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A BNCC e o olhar para a análise linguística
O campo de comentários e sugestões de perguntas, vinculado à enquete sobre a BNCC, rendeu ótimas reflexões e possibilidades de ampliarmos o olhar para diversas questões que cercam o cotidiano de todos vocês, nas salas de aula. Agora, destaco a última pergunta ali anunciada, para nossa análise:
Tenho ouvido várias críticas acerca de que a BNCC tem dado ênfase à gramática, o que significa um retrocesso em relação à análise e reflexão sobrea língua. Como acontece o trabalho com a análise linguística/semiótica proposto pela BNCC?
Para podermos pensar sobre o ensino da prática de linguagem de análise linguística/semiótica, convido vocês à apreciação de alguns trechos da BNCC, em função da organização de perguntas-chave:
“Em função do privilégio social e cultural dado à escrita, tendemos a tratar as outras linguagens como tratamos o linguístico – buscando a narrativa/relato/exposição, a relação com o verbal –, os elementos presentes, suas formas de combinação, sem muitas vezes prestarmos atenção em outras características das outras semioses que produzem sentido, como variações de graus de tons, ritmos, intensidades, volumes, ocupação no espaço (presente também no escrito, mas tradicionalmente pouco explorado) etc. Por essa razão, em cada campo é destacado o que pode/deve ser trabalhado em termos de semioses/modalidades, de forma articulada com as práticas de leitura/escuta e produção, […] para que a análise não se limite aos elementos dos diferentes sistemas e suas relações, mas seja relacionada a situações de uso.” (BRASIL, 2017, pp. 79-80).
“O Eixo da Análise Linguística/Semiótica envolve os procedimentos e estratégias (meta)cognitivas de análise e avaliação consciente, durante os processos de leitura e de produção de textos (orais, escritos e multissemióticos), das materialidades dos textos, responsáveis por seus efeitos de sentido, seja no que se refere às formas de composição dos textos, determinadas pelos gêneros (orais, escritos e multissemióticos) e pela situação de produção, seja no que se refere aos estilos adotados nos textos, com forte impacto nos efeitos de sentido. Assim, no que diz respeito à linguagem verbal oral e escrita, as formas de composição dos textos dizem respeito à coesão, coerência e organização da progressão temática dos textos, influenciadas pela organização típica (forma de composição) do gênero em questão. No caso de textos orais, essa análise envolverá também os elementos próprios da fala – como ritmo, altura, intensidade, clareza de articulação, variedade linguística adotada, estilização etc. –, assim como os elementos paralinguísticos e cinésicos – postura, expressão facial, gestualidade etc. No que tange ao estilo, serão levadas em conta as escolhas de léxico e de variedade linguística ou estilização e alguns mecanismos sintáticos e morfológicos, de acordo com a situação de produção, a forma e o estilo de gênero.” (BRASIL, 2017, p. 78).
“Já no que diz respeito aos textos multissemióticos, a análise levará em conta as formas de composição e estilo de cada uma das linguagens que os integram, tais como plano/ângulo/lado, figura/fundo, profundidade e foco, cor e intensidade nas imagens visuais estáticas, acrescendo, nas imagens dinâmicas e performances, as características de montagem, ritmo, tipo de movimento, duração, distribuição no espaço, sincronização com outras linguagens, complementaridade e interferência etc. ou tais como ritmo, andamento, melodia, harmonia, timbres, instrumentos, sampleamento, na música.” (BRASIL, 2017, p. 79).
“A separação dessas práticas (de uso e de análise) se dá apenas para fins de organização curricular, já que em muitos casos (o que é comum e desejável), essas práticas se interpenetram e se retroalimentam (quando se lê algo no processo de produção de um texto ou quando alguém relê o próprio texto; quando, em uma apresentação oral, conta-se com apoio de slides que trazem imagens e texto escrito; em um programa de rádio, que embora seja veiculado oralmente, parte-se de um roteiro escrito; quando roteirizamos um podcast; ou quando, na leitura de um texto, pensa-se que a escolha daquele termo não foi gratuita; ou, ainda, na escrita de um texto, passa-se do uso da 1ª pessoa do plural para a 3ª pessoa, após se pensar que isso poderá ajudar a conferir maior objetividade ao texto).” (BRASIL, 2017, p. 80).
Após a leitura das respostas, entendo ser possível concluir que não se trata de um “retrocesso em relação à análise e reflexão sobre a língua”, mas sim de uma discussão assentada na investigação dos saberes dos alunos, com vistas à seleção e ao estudo de diferentes gêneros do discurso, os quais convocam um olhar articulado das práticas de linguagem (oralidade, leitura/escuta, produção - escrita e multissemiótica – e análise linguística/semiótica). Nesse sentido, as habilidades anunciadas na BNCC – para cada prática de linguagem - devem ser lidas pelo “movimento de encontro”, de forma a favorecer o ensino consistente, significativo e, especialmente, aderente às demandas atuais de comunicação de nossas crianças e de nossos jovens.
Uma dica: confira as discussões do site da Nova Escola sobre a BNCC de língua portuguesa!
Vamos esticar a prosa? Esperarei por vocês!
Bj, muito obrigada e até já,
Olímpia
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multissemiose, ensino e aprendizagem de língua portuguesa, multimodalidade, práticas de linguagem contemporâneas, letramentos, BNCC
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