A análise
Chegou a hora tão esperada!
Nesta oficina os alunos e alunas escreverão um poema individualmente. Não se esqueça de que do seu entusiasmo vai depender o bom êxito da proposta de trabalho.
Atividades
- Leia para a classe o poema “O ônibus Feitoria Cohab”, de Vitória Eduarda Ferraz Frutuoso, aluna do 5º ano da EMEF Professora Dilza Flores Albrecht, de São Leopoldo (RS), vencedora da categoria Poema da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, em 2019.
- Leve os alunos a perceber os recursos que Vitória usou para fugir do lugar-comum e mostrar um olhar original sobre sua terra.
O ônibus Feitoria Cohab
De 15 em 15 minutos
Um ônibus passa aqui em frente
O Feitoria Cohab
Levando e trazendo gente
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
Pra poder chegar no céu
Desde o centro da cidade
Percorre a avenida inteira
Dobra no arroio Peão
Meu lugar da brincadeira
Na última rua ele entra
À direita, prédios cinzentos
É a primeira parada
Dos blocos de apartamentos
Avança e logo freia
Chega na parada 1
Eu corro por entre os blocos
Subo veloz e zum!
Escolho o banco pra sentar
Quero perto da janela
Pra ver a Cohab passar
Quer dizer, eu passar por ela
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
Desenrola o carretel
Logo ali já vem a 2
E com ela um quebra-mola
Grafite que salta aos olhos
No muro da minha escola
E é tanto quebra-mola
Sobe e desce, sobe e desce...
Gangorra quebrada na praça
Imagem que me entristece
Sinto o cheiro no ar
Do xis que não comi
É na terceira parada
Lugar que nunca desci
Olho as garotas na rua
Estão passando batom
Cuidando o outro lado
Onde alguém liga o som
Agora o postinho da 4
Vacina, hoje, não!
Vejo minha antiga escola
Amiga do coração
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
E os rabiscos no papel
Na curva da 5 pra 6
Sobe nela o pensamento
Estou mais alta que as casas
No rosto me bate o vento
Na 7 é calmaria
Mas já vou me preparando
Seguro firme no banco
Porque a lomba vem chegando
Iupiiiiii!
Sinto um frio na barriga
8, 9 e 10
Ah, já vai terminar a descida!
A 12 é a última parada
Dela não posso passar
Na 11 já fico atenta
É quase hora de saltar
As portas se abrem
Pulo e saio na corrida
Da parada 12 pra 1
A rua é muito comprida
Não posso me atrasar!
Entre os blocos vou voando
Lá vem outro carrossel
Meu Feitoria chegando
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida...
Um dia não desço na 12!
Um dia eu chego no céu!
O poema é formado por quadrinhas, exceto pelas três últimas estrofes que têm 3, 1 e 1 versos, respectivamente. Enquanto as quadras expressam um ritmo de ônibus em movimento que vai parando (mudando de estrofe) conforme as “paradas” onde as pessoas descem e sobem dele, as últimas estrofes quebram essa regularidade. Essa quebra, no entanto, é paulatina e harmônica, pois primeiro diminui-se para 3 versos e, em seguida, as duas últimas estrofes contêm apenas um verso cada. Essa diminuição paulatina sugerem a suavidade do próprio carrossel encerrando seus giros.
As rimas, assim como a presença do belo refrão, colaboram para a manutenção da regularidade do ritmos e, por fim, as metáforas e outras figuras de linguagem (sobretudo a equiparação entre ônibus e carrossel, e a onomatopéia criada pela repetição de termos como “ronca ronca o motor”) acrescentam um profundo lirismo ao texto.
Vale destacar também que não há uma exaltação da cidade, antes, uma exibição dela a partir de um ônibus em movimento, como uma câmera focalizando aspectos bastante corriqueiros e guiada pelos olhos curiosos e carinhosos de uma criança.