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Revisão e reescrita na produção de memórias literárias

Revisão e reescrita na produção de memórias literárias

texto - Márcia Cristina Greco Ohuschi e Renilson José Menegassi; ilustração - Criss de Paulo

07 de agosto de 2023

Lendo e escrevendo pela vida afora

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Márcia Cristina Greco Ohuschi e Renilson José Menegassi

Márcia Cristina Greco Ohuschi é professora da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Renilson José Menegassi é professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

 

Da revisão e reescrita de textos

A escrita é um processo que envolve diferentes etapas: o planejamento das ideias, a execução da produção, a revisão, a reescrita e a avaliação. Trata-se de uma construção que ocorre de forma contínua e recursiva, que, no contexto de ensino, pressupõe a mediação do texto pela orientação do professor, agente de suma importância nesse processo. O docente exerce o relevante papel de coprodutor do texto, ao orientar o aluno quanto à finalidade da produção, ao público-alvo a ser atingido, ao gênero a ser produzido etc. (Menegassi, 2016).

Nessa visão, a escrita é concebida como trabalho1 e o texto é o lugar de interação entre professor e aluno, o instrumento mediador. Sob esse viés, a revisão e a reescrita se configuram como etapas do processo de produção textual, como elementos essenciais tanto para a produção do texto, quanto para o desenvolvimento do estudante como produtor de textos sociais (Menegassi, 2016). 

A reescrita surge a partir da revisão. Etapa em que o aluno realiza um trabalho efetivo e reflexivo com seu texto, ao analisá-lo, reconstruí-lo, efetuando sua própria construção cognitiva, linguística, textual, discursiva e enunciativa. Reescrever, portanto, não significa apenas passar o texto a limpo, a partir de apontamentos, comentários e questionamentos do professor (Menegassi e Gasparotto, 2016), não se resume à simples higienização textual. É preciso que o estudante, em uma relação interativa com seu texto, reconstrua não somente aspectos formais, mas, principalmente, aqueles relacionados ao conteúdo, ao discurso que apresenta ao leitor.

A revisão demonstra a vitalidade da escrita (Fiad; Mayrink-Sabinson, 1994), ao possibilitar um diálogo efetivo entre professor e aluno. Essa interação permite o desenvolvimento da consciência discursiva do estudante, levando-o à internalização e apropriação do conhecimento (Menegassi e Gasparotto, 2019).

Neste artigo, demonstramos o processo de revisão introduzindo o trabalho com as mídias eletrônicas, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC – Brasil, 2018). Para tanto, utilizamos um texto de Memórias literárias, produzido por um aluno-autor da Olimpíada de Língua Portuguesa que demonstra o passo a passo do processo de revisão individual realizado pelo docente, conforme orientação apresentada na 2ª- etapa da Oficina 17 do Caderno virtual Se bem me lembro..., da Olimpíada.

Os critérios de revisão de Memórias literárias

O roteiro da Oficina 17, utilizado para a revisão individual, determina dois grupos de descritores para avaliação da revisão do texto: adequação discursiva, que se remete ao campo do conteúdo, e adequação linguística, referente ao campo da forma, com os quais trabalhamos na orientação aqui apresentada. Para iniciar o trabalho de revisão, vamos separá-los didaticamente, conforme a tabela abaixo.

 

Em cada grupo de descritores os critérios foram dispostos em ordem crescente, para demonstrar o caminho a ser percorrido no momento de revisar o texto do aluno, evidenciar o caráter dialógico do processo de revisão, entre o professor e o aluno, tendo o texto de Memórias literárias como objeto de trabalho.

Assim, na adequação discursiva, observamos, primeiramente, se há palavras e expressões que situem o leitor no tempo passado, que nos levarão à análise dos verbos, para verificar se estão no pretérito, o que indica o tempo passado. Na sequência, observamos se foram utilizadas as marcas que caracterizam o narrador em primeira pessoa, o que leva à verificação se esse narrador: descreve objetos e lugares; e expressa sensação, emoção e sentimento. Por último, observamos se o título está adequado ao conteúdo do texto e se ele instiga e motiva o leitor. Notamos que há uma sequência lógica para trabalhar os aspectos da revisão textual, no campo da adequação discursiva.

Na adequação linguística, também iniciamos pela análise das expressões de tempo, que nos remetem à observação dos verbos no pretérito, sua conjugação e flexões. Logo após, verificamos as marcas linguísticas que caracterizam o narrador em primeira pessoa – pronomes, verbos. Em seguida, aferimos se a linguagem está adequada ao gênero, não havendo marcas da linguagem oral informal. Posteriormente, analisamos a grafia das palavras e a pontuação2 .

 

Vamos à prática: revisão individual feita pelo professor

Ao iniciar o processo de revisão na mídia eletrônica, em um computador com o programa WORD, acessamos o ícone REVISÃO, na barra de ferramentas, na parte superior da tela. Para inserir os comentários, selecionamos a palavra ou trecho do texto onde desejamos incluí-lo e acionamos o ícone NOVO COMENTÁRIO.

No texto “Das canas-de-açúcar a uma infância quase amargurada”, os critérios relacionados à adequação discursiva estão marcados com fundo avermelhado, para diferenciá-los dos critérios relativos à adequação linguística3 , com fundo azulado. Os comentários dispostos à margem obedecem a ordem de informações apresentadas no texto, todos relacionados aos descritores já identificados. Nos destaques, inserimos bilhetes com questionamentos, apontamentos e comentários, seguindo um padrão estabelecido por Menegassi e Gasparotto (2016), como uma alternativa para a revisão textual-interativa, conforme propõe Ruiz (2015)4 .

 

Para maior compreensão, sistematizamos cada critério do descritor adequação discursiva, com os respectivos bilhetes de apontamentos, comentários e questionamentos de revisão realizados no texto.

Por meio dos bilhetes com os comentários, os apontamentos e os questionamentos de revisão, assim se apresenta o texto para o aluno-produtor de Memórias literárias, para iniciar o processo de revisão e reescrita.

A revisão do texto com os descritores determinados pela Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, na 2ª- etapa da Oficina 17 do Caderno virtual Se bem me lembro..., permite um trabalho eficaz de construção do texto na situação de ensino desenvolvida pelo professor com seu aluno participante.

Da mesma maneira, sistematizamos cada critério do descritor adequação linguística, com os respectivos bilhetes de apontamentos, comentários e questionamentos de revisão.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação; Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC; SEB, 2018.

FIAD, R. S.; MAYRINK-SABINSON, M. L. T. “A escrita como trabalho”, in: MARTINS M. H. (org.). Questões de linguagem. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 1994, pp. 54-63.

GERALDI, J. W. O texto na sala de aula: leitura e produção. Cascavel: Assoeste, 1984.

——. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993

——. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado de Letras, 1996

MENEGASSI, R. J. “A escrita como trabalho na sala de aula”, in: JORDÃO, C. M. A linguística aplicada no Brasil: rumos e passagens. Campinas: Pontes, 2016.

MENEGASSI, R. J.; GASPAROTTO, D. M. Revisão textual-interativa: aspectos teórico-metodológicos. Domínios de Lingu@gem, v. 10, nº 3, 2016, pp. 1.019-1.045. Disponível em <http://www.seer.ufu.br/index.php/dominiosde linguagem/article/view/33021>.

——. “Revisão dialógica: aspectos teórico-metodológicos”. Linguagem em (Dis)curso, v. 19, nº 1, jan./abr., 2019, pp. 107-124. Disponível em <http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/ view/6596>.

RUIZ, E. D. Como corrigir redações na escola. São Paulo: Contexto, 2015.

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