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Encontro de Semifinalistas - Crônica

Marina Almeida

07 de agosto de 2023

 

Encontro de Semifinalistas de Crônica

Começa nesta quarta-feira, 13/10, o Encontro de Semifinalistas do gênero Crônica. Professores(as) e suas turmas que foram classificados para esta etapa participarão de discussões, palestras, atividades formativas e culturais. Tudo acontecerá de forma remota, com atividades síncronas e assíncronas, por meio de um ambiente virtual de aprendizagem criado especialmente para os Encontros de cada gênero.

O Encontro de Crônica vai até sábado, 16/10, quando serão anunciados os(as) professores(as) e as turmas finalistas no gênero. A cerimônia de encerramento do Encontro de Semifinalistas de Crônica será transmitida pelo canal do YouTube da Olimpíada de Língua Portuguesa às 18h (horário de Brasília) no link https://www.youtube.com/watch?v=4ZwpX2PSeWw e também pelo Portal Escrevendo o Futuro. 

 

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Antes mesmo do Encontro ter início, professores(as) e estudantes puderam acessar a Semana de Boas-vindas do ambiente virtual de aprendizagem. Ali são propostas as primeiras atividades, permitindo que os participantes se apresentem e se conheçam – princípio que se mantém também durante a semana do Encontro, que busca promover as trocas e a descoberta da enorme diversidade que a Olimpíada de Língua Portuguesa promove.

Atividades

“Para os estudantes, a ideia é levá-los a pensar sobre o que significa olhar para o cotidiano num contexto de pandemia e fazer um texto a partir dessas reflexões”, explica a coordenadora de formação, Patrícia Calheta. Entre as atividades previstas estão a criação de um meme sobre o espírito cronista, a elaboração de um verbete pessoal, que traga novos significados a uma palavra, e a fotografia de seu cotidiano e escrita a partir dessa imagem.

Já o trabalho dos professores terá como foco o Relato de prática. Além de rodas de conversa, murais para troca de mensagens e informações, os professores terão a oportunidade de ler e comentar o Relato de um dos seus colegas. “Eles poderão falar sobre seu Relato e conhecer os caminhos e estratégias de outros docentes, além de se inspirar em textos, falas e vídeos diversos”, conta Patrícia. O olhar para o gênero Crônica também estará presente. Entre as atividades programadas, o trabalho com montagem de fotos, por exemplo, irá mostrar como essas imagens podem revelar muito sobre o cotidiano. “De diversas formas, os professores poderão mostrar seu protagonismo, que foi o centro de todo o trabalho da Olimpíada este ano”, lembra a coordenadora.

Os Encontros também contarão com palestras de importantes autores ou personalidades na área de cada gênero. Em Crônica, os estudantes conhecerão Bruno de Castro, jornalista e escritor, que foi finalista do Prêmio Jabuti com seu primeiro livro E, no princípio, ela veio: crônicas de memória e amor (Moinhos, 2020). Para os professores, o encontro será com a escritora e tradutora Carol Bensimon. Autora de romances como O Clube dos Jardineiros de Fumaça (Cia da Letras, 2017), vencedor do Prêmio Jabuti, ela também escreve contos, ensaios e crônicas, como as que estão reunidas na obra Uma Estranha na Cidade (Dublinense, 2016).

Acompanhe toda a cobertura dos Encontros pelo Portal Escrevendo o Futuro e nas nossas redes sociais. Compartilhem também suas experiências com a hashtag #CronicaOLP.

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1º dia


Veja como foi o primeiro dia de atividades de professores e estudantes

Professores discutem os desafios do Relato de prática; estudantes aguçam o olhar para o cotidiano e para o humor

Marina Almeida

Coragem, superação, resiliência, persistência, insistência, esperançar. Essas são algumas das palavras escolhidas pelos(as) docentes semifinalistas neste primeiro dia de Encontro de Semifinalistas do gênero Crônica para representar o processo de escrita de seus Relatos de prática. “Eles estavam muito felizes e emocionados de estar fazendo parte do Encontro, porque, com a pandemia, o processo de participação foi bastante desafiador para todos”, conta Margarete Schlatter, que atua como formadora docente.

Numa roda de conversa on-line, os(as) participantes puderam se conhecer, discutir e trocar percepções sobre a elaboração dos Relatos de prática.


“Eles comentaram que foi interessante o desafio de escrever os Relatos ao mesmo tempo em que seus estudantes também estavam fazendo suas produções escritas, passar por esse lugar também de precisar redigir um texto, de saber que vai ser avaliado, de buscar a opinião dos colegas da escola e de entender melhor o formato do gênero Relato”, destaca Margarete.


A dificuldade de cortar informações do texto e de focar em apenas um aspecto também foi destacada pelos participantes: “como foi um processo muito intenso, eles queriam abordar todas as questões no Relato”, diz Margarete.

A formadora lembra que muitos professores seguem dando aula normalmente esta semana e que assistiram ao encontro após a primeira aula da manhã ou antes das aulas vespertinas. Apesar disso, a participação foi alta tanto na roda de conversa quanto nas atividades assíncronas, como publicação em fóruns e murais. “Estamos tentando fazer do não presencial o melhor possível.”

Estudantes

No período da tarde, as atividades se concentraram nos(nas) estudantes. As turmas formadas para o Encontro de Semifinalistas reúnem alunos e alunas das diferentes regiões do Brasil, criando uma grande troca de sotaques e experiências. “É um dos pontos altos da Olimpíada, promover essa relação entre pessoas que estão distantes fisicamente, mas que conseguem se identificar pela escrita e pelo texto”, ressalta a formadora Lara Rocha. “Na minha turma havia alunos que vinham desde Santa Catarina até o Rio Grande do Norte, além de alguns que estudavam na mesma sala. Eles vão se identificando e vendo o que é diferente também entre eles”, diz.

As atividades do dia contaram com uma apresentação dos participantes e a leitura de um poema sobre a atenção às pequenas coisas, abrindo a discussão sobre o olhar do cronista para o cotidiano. “Algumas alunas contaram sobre seu processo de escrita a partir dessa discussão”, lembra Lara.
Por fim, os(as) estudantes conversaram sobre os memes como uma forma de falar sobre coisas do dia a dia com muito humor.

 


Eles adoraram conhecer a origem dos memes, ficaram surpresos ao saber que vinha da biologia”, conta a formadora Gabriela Flores. Ao final do encontro síncrono, a proposta era de que os estudantes criassem seus próprios memes sobre um momento de seu cotidiano. O resultado dos memes, postado nos grupos, mostra o bom humor dos(das) estudantes. “Estão muito divertidos. Eles têm trazido o universo da escola e da própria Olimpíada para seus memes”, revela Gabriela.

 

As formadoras contam que os(as) jovens ainda estão um pouco tímidos para ligar a câmera, mas a participação por áudios e no chat do encontro ao vivo foi intensa. “Muitos estão participando em um ambiente público, como uma sala da escola ou um laboratório de informática, e acabam preferindo não usar muito a câmera, mas interagem de outras maneiras”, explica Gabriela. Ela lembra que a participação deles na Semana de Boas-vindas também foi boa e aguçou a curiosidade para o Encontro.


2º dia

14 Outubro 2021

 

Carol Bensimon: a escrita a partir do olhar para os detalhes

Em palestra para os(as) professores(as) semifinalistas, a autora conta sobre seu processo de escrita e a importância da experiência

Marina Almeida

“Tem dias que escrever é misterioso e difícil, às vezes sinto muita insegurança, e há outros dias em que sinto uma grande clareza sobre esse processo”, contou a escritora Carol Bensimon na palestra para professores e professoras semifinalistas do gênero Crônica. A autora dos romances Sinuca Embaixo d'Água (Cia das Letras, 2009), Todos Nós Adorávamos Caubóis (Cia das Letras, 2013) e O Clube dos Jardineiros de Fumaça (Cia da Letras, 2017), vencedor do Prêmio Jabuti, também escreve contos, ensaios e crônicas. Em Uma Estranha na Cidade (Dublinense, 2016) ela reúne algumas das crônicas que escreveu para o jornal Zero Hora e para o Blog da Companhia.

Em sua fala, Carol dividiu o processo de escrita em duas etapas principais. A primeira é o que ela chama de “o momento da experiência”, em que coleta, de forma voluntária ou involuntária, material para sua escrita. “Quanto mais rica uma experiência, mais rica essa escrita que vai trazer imagens, cheiros, detalhes”, ressalta.

A escritora comentou que recentemente leu o livro Pilgrim at Tinker Creek (Peregrina no riacho Creek, em tradução livre), de Annie Dillard. Na obra, a autora é uma pessoa urbana que passa a observar um riacho todos os dias. Com o tempo, ela começa a notar coisas que não via antes, como os animais do entorno e o comportamento da água. “Vemos o olhar dela se abrir para essa paisagem, ela começa a ver detalhes que não enxergava antes, como os ovos do louva-a-deus que, uma vez identificados, passaram a ser vistos em toda a parte”, diz Carol. Em seus comentários, os(as) professores(as) se identificaram muito com essa imagem, e contaram que também tentam fazer com que os estudantes passem a olhar de novo, com mais atenção, para o lugar onde vivem.

 


A escritora falou ainda sobre suas referências de leitura na juventude, quando lia muitos livros das coleções Vaga-Lume, Salve-se quem puder e Para gostar de ler, além de autores como Agatha Christie e Conan Doyle. “Comecei a escrever nessa época, mas só escrevia histórias de detetive porque não achava que minha experiência de adolescente merecia ser abordada.” Hoje, no entanto, ela acredita que é justamente a experiência o que mais vale ser registrado: “a experiência, a observação direta é muito mais rica, a maior fonte de nossas histórias”.

 

Ela também leu o trecho de um conto de sua autoria, revelando como deixar o(a) leitor(a) instigado(a) em continuar a leitura. “A ideia é sempre deixar uma pergunta para ser respondida no próximo parágrafo, no próximo capítulo. Deixar uma ponta solta e depois dar a solução”.

Seleção do texto

Um segundo momento do processo de trabalho, segundo Carol, acontece quando é preciso selecionar, organizar e criar um sentido para a escrita. “Tem algo de misterioso nessa organização, que não se dá de forma tão cartesiana quanto pode parecer. Às vezes não sei porque usei uma palavra e não outra, tem algo de inconsciente nessa escolha, mas acontece na busca por causar um certo efeito na leitura”, explica a autora. “Vocês também fizeram uma espécie de diário de aula, registrando o que aconteceu a cada dia, e depois precisaram decidir o que usar ou não no texto do Relato de prática”, lembra.

Os professores e professoras também enxergaram a si mesmos e a seus estudantes nesse processo de escolher o que contar, definindo o foco dos textos. Se, a princípio, a dificuldade era de não saber o que contar, fosse numa crônica ou num Relato de prática, num segundo momento era preciso escolher um tema central e deixar outras informações fora do texto. “A parte mais reflexiva do texto surge na hora da escrita”, conclui.

 

Bruno de Castro: “existem histórias que só a gente pode contar”

Em palestra para estudantes, autor fala sobre como se descobriu escritor, apesar dos estereótipos

Marina Almeida

Jornalista e escritor, Bruno de Castro foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura com seu primeiro livro – E, no princípio, ela veio: crônicas de memória e amor (Moinhos, 2020). A trajetória do autor até a publicação do livro, entretanto, não foi tão simples como pode parecer. Na palestra para os(as) estudantes semifinalistas de Crônica, Bruno contou que levou 32 dos seus 34 anos de vida para entender que ele também poderia ser um escritor. “Achava que era algo muito distante, para Machado de Assis ou Saramago, e eu sou um homem negro, homossexual e morador da periferia de Fortaleza”, diz.

Bruno conta que no meio literário ainda predominam as pessoas brancas, seja como autores ou como protagonistas das narrativas. “A gente não se vê retratado, mesmo que goste das histórias.” Para ele, a mudança de passar a se enxergar como escritor aconteceu após um curso de criação literária com Socorro Acioli. “Ela olhou para a nossa turma e falou: ‘existem histórias que só você pode contar’. Aquilo bateu em mim com uma violência tão grande, porque, de fato, existem histórias que só eu vi, só eu vivi, então não tem ninguém melhor do que eu para contá-las. Eu sou o protagonista do que vivo.”

 


Ao final do curso, Bruno resolveu transformar histórias que ouvia sua mãe contar em livro. “As histórias já existiam, e eram incríveis, e eu transformei-as em palavra escrita, que é meu instrumento de trabalho.” Ele descreve o ofício do escritor com simplicidade. “Trabalho botando uma palavra atrás da outra para formar um texto bonito, igual o pedreiro que põe um tijolo atrás do outro para fazer uma casa bonita.”

 

No livro, que reúne essas crônicas, Bruno conta histórias que sua mãe viveu, outras vividas por mãe e filho juntos e também relatos mais atuais, após dona Tereza ter sofrido um AVC e ficar acamada. “Minha mãe me deu à luz para a vida e para a literatura, eu nascia como escritor junto com meus textos”, diz Bruno.

O livro é um lugar

O autor conta que a experiência envolveu uma grande imersão para entender quem é sua mãe e enfrentar processos que nem sempre são confortáveis. “Tem histórias muito doloridas e a gente precisa depurar a nossa dor para transformá-la em frases”. Ele também ressalta que todas as crônicas são reais e que não mudou o nome das personagens ou dos lugares. O Cafundó, que aparece como pano de fundo de suas histórias, por exemplo, é o nome de um distrito com características de sertão onde sua mãe viveu.

Bruno explica que as crônicas de seu livro podem ser lidas separadamente, mas que compõem um conjunto dentro da obra, uma espinha dorsal de narrativa textual e imagética, no caso das ilustrações. “Isso é importante porque ajuda o leitor a entender que o livro não é um objeto, é um lugar. É uma viagem para Cafundó, a viagem que eu fiz, que minha mãe fez e a que o leitor faz quando pega esse livro para ler.”

A gente pode

O autor ainda falou sobre como a contribuição do negro é invisibilizada na história e nas narrativas brasileiras. “O mundo nos diz o tempo inteiro que não podemos ser alguém de sucesso e passamos muito tempo para descontruir isso e perceber que podemos ser um bom professor, jornalista, escritor. E premiado, por que não?”

Para os(as) estudantes da Olimpíada, ele ressalta a importância de acreditar no que faz. “Primeiro, é preciso entender que a gente pode. Não adianta ter histórias incríveis e achar que não pode escrever, ou que ninguém vai ler. Não interessa, escreva. Escrevendo, organizo as ideias, entendo o que sinto, onde estou, o que sou.”

Os(As) estudantes ressaltaram a motivação trazida pela palestra: “a história dele é muito linda e acabou me motivando, pois, apesar de toda luta, ele conseguiu se tornar um escritor”, contou a aluna Maria Regina. “Um cronista traz dentro do texto as emoções que vivenciou, suas experiências de vida, traz calor, motivação e inspiração para quem lê ou quer começar a escrever uma crônica", comentou Isadora Ventura.


3º dia

15 Outubro 2021

 

Ensinar em meio à pandemia e às desigualdades de acesso

Em rodas de história, professores(as) compartilharam desafios do período e a busca por soluções

Marina Almeida

Videoaulas, envio de materiais impressos, aulas interrompidas por meses ou ainda estudantes que precisavam subir em árvores ou montar num cavalo para conseguir sinal de internet. Os professores e professoras semifinalistas de Crônica relataram as situações mais diversas sobre os desafios do ensino durante a pandemia nas rodas de história que fizeram parte das atividades do terceiro dia de Encontro.

 


“A forma como a desigualdade causa impacto na acessibilidade dos alunos e na educação ficou ainda mais clara para eles com a pandemia”, conta o formador Filipe Gomes. “Além da tragédia que aparece nesse contexto, eles trouxeram um olhar de esperança e também de indignação, porque veem o quanto faz falta condições mais igualitárias de ensino”, ressalta.

 

Teresa Magalhães, que coordenou uma das rodas de história, conta que os(as) professores(as) se identificaram nos Relatos de prática uns dos outros. “As professoras contaram sobre as dificuldades de trabalhar dentro de casa e ainda precisar cuidar da casa e dos filhos. E ficaram muito emocionadas ao ver que, apesar de tudo isso, seu Relato chegou à Etapa Semifinal e seu trabalho foi valorizado. Também ficaram felizes ao perceber que conseguiram mobilizar os estudantes e que eles desenvolveram bons textos.”

 


“Ouvimos histórias comoventes, engraçadas, mas sobretudo potentes, que nos enchem de esperança ao mostrar que os professores têm capacidade e vontade para mudar, e por isso não desistem de continuar nessa peleja pela educação”, completa Filipe.

 

Estratégias de ensino

“Foi importante ter esse espaço para falar sobre questões profissionais e também pessoais desse período”, diz a professora Danusa Marins Ferreira Santos, de Itaboraí (RJ). Ela conta que trabalhou o gênero Crônica no formato híbrido, com participação presencial de cerca de 70% da turma.

A primeira atividade que ela propôs para os(as) estudantes foi que escrevessem sobre um tema comum, para observarem os diferentes pontos de vista que surgem mesmo neste caso. Enquanto discutiam qual seria o assunto da crônica, um filhote de cachorro apareceu no pátio da escola e causou alvoroço entre a turma. Assim, o cachorrinho perdido foi o tema escolhido para esse primeiro texto. Após lerem os diferentes textos surgidos a partir da mesma história, a turma escolheu um deles para trabalhar, em conjunto, a reescrita e a revisão coletiva. “Foi uma atividade produtiva e engraçada”, lembra a docente.

O humor também foi o mote do trabalho de Jucinei Rocha dos Santos, de Monte Azul Paulista (SP). Para motivar a geração tecnológica, o professor pediu aos(às) estudantes que escrevessem sobre um ‘mico’ ou uma situação engraçada de sua vida. “Eles trouxeram os namoricos, os causos e fizeram uma pequena crônica sobre a situação, que compartilharam com os colegas nas aulas que aconteciam pelo Google Meet”, conta Jucinei. A partir daí, ele apresentou diferentes textos para os(as) estudantes, com destaque para os autores que se utilizam do humor, como Stanislaw Ponte Preta e Luis Fernando Veríssimo.

“Começamos com um pequeno relato engraçado e quando vimos eles já estavam fazendo crônicas sobre a região, com denúncia social”, comenta o professor. “Tento mostrar que a Língua Portuguesa pode ser complexa, mas não é chata e está presente em tudo.”

 

De suas janelas, estudantes olham para o amanhã

Jovens conhecem um pouco mais sobre o Brasil a partir do olhar de seus colegas para o lugar em que vivem

Marina Almeida

De suas janelas, os jovens cronistas desta edição veem o mundo. Um arranha-céu, uma figueira frondosa, os carros que passam, o vendedor ambulante, um rio de águas calmas, as falésias da praia, as árvores da caatinga, uma parede cheia de musgo, um pôr do sol ou as andorinhas, que fizeram companhia no tempo de quarentena.

As imagens são uma pequena mostra do que os estudantes produziram no terceiro dia de Encontro dos Semifinalistas. Na atividade, os estudantes foram convidados a fazer uma foto sobre o que viam de sua janela e a escrever uma legenda cronística, que revelasse um pouco do olhar do participante sobre a paisagem que ele costuma ver. Nos textos, os jovens falaram um pouco mais sobre o lugar onde vivem e seu cotidiano, revelando uma grande diversidade de lugares e experiências. A janela ainda apareceu como metáfora de uma abertura para o mundo. “A relação com pandemia e o olhar para a vida pela janela nesse período também esteve presente nas legendas dos estudantes”, conta a formadora Talita Zanatta.

 


“Foi também uma oportunidade de os jovens se reconhecerem como sujeitos ativos, ao parar e observar o que se passa ao seu redor”, conta o formador Marcelo Gercino. Sua dupla, a formadora Camila de Almeida, ressalta ainda o entusiasmo que os estudantes demonstram ao olhar para o mundo que os cerca.

 

Modos de descrever

Antes de fotografar e escrever sobre o que viam de suas janelas, no encontro síncrono, os estudantes conversaram sobre as formas de falar sobre um lugar. A partir de uma fotografia do rio Amazonas, eles fizeram um exercício de descrição. Em seguida, leram uma crônica do livro O turista aprendiz, de Mário de Andrade, sobre aquela paisagem. “Ele descreve com sentimento a grandiosidade do rio, de uma forma que mesmo a imagem não consegue mostrar”, comenta o formador Antônio Gil Neto.

Os estudantes também ouviram uma música de Arlindo Cruz sobre o bairro de Madureira, no Rio de Janeiro (RJ). “O autor fala sobre as pessoas, a cultura, a religiosidade daquele lugar, traz um olhar sobre o bairro que só quem conhece pode ter. A partir daí, os estudantes também falaram muito sobre as características de sua região e se surpreenderam com as diferenças encontradas”, lembra Talita. “Na minha turma, um aluno contou que já tinha morado em Madureira, falou sobre o lugar e confirmou o que dizia a música”, diz Antônio.

Passeio pelo mapa

Os encontros contaram ainda com um passeio pelo Brasil a partir das imagens do Google Maps Street View. Na turma de Talita, o tour passou pelo rio Amazonas e pelo bairro de Madureira, que mostrou um Rio de Janeiro diferente daquele das novelas. Ao final, alguns alunos também quiseram mostrar suas localidades. Já na turma de Antônio, o passeio foi pelas grandes cidades, São Paulo e Rio de Janeiro, além da pequena Paramirim (BA), onde mora uma das estudantes. “Ficamos comparando as diferenças e até o estilo das roupas das pessoas nesses lugares”, lembra Antônio.

Na turma dos formadores Wellinson Guedes e Angelo Roberto Gonçalves Ribeiro, o passeio começou pelas imagens de onde eles próprios vivem. “Mostrei meu bairro, Cidade Tiradentes, na periferia de São Paulo (SP) e o Angelo a residência universitária da USP, onde está morando. Os alunos se reconheceram, falaram que eu também morava na quebrada. A partir daí, todos quiseram mostrar o lugar onde vivem”, conta Wellinson. O grupo foi visitando cada cidade, guiados pelo olhar de seus jovens moradores, que contavam o que havia de bonito e também os problemas de sua região. “Foi um momento muito íntimo, de afetividade ao mostrar esse lugar. E todos queriam falar, não tiveram vergonha de mostrar o que não era bom...”, lembra o formador.

Para Camila e Marcelo, o momento de contar sobre seus diferentes lugares foi como a construção de uma crônica coletiva, “com cores, sabores, cheiros e sentimentos temperados com a grandiosidade da cultura popular brasileira.”


4º dia

16 Outubro 2021

 

Entre a cheia e a vazante, escola ribeirinha se une pela educação de todos

Enfrentando a pandemia, inundação e falta de recursos, turma da comunidade São Francisco, às margens do Amazonas, chega à Etapa Semifinal da Olimpíada

Marina Almeida

Na época da cheia do rio Amazonas, a professora Nancy Socorro de Miranda Cunha vai remando até a escola. Na vazante, quando já não é possível acessar a unidade por barco, ela caminha a pé por cerca de 30 minutos. Seus alunos e alunas, da Escola Municipal Professora Francisca Góes dos Santos, da comunidade São Francisco, em Careiro da Várzea (AM), também costumam usar o barco do transporte escolar quando o rio está cheio, mas precisam caminhar na época da seca. “As crianças vêm pela estradinha de terra, mas tem mato, arvoredos e as distâncias são grandes. Alguns vêm de bicicleta, outros de triciclo. Também dá para chegar de moto, quando não chove, né?”, explica a professora.

Este ano, a comunidade ribeirinha, que vive sobretudo da agricultura, pesca e pecuária, enfrentou uma cheia histórica, que alagou casas e até a escola. “Todas as casas são altas, de palafitas, para proteger da subida das águas, mas a maior parte delas alagou mesmo assim”, diz Nancy. Com a inundação, a escola entrou em recesso por mais de um mês, o que atrapalhou as atividades da professora, mas ela não desistiu.

Desafios

Nancy explica que, com a pandemia, passou a preparar materiais apostilados para entregar aos(às) estudantes, já que a dificuldade de acesso à internet impedia a realização de videoaulas e encontros virtuais. “Nós, professores, vínhamos para a escola, sempre de máscara e álcool em gel, para preparar o material para os alunos. Os pais vinham buscar num dia combinado com antecedência. Também tentava monitorar via WhatsApp, ligação ou ia na casa deles, com todos os cuidados, para deixar o material.”

Com a enchente, porém, todo o trabalho foi interrompido. Muitos(as) estudantes tiveram suas casas alagadas e precisaram sair temporariamente da região. Além disso, a água chegou à escola perto do dia 20 de maio e os(as) professores(as) também não podiam mais ir até o local para preparar suas apostilas. “Só em julho as águas baixaram e começamos a ver o que podíamos fazer para correr atrás do prejuízo. Estava aflita porque não sabia como chegar a todos os alunos e garantir que fizessem as atividades”, conta Nancy. Para retomar o trabalho, ela mobilizou a direção da escola e as famílias, além de realizar uma busca ativa pelos(as) estudantes que estavam sem contato.

Com o avanço da vacinação na região, as aulas voltaram a ser presenciais, a princípio no pátio aberto da escola. “Com o contato mais direto, pude acompanhar melhor, observar os erros e acertos, incentivar e esclarecer as dúvidas. Mas também fiquei surpresa porque todos já chegaram com um tema para sua crônica, como tínhamos conversado nas aulas remotas. A maioria queria escrever sobre a enchente, outros sobre uma pescaria no lago, outros sobre as marombas, que são aquelas construções que a pessoa tem que fazer para salvar os animais da inundação e até mesmo os móveis das casas alagadas...” Ela também comemora o fato de ter conseguido a participação de todos os(as) estudantes.

Semifinal

Para ajudar os(as) estudantes com dificuldades de acesso à internet a participarem das atividades do Encontro de Semifinalistas, a escola se uniu. Nancy explica que a unidade possui apenas um computador com roteador de internet, que suporta 5 ou 6 aparelhos. Durante esta semana, no período da tarde, o roteador sai da secretaria da escola e vai para a sala de aula, para que os(as) estudantes possam utilizá-lo. Para os(as) demais alunos, as professoras e a diretora emprestam seu celular, assim como carregadores e fones de ouvido.

 


“Apesar dos pequenos recursos, a gente vai se ajudando. O esforço é tão grande desses meninos e estão tão felizes de serem semifinalistas, estão aprendendo muito, só falam sobre isso. Você não imagina o quanto significou para eles, diante de todos os desafios que já enfrentaram, chegar até aqui”, diz a professora.

 

Ela conta que os(as) profissionais da escola já costumam se mobilizar para driblar a falta de recursos, seja para completar o valor do gás de cozinha da unidade, seja para organizar um bingo e arrecadar verba para despesas, como material escolar.

Vencendo os desafios, esta é a quarta vez consecutiva que a unidade chega à Etapa Semifinal da Olimpíada. “É um povo que se ajuda e que luta. E a gente se mantém resistindo em morar aqui porque também é um lugar lindo, que tem suas belezas naturais, muitas árvores, frutas, peixes.”

 

Pela docência, Rosileni transmite o amor pelos livros

Professora de uma comunidade rural, ela enfrentou os desafios da falta de acesso à internet para lecionar durante a pandemia

Marina Almeida

“Ensinar língua portuguesa para mim é muito mais que um trabalho, que um emprego, é uma missão que requer muita dedicação, compromisso e responsabilidade”, diz a professora Rosileni Muniz da Silva. Moradora da zona rural de Montalvânia, município no norte do estado de Minas Gerais, ela conta como a descoberta da leitura foi importante em sua própria trajetória.

“Tive uma infância feliz, mas também de muitas privações. Sou a 10ª filha de 14 irmãos e meus pais trabalhavam na roça para nos sustentar. Em casa não tinha luz elétrica ou água encanada. Se me descuidasse para fazer as tarefas da escola, era preciso usar a luz de um candeeiro à noite”, lembra. Seu primeiro contato com a literatura se deu após uma mudança de escola. “Lá tinha uma pequena biblioteca e foi meu primeiro encontro com os livros da coleção Vaga-Lume. Li vários. Eu amava os livros! Naquela época não tinha televisão nem internet, então tudo que eu fazia era cumprir com os afazeres da casa e estudar, depois ia ler no tempo que sobrava. Foi conduzida por essa paixão que eu me tornei a professora de Língua Portuguesa.”

Hoje, Rosileni tenta transmitir seu amor pela leitura para os alunos da Escola Estadual da Vila Novo Horizonte, onde leciona. Ela conta as dificuldades de trabalhar em uma comunidade com poucos recursos, onde a maioria das famílias vive da agricultura de subsistência e de auxílio assistencial do governo.

Aulas remotas

Com a pandemia, os desafios se multiplicaram. “Cerca de 200 dos 241 estudantes da escola dependem de transporte escolar, pois residem em áreas distantes da escola, e não possuem acesso à internet ou outros meios tecnológicos, o que dificulta muito o contato com eles e seus responsáveis”, explica. Com a suspensão das aulas presenciais, a escola trabalhou com materiais impressos para serem distribuídos para os estudantes.

 


“Este ano, a Olimpíada chegou neste contexto. Ficamos angustiados, sem saber o que fazer. Como trabalhar as atividades do programa de forma impressa, sem ter retorno do aluno? Estudei os Cadernos Docentes para entender as atividades, seus objetivos e poder fazer as adaptações para a realidade dos alunos”, conta. Para os 10% dos estudantes que conseguiam acessar a internet, Rosileni criou um grupo de WhatsApp, por onde enviava textos, áudios e vídeos. Para os demais, as soluções precisaram ser mais criativas. “Enviamos bilhetes com mensagens motivadoras e orientadoras, textos, guia de orientações de como fazer as atividades impressas. Devido ao tempo, algumas atividades também tiveram que ser resumidas, outras antecipadas.”

 

O esforço trouxe bons resultados e Rosileni e sua turma chegaram à Etapa Semifinal. “Fiquei muito feliz, quase não acreditei quando saiu o resultado”, conta a professora, que já havia participado do concurso outras vezes, mas que pela primeira vez se classifica como semifinalista.

 

 

Veja como foi o encerramento e conheça os finalistas do gênero Crônica

Com música, poesia e emoção, chega ao fim o Encontro de Semifinalistas do gênero Crônica da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa. Transmitido do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (SP), a cerimônia de encerramento contou ainda com a participação de Geni Guimarães, escritora homenageada desta edição. A autora leu um trecho de um poema de sua autoria e falou aos educadores e educadoras sobre a importância de olhar não só para o que seus estudantes aprenderam, mas para o que eles são por dentro.

Encerrada ao som da música tema da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, a cerimônia apresentou os nomes dos finalistas de Crônica. Confira a lista ao final do texto.

Muitos encontros

Nesses quatro dias, pudemos nos conhecer todos um pouco melhor. Conhecemos estudantes de todas as regiões do Brasil, jovens que gostam de livros, animes, filmes, teatro, música, confeitaria, fotografia, política e astronomia. Juntos, “viajamos” por suas janelas e pelas pequenas e grandes cidades do país. Rimos com seu bom humor para os memes e nos emocionamos com os textos criados durante as atividades.

Também pudemos acompanhar um pouco da luta e do compromisso dos professores e professoras brasileiros, que enfrentaram a pandemia, a falta de acesso à internet e outras tantas adversidades, mas se mantiveram firmes no seu compromisso com a educação. O tempo foi curto para tantas conversas e aprendizados e a saudade já está batendo. Até a próxima!

 

Finalistas

Prof.ª Alessandra Alves Pacífico Campos

“Nesse mar de letras, os protagonistas somos nós!”

Colégio Estadual José Pereira de Faria

Itapuranga - GO

Prof.ª Carla Micheli Carraro

“Admirável texto novo: aprimorando a linguagem na prática textual”

Col. Est. do Campo Faxinal dos Marmeleiros

Rebouças - PR

 

Prof.ª Daiane de Sá Demuner Baêta

“Um grande desafio”

EMEIEF Santo Antônio

Boa Esperança - ES

Prof.ª Dayane da Costa Silva

“Ressignificação: a metodologia para uma nova realidade”

UEF Deputado Eligio Almeida

Bacabal - MA

 

Prof.ª Eliane dos Santos Gomes

“O desafio escolar em tempos de coronavírus”

Centro Educacional Vieira da Silva – Anexo I

Araguanã - MA

Prof. Francisco de Assis da Silva Junior

“Aula em casa – conectando vidas, pessoas e lugares”

EM José Adelaide de Carvalho

Icó - CE

 

Prof.ª Iskaime da Silva Sousa

“Esse é o mar. Navegue do jeito que der”

EMEF Maria Marques de Assis

São Domingos - PB

Prof.ª Jaqueline Pereira dos Santos

“Prática pedagógica reflexiva e a necessidade da busca do novo normal em tempos de pandemia”

EE Joaquim de Souza Coelho

Manacapuru - AM

 

Prof.ª Josefa Maria Taborda do Nascimento Silva

“Nas asas da esperança”

EE Prof. Irineu da Gama Paes

Macapá - AP

Prof.ª Jussara Biazotto

“O cringe pode ser massa!”

EM Viver e Conhecer

Capinzal - SC

 

Prof.ª Lourdes Aparecida Lopes Barbosa de Souza

“Quando o distanciamento é a norma, que nos aproxime o coração”

EE de Lambari

Novo Cruzeiro - MG

Prof.ª Marta Freire Moreira

“Sementes da melhor literatura foram plantadas, mesmo em tempos tão difíceis de pandemia”

EMEF Manoel de Paula Serrão

Anchieta - ES

 

Prof.ª Renata Soares Souza Dias

“Tecnologias digitais: uma ponte necessária entre professor e aluno”

EE Dom Lúcio

Espinosa - MG

Prof.ª Rosana Ribeiro dos Santos

“Um desejo e uma pedra”

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