Uma festa para os livros e para a leitura
literatura, formação leitora, feiras literárias, livros
Edição de número 41 abarca reflexões, relatos e desafios em torno de premissas da Educação Integral e seu diálogo com o ensino de Língua Portuguesa, além de trazer entrevista com a deputada federal, educadora e ativista Macaé Evaristo e um conto literário de Geni Guimarães.
A revista Na Ponta do Lápis chega ao número 41 com uma edição especial sobre a Educação Integral. “Esta edição nasce de um duplo movimento: olhar para o histórico do Programa Escrevendo o Futuro, que sempre desenvolveu suas ações dentro da concepção de Educação Integral na qual acreditamos, de que toda a educação deveria ser integral. E ao mesmo tempo dialogar com as reflexões, políticas, saberes e práticas contemporâneas sobre o tema.”, explica Tereza Ruiz, coordenadora do Programa Escrevendo o Futuro. Este número da revista lança luz para o fato de que “todo ato educativo precisa olhar para a/o estudante em sua inteireza” e que a Educação Integral não diz respeito apenas ao tempo diário de estudantes (e docentes) em sala de aula, mas a única forma capaz de realmente educar por inteiro – “olhar para a/o estudante em suas várias dimensões: intelectual, física, social, emocional e cultural”, como aponta a educadora Gina Vieira Ponte, uma das autoras dessa edição.
Com uma carreira de mais de 30 anos na educação pública, Gina faz um paralelo entre sua prática pedagógica na formação básica e o despertar para o conceito de Educação Integral. “Contribuir com a revista foi uma oportunidade enriquecedora, pois pude sistematizar tudo o que já tinha feito na prática. Ainda que eu não tivesse consciência do que realmente significa o termo Educação Integral, eu já carregava essa concepção dentro de mim. Pois, na relação com as/os estudantes, eu entendi que ou a gente entende as alunas e os alunos em todas as suas dimensões ou a gente não consegue trabalhar e fazer uma abordagem que faça sentido”, revela.
A edição é composta de sete seções que nos conduzem a uma caminhada pelo tema a partir de olhares diversos e complementares. Cada autora traz a sua perspectiva e nos coloca ao mesmo tempo como observadoras(es) inquietas(os) e pessoas implicadas(o)s nas experiências e reflexões que ocupam as páginas da revista.
Na seção “Entrevista” a “educadora-acontecimento” Macaé Evaristo conta como se juntou a outras/os professoras/es para “mudar (um)a escola por dentro” e aponta caminhos possíveis para articular a escola e o território. “No nosso território urbano da periferia das grandes cidades, a gente trabalha com uma lógica de relações urbanas como se o simples fato de transmutar de lá para a cidade já criasse uma cultura urbana e não é assim. [...] Muitas vezes o professor vai e volta todo dia à escola, mas ele não sabe absolutamente nada do que acontece no território onde está inserida a escola.”, reflete Macaé.
A educadora Lara Rocha, especializada em Literatura Afrobrasileira e Educação Antirracista, e autora de um ensaio e um artigo da nova edição, comenta que devemos respeitar e valorizar todos os repertórios de nossas/os estudantes: “Todo sujeito que constrói educação deve ser considerado em um espaço, ter seus repertórios respeitados e valorizados em sala de aula. Eu não posso dar aula para uma criança ou pessoa adulta sem entender de onde ela parte, quais as referências que ela traz. A gente não aprende apenas recebendo o que chega. A gente estabelece compreensão a partir das conexões.” E complementa com reflexões sobre questões relativas à educação para as relações étnico-raciais. “É bastante importante a iniciativa da revista de pensar a Educação Integral sob essa perspectiva ampla, pois não existe educação integral sem o combate às desigualdades. Não é possível pensar em educação integral sem pensar em gêneros. O meu texto vai nesse sentido, a partir do olhar e das referências da bell hooks e do Luiz Rufino, vou costurando a Educação Integral que considera a integralidade do ser humano; não só a/o estudante, mas toda a comunidade escolar, não tem como a gente pensar nisso sem focar nas dimensões de gênero, raça, sexualidade”, pontua Lara.
Na seção “No chão da escola”, o relato “Catucá: de passagem por uma comunidade educadora”, de Fernanda Mendes Soares, conta a história do território quilombola Catucá, em Bacabal (MA), pelo olhar de Vanderlucia Cutrim de Sousa, gestora da Unidade de Ensino Fundamental Catucá. Ali, “a perspectiva de educação exercida parte de um princípio aparentemente muito simples: a escola é parte de uma comunidade, e a comunidade também é educadora”. Em “Linguagem e Movimento”, o ensaio “Leituras de mundo: aprender a ouvir se escutando”, de Renata Santos Rente, parte da premissa de que: “Na construção de uma educação integral, que acolha as diferentes epistemologias e reconheça as desigualdades históricas presentes em nossa sociedade, o domínio de conteúdos e conhecimentos isolados dá lugar à importância de relacionar saberes e experiências considerando as diferenças e os conflitos que marcam a formação dos sujeitos em suas múltiplas dimensões”.
Fechando a edição, o conto “Metamorfose”, da professora e escritora Geni Guimarães, nos coloca dentro da escola a partir das vivências dolorosas de uma menina negra que enfrenta os efeitos do racismo na construção da sua subjetividade. E o artigo “É educação quando morre o coração?”, de Lara Rocha, analisa o conto de Geni e aponta para compromissos e responsabilidades éticas e pedagógicas que possam romper esses ciclos de violência.
Na Ponta do Lápis pelas mãos de quem fez o projeto gráfico e as ilustrações
Com a edição de arte, projeto gráfico e diagramação de Ana Paula Campos (Estúdio Voador), a nova edição da revista Na Ponta do Lápis traz em suas páginas uma narrativa visual em sinergia com os textos escritos. “A ideia era trazer o território para dentro da revista. Então, a proposta visual foi inspirada no trabalho que o ilustrador João Pinheiro faz com os diários gráficos, com suas anotações visuais e gráficas sobre as paisagens por onde caminha e que tão bem retratam os territórios.”, explica Ana Paula. “Trouxemos de maneira mais direta e ao mesmo tempo poética essa figura do andarilho que desenha. […] É como se a própria revista fosse esse caderno de anotações visuais”, completa.
Se na escrita da edição os conceitos de educação integral estão vivos a partir das ideias e das reflexões, na linguagem visual faz morada nos traços e na estética do artista visual e quadrinista João Pinheiro, que lança mão de seu trabalho de observação nas periferias há 20 anos para ilustrar a publicação. “A proposta era fazer esse registro antropológico, de alguém que está integrado à cultura ‘das quebradas’, para trazer essa experiência, o estilo e o traço para a revista. É um indivíduo que vai caminhando e dialogando com o tema, mantendo o registro semelhante ao de um diário gráfico. [...] A ideia era que essa caminhada pudesse mudar os estilos das abordagens dialogando com as seções da revista”, conta João.
Acesse aqui a nova edição e boa leitura!
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