Uma festa para os livros e para a leitura
formação leitora, livros, literatura, feiras literárias
Professora Olímpia,
Dou aulas no Ensino Fundamental II e sempre quis saber mais sobre como ensinar gêneros orais e planejar atividades para trabalhar com debate em sala de aula. Você pode me ajudar?
Desde já, agradeço.
Maria Aparecida Silva
Cara professora Maria Aparecida,
Que alegria receber sua mensagem e, com ela, a possibilidade de conversar sobre um trabalho muito importante, por vezes relegado: o ensino de gêneros orais formais na escola.
Seu questionamento refere-se ao gênero debate, mas podemos “esticar a prosa” na direção de pensarmos um pouquinho no planejamento vinculado a todos os gêneros orais. Para tanto, trago a voz de Joaquim Dolz, renomado pesquisador da Universidade de Genebra que, recentemente, participou de uma videoconferência na Rede do Saber, em São Paulo (fruto da parceria entre o Programa Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, Itaú Social e SEESP). Nessa oportunidade, ressaltou que os gêneros orais devem ser tomados como objetos de aprendizagem na escola e que, para ensiná-los, os professores precisam construir modelos didáticos, tais quais os utilizados para os gêneros escritos.
O pesquisador acredita que o ensino de gêneros orais deve levar em consideração a existência de gêneros orais cotidianos e formais. Defende que os cotidianos são conhecidos pelos alunos e, portanto, torna-se menos importante ensiná-los. Já os gêneros orais formais, tais como debate regrado, apresentação e conto oral, devem ser confrontados com os já conhecidos, sendo eleitos para o ensino sistemático na escola.
Isso significa que, compondo o modelo didático para o gênero debate regrado, por exemplo, teremos de considerar a proposta de elaboração de uma sequência didática (SD), baseada no que os alunos sabem sobre o gênero e, segundo o autor, propondo uma análise coletiva das produções iniciais para, a partir dela, selecionar demandas e dificuldades/obstáculos que deverão ser contemplados e vencidos, no decorrer do trabalho em sala de aula.
Assim, elegendo a SD como modo de organização do ensino, você poderá realizar oficinas bem aderentes às necessidades da turma. No caso do gênero debate, fortemente marcado pela argumentação, vale planejar situações de observação e escuta atenta de diferentes debates em vídeo e áudio (para contrastar os efeitos na compreensão do oral com e sem imagem), apostar no trabalho de construção de argumentos e pesquisa, investindo também em questões polêmicas que tenham íntima relação com a vivência dos alunos.
É fundamental pensarmos que esse ensino sistemático de gêneros orais traz consequências para o ensino da leitura e o uso da fala em gêneros informais. Afinal, toda situação de comunicação oral convoca um determinado modo de dizer e, ao ensinarmos esses gêneros, os alunos passam a ter maiores condições de regular a fala, de acordo com cada situação, assim como refletir de forma mais consistente sobre tudo que “está em jogo quando se fala”, ou seja, a voz, o ritmo, as entonações, as ênfases, os movimentos corporais, as expressões faciais, as pausas, a respiração, o olhar; enfim, todas as linguagens que compõem o dizer.
Não posso terminar essa prosa sem antes anunciar o que Dolz, como uma provocação, intitulou “Os 10 mandamentos para o ensino da oralidade”, uma vez que estão reunidos os princípios do trabalho em sala de aula. Aqui, farei apenas a indicação de todos eles, mas sugiro uma análise mais aprofundada, em função do acesso à videoconferência abaixo indicada:
Agora, com os “10 mandamentos”, creio poder finalizar nossa conversa, convidando você e nossos leitores a apreciar diferentes sugestões:
Obrigada pelo envio de sua pergunta, sucesso e até já,
Olímpia
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