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Linguagem: vimos que um dos modos que o autor usou para construir relações na primeira parte do texto foi o uso de uma cadeia de pronomes e substituições lexicais para referir-se a duas posições antagônicas sobre o tema. Veja novamente como isso foi feito no trecho a seguir:
É só falar da necessidade de políticas específicas que garantam qualidade de vida para esse pessoal mas, ao mesmo tempo, respeitem seu direito de ir e vir e ocupar o espaço público que o povo vira bicho. Ou melhor, vira pombo.
Este tema não é novo por aqui, mas vi que a frase passou a ser usada diante da última crise de refugiados na Europa. Gente empregando-a para negar a necessidade de acolher refugiados, não só da Síria, mas da Ásia, África e América Latina.
Outro modo de estabelecer conexões entre ideias em um texto é por meio do uso de conectores.
Conectores são palavras ou expressões que usamos para relacionar partes de uma oração, orações ou partes do texto, para tomar posição, indicar certeza, probabilidade ou restrição, comparar, opor, contrastar, acrescentar ou organizar argumentos, indicar causa e consequência, preparar conclusão.
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- Em grupos, vamos analisar os trechos a seguir do texto de Leonardo Sakamoto. Discutam quais outros conectores poderiam ser usados para expressar a mesma relação. Vocês podem fazer as alterações que acharem necessárias para manter o sentido do texto.
Tanto na Europa quanto por aqui, ações individuais ajudam a mitigar o impacto inicial dos refugiados, garantindo apoio a quem perdeu tudo. E é ótimo que seja assim. Mas eles devem ser alvo, principalmente, de uma política pública, com intervenção direta do Estado, única instituição com tamanho e legitimidade para garantir uma ação nacional, transnacional e de escala. Porque isso também inclui a garantia da autonomia econômica e social às famílias. Quem acha que o Estado é um simples entrave, e não a forma que construímos para impedir que nos devoremos, tem dificuldade de entender que o acolhimento de refugiados e migrantes não é caridade individual, mas sim a efetivação de compromissos assumidos internacionalmente por um povo.
Ao mesmo tempo, o Estado é responsável por aprovar o mais rápido possível a nova lei brasileira de migração, que facilita a acolhida de estrangeiros de locais com instabilidade, guerras, violações a direitos humanos. O projeto, já aprovado no Senado e que está em análise na Câmara dos Deputados (PL 2516/15), repudia a xenofobia, tendo um caráter mais humanitário que o Estatuto do Estrangeiro atual, um Walking Dead – morto, mas segue aí, atrapalhando. Não é a panaceia para todos os problemas, mas um passo importante. Migrantes geram riqueza para seus novos países, mas a narrativa é de que são custosos para o poder público. Prova de que uma mentira contada mil vezes vira verdade.
- A conexão entre ideias nem sempre é feita de modo explícito no texto. Nesses casos, cabe ao leitor relacionar as ideias apresentadas, prestando atenção a como o autor combina as palavras, ao que diz em outras partes do texto, a ilustrações que acompanham o texto, ao que sabe sobre o assunto, aos seus posicionamentos e crenças sobre o tema. Que conectores você usaria para expressar a relação entre as orações a seguir? Compare suas respostas com as dos colegas: são as mesmas? São diferentes? Poderiam ser outras?
- ''Tá com dó? Leva para casa!''
- Culpem o algoritmo de sua rede social que te colocou numa bolha cor de rosa. O mundo lá fora, minha gente, é flicts.
- Migrantes geram riqueza para seus novos países, mas a narrativa é de que são custosos para o poder público. Prova de que uma mentira contada mil vezes vira verdade.
- Tenho dó é desse povo que tem medo de tudo e acha que a vida é uma selva, do nós contra eles. Pessoal que pensa assim, na boa, sua vida deve ser ruim demais.
- Que efeitos de sentido provoca o uso ou a ausência dos conectores? Em que textos são usados com maior/menor frequência? Analisem, por exemplo, alguns outros artigos de opinião, peças publicitárias, canções, trechos de conversa cotidiana ou de um debate público. De que modo é construída a coesão nesses textos? A relação entre as ideias é feita de modo explícito ou implícito? Quais são os efeitos de sentido provocados pelos recursos linguístico-discursivos utilizados (uso de pronomes, substituições lexicais, reiteração, elipse, conectores).
O objetivo aqui é compreender a função e os efeitos de sentido de recursos linguístico-discursivos importantes para a construção do artigo de opinião: modos de conectar ideias e diferentes pontos de vista para construir uma argumentação convincente.
Nesta parte, é importante discutir a variedade de estratégias que usamos para relacionar ideias e como isso pode mudar de acordo com o que é mais recorrente em determinados gêneros, como também por conta de efeitos de sentido que se queira provocar. Em uma peça de publicidade, uma canção ou um poema, por exemplo, a relação entre as ideias é muitas vezes sugerida pela combinação de palavras, pela justaposição de orações ou pela relação entre estímulos verbais e não verbais (imagens, ilustrações, fotos, melodia, ritmo). Em artigos de opinião, a explicitação de conectores tende a ser mais frequente, mas, como vimos, a conexão de ideias também é fortemente feita por meio de uma cadeia de referentes que precisa ser reiterada de diversas maneiras ao longo do texto.
Observe os diferentes modos de construir a coesão ao longo do texto em pauta, relacionando-os com o tom pessoal e impessoal das diferentes partes (atividade V). Analise com os alunos os efeitos de sentido das diferentes opções usadas pelo autor, brinque de mudar a forma de fazer essas conexões pensando em diferentes interlocutores e também em diferentes gêneros. Por exemplo:
- Como seria construir uma tese e um argumento em um artigo de opinião usando as ideias da canção Chuva ácida, de Criolo?
- Como ficaria a letra de uma canção que usasse as ideias dos parágrafos de Leonardo Sakamoto acima?
- Como ficaria a conversa com um colega a partir das ideias dos parágrafos de Leonardo Sakamoto acima?
Recriando tons do texto. Vamos separar a turma em dois grupos. Cada grupo deverá escolher uma das atividades a seguir.
- Reescreva os parágrafos 5 e 6 do texto de Leonardo Sakamoto, para manter o tom pessoal do restante do texto. Que mudanças são necessárias?
- Reescreva os parágrafos 1, 2, 3 e 4, e a conclusão do texto de Leonardo Sakamoto, para manter o tom impessoal dos parágrafos 5 e 6. Que mudanças são necessárias?
Apresentem os trechos modificados para o outro grupo. Como ficaram os textos? O que perderam ou ganharam em termos de efeitos de sentido? Qual versão seria mais interessante para diferentes leitores? Por quê?
Conhecer e ampliar repertórios de recursos linguístico-discursivos pode ser uma tarefa interessante quando somos desafiados a compreender a diferença que pode fazer o uso de formas alternativas do dizer para criar determinados efeitos de sentido, tendo em vista diferentes interlocutores. Retome a análise feita anteriormente (atividade V) em relação às partes pessoais e impessoais do texto estudado. Analise diferentes alternativas com os alunos, chamando a atenção para possíveis sentidos atribuídos, sempre levando em conta os propósitos do texto e a interlocução projetada e como, ao escolher determinados modos de dizer, construímos essa interlocução. O estudo de recursos linguístico-discursivos para dar um tom mais ou menos pessoal a um texto pode ser aprofundado em outras aulas, ampliando-se o repertório de artigos de opinião e também de outros textos que sejam relevantes para essa reflexão.
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