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sua prática / relatos de prática

Relatos de Prática Vencedor 2014 - Profª Antonia Genizelda Teixeira Lima

08 de agosto de 2023

 

De professora à educadora: Semeando o Futuro

Antonia Genizelda Teixeira Lima
E.E.M. Maria Dolores Petrola
Arneiroz / CE

 

Dizem que a prática leva à perfeição. Não tenho a pretensão de ser perfeita, mas sou a prova viva de que a prática leva à evolução. Das minhas primeiras aulas às atuais enxerga-se uma considerável distância. Talvez pela imaturidade típica dos jovens ou pela ingenuidade de quem saíra da universidade carregada de idealizações e com o inocente desejo de "mudar o mundo", eu acreditava que se ensinasse, os alunos aprenderiam. Com essa concepção iniciei minha carreira. Falava até perder a voz! Enchia o quadro com anotações, despejava exercícios, mas nunca conseguia o resultado esperado. Tal fato me intrigava. Não sabia que tão importante quanto adquirir e ter conhecimento é saber transmiti-lo.

Com a observação mais atenta do processo de aprendizagem dos alunos e, sobretudo, com os meus próprios erros, percebi que ensinar é também aprender e, muitas vezes, reaprender. Notavelmente, a minha prática pedagógica tem ganhado nova roupagem depois desta constatação, novas estratégias mediadas por um pouco mais de serenidade, paciência e flexibilidade.

Percebi que os alunos só se interessam por aquilo que é, para eles, significativo. Com isso, constatei que o planejamento deve ser flexível, mutável ao sabor das especificidades de cada turma e que a eficácia do processo passa pela conquista do aluno. Minha experiência com a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é um claro exemplo dessa adaptação que muitas vezes se faz necessária em nossa prática docente.

A turma da qual saiu o texto classificado não gostava de ler. Para a grande maioria daqueles alunos a leitura era uma obrigação imposta pela escola ou até mesmo um castigo. No primeiro contato com a turma cheguei empolgada à sala e propus que conversássemos um pouco. Minha primeira pergunta foi: “Vocês gostam de ler?” - ao que me responderam em coro que não.

Todas as vezes que pedia um aluno que lesse, ouvia frases do tipo: "Por que eu?" - ou ainda: "Não precisa me mandar ler, vou ficar quieto". Havia algumas exceções, mas eu não podia dar aulas só para esses estudantes; precisava fazer com que toda a turma adquirisse gosto pela leitura.


Se estivesse nos primeiros anos de magistério eu teria imposto a atividade, atrelando a leitura a uma nota; teria perdido a paciência, o que só me levaria a ser rejeitada pela turma. Comecei a olhar mais de perto para aqueles alunos, a conhecer seus hábitos e interesses.


Descobri que o acesso às redes sociais ocupava o tempo que deveriam dedicar ao estudo. Resolvi utilizar o obstáculo a meu favor. Combinei com eles a criação de um grupo de leitura numa rede social. Se era virtual, já agradava. Todos aceitaram. A partir de então, diariamente eu postava algo para que eles lessem, comentassem, discutissem. Aos poucos, eles foram mudando de atitude, participando mais das aulas e melhorando o desempenho nas atividades.

Com a Olimpíada veio outro desafio. Muitos dos alunos que recebemos no 1º ano do ensino médio não dominam as habilidades básicas de leitura e escrita - que dirá a habilidade de escrever uma crônica. A sequência didática sugerida pelo Caderno do Professor é ótima, porém precisei adaptá-la (e até me atrevi a complementá-la) para atender às especificidades dos meus alunos, que não tinham a experiência de leitura necessária para acompanhá-la.

Logo na introdução ao gênero encontrei dificuldades. Os alunos não tinham paciência para ler textos longos e não compreendiam o vocabulário utilizado. Se a leitura é decodificação e também compreensão de sentido, como exigir a segunda habilidade de quem não domina a primeira? Simplifiquei o conceito e a linguagem, produzi slides, ilustrei, chamei a atenção para as características do gênero e, para motivar os alunos deixei claro que o principal objetivo desse trabalho era o aprimoramento das habilidades de leitura e de escrita.

Propus a leitura dos textos de finalistas da edição anterior da Olimpíada. Os estudantes gostaram de ler textos de outros adolescentes, que como eles passaram pelo mesmo processo de aprendizagem, e viram que era possível obter o mesmo êxito.

No decorrer das oficinas, além das propostas no Caderno do Professor, desenvolvemos muitas outras atividades com o objetivo de preencher as lacunas de conhecimento prévio. Visitamos a biblioteca e o laboratório de informática para pesquisas complementares, realizamos rodas de leitura, utilizamos jogos educativos, assistimos vídeos e lemos inúmeras crônicas para conhecer e internalizar as características do gênero, ampliar o vocabulário e facilitar a compreensão dos textos.

Em muitos momentos, refletimos sobre as temáticas abordadas, indo além do texto. Relacionamos o que estava no papel à realidade que estava à nossa volta. Isso os levou a trocar ideias e a construir conhecimentos. Posso destacar a discussão a respeito do preconceito e das desigualdades, ainda existentes na sociedade, a partir da leitura da "Última crônica", de Fernando Sabino; e a reflexão sobre a falta de solidariedade e a frieza das relações entre as pessoas, provocada pela discussão de "Uma vela para Dario", de Dalton Trevisan.

Não consegui transformar os alunos em exímios escritores, nem preencher todas as suas lacunas de conhecimento, mas contribuí para que evoluíssem de meros receptores a sujeitos da própria aprendizagem.

O que me deixou satisfeita ao final das oficinas foi o fato de, não só o texto vencedor, mas muitos e bons textos terem sido produzidos por alunos daquela turma. Além disso, reconheci naquelas produções, minhas orientações: estratégias de escrita, temas sugeridos, enfim, frutos das sementes que eu havia lançado, consciente de que várias cairiam entre as pedras, mas na esperança de que muitas caíssem em solo fértil.

Participei de três edições da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, e a cada uma delas uma nova experiência. O dia a dia em sala de aula é meu maior aprendizado. Na faculdade de Letras adquiri conhecimentos necessários para ser professora de língua portuguesa, na sala de aula aprendi a ser educadora de seres humanos em construção. Considero muito pertinente o nome escolhido para a Olimpíada. Estamos mesmo "escrevendo o futuro", jogando sementes, dando nossa contribuição para a sociedade através de uma prática de ensino realmente útil e eficaz.


Recentemente, ouvindo a jovem paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz, afirmar que "um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo", lembrei daquele meu sonho antigo. Hoje sei que não consigo, sozinha, mudar o mundo, mas tenho certeza de que posso contribuir para a transformação de pessoas. E se é verdadeira a afirmação de que para mudar o mundo precisamos mudar as pessoas, talvez meu desejo se concretize, de alguma forma, através dos alunos a quem transmito, além de conteúdos, valores e ideais.

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