Uma festa para os livros e para a leitura
livros, feiras literárias, literatura, formação leitora
Em tempos de internet, há espaço para a escrita e o envio de cartas na forma tradicional? Uma turma de Brasília demonstrou que é possível dar novo sentido à troca de cartas como meio de compartilhar diferentes culturas. Viajando para "cantos distantes", sem se deslocarem fisicamente, crianças de diferentes continentes puderam se encontrar.
Poder viajar sem sair do lugar é, em si, uma ideia bastante convidativa. Quando a essa possibilidade se soma a oportunidade de conversar com alguém da mesma idade, porém com identidade cultural diferente e, ao mesmo tempo, tão irmanada com a nossa, a viagem pode se tornar ainda mais interessante.
Quando os alunos de Brasília souberam que em um país chamado Cabo Verde havia uma sala de 3º ano com vontade de se corresponder com eles, o entusiasmo das crianças se manifestou por meio de indagações diversas:
onde fica Cabo Verde?
como é Cabo Verde?
será que os alunos de lá entendem português?
a conversa vai ser pela internet?
Enquanto algumas perguntas favoreceram o contato com informações iniciais sobre o país, a última permitiu o levantamento do conhecimento da turma a respeito das diferentes possibilidades utilizadas na comunicação a distância (telefone, skype, e-mail, torpedo, WhatsApp). Como autênticos nativos digitais, isto é, tendo nascido e crescido com as tecnologias que dispensam o uso de papel na comunicação, os alunos tiveram que pensar em como se fazia em tempos anteriores ao computador.
Apesar de antiga, a carta que segue pelos Correios ainda é atual e, por isso, pôde ser lembrada. Mas quais as vantagens de sua utilização? Será que temos a mesma sensação diante de um e-mail e de um envelope com selo?
Instigados a experimentar a emoção de enviar/receber cartas escritas em papel e de trocar informações com crianças de outro continente, os alunos aceitaram o convite, dando início à viagem.
Para ajudar os alunos a terem o que dizer em suas cartas, diferentes atividades de pesquisa foram realizadas: acesso a páginas oficiais de Cabo Verde, consulta a mapas, visualização de vídeos, etc. Também foi organizada uma visita à Embaixada de Cabo Verde, em Brasília, que oportunizou aos estudantes uma situação de produção de registros de estudos.
A localização geográfica de Cabo Verde
Algumas imagens de Cabo Verde
O povo cabo-verdiano e suas manifestações culturais
Para mais informações, acesse a página oficial do Governo de Cabo Verde.
Na situação de produção dos registros de estudo, os alunos escrevem para si mesmos com o objetivo de guardar as informações que lhes parecem mais importantes.
Conhecendo um pouco de Cabo Verde
Visita à Embaixada
Hoje visitei a Embaixada de Cabo Verde em Brasília – DF.
O diplomata estava ali, mas o embaixador não estava ali.
O diplomata Luis Alegário Chancer primeiro perguntou a gente onde fica Cabo Verde aí o Yhoson falou pra mim que tinha levantar achei que tinha que levantar a mão quem levantou primeiro foi a Isabela aí ela apontou ao lado do Brasil só que ele disse que ela errou, o segundo foi o meu amigo Marco Antônio, ele apontou ao lado da África ele disse que o Marco acertou.
Em seguida nós fizemos umas perguntas e depois ele nos mostrou as 10 ilhas Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Brava, Maio, Boavista, Sal, Fogo, Praia e ilha Santa Luzia. E ele falou que Praia é a capital de Cabo Verde; A ilha do Fogo tem um vulcão bem grande; a ilha Brava tem um mar muito forte, a ilha do Sal é a ilha que fabrica mais sal, também que Cabo Verde é um conjunto de ilhas. etc.
Os idiomas de línguas são: Português de Portugal e Criolo.
A moeda de Cabo Verde é escudo cabo-verdiano e a do Brasil é real.
Bom, na minha opinião foi interessante ir a Embaixada de Cabo Verde.
André Luiz
Data: 22/05/15
Conhecendo um pouco de Cabo Verde
Visita à Embaixada
Hoje visitei a Embaixada de Cabo Verde, em Brasília – DF.
A pessoa que conversou com a gente foi o diplomata Luiz Olegário Sanches.
Primeiro falamos sobre as 10 ilhas: Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Santiago, Fogo, Maio, Brava, Sal, Boavista e Praia.
A ilha do Fogo possui um vulcão ativo que chama-se Pico do fogo, a ultima vez que entrou em erupção foi em 13/11/2014.
Em Cabo Verde as casas são feitas de blocos de concreto por que em Cabo Verde chove muito.
Ele também falou que antigamente, quando os barcos eram movidos a vapor, quando um navio Brasileiro ia até a Europa eles paravam em Cabo Verde para abastecer de carvão, água e alimentos como alface, tomate, maçã etc.
E o presidente atual de Cabo Verde é o Jorge Carlos Fonseca.
A eleição de Cabo Verde acontece de cinco em cinco anos, diferente da eleição do Brasil que acontece de quatro em quatro. A moeda de Cabo Verde se chama escudo cabo-verdiano e a do Brasil chama-se real. R$ 1,00 em Cabo Verde vale 10 escudos.
Cabo Verde e Brasil são países muito amigos.
Existem mais caboverdianos fora de Cabo Verde do que no próprio país, porque a maioria dos alimentos de Cabo Verde são importados e devido ao preço da importação eles saem do país em busca de melhores condições de vida.
A ilha de Santo Antão é muito bonita devido a sua paisagem montanhosa muito bela.
A população de Cabo Verde é formada por europeus devido o domínio de Portugal, e africanos. Com isto, a língua oficial de Cabo Verde tornou-se o português que usam em reuniões oficiais, e o crioulo é usado no dia a dia.
A capital de Cabo Verde é Praia, apesar de ser capital ela conta como ilha.
A visita à embaixada de Cabo Verde foi muito produtiva, aprendemos muito sobre Cabo Verde.
Roberto Nonato 3º ano A.
Em ambos os exemplos chama a atenção a extensão dos textos em uma sala de alunos de 8 anos. Cabe ressaltar que se trata de uma escola que investe fortemente na alfabetização inicial. As crianças chegam ao 3º ano, portanto, com o sistema alfabético conquistado.
Ensinar as turmas a organizarem seus cadernos é outro forte investimento da instituição: os rascunhos produzidos em folhas soltas são analisados pela professora, que sugere algumas revisões, e, no momento de passarem a limpo, os alunos fazem as alterações necessárias. É interessante notar que as intervenções respeitam as formas próprias de dizer dos alunos: no primeiro exemplo isso fica bastante evidente no segundo e no terceiro parágrafos.
Outro ponto de destaque refere-se à qualidade dos textos: mesmo observando que o segundo apresenta mais informações que o primeiro, os dois alunos se empenharam bastante para recuperar o que lhes foi mais significativo de tudo o que escutaram e viram na visita à Embaixada.
Com o objetivo de mapear os conhecimentos prévios da turma a respeito do gênero Carta, os alunos foram convidados, primeiramente, a escrever para um colega da sala. Essa situação, mesmo que didatizada em função de destinatários e remetentes estarem juntos todos os dias e poderem, portanto, conversar pessoalmente (ao invés de escrever), permitiu que a professora identificasse os diferentes níveis de familiaridade dos alunos com as principais características de uma carta pessoal.
Diante da heterogeneidade presente na turma – nem todos iniciaram indicando local e data, nem todos assinaram, por exemplo –, a professora propôs uma nova situação comunicativa: “Que tal escrever uma carta de agradecimento ao diplomata?”, visto que a classe havia gostado da visita à embaixada de Cabo Verde.
Animados com a ideia, os alunos assumiram o papel de ditar o texto e, a professora, o de escrevê-lo na lousa. Além da negociação sobre o conteúdo da carta (o que escrever), a situação permitiu o trabalho com a interlocução (diferenças entre a linguagem utilizada para escrever a um amigo e a um diplomata) e com as características mais regulares do gênero.
Mais preparados, os alunos puderam, finalmente, escrever para seus destinatários desconhecidos de Cabo Verde. As novas cartas pessoais e o preenchimento de seus envelopes deram início a uma comunicação que, ao longo do ano, foi sendo aprofundada em função do vaivém próprio das correspondências.
Considerando a faixa etária dos alunos que realizaram o projeto, observamos o quanto a pertinente escolha do gênero funcionou como um objeto integrador das questões envolvidas na produção escrita (o que escrever, como, com que propósito e para quem?).
A troca de correspondência é uma situação em que a escrita convoca a leitura e vice-versa, o que muito contribui para que alunos, ainda em fase inicial do processo de letramento, já operem com o conceito (nada trivial) de dialogismo, uma vez que participam de um contexto de comunicabilidade em constante ação recíproca entre remetente e destinatário.
Apoiada em Bakhtin, essa ideia evidencia o processo de interação que ocorre na polifonia, ou seja, na relação entre discursos. Realizada a partir de uma enunciação constituída em um território comum entre os interlocutores, a linguagem é posta em movimento porque a produção de um se dá em função da produção do outro.
Na situação de produção de cartas pessoais, os alunos escrevem sobre si mesmos e podem fazer perguntas ao destinatário.
Ao pedir que seus alunos escrevessem uma carta pessoal para um colega da sala, a professora pôde analisar os níveis de conhecimento a respeito do gênero, mas não só. Diante da heterogeneidade encontrada, primeiramente ela transformou sua análise em bilhetes orientadores individuais, com o objetivo de valorizar os aspectos positivos de cada texto e de indicar poucas questões que, em uma próxima produção, mereceriam mais atenção. Na sequência, estruturou um diagnóstico da turma para poder ajudar seus alunos a avançar.
O mapeamento da situação da classe implica construção de tabelas com critérios de avaliação e preenchimento com base em duas camadas de observação: na primeira, são feitas anotações sobre cada um dos alunos; na segunda, buscam-se generalizações.
O diagnóstico exige exercícios de síntese. Nesse momento veremos como as análises mais alongadas das primeiras cartas pessoais se transformam em aspectos observáveis mais enxutos (ver alunos 1 e 2 na Primeira tabela) e passíveis de generalização (Segunda tabela).
As anotações da Primeira tabela permitem que o professor conheça o ponto em que cada um de seus alunos se encontra, o que possibilita intervenções individualizadas. As da Segunda tabela ajudam o professor a decidir, entre tantos aspectos, quais os mais ajustados para investimento ao longo de determinado período.
*** Para elaboração da tabela, apenas algumas “Dimensões transversais” foram consideradas. Dependendo da turma, outras podem se ajustar melhor. Exemplo: se em uma sala grande parte dos alunos ainda não domina a escrita alfabética, este critério precisa ser avaliado. Tabela em PDF
Com o objetivo de trabalhar as características mais frequentes do gênero e ajudar os alunos a adequarem a interlocução ao destinatário e à situação de uso, a professora se colocou no lugar de escriba e propôs que a turma ditasse, coletivamente, uma carta de agradecimento ao diplomata, aproveitando o clima de encantamento dos alunos com o encontro.
Quanto às características do gênero, os próprios alunos foram informantes uns dos outros: tendo na memória quais deles já as haviam utilizado adequadamente na carta ao colega, a professora pôde convocar sua participação, validando e socializando seus conhecimentos.
Chamando a atenção da turma para o propósito da carta e para o fato de um diplomata ser uma figura de autoridade, a professora também promoveu conversas em torno do conteúdo da interlocução e de sua forma. Após muitas idas e vindas, mediadas pela professora, o texto final, aprovado por todos, foi copiado pelos alunos em seus cadernos.
Nesta situação de produção mais formal, os alunos escreveram ao diplomata para agradecer por sua receptividade e pelos conhecimentos adquiridos.
O trabalho com o preenchimento deste suporte proporcionou aos alunos diversas descobertas:
Sabendo que além de vivenciarem certas experiências, é preciso que os alunos as verbalizem para delas tomar consciência, foi proposta a confecção de um cartaz que pudesse ser consultado em outras situações de produção de cartas. Colocado no mural da sala, o cartaz ditado pelos alunos sintetiza seus conhecimentos.
O que já sabemos sobre as cartas
- na frente, escrevemos o nome de quem vai receber a carta, o endereço, o CEP, a cidade, o Estado e o país.
- no verso, escrevemos o nome de quem está enviando, o endereço, o CEP (se tiver), a cidade, o Estado e o país.
Daí tem que colocar selo e ir até o correio.
As primeiras cartas enviadas para Cabo Verde já evidenciam a apropriação, por parte, dos alunos, das muitas questões trabalhadas anteriormente pela professora. Ao mesmo tempo, também aparecem questões ainda não resolvidas que pedem encaminhamento.
A análise dos textos dos alunos não ocorre, portanto, apenas na etapa inicial de um projeto (a chamada “fase de diagnóstico”). Os textos por eles produzidos ao longo do processo precisam ser constantemente estudados pelo professor para acompanhamento de suas progressões, entendimento do que é necessário retomar e planejamento dos novos aspectos da escrita a se investir.
Uma festa para os livros e para a leitura
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Letramentos e as práticas de linguagem contemporâneas na escola
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