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(90 minutos)
Minha identidade não é sua fantasia
17 de fevereiro de 2023
Disponível em: https://projetocolabora.com.br/ods10/minha-identidade-nao-e-sua-fantasia/ Acesso em: 10/10/2023
Ressalte que o texto data de fevereiro de 2023, ou seja, foi escrito às vésperas do Carnaval, momento em que fantasias que fazem referência às culturas brasileiras ainda são comuns: há “índios”, “mães de santo” e “muçulmanos”, por exemplo.
Ela problematiza o uso de fantasias de “índio” do Carnaval, ao apontar as origens e as consequências dessa prática, o que se evidencia já no título do artigo de opinião: “Minha identidade não é sua fantasia”.
Peça à turma para identificar quais argumentos estão presentes no texto. Samela Sateré Maué recorre à história, quando faz menção a valores da colonização que são propagados sem reflexão até a atualidade. Menciona também a concepção limitada que a população tem dos povos indígenas (ao chamá-los de tribos), o quanto o uso de pinturas e adereços pode ser ofensivo e a associação entre nudez e mulheres indígenas como forma de objetificação.
O esquema de Toulmin
Acompanhe a explicação passo a passo:
No texto, o dado do qual Samela Sateré Maué parte para desenvolver seu artigo é o fato citado no primeiro parágrafo: o incômodo gerado pelo uso de fantasias de “índio” durante o Carnaval.
Nesse sentido, Samela quer nos levar à conclusão que identificamos na atividade: usar fantasia de “índio” alimenta estereótipos e violências contra as populações indígenas.
No artigo aqui analisado, os principais argumentos são aqueles apresentados na seção do texto que denominamos “Desenvolvimento”, ou seja, os parágrafos que vão de 2 a 8.
No artigo de Samela Seteré Maué, um bom exemplo de suporte aparece nos parágrafos 3, 4 e 5, que discutem como a linguagem reproduzida no Carnaval serve para disseminar estereótipos, preconceito e informação equivocada: “O primeiro ponto relacionado à fantasia de índio remete logo ao nome. “Índio” é um termo pejorativo e errado – dado pelos colonizadores quando invadiram o Brasil –, que não traduz toda a nossa diversidade. Quando as pessoas usam esse termo, elas remetem a somente um povo, invisibilizando, por ignorância, os mais de 305 povos indígenas que, com sua diversidade, vivem no Brasil”. Na sequência, ela acrescenta: “Usar o termo também traz adjetivos e estereótipos construídos pela colonização, e reproduzidos por muito tempo nas escolas e veículos de comunicação como ‘índio preguiçoso’, ‘índio sem alma’ ou ‘índio anda nu’”. Este argumento complementa o anterior, o qual mobiliza a linguagem, aparentemente inofensiva e dissociada do Carnaval, como fundamental parte de práticas excludentes. Por fim, a autora afirma: “Geralmente, quando as pessoas usam da nossa identidade no carnaval, elas também usam o termo ‘tribo’, que não condiz com a nossa organização social. Somos Povos, segundo a Constituição, nos artigos 231 e 232, pois cada povo tem língua, cultura, território e identidade diferentes”. Com a reflexão sobre o termo “tribo”, a ativista e comunicadora fecha uma sequência de raciocínio. O objetivo da autora é levar o auditório a pensar em questões sobre as quais talvez nunca tenha pensado, porque se trata de um fenômeno naturalizado – pela mídia e pelas escolas, como Samela defende – na sociedade brasileira.
Alguns exemplos, no artigo de Samela:
“Ainda bem que estamos aqui para descomplicar…” (2º parágrafo)
“Geralmente, quando as pessoas usam da nossa identidade no Carnaval, elas também usam o termo ‘tribo’, que não condiz com a nossa organização social”. (5º parágrafo)
“Elas não podem ser reproduzidas sem sentido e/ou propósito”. (8º parágrafo)
Em seu raciocínio, Samela antecipa e contesta o contra-argumento possível à sua tese na conclusão, de modo indireto, ao perguntar “Mas como eu posso homenagear os povos indígenas?”. Com a pergunta, ela antecipa o argumento de quem defende que a fantasia é uma homenagem e oferece alternativas para homenagens que ela considera mais pertinentes.
Os DADOS, a CONCLUSÃO e a JUSTIFICATIVA compõem o núcleo de uma argumentação. Em muitos casos, o raciocínio resume-se a eles. Veja, como exemplo, uma argumentação contrária à Reforma do Ensino Médio.
Diante do projeto do governo federal de alterar a dinâmica do Ensino Médio (D), quero dizer que isto seria um retrocesso (C). A diminuição da carga horária dos componentes curriculares que compõem a formação geral básica gerará prejuízos às(aos) jovens e aumentará a desigualdade social no país. (J).
Entretanto, o SUPORTE para os Dados ou Justificativas, o MODALIZADOR e a REFUTAÇÃO também podem agregar-se a uma argumentação, com o objetivo de lhe dar mais consistência ou eficácia, do ponto de vista de um auditório específico.
A linha pontilhada do gráfico que liga os Dados à Conclusão indica que existe uma relação lógica indireta desses dois elementos dentro do esquema argumentativo. Ela é indireta justamente porque precisa ser estabelecida ou demonstrada por meio de argumentos coerentes e convincentes. Já as linhas cheias indicam relações lógicas diretas e necessárias entre os Dados e os argumentos que os complementam e reforçam, ou seja, as Justificativas e o Suporte.
É preciso estar atento, portanto, às relações que se estabelecem entre as partes de um texto argumentativo para detectar adequadamente “quem é quem” e também para avaliar se elas efetivamente funcionam, no conjunto, como Dados, Justificativas, Conclusão etc. Vale ressaltar que nenhuma oração, período ou trecho é, independentemente dessas relações, uma Conclusão, um Dado ou uma Justificativa. Os elementos articuladores também desempenham um papel importante nesse processo.