legenda e a imagem sugeridas.

Após a atividade, você pode retomar as questões trabalhadas: o desvio do sentido literal, usos do sentido literal de formas inusitadas, uso de elementos concretos para explicar algo abstrato, sobreposição de imagens, a aproximação entre elementos distintos para criar uma imagem, entre outros.