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Com quais saberes se constrói uma prática?

Com quais saberes se constrói uma prática?

texto - Sonia Madi; ilustração - Criss de Paulo

07 de agosto de 2023

Saberes e práticas em tempos de mudança

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“Sabe, prô... eu não consigo aprender bem com a mãe... Ela não é igual a você, você tem as manias de prô, a minha mãe não tem, ela trabalha no restaurante; ela só tem a mania de fazer comida.”

Sonia Madi

A epígrafe que você acabou de ler é a fala de um aluno, por telefone, para sua professora na época em que ele estava isolado em casa em função dos cuidados com a pandemia do Coronavírus (COVID-19). Ao escolhê-la para iniciar esse texto pretendo refletir sobre as “manias” que a professora tem para ensinar que ajudam o menino a aprender. Será a maneira como ela explica as lições? A atenção que dedica a ele? O desafio proposto nas tarefas? Como ela o motiva para aprender? São muitos os saberes de uma professora, seu aluno consegue reconhecê-los e fazer uma linda declaração de competência que percorreu os caminhos da internet sendo compartilhado de tela em tela até chegar a mim.

Vamos refletir junto com vocês, professores, os múltiplos saberes envolvidos em sua prática pedagógica. Nossa reflexão será embasada nos estudos de Maurice Tardif, professor titular da Universidade de Montreal, com experiência em Filosofia da Educação e em Teoria da Educação, que debulhou os saberes dos professores, separou-os um a um, elegendo o saber da experiência como o mais ilustre de todos, pois nele se amalgamam todos os outros. Vamos também nos inspirar em trechos literários, nos quais autores reconhecidos relembram modos de ser e de ensinar de seus professores, proporcionando explorar e aprofundar a compreensão dos saberes desses professores e relacioná-los com os explicados por Tardif, para ajudá-los a apurar o olhar sobre suas práticas e identificar nuances que antes passavam despercebidas.

Autores renomados, seus professores e saberes

Todos nós tivemos professores que marcaram nossa trajetória, aqui vamos fazer pequenas passagens literárias de escritores reconhecidos publicamente sobre a convivência com seus professores e seus saberes, entre eles José Saramago, Ana Maria Machado e Içami Tiba.

Primeira passagem literária

O saber profissional

José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura em 1998, nascido em uma província de Portugal, filho de camponeses, interrompeu seus estudos por dificuldades financeiras, exerceu diversas atividades profissionais e só a partir de 1976 viveu exclusivamente da literatura. Em seu livro As pequenas memórias, ele recorda as primeiras experiências com a escrita e diz que mal sabia soletrar, quando “identificava na escrita de um jornal uma palavra que conhecesse era como encontrar um marco na estrada a dizer-me que ia bem”.

Saramago lembra-se de que nos primeiros dias em uma nova escola, “a professora da segunda classe, que ignorava até onde o recém-chegado teria acedido no aproveitamento das matérias dadas e sem qualquer motivo para esperar da minha pessoa quaisquer assinaláveis sabedorias [...] mandou-me sentar entre os mais atrasados, os quais, por virtude da disposição da sala, ficavam numa espécie de limbo, à direita da professora e de frente para os adiantados que deviam servir-lhe de exemplo” (Saramago, 2006, p. 93). Em seguida ele conta sobre o dia em que foi convidado a sentar-se no lugar dos sabidos, a felicidade e o orgulho que sentiu, e o incômodo por compreender a tristeza dos colegas que permaneciam no limbo. “E foi aqui, agora que o penso, que a história da minha vida começou” (idem). Essa história foi contada quando o PEN Clube atribui a Saramago o prêmio pelo romance Levantado do chão, quando ele disse: “Contei esta história para assegurar às pessoas presentes que nenhum momento de glória presente ou futura poderia, nem por sombras, comparar-se àquele” (idem, p. 94).

Não estamos aqui julgando o comportamento da professora de Saramago, mas colocaremos o foco no saber profissional, aquele modo de organizar a sala de aula que ela aprendeu ao longo de sua história de vida, desde quando era aluna, até as técnicas de domínio de classe apresentadas em sua formação inicial e continuada.

Hoje, alguns pontos podem ser discutidos, entre eles, o fato de que dificilmente encontraríamos um professor organizando a classe em fileiras homogêneas, o que demonstra que os saberes são temporais, tornando compreensível que muitos mestres em uma determinada época tenham um mesmo valor, agindo todos de modo semelhante. Mas isso não é determinante, e outro ponto a ser analisado é a experiência de um professor que viveu como aluno a história da classe organizada dessa forma, podendo reproduzir os gestos de sua professora, mas ao lembrar-se do mal-estar que sentiu, busca novas formas de atuar. Mais um ponto a ser considerado é que no início da carreira os professores têm necessidade de dar provas de sua capacidade para sobreviver profissionalmente. Então, os truques de ofício, as rotinas, os modelos de gestão da classe, correm o risco de se transformar precocemente em certezas.

Olhando para esses pontos reconhecemos que alguns professores passam toda a carreira aferrados em crenças, sem modificar suas práticas. Nesse contexto, se assim fosse, as formas de ensinar se perpetuariam: “Aprendi assim, ensino assim!”. Mas eles também mudam por outros fatores. Vamos entender que fatores são esses que contribuem para que um saber profissional se atualize, acompanhando o ritmo do grupo social e o que é valorizado em cada época.

Por ser a carreira profissional um processo de longa duração, ela passa por diversas fases e mudanças. Muitas delas vêm da necessidade de os professores se identificarem com seus grupos de trabalho e com as instituições em que atuam. Os modos de atuar que constroem ao longo da vida profissional lhes confere um saber não apenas pessoal, mas também social.

Se em um determinado momento histórico as formações iniciais e continuadas e os programas oficiais passam a estudar autores que valorizam as interações entre os alunos, as práticas se modificam. Dessa forma, os professores passam a organizar seus alunos em pares ou em grupos, escolhendo aqueles que devem trabalhar juntos, porque têm competências diferentes e os que sabem mais podem orientar os menos experientes; e, em outro momento, por ter outros objetivos, organiza os alunos para se desafiarem em pares, com grupos mais homogêneos. Esses saberes estão mobilizando o que Tardif chama de saber profissional, aqueles conhecimentos que se referem ao modo de ser professor.

Nós, professores, sabemos que o saber profissional vai muito além de organizar a turma. Faz parte desse conjunto de saberes os métodos de ensino, as estratégias, as sequências didáticas, os materiais pedagógicos, as recomendações psicológicas etc. Todos eles construídos ao longo de nossa formação inicial e continuada, cristalizando-se em crenças que constituirão o saber fazer.

Segunda passagem literária

O saber curricular

Vamos a outra passagem literária, dessa vez para iluminarmos o que são os saberes curriculares e como eles são utilizados pelos professores para ensinar seus alunos, falamos aqui dos conceitos, noções, ideias, enfim dos conteúdos que fazem parte dos programas escolares.

As instituições educacionais (órgãos governamentais, secretarias de Educação) selecionam entre os conhecimentos construídos pela cultura aqueles que devem ser ensinados às novas gerações (PCNs e BNCC) e o professor busca uma maneira de tratá-los, transformando-o em objeto de ensino e colocando-o ao alcance de ser compreendido pelos alunos.

Neste caso a aluna é Ana Maria Machado, escritora renomada, com cadeira na Academia Brasileira de Letras e pós graduada em Paris, com Roland Barthes, na École Pratique des Hautes Études. Ao lembrar-se de seus maravilhosos professores da Faculdade de Letras (Universidade de São Paulo), cita Alceu Amoroso Lima, entusiasmado, vibrante e com eterna juventude incendiava seus alunos com sede de justiça e amor à palavra, e relembra uma passagem: “Dando uma aula sobre Euclides da Cunha, seguia a descrição do texto, ia imitando o andar do sertanejo e se transformava no personagem. [...] Uma vez pediu que levássemos um violão e deu aula de poesia ao som de música” (Machado, 2002, p. 59).

Seu professor, Alceu Amoroso Lima, com certeza já havia lido Os sertões, conhecia muito o autor, Euclides da Cunha, tinha dele um saber disciplinar: a corrente política e literária que seguia, os recursos estilísticos e realistas que usava em suas descrições, ou seja, os saberes que a sociedade e a cultura construíram sobre esse autor ao longo do tempo. Ele escolhe alguns deles para se transformarem em objeto de ensino, para que possam fazer parte de seus objetivos com os alunos e a partir daí compor o saber curricular; é desse último que ele desenha sua didática, seu saber pedagógico e utiliza recursos para aproximar seus alunos desse tão importante escritor. Um exemplo disso pode ser visto no trecho: “Seguia a descrição do texto, ia acompanhando o andar do sertanejo e se transformava no personagem” (idem, p. 59), esses gestos serviam para que seus alunos compreendessem como é o sertanejo descrito por Euclides da Cunha. A mesma transposição ocorre quando ele, para ensinar a métrica da poesia (saber disciplinar), utiliza-se da música (saber curricular).

Todos esses saberes não são mobilizados isoladamente, mas se amalgamam e atuam integradamente conforme a situação concreta que o professor enfrenta. Nesse momento, interagem em seu planejamento os conceitos que quer trabalhar, as estratégias, os recursos, mas principalmente as dinâmicas individual e coletiva, que o levam a interpretar os eventos e com relativa segurança decidir e improvisar. É no uso desses saberes reunidos que se constrói o saber da experiência.

Terceira passagem literária

O saber da experiência

Içami Tiba, médico psiquiatra, autor de vários livros, conta-nos o episódio ocorrido em uma aula de psiquiatria quando ele era aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Essa aula era ministrada em um grande anfiteatro, logo depois do almoço, momento em que ele sentava-se no último degrau, para tirar uma soneca. Nesse dia, enquanto já estava nos braços de Morfeu, repentinamente é acordado com uma comanda do professor dizendo “Vamos fazer uma prova”.

Içami fica indignado, surpreso se levanta e começa a argumentar com o professor tentando demovê-lo de fazer a prova. O professor diz que isso tinha sido avisado na aula anterior. O aluno vai gradativamente descontrolando-se e enfrentando o professor, que também o encara, acusando-o de não prestar atenção na aula. O clima vai esquentando, gestos de dedo em riste, palavras como “injustiça”, “ser trouxa”, “sentir-se desautorizado”, “você não pode falar assim comigo” deslizam para o campo pessoal, até que no auge dos ânimos inflamados e com a classe toda encorajando o aluno ele desce muito bravo e resolve enfrentar o professor, que sobe no estrado. Para vocês terem uma ideia do clima bélico vou transcrever um trecho dito pelo professor: “Só porque você deu aula de judô aqui no hospital pensa que é muita coisa? Você não passa de um reles e agora insignificante aluno!”; e outro, do aluno: “Quem é você para me tratar assim? Nem meu pai fez isso comigo, agora vem você [...] Com o meu coração a mil por hora, transpirando, com a boca seca, as mãos fechadas, prontas para lhe desferir aquele mortal soco naquele queixo que, aliás, já estava me apetecendo” (Tiba, 2002, pp. 113-114).

O clima ficou pesado demais, a classe toda no maior silêncio, quando o professor retoma o controle da situação e chama a atenção para os sinais físicos do descontrole, anunciando sua aula sobre Agressividade.

Esse episódio ilustra muito bem como os saberes do professor em questão foram mobilizados.

O assunto da Agressividade com certeza fazia parte do currículo do curso (saber curricular) e o professor pode ter criado uma situação para exemplificar esse conceito provocando as reações físicas no aluno (saber da experiência), sim, esse pode ter sido um método de ensino. Içami em seu relato agradece a saída honrosa que preservou o ego de todos.

Os saberes e a prática

Será que é simples assim? Será que os professores são sempre objetivos e operam com a razão e a cognição? Será que se o professor não estivesse tomado de emoção conseguiria despertar teatralmente uma emoção desorganizadora em seu aluno? Podemos incluir outros argumentos. É possível que o professor já tivesse se irritado com o aluno por percebê-lo displicente e desatento em muitas de suas explanações e se controlou por muitas vezes até que encontrou oportunamente uma chance para expressar sua insatisfação. Talvez não esperasse que o clima fosse esquentar tanto, e torcia para que aparecesse entre os colegas um que pusesse água fria na fervura.

É o saber da experiência que possibilita a esse professor antecipar o desastre que seria para ele e para o aluno dar ainda mais vazão à irritação e violentamente ter um enfrentamento físico, ao invés disso, reflete sobre sua ação e recupera a razão a tempo de antecipar eventos futuros. Faz parte desse mesmo saber a capacidade de estabelecer relações e buscar uma saída que recupere sua autoridade e seu papel de professor – ensinar a Agressividade, um conceito pertinente àquela situação. Mestre entre os alunos é a ele professor que cabe gerenciar o conflito e encontrar uma saída que lhe autorize a continuar ensinando. Aqui, nos defrontamos com um evento que é situado, que emerge em um contexto onde interagem um professor e muitos alunos, são muitas as subjetividades e muitos os papéis em jogo, em que é possível perceber a personalidade dos atores.

Tardif analisa a subjetividade como um componente importante do saber dos professores, rica e complexa ela pode ser compreendida por diferentes ângulos. Escolhi, entre eles, a explicação de que a subjetividade de um professor não se limita à cognição ou às representações mentais, ela é muito mais ampla; composta também de dimensão afetiva. “A maneira como um professor resolve e assume os conflitos de autoridade na sala de aula com os alunos não pode se reduzir a um saber instrumental, mas envolve inevitavelmente sua própria relação com a autoridade, relação essa que é necessariamente marcada por suas próprias experiências, seus valores e suas emoções” (Tardif, 2002, p. 232).

O prático reflexivo

Assim como o professor de Içami Tiba, nós professores muitas vezes nos encontramos em contextos desafiadores, que necessitaram encontrar saídas originais. O professor foi sábio, percebeu suas reações subcorticais, ou seja, que ele estava ficando fora do controle, e conseguiu, num segundo momento, dominar suas emoções, se recompor, e voltar a seu objetivo, o de ensinar os alunos.

É possível que o professor tenha refletido sobre esse acontecimento e tenha transformado sua prática possivelmente intuitiva em prática operatória, aquela que consegue relembrar os fatos, ordená-los e estabelecer relações entre eles, tomando consciência de seu modo de agir e ensinar. É esse o movimento sugerido por Tardif para o aperfeiçoamento dos professores “Se os professores são sujeitos de conhecimento [...] devem fazer o esforço de se tornarem atores capazes de nomear, de objetivar e de partilhar sua própria prática e sua vivência profissional” (idem, p. 240).

O novo saber fazer

Como vimos, todo saber implica aprendizagem, não é mesmo? Pois bem, voltando ao aluno da nossa epígrafe, percebemos que nesse período em que fomos surpreendidos por uma pandemia, estamos sendo desafiados a incorporar novas conquistas à nossa experiência. Juntos, professores e alunos, temos que construir novos caminhos para ensinar e aprender a distância, longe do ambiente escolar, sabendo que para muitos essa prática é quase impossível, pois depende das novas tecnologias, muitas vezes inacessíveis.

Embora todos os saberes sejam temporais e necessitem de renovação constante, nesse momento estamos impelidos a encurtar o tempo de aprender. A crise do Coronavírus impôs à sociedade muitas mudanças e uma delas é a de que os alunos continuem aprendendo e nós somos os responsáveis para que isso aconteça. Movidos pelo compromisso profissional estamos construindo novas competências, a prática social mudou e os novos tempos exigem um novo saber fazer. Superando dia a dia nossos limites, vamos refletir como isso ocorreu e ocorre.

Mais do que nunca estamos aprendendo enquanto ensinamos e com isso podemos nos aproximar mais de nossos colegas, alguns mais familiarizados com a tecnologia, outros disponíveis para explicar, ensinar, há ainda aqueles que olhávamos desconfiados, a distância, e tivemos a oportunidade de reconhecer seus saberes, outros ainda apresentam habilidades de designer digital e nos oferecem com prazer suas competências, há aqueles que navegam muito bem por blogues e sites e nos mostram o caminho; alguns dominam as ferramentas digitais, mas há aqueles que se aproximaram das famílias, como se vê são infinitas as possibilidades de ação. Enfim, é uma chance de ouro para que se instale o trabalho colaborativo entre os mestres. Reconhecemos que o ensinar a distância não conseguimos fazer sozinhos, se oficializa a necessidade de ajuda, caem as defesas. Podemos assumir sem constrangimento o não saber e reconhecer o quanto o Outro ajuda na construção da aprendizagem. E, também, quem sabe, nos darmos conta de que podemos contribuir para a aprendizagem de um colega. Instala-se uma troca rica e promissora.

Outro ponto a ser considerado é que o saber e o fazer do professor ao usar ferramentas digitais estão registrados e, mais que isso, sendo publicados. É uma experiência ímpar escrever para ser lido e por esse motivo buscar clareza, escrever com sentido, organizar o pensamento para que a escrita seja compreendida pelo leitor. E se isso inicialmente causa medo, foi preciso buscar coragem e apoiar-se nas potências para objetivar nossa prática e enfrentar a leitura e a avaliação dos colegas, dos pais, da comunidade. E é aqui que se reúnem dois modos de ser importantes para o desenvolvimento profissional: reconhecer que não se sabe tudo e recorrer ao Outro para pedir ajuda. É nesse momento que se fica a par das práticas, das vivências, em suma, da experiência.

Os saberes se somam, se subtraem e se acumulam durante nossa trajetória profissional. Cada uma das nossas experiências pessoais e profissionais contribuem para a maneira como somos professores na atualidade. Você que é leitor da revista Na Ponta do Lápis e tem a oportunidade de visitar o Portal Escrevendo o Futuro pode conhecer muitos relatos de prática. Neles os professores fazem o que propõe Tardif: objetivam seu saber fazer e dessa forma conseguem ter algum controle sobre sua atividade, partilhar com seus companheiros suas práticas e se legitimar como mestres. Retome alguns desses relatos com o objetivo de identificar os saberes que estão ali expressos. Reconheça no seu modo de ser professor o percurso em que esses saberes foram construídos e reverencie seus mestres e seus alunos, pois eles constituem sua consciência.

Saberes docentes

A prática docente é plural e complexa e se compõe de saberes de muitas naturezas. Para Tardif os saberes estão divididos em quatro tipos, que estão relacionados com a atividade docente e apresentamos neste quadro (cf. Cardoso et al, 2012).

  A    Saberes da formação profissional

Faz parte desse grupo os saberes baseados nas crenças da educação e transmitidos aos professores ao longo de seu processo de educação. São os conhecimentos pedagógicos, não apenas as estratégias usadas pelos professores para ensinar os conteúdos, como também os planejamentos, as sequências didáticas, os materiais pedagógicos etc. Acrescenta-se a tudo isso a história do professor desde quando era aluno até os métodos de ensino e as técnicas que aprendeu ao longo de sua formação.

  B    Saberes curriculares

As instituições educacionais buscam fazer a gestão dos conhecimentos acumulados pela ciência, transformando-os em objetos de ensino e organizando-os em programas, objetivos, conteúdos, e em dificuldades crescentes ao longo dos anos escolares. As escolas e seus professores procuram dar sentido a esses conhecimentos e torná-los acessíveis aos alunos.

  C    Saberes disciplinares

Os saberes provenientes desse grupo se referem aos campos do conhecimento (linguagem, ciências exatas, humanas, biológicas etc.). Dos saberes produzidos e acumulados pela sociedade ao longo da história serão extraídos aqueles que devem ser ensinados aos alunos.

  D    Saberes experienciais

É no exercício da atividade profissional, nas vivências individuais e coletivas que o professor desenvolve suas habilidades, competências, o seu saber de saber fazer. Eles se desenvolvem no cotidiano, em situações concretas que dependem de sua capacidade de interpretar os eventos, de sua segurança em decidir e improvisar. Em meio a essas vivências que ocorrem no espaço da escola e das relações estabelecidas com alunos e colegas de profissão que esses saberes vão se consolidando e se transformando.

 


Sonia Madi é mestre em Didática pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora e idealizadora da Olimpíada de Língua Portuguesa de 2002 a 2016. Foi coordenadora pedagógica e diretora da Rede Municipal de Ensino de São Paulo e coordenou processos de reorientação curricular.


 

Referências

CARDOSO, Aliana Anghinoni; DEL PINO, Mauro Augusto Burkert; DORNELES, Caroline Lacerda. “Os saberes profi ssionais dos professores na perspectiva de Tardif e Gauthier: Contribuições para o campo de pesquisa sobre os saberes docentes no Brasil”. IX ANPED SUL – Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 2012. Disponível em <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/668/556>.

MACHADO, Ana Maria. “Um ABC de mestres”, in: FANNY, Abramovich. Meu professor inesquecível. São Paulo: Gente, 1997.

SARAMAGO, José. Pequenas memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

TIBA, Içami. “Mestres e professores”, in: FANNY, Abramovich. Meu professor inesquecível. São Paulo: Gente, 1997.

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