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sua prática / relatos de prática

Sorria! Você está sendo desafiado.

Flaviana Fagotti Bonifácio

08 de agosto de 2023

COTIL - Colégio Técnico de Limeira
Limeira/SP

Estamos sendo bombardeados, a todo momento, por imagens e sons que nos falam, nos instigam e nos tocam. Através dos textos midiáticos tomamos consciência não só do que acontece em nossa sociedade, como também do que acontece em todo o planeta ou fora dele. Dessa forma, quando se pensa em produção textual hoje, sabe-se que os textos não estão limitados ao papel e sua linguagem não é só a da modalidade escrita. Assim, foi com alegria que recebemos a informação de que o gênero documentário estaria na Olimpíada de Língua Portuguesa e que dele poderíamos participar.

Apesar do entusiasmo inicial, ao acessar o Caderno Virtual do gênero em questão, a impressão que tive foi a de um choque e de que "não daria conta do recado", como se costuma dizer quando se visualiza uma missão quase impossível. Tratava-se, para mim, de um grande desafio: um novo gênero, com tipos de documentários a serem ensinados, com um mundo inteiro de recursos midiáticos, uma infinidade de termos técnicos e um número incontável de possibilidades distintas de registrar, relatar, narrar, documentar. Plano, ângulo, corte, campo, extracampo, fusão, sobreposição, sequência, frame, tomada, quick motion, slow motion... Tudo tão assustador, desafiador, pelo volume de informações, conceitos e termos. E eu só pensava que seria fácil para eles produzirem o roteiro, a sinopse e o argumento.

No entanto, ao levar a proposta para o único segundo ano em que trabalho com produção de texto, eles me olharam com ar de quem já sabia onde tudo ia dar. Para eles, o que assustava não era a proposta em si de produzir um documentário. Para minha surpresa, não eram os nomes, as técnicas, os recursos, os termos, já que essa geração não tem medo da câmera. Essa geração produz imagens o tempo todo: faz selfies, faz memes, faz blog, faz vlog... Mas não o faz de forma planejada, não segue roteiro, pode até saber fazer uma sinopse, mas acham que argumento é uma "coisa" que só é usada em texto argumentativo escrito. O desafio está mesmo na escrita!

E foi assim que, de cara, percebi que a jornada seria um desafio para nós e que só poderia ser vencido com uma parceria: eles anulando minha inexperiência com a captura das imagens e técnicas de edição e eu os ajudando a planejar, escrever, reescrever, revisar e refazer o texto escrito.

Com pouco tempo, já que em nosso colégio a produção de texto se faz em duas aulas semanais, conseguimos ver alguns dos vídeos sugeridos pelo material: "Ilha das Flores", "Edifício Master", "Manhã na roça", "Pescaria de Merda" e mais algumas produções que nos serviram de referência para discutir os tipos de documentários, os propósitos e as mensagens. Tentamos nos colocar no papel do roteirista, do diretor, do cineasta e pensar nas reflexões que cada um dos vídeos trazia. Enquanto fazíamos esse exercício de ver, ouvir, pensar, falar e discutir, foram surgindo ideias e pessoas com afinidade e simpatia por essas ideias. E como nossa escola recebe alunos de vários municípios vizinhos, eles foram se agrupando de acordo com o interesse pelo tema ou considerando a possibilidade de conseguirem se reunir para desempenhar o trabalho de gravação das imagens e das entrevistas. Formaram-se os trios e passamos pelas etapas de concepção da ideia, planejamento das entrevistas, dos locais a serem filmados, pré-roteiro e divisão da equipe.

Já havíamos estudado sinopse no início do ano, em outra situação, o que facilitou essa etapa do trabalho. Porém, foi necessário entender o que era o argumento e como cada equipe poderia produzi-lo a partir da escrita da sinopse, para só então chegarmos ao estudo e a produção dos roteiros.

Sei que, por se tratar de uma primeira experiência, tudo se tratou de uma grande descoberta, principalmente para mim, que fui desvendando a riqueza do material, os critérios de avaliação, as habilidades e as dificuldades dos alunos, as estratégias de produção e adequação. Fui apreciando a beleza das cenas, a emoção das trilhas sonoras, os sentimentos envolvidos no percurso. E assim, em parceria com alunos, fomos vencendo os desafios, e entre acertos e tropeços, os trabalhos foram surgindo na tela.

Lembro-me de ter assistido a uma primeira versão de um grupo e de ter dito que eu estava espantada por terem conseguido fazer a gravação de um trecho da entrevista com o carro em movimento. As meninas me olharam rindo e disseram:

- Que nada, professora! A entrevista foi feita na favela, a cena do carro em movimento é o da minha mãe levando a gente para gravar. Nós é que fizemos uma sobreposição!

Riram-se de meu espanto e riram-se de si mesmas, apanhadas em um flagrante criativo e perspicaz! Ri também, porque eu mesma não saberia como fazer uma edição tão boa! Percebi que eles sabem tudo porque não têm medo de nada: não têm medo de ousar, de errar, de criar, não têm medo das tecnologias que estão na palma da mão. Nem mesmo quando os documentários extrapolavam quatro segundos, não era razão de desespero, pois apenas me perguntavam:

- Onde você acha que a gente pode cortar, professora? Sem prejuízo para nosso vídeo, hein!

Tempos depois, ao conferir os documentários prontos, antes de encaminhá-los para a Comissão Escolar, retomei os roteiros e percebi que alguns tentaram segui-lo, outros alteraram um pouco a rota, e houve ainda quem o tivesse praticamente ignorado, embora tenham me enchido de orgulho por cada arquivo produzido.

Pela câmera de um celular nos apresentaram um mundo: mostraram a situação de abandono do Parque Ecológico de Americana com tomadas de todo o percurso e questionamentos sobre a falta de investimentos e manutenção; mesclaram registros de 1959, quando o Cinema Alvorada foi inaugurado em Leme, a cenas pessoais da infância, de uma apresentação de balé, para mostrar o apreço por um local que deveria ter virado patrimônio público e que recentemente foi destruído por um incêndio; fizeram-se de personagens de uma narrativa que denunciava o descaso quanto à falta de creches em Arthur Nogueira e as obras abandonadas, com recortes para trechos de reportagens reais exibidas em noticiários locais; rodaram cenas dos trilhos da Ferroviária de Limeira, retomando as histórias dos antigos moradores de seu entorno, denunciando o abandono do prédio e os problemas de violência, dengue e prostituição que a construção abriga...

Apesar de serem vídeos caseiros e simples, os documentários produzidos por nossos alunos nos tocam e revelam os olhares - cheios de crítica, de saudade, de compaixão - de sujeitos que se colocam de forma atuante no lugar onde vivem. E, a despeito de qualquer dificuldade ou falha e mesmo que os recursos não tenham sido plenamente explorados por alguns, o que fica é a certeza de que é preciso fazer, é preciso participar da Olimpíada, é preciso ter coragem de propor um trabalho e encarar os desafios, porque, se fizermos acontecer, os alunos farão valer a pena!

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