Minha identidade não é sua fantasia, Samela Sateré Maué

Samela Sateré Maué

É carnaval, época em que muitas pessoas saem nas ruas em busca de diversão e entretenimento. Mas sabe o que não é nada divertido, pelo contrário é muito desrespeitoso? É quando nessa época as pessoas se fantasiam de “índio”.

Ainda bem que estamos aqui para descomplicar, sendo referências nos assuntos que são nossos, protagonizando as nossas pautas.

O primeiro ponto relacionado à fantasia de índio remete logo ao nome. “Índio” é um termo pejorativo e errado – dado pelos colonizadores quando invadiram o Brasil –, que não traduz toda a nossa diversidade. Quando as pessoas usam esse termo, elas remetem a somente um povo, invisibilizando, por ignorância, os mais de 305 povos indígenas que, com sua diversidade, vivem no Brasil.

Usar o termo também traz adjetivos e estereótipos construídos pela colonização, e reproduzidos por muito tempo nas escolas e veículos de comunicação como “índio preguiçoso”, “índio sem alma” ou “índio anda nu”.

Geralmente, quando as pessoas usam da nossa identidade no carnaval, elas também usam o termo “tribo”, que não condiz com a nossa organização social. Somos Povos, segundo a Constituição, nos artigos 231 e 232, pois cada povo tem língua, cultura, território e identidade diferentes. […]

Agora, vamos às fantasias. […] quando as pessoas usam “fantasia de índio” para brincar o Carnaval, elas deturpam nossas imagens e reproduzem estereótipos que nós tentamos desconstruir há séculos (como os termos já citados) […].

Outra situação está relacionada à fetichização dos nossos corpos: a nudez do Carnaval atrelada a nossa identidade objetifica o corpo da mulher indígena e banaliza toda violência sofrida no processo colonizador, caso do estupro das nossas ancestrais.

Quando se fantasiam, também descaracterizam as nossas pinturas e adereços que podem ser sagradas; nossas pinturas podem remeter a diferentes situações de nossas vidas – como rituais e casamentos – ou indicar status social na aldeia, como caciques, tuxauas, mulheres casadas, solteiras, homens casados e solteiros. Elas não podem ser reproduzidas sem sentido e/ou propósito. Isso vale para os adereços como colares, brincos e cocares, que remetem a respeito e status social e não devem ser banalizados, mas sim respeitados.

“Mas como eu posso homenagear os povos indígenas?” Vale começar nos ajudando a desconstruir estereótipos e lutando conosco pelas nossas lutas e pautas – como a pauta indígena e ambiental em defesa da vida – e nos reconhecendo enquanto povos originários do Brasil.