Uma viagem imaginária
Atividades
- Proponha aos alunos e alunas uma viagem imaginária em que você será a guia e eles serão convidados a olhar sem pressa para os lugares visitados sobre os quais você vai falar agora.
- Peça-lhes que se sentem o mais confortavelmente possível, fechem os olhos e pensem nesses lugares. Vá mencionando os locais, incentivando a turma a resgatar os detalhes, as cores, os formatos, a visão de conjunto, e a dizer quais impressões, sensações e sentimentos esses locais despertam.
- No final da viagem, oriente os alunos e alunas a escrever no caderno palavras ou frases sobre o que viram e observaram. Também podem comentar as próprias impressões.
- Em seguida, relembre-os do trabalho que realizaram na Oficina 3 quando produziram uma lista de “coisinhas à toa” que os deixam felizes e, a partir dela, um poema em grupo. Diga-lhes que o mesmo procedimento pode ser usado para retratar a cidade. Apresente então à turma outros dois poemas cuja leitura e análise retomam diferentes aspectos trabalhados na Oficina 3. Projete “Cidadezinha qualquer”, de Carlos Drummond de Andrade, em classe, pode ser por meio de Datashow e ouça a leitura com a turma.
- Converse com a turma sobre como Drummond também compõe o seu poema a partir de “coisinhas à toa” que observa na cidade. Leve-a a notar, entretanto, como o verso final, pelo seu teor inesperado, produz um efeito poético, de humor ou mesmo de crítica. Este é o melhor momento de lembrar a classe de que os poemas não precisam necessariamente falar de “coisas grandiosas” da cidade, como se fosse preciso “fazer propaganda” do lugar em que vivem, focalizar apenas suas qualidades e vantagens, mas pode muito bem retratar suas pequenezas – que também podem ser tratadas poeticamente – ou falar de suas mazelas e defeitos, misérias e acanhamentos. É o que ocorre também, de certa forma, no poema de Mário Quintana, “Cidadezinha”, examinado na Oficina 9, etapa 1.
- Como este é um ponto importante a ser enfatizado para a produção do texto final, forneça outro exemplo de poema que retrata a cidade por meio de seus pequenos males. E aproveite também para mostrar, mais uma vez, como funciona a intertextualidade no fazer poético, focalizada na Oficina 3. Projete para a classe o poema “Cidadezinha”, de Edson Gabriel Garcia, por meio de Datashow e ouça a leitura com a turma:
- Leve a classe a notar como, pela repetição do verso de Drummond, ao final e entre aspas, o autor estabelece a intertextualidade e dialoga com Drummond, lembrando que, quando se observam as “coisinhas à toa” de uma cidade grande, a vida também pode ser “besta”.
- Proponha então que agreguem ao material que escreveram no caderno uma lista de “coisinhas à toa” do dia a dia local, que podem tanto focalizar as belezas e vantagens da cidade como seus problemas e males. Sugira que já pensem nas rimas, ritmo e sentidos.
- Mostre como é possível tratar de formas muito diferentes tanto a visão positiva como a negativa, recorrendo, por exemplo, à paródia e à ironia.
- Agora monte com a turma um painel com desenhos, pinturas, recortes e fotos para representar o lugar onde vivem.
- O painel deve ser feito em conjunto e isso requer planejamento, como dividir tarefas e funções e providenciar os materiais necessários. A proposta é construir uma espécie de retrato abrangente e panorâmico da cidade, dando espaço a propostas que mostrem o modo como ela é vista por cada um.
- Agora a turma vai escolher palavras, expressões, frases e ideias que registraram no caderno e transpô-las para pedaços de papel que serão colados no painel.
- Você também pode fazer um mural virtual por meio da ferramenta Padlet, ou criar um blog da turma para reunir esse panorama poético da cidade. No Portal Escrevendo o Futuro, há dicas para abrir e gerir um blog.
- No final, deve-se observar atentamente o resultado e conversar sobre o painel:
- Todas as propostas foram incorporadas?
- Esquecemos alguma?
- Que sons são ouvidos neste ponto do lugar onde vivemos?
- Vamos acrescentar mais elementos?
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar… as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Carlos Drummond de Andrade. Alguma Poesia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 49.
Cidadezinha
Um ônibus lotado
um taxista estressado
um celular clonado
Um um sinal fechado
uma rua alagada.
Aqui não há roubo de galinhas
aqui não há conversa de varanda
porque varandas não há;
aqui não há promessas de novenas
porque novenas não há.
Não há.
Então…tá.
“Eta vida besta, meu Deus!”