Uma festa para os livros e para a leitura
feiras literárias, formação leitora, livros, literatura
❙O que é esse material?
O conteúdo a seguir é uma pauta de formação, ou seja, um material para um encontro formativo entre professores, que pode ser organizado pela própria escola, rede de ensino, dentre outras possibilidades. Também pode ser utilizado em um contexto de formação a distância. A proposta está dividida em três atividades, que podem ser organizadas de acordo com a carga horária disponível e o formato do encontro.
❙Qual a importância desse tema?
Muitos professores são reconhecidos por seus colegas, pelos gestores, pelos alunos e pela comunidade em geral, sem que saibam precisar porque são valorizados. Parece ser um conhecimento tácito por meio do qual alunos e pais ficam eufóricos quando o ano letivo começa e percebem que estão na classe dos professores mais queridos, alguns deles reconhecidos também pelos colegas e gestores como os mais prestigiados do corpo docente. Isso significa que há certa dificuldade em nomear os saberes do trabalho docente e que nem mesmo os professores têm consciência do que os levam a ser bons professores reconhecidos.
❙Qual é o objetivo deste trabalho?
Pretendemos colaborar com os professores para que apurem o olhar sobre suas práticas, entendam como foram construídas ao longo do tempo e identifiquem seus múltiplos saberes, tanto para realçar aqueles que estão consolidados, mostrando-se eficazes, quanto os que necessitam de maior estudo e dedicação. Pretendemos identificar nas práticas docentes esses saberes para que esse processo de desenvolvimento pessoal e profissional resulte no empoderamento desses mestres; assim, além de saber, sabem que sabem.
❙Qual a metodologia utilizada?
A metodologia de formação será o nosso norte, alternaremos momentos individuais de reflexão sobre nossas vidas a partir das questões apresentadas, vamos compartilhar interpretações e estabelecer conexões entre esses relatos, identificando o que se repete, identificando um padrão. Em seguida vamos resumir o que ocorreu, capturar a essência das narrativas e extrair as questões centrais, são os momentos de sínteses que serão registradas em um cartaz ou em um arquivo para ser projetado em datashow. Os conceitos teóricos permeiam e colaboram com a interpretação, pois eles esclarecem e trazem consciência para o vivido. Essa é a metodologia de desenvolvimento profissional que estamos utilizando.
Clique nos itens a seguir para visualizar as atividades.
Atividade 1
Título: De volta ao tempo
Objetivo: voltar ao passado, para, por meio de lembranças e histórias de vida, descobrir como escolhemos a carreira de professor. Vamos trabalhar essa volta ao passado em dois momentos.
Materiais: mural; canetas; folhas de cartolina coloridas para cartazes; folhas de papel no formato A4, dobradas em quatro, formando quatro quadros; músicas aleatórias, depende da constituição do grupo; e imagens que possam remeter a esse passado. Tanto as músicas como as imagens devem colaborar para que os participantes relembrem de seu tempo de escola. Se o grupo tiver idades variadas, esses recursos devem sensibilizar a todos.
Primeiro momento – Aquecimento
Um trabalho de formação deve começar pela apresentação dos participantes, afinal, somos um grupo e para aprendermos juntos precisamos interagir e nos conhecer. Essa apresentação já deve ser feita com uma estratégia que mobilize conhecimentos relacionados aos conceitos que vamos trabalhar. Um dos temas que abordaremos são as Histórias de Vida e sua influência no modo de ser professor, então é esse o sentido para essas apresentações.
Passo a passo
• Peça ao grupo que ouçam algumas músicas e observem algumas imagens. De maneira que ao observá-las os participantes possam se lembrar de sua juventude ou infância. Importante contemplar várias faixas etárias.
• Entregue a folha de papel A4 dividida em quatro e canetas, em seguida peça que a cada provocação anotem em um dos quadrados.
• Apresente-se respondendo as questões que se seguem comentando sobre suas lembranças e mostrando na folha A4 como devem ser feitos os apontamentos nos espaços.
• Ao ouvir essas músicas e observar essas imagens relembrem de vocês jovens e ainda alunos. Pensem em um episódio desse tempo em que estavam nos bancos escolares. Tem uma passagem que foi muito alegre, onde se sentiram reconhecidos, ou uma passagem difícil em que se sentiram desvalorizados? Anotem ou desenhem no papel essas lembranças, no primeiro e segundo quadro respectivamente. Se não tiverem uma lembrança relevante deixem os quadros em branco.
• Agora, lembrem-se de um professor que admiravam muito e escrevam como ele era e porque dessa admiração (terceiro quadro). Em seguida, pensem em um professor com quem a interação era difícil (quarto quadro).
• Peça que os participantes troquem entre si essas lembranças e colem essas folhas em uma parede convidando-os a observarem os quadros e comentarem.
Mediador, chame a atenção para as semelhanças entre os momentos difíceis ou fáceis dos vários participantes e registre em um cartaz as principais ideias.
• Veja alguns exemplos: momentos difíceis foram aqueles em que os alunos não entendiam o que o professor ensinava, que eram criticados, que apontavam para algum comportamento inadequado, que tiravam notas baixas, que a prova era muito difícil etc. Faça o mesmo resumindo os momentos gratificantes: ser elogiado, ter um destaque diante da classe, tirar boa nota, representar a classe em algum evento etc.
Com essas primeiras conversas é possível que o grupo já tenha se apresentado para os colegas que estão próximos e para a classe toda nos momentos de conversa ampliada e síntese.
• Faça para o grupo a seguinte pergunta: há semelhanças entre pessoas de idades próximas? De escolas semelhantes; pública, particular, militar, religiosa etc. Anote no cartaz as conclusões dessa conversa, que os modos de ser, de se comportar, os valores em um determinado tempo e lugar são semelhantes.
• É muito provável que participantes de idades próximas tenham vivido experiências escolares semelhantes porque o grupo de professores desse momento histórico compartilhava modos de ensinar, técnicas e didáticas que estavam em consonância com esse tempo.
Mediador, no ensino de Português, enquanto na década de 1980 tínhamos um ensino que privilegiava a leitura e interpretação de textos, nas anteriores o privilégio era do ensino da Gramática, propondo uma bateria de exercícios de análise sintática. Nos anos 2000, com a influência dos PCN’s, entram nos currículos o ensino dos gêneros de texto.
No ensino da Matemática, na década de 1970 entrou no ideário a Teoria dos Conjuntos, a maioria dos livros didáticos tinha a sua primeira unidade dedicada ao desenvolvimento desse conceito. Dessa forma, se entre vocês tivermos pessoas entre 40 e 50 anos, é provável que se lembrem de que estudaram a união, a intersecção e a disjunção dos conjuntos.
Com esses exemplos abrimos uma janela para entendermos um conceito de Maurice Tardiff: de que os saberes são temporais, tornando compreensível que muitos mestres em uma determinada época tenham formas semelhantes de ensinar e valores, agindo todos de modo semelhante, isso também se aplica às instituições. Os estudantes se constituíram como Sujeitos e os mestres como profissionais influenciados pelo caldo cultural das escolas que frequentaram e trabalharam.
Segundo momento – A profissão de Professor
Nesse segundo momento, lembrem-se porque se tornaram professores. Era um desejo perseguido? Era o que tinha disponível? As outras opções não deram certo? Seu pai, mãe ou avó queriam um professor na família? Foi uma escolha ou foi uma oportunidade que surgiu?
Para nos inspirar, vamos conhecer como foi o início da história profissional do professor doutor João Wanderley Geraldi (1991, p. 16), da Unicamp. Esse grande mestre faz sua história profissional construindo pontes entre a linguística e o ensino da Língua Portuguesa apoiado nas práticas pedagógicas.
“Certamente o fato de ter sido um professor leigo, bancário, que dava aulas numa escola noturna do Rio Grande do Sul, marcou e marca mais profundamente minha ação [...]. Professor por acaso (ou pela vaidade dos meus dezenove anos), [...] sem habilitação prévia, mas tendo que me habilitar no trabalho, estava livre para arriscar-me na construção de minhas aulas [...] eu não era professor, mas bancário. Os alunos sabiam disso, eu sabia disso. [...] o descompromisso vinha da ignorância de programas a desenvolver, de métodos e recursos didáticos que só conhecera como aluno: o compromisso vinha do convívio externo à escola e de uma certa intuição e vontade de não me repetir nas imagens (desfavoráveis, em sua maioria) que fazia dos professores que tive nos 1 e 2 graus (recém feitos).”
Passo a passo
• Distribua uma página em branco e peça que iniciem um relato por escrito, a cada pergunta dê um tempo para reflexão e registro. Sossegue-os, garantindo a eles que ninguém irá ler se não quiserem.
• Agora, faça uma pergunta muito importante: vocês estão confortáveis no papel ou função que desempenham? Em todas as profissões temos a oportunidade de mostrar os nossos dons, talentos, saberes, mas também vivemos experiências desagradáveis, obrigações e comportamentos que temos que assumir e que não gostamos, temos que fazer um grande esforço para realizá-las. Depois do registro pense o seguinte: colocando na balança, o que está ganhando? Pretende abandonar o barco logo que surgir uma oportunidade ou tem um projeto de desenvolvimento profissional?
Mediador, trabalhar as histórias de vida passa a fazer parte do processo formativo a partir da década de 1980, isso quer dizer que embora não seja uma técnica nova, seu desenvolvimento passa a ser reconhecido pelos acadêmicos, com a fundação da Associação Internacional das Histórias de Vida em Formação e de Pesquisa Biográfica em educação (ASIHVIF), no início do século XXI; às vezes também é chamado de abordagem biográfica.
A seguir temos ideias retiradas de algumas teorias de aprendizagem e de formação que podem iluminar nossas reflexões. Sugerimos ler e comentar com os participantes.
Histórias de vida
O objetivo desse trabalho é o de que os sujeitos legitimem seu poder de refletir sobre a construção de sua vida. O desafio desse processo é trazer à consciência sensações, sentimentos e decisões de sua história que foram vividos, mas não verbalizados, estão silenciados. Narrar e sobretudo escrever sobre a própria vida permite ao sujeito tomá-la na mão e com isso abre-se a possibilidade de gestar o seu futuro. Há inúmeras pesquisas sobre esse modelo interativo e dialógico, onde existe entre os parceiros- entrevistado e pesquisadores – a coconstrução de sentidos, nessa situação o pesquisador constrói os dados para elaborar sua teoria e o entrevistado trás à consciência eventos que estavam adormecidos na memória. Ambos se beneficiam desse processo de refletir sobre as ações vividas.
Uma das pesquisadoras dessa linha de estudos, Marie-Christine Josso, diz que a formação que se vale das Histórias de Vida tem uma sensível evolução. Transformam-se em lugar de uma nova socialização, de reformulação dos laços sociais e de redefinição dos projetos de vida. A criação e recriação de sentidos para si e com possibilidades de serem compartilhadas coloca em evidência a pluralidade e mobilidade de nossa identidade ao longo da vida, põe a existência em movimento e esclarece as facetas de nossa identidade, as diferentes dimensões de nosso ser no mundo.
Tardif (2002, p. 72) também reconhece as fontes pré-profissionais do saber-ensinar: localizando-as na história pessoal e social: “Os saberes experienciais do professor de profissão, longe de serem baseados unicamente no trabalho em sala de aula, decorreriam em grande parte de pré-concepções do ensino e da aprendizagem herdadas da história escolar”.
Todos nós tivemos professores que marcaram nossa trajetória escolar e afetaram a profissional. Há aqueles que passamos a vida a querer imitá-los e outros que rejeitamos, tentamos a todo o custo evitá-los e que mesmo assim influenciam nosso modo de ser professor. Internalizamos esses diferentes mestres de nossa história e muitas vezes eles atuam em nós sem nos darmos conta, algumas para nos orgulhar e outras para nos aborrecer.
Atividade 2
Título: Quais são nossos saberes profissionais?
Objetivo: Vamos pensar sobre os múltiplos saberes envolvidos na prática pedagógica.
Materiais: Cartolina cortada em pequenos retângulos (tarjetas), mural.
“Sabe, prô... eu não consigo aprender bem com a mãe... Ela não é igual a você, você tem as manias de pro, a minha mãe não tem, ela trabalha no restaurante; ela só tem a mania de fazer comida.”
Essa epígrafe é a fala de um aluno, por telefone, para sua professora na época em que ele estava isolado em casa em função dos cuidados com a pandemia do Coronavírus (Covid-19). Ao escolhê-la para iniciar essa atividade pretendemos que vocês olhem para suas “manias” como professores que colaboram para que seus alunos aprendam.
Passo a passo
• Cada um vai escrever em uma tarjeta um comportamento que tem como professor e que o considera valoroso. Apresenta-o para o grupo, o mediador fixa-o no mural. O seguinte, ao apresentar sua tarjeta, pode fixá-la ao lado da anterior se for semelhante, caso contrário abrir um novo grupo no mural. Toda exposição deve ser acompanhada de explicações, de levantamento dos motivos para considerá-lo uma ação eficaz.
Mediador, para impulsionar o diálogo comece elegendo uma qualidade sua como mediador. Aqui vão alguns exemplos para inspiração: “planejamento flexível”, “diálogo com os participantes”, “sou atenciosa com as dúvidas, procura esclarecê-las”, “tenho bom domínio da turma” etc.
É interessante que o mediador conheça a classificação presente no texto “Com quais saberes se constrói uma prática?”, que está na revista Na Ponta do Lápis, nº 35, edição de julho de 2020, para poder instigar os participantes a ampliar sua lista de competências.
• Ainda, com relação aos conceitos de Tardif, temos uma lista de saberes que os professores utilizam para exercer a profissão, pois, como diz esse autor, a docência requer multiplicidade de saberes que atuam de forma integrada.
• Agora, visualize o jogo a seguir. Você tem um jogo de palavras que indica as ações de um professor. Agrupe as que são parecidas, arrastando-as para seu respectivo grupo de saber – formação profissional, disciplinares, curriculares, experienciais.
Mediador, temos nesse momento dois grupos de ações, aquelas indicadas pelos professores-alunos enquanto pensam em seus saberes e essa outra proposta em que a partir de uma série de ações foram agrupadas as semelhantes, criando categorias. Ao mediador cabe consolidar os dois conjuntos desafiando os alunos a mudarem as tarjetas de lugar até formar um único conjunto. É possível que apareçam comportamentos que não estão classificados em nenhum dos dois grupos, devemos então abrir uma nova categoria.
• Nossa reflexão está embasada nos estudos de Maurice Tardif, professor titular da Universidade de Montreal, com experiência em filosofia da educação e em teoria da educação, que debulhou os saberes dos professores, separou-os um a um, elegendo o saber da experiência como o mais ilustre de todos, pois nele se amalgamam todos os outros. Sugerimos que nesse momento os participantes leiam o feedback no quadro abaixo e confirmem se entenderam esses conceitos.
Feedback
Saberes da formação profissional
Fazer o semanário, elaborar sequências didáticas, construir materiais pedagógicos, escolher o método de ensino, seguir um livro didático, comentar as escritas dos alunos, avaliar a aprendizagem dos alunos, autoavaliar-se.
Saberes disciplinares
Fazer um curso para aprofundar um assunto, consultar obras de referência, assistir a palestras, ler várias obras de um mesmo autor, acompanhar crítica literária, visitar livrarias, assistir filmes, ver peças de teatro.
Saberes curriculares
Conhecer os programas da matéria que leciona, escolher os conteúdos que serão ensinados, colocar os conteúdos em ordem crescente de dificuldade, organizar planejamentos, estudar formas de tornar os conhecimentos acessíveis aos alunos, conhecer conceitos que foram trabalhados em anos anteriores e os que serão trabalhados posteriormente.
Saberes experienciais
Dar uma boa aula, reconhecer quando os alunos compreenderam o que está sendo ensinado, criar um clima de confiança para que os alunos mostrem o que não entenderam, implicar-se com a aprendizagem de seus alunos, identificar problemas e buscar formas de enfrentá-los, estabelecer uma interação dialógica, interpretar os eventos e encaminhar-se com sabedoria, improvisar diante de imponderável, gerenciar conflitos, ter uma comunicação fluida com os alunos, ter uma atitude colaborativa com os colegas, mudar estratégias quando se dá conta que as planejadas não deram certo.
Atividade 3
Título: Como somos professores na atualidade
Objetivo: Analisar os saberes explicitados pelos professores
Materiais: canetas coloridas, relatos de prática disponíveis no Portal Escrevendo o Futuro
Os modos de atuar se constroem ao longo da vida profissional e lhes confere um saber não apenas pessoal, mas também social.
Cada uma das nossas experiências pessoais e profissionais contribuem para a maneira como somos professores na atualidade. Você que é leitor da revista Na Ponta do Lápis e tem a oportunidade de visitar o Portal Escrevendo o Futuro, pode conhecer muitos relatos de prática. Neles os professores fazem o que propõe Tardif: objetivam seu saber fazer e dessa forma conseguem ter algum controle sobre sua atividade, partilhar com seus companheiros suas práticas e se legitimar como mestres. Retomo um texto sobre uma experiência docente com o objetivo de identificar os saberes que estão ali expressos. Reconheça no seu modo de ser professor o percurso em que esses saberes foram construídos e reverencie seus mestres e seus alunos, pois eles constituem sua consciência.
Passo a passo
• Peça aos participantes que leiam o texto sobre a experiência da professora Elizete Vilela de Faria Silva (Divinópolis – MG), participante da Olimpíada de Língua Portuguesa, escolhida para ser apresentada no Seminário Nacional Escrevendo o Futuro: com a palavra, o professor-autor, realizado em 2017.
• Destaquem os saberes que estão expressos nesse texto. Entregue uma cópia para que os participantes grifem em cores diferentes cada um desses saberes (uma cor para cada saber). Você pode se utilizar também de um data show. Após algum tempo de análise, faça uma discussão coletiva e marque no texto projetado as análises feitas.
• Ao final, projete o texto com essas marcações.
Agora, apresentamos para você o mesmo texto com a nossa marcação dos saberes, segundo nossa interpretação.
Para visualizar nossos comentários, passe o mouse sobre as palavras em laranja. Se estiver lendo em um celular ou tablet, basta clicar nas palavras.
Título: Escrevo-te estas bem traçadas linhas – Unindo nossas vozes contra o preconceito
Gênero: Carta aberta
Professora: Elizete Vilela de Faria Silva – Divinópolis (MG)
Diante de situações que nos incomodam temos duas opções: calar ou nos fazer ouvir. Embora a primeira possa parecer mais fácil, é a segunda que promove mudanças. Em nós e nos outros. E foi este o caminho escolhido pela professora Elizete e seus alunos. Foram muitas trilhas percorridas, mas vamos apresentar apenas duas.
A primeira, ponto de partida do projeto, foi a superação do preconceitoIdentificar um tema como o preconceito, que atrapalha a convivência harmoniosa dos alunos, e se propor a superá-lo por meio de um projeto, é o "saber da experiência".. Esse tema Respeito e Preconceito, desponta em um jogo que abordava questões polêmicasAbordar questões polêmicas com os alunos faz parte de um "saber curricular". Aprender a argumentar é uma competência a ser desenvolvida com seus alunos.. Os alunos fizeram uma reflexão madura e identificaram em suas interações cotidianas a revelação de seus sutis preconceitos: “aprendi a reconhecer o preconceito”, “brincadeira de mau gosto pode machucar o colega”. O muralMontar murais onde são afixados textos que os alunos escrevem, oportunizando que a comunidade leia, é uma estratégia didática que faz parte de um "saber profissional". “Isso é preconceito” trazia alguns dizeres, veja esse – tenho um pai racista que diz: “negros caçam brigas”. Os exemplos, expressos em um mural, afetaram a vida da comunidade escolar, que paravam para ler e conversar sobre as mensagensSó consegue uma comunicação frutífera com a comunidade, o professor que mobiliza os "saberes da experiência". – “Chamar cabelo crespo de ‘cabelo ruim’ ou pessoas negras, de ‘moreninhos’”, “Dizer que uma pessoa é feia só porque ela não se adéqua aos padrões estéticos impostos pela sociedade”.
A declaração de um dos alunos revela o valor desse trabalho, “O projeto não morre dentro da sala, vai para nossa vida”.
Mas, e o trabalho com a Língua Portuguesa? E aqui está mais uma trilha – a análise de linguagem - expressa pelos bilhetes escritosAnálise da linguagem e escrita de bilhetes é um "saber curricular". pelos alunos para seus colegas orientando a reescrita de seus textos, uma das estações da Sequência DidáticaElaborar sequências didáticas para ensinar a escrever um texto é um "saber profissional".. Nessas mensagens era evidente a leitura respeitosa, livre de julgamentos e a indicação precisa para reformulação – eles tinham aprendido com a professora como analisar criticamente um texto. Mais surpreendente foi perceber como uma das alunas questiona a orientação da colega: “Você me diz para eu incluir mais dados, mas como eu procuro persuadir o leitor, vou dar mais opinião, não estou fazendo uma reportagemVemos aqui o entrelaçamento de um "saber disciplinar", que são os textos que circulam socialmente, extraindo dele um objeto de conhecimento, quais são as características e os discursos próprios de cada texto, e ensinando aos alunos as suas diferenças, transformando-se, assim, em "saber curricular".”. Um outro aluno diz que aprendeu a fazer parágrafos, outro ainda aponta a diferença entre usar a repetição como um efeito de sentido e o uso irrefletido ou o da linguagem coloquial.
A clareza dos objetivos da escrita de uma carta aberta"Saber curricular". se expressa na fala de uma das alunas: “Escrevemos também para dar voz àqueles que não sabem escrever e querem ver essas ideias espalhadas”.
Conquistas da profissão
Nosso objetivo com essas atividades e reflexões é que os professores percebam a multiplicidade de seus saberes e se orgulhem do seu processo de desenvolvimento. É desse envolvimento e empoderamento que virá o reconhecimento da comunidade e da sociedade. Peça que cada professor-aluno escreva um pequeno texto sobre seu processo de profissionalização, sobre a construção de seu saber e sobre o orgulho de ser professor.
Para se inspirar peça que leiam o depoimento abaixo, de Bruno Picchi (34 anos), contando sua trajetória de geógrafo a professor de Geografia, com muito orgulho.
“Minha primeira formação foi em Geografia e desde o início da trajetória profissional trabalhei com educação. O curioso é que por muitos anos me apresentei como geógrafo, sendo uma espécie de artifício que utilizava para dar ênfase a uma característica técnica e bacharelesca de minha pessoa. Os anos foram passando e graças às oportunidades boas de trabalho que tive, fui me aprofundando cada vez mais no universo em torno da habilitação em licenciatura, até que em certa altura concluí que para me aperfeiçoar mais no mundo da educação seria necessário cursar Pedagogia. E assim o fiz. Observei que houve um momento em que deveria decidir se queria de verdade me envolver com os debates sobre educação, que vai desde o processo de formação docente até as pautas em reuniões pedagógicas, ou se preferia ficar numa espécie de simulação de minha atuação em sala de aula, formando ‘pequenos geógrafos e cientistas sociais’. Sendo assim, optei por encarar os debates de natureza pedagógica, algo acertado na minha vida, de forma mais integral, e não mais contemplando apenas os anos finais da Educação Básica, onde até então tinha experiência. Acho que essa decisão hoje faz eu me apresentar como professor.”
Tempo e aprendizagem
“Se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente alguma coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identidade carrega as marcas de sua própria atividade, e uma boa parte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional. Em suma, com o passar do tempo, ela vai se tornando – aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros – um professor, com sua cultura, seu ethos, suas ideias, suas funções, seus interesses etc.” (Tardif, 2002, p. 56-57).
Referências
ESCREVENDO O FUTURO. Escrevo-te estas bem traçadas linhas – Unindo nossas vozes contra o preconceito. São Paulo: Portal Escrevendo o Futuro, 2017. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/nossas-publicacoes/revista/artigos/artigo/2465/a-escrita-do-professor-autor.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
JOSSO, Marie-Christine. A transformação de si a partir da narração das histórias de vida. Porto Alegre: Educação, ano XXX, nº 3, dez., 2007, p. 413-438.
MADI, Sonia. Com quais saberes se constrói uma prática? São Paulo: Na Ponta do Lápis, n. 35, jul. de 2020, p. 12-21.
SILVA, Elizete Vilela de Faria. Escrevo-te estas bem traçadas linhas. Portal Escrevendo o Futuro, 2017. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/formacao/especiais/relato-de-pratica/galeria-de-relatos/index.html.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
Uma festa para os livros e para a leitura
feiras literárias, formação leitora, livros, literatura
Letramentos e as práticas de linguagem contemporâneas na escola
ensino e aprendizagem de língua portuguesa, multimodalidade, BNCC, multissemiose, práticas de linguagem contemporâneas, letramentos
Ninguém comentou ainda, seja o primeiro!
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