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O trabalho com pesquisa na escola: em busca da autoria do aluno pesquisador

O trabalho com pesquisa na escola: em busca da autoria do aluno pesquisador

texto - Jaqueline Peixoto Barbosa e Cristiane Cagnoto Mori; ilustração - Criss de Paulo

01 de junho de 2012

Onde vivo e o que em mim vive

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Sugestões para incentivar seu aluno a investigar e não apenas “recortar e colar da internet".

O movimento entre produção e leitura é para nós um
movimento que vem da produção para a leitura e desta retorna
à produção (ao inverso do que costumam ser as práticas
escolares tais como aquelas propostas pelos livros didáticos).

Geraldi, 1991, p. 188.

 

Com uma advertência para a falta de sentido (e de objetivo) como muitas atividades de leitura são propostas e desenvolvidas na escola, Geraldi (1991) vai propor o movimento descrito na epígrafe entre as práticas de leitura e escrita: deveria ser para ter o que dizer em certas situações de comunicação que os alunos leriam, buscariam parte do que já foi dito a esse respeito, dialogariam com essa produção etc. Nessa direção, pode-se pensar que a apropriação de procedimentos de pesquisa pode ajudar na concretização desse movimento metodológico entre as práticas de uso da linguagem.

O problema de fundo, porém, permanece em função do tipo de trabalho com pesquisa proposto na maioria das escolas. Grande parte das atividades trata a pesquisa como atividade de complementação de conteúdos estudados ou algo que precisa ser feito por possibilitar o uso das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) e/ou por lidar com busca e seleção de informação.

Trata-se de uma atividade comum, para a qual, em geral, se oferece pouco suporte: propostas descontextualizadas, que carecem de objetivos claros e de formas de socialização definidas. Alimenta-se assim mais um paradoxo da escola: cobra-se algo – fazer pesquisa – que deveria ser ensinado, mas que muitas vezes não o é. Em função disso, não raro o processo de desenvolvimento se resume ao uso do procedimento “recorta e cola”. Para vislumbrar uma solução, é preciso discutir a natureza e os propósitos das atividades de pesquisa na escola.

A pesquisa escolar até pode gerar novos conhecimentos (sobre a escola ou o bairro, por exemplo), mas, em geral, trabalha com a reconstrução de conhecimentos existentes. Além disso, o trabalho com pesquisa na escola visa à aprendizagem de procedimentos e ao desenvolvimento de habilidades para tratar informações e dados.

Na chamada sociedade da informação é preciso que as informações (amplamente disponíveis) possam se converter em conhecimento: é fundamental que a escola ensine a buscar, selecionar, relacionar, analisar, divulgar, redistribuir, remixar e operar com a diversidade de informações.

A almejada formação de sujeitos autônomos e críticos passa pelo desenvolvimento de habilidades e aprendizagem de procedimentos de pesquisa. Mas o que é pesquisar?

Em definições de pesquisa apresentadas nos dicionários, vemos que as ações de indagar e buscar estão sempre acompanhadas de uma especificação (“com diligência”; indagação “minuciosa”).

Se pesquisar envolve investigação, triangulação de dados/informações, procedimentos metodológicos, estabelecimento de diferentes níveis de relação para a construção da resposta à questão de pesquisa, atividades que demandam respostas diretas a perguntas simples como: “Os anos 2000, 2004 e 2008 são chamados de bissextos. Por quê? Quais serão os próximos anos bissextos?”¹, não podem ser tidas como atividades de pesquisa.

Além da confusão entre “busca simples” e “pesquisa”, o problema de algumas propostas é a falta de orientação em relação ao processo. A seguir alguns exemplos.

O que e onde deverão pesquisar? Em que gênero deverão organizar o resultado da pesquisa? Com quem os resultados de pesquisa serão socializados?

Sobre imigração o que devem focar? Isso não precisa ser dado previamente, pode ser construído pelos alunos, mas é preciso prever uma mediação por parte do professor. Como devem anotar as informações: em tópicos, numa transcrição de entrevista, num relato biográfico?

Neste exemplo, propõe-se um levantamento de dados, mas não há proposta para a forma de registro dos dados parciais e finais, nem uma triangulação com outras fontes de pesquisa. A relevância da questão é indiscutível e poderia contar com a leitura de textos que apresentassem posicionamentos diante da questão. O argumento dado pelos entrevistados poderia ser debatido. Como forma de socialização dos resultados, textos de diferentes gêneros textuais poderiam ser produzidos.

■ As atividades de pesquisa na escola: como superar suas inadequações?

Mais do que apontar como as atividades de pesquisa deveriam ser, é preciso pensar numa progressão curricular que deve ser construída tendo como princípio que toda pesquisa parta de uma questão/situação problema que emerja no grupo, na classe e/ou que tenha sido com ele pactuado.

Partindo dessa premissa, para a organização de um currículo que tenha como um dos eixos transversais o desenvolvimento de habilidades e a apropriação de procedimentos de pesquisa, é importante explicitar os tipos de pesquisa que podem ser trabalhados na escola e como esse trabalho pode ser proposto nos diferentes anos, no que diz respeito ao recorte das questões de pesquisa, à busca de informações e levantamento de dados, seu tratamento e análise e socialização dos resultados.

Em relação ao problema ou à questão de pesquisa, o recorte deve ser bem delimitado.

Nos anos iniciais, esse recorte pode ser fornecido pelo professor. Nos anos mediais e finais, um dos objetivos do trabalho pode ser exatamente estabelecer esse recorte.

Quanto aos tipos de pesquisa que podem circular na escola, com as devidas adequações e didatizações, merecem destaque a bibliográfica, o levantamento de dados, a experimental e a de campo (em geral, denominada “estudo do meio”). No presente artigo, trataremos apenas do primeiro tipo de pesquisa.

A pesquisa bibliográfica supõe a busca de informações/dados/respostas em livros, periódicos, impressos em geral e escritos em outros suportes/mídias e também em vídeo. No caso da escola, pode também incluir entrevista com especialistas ou com alguém que tenha vivenciado uma situação. Seu objetivo maior é conhecer as diferentes contribuições já dadas a respeito do tema em questão. Do ponto de vista de uma progressão para os ensinos Fundamental e Médio, é possível explorar:

Uma possibilidade de aplicativo para esse fim é o scoop.it, que permite a criação de blogs com materiais encontrados na web. Dois exemplos interessantes podem ser encontrados em:
http://www.scoop.it/t/animacao
http://www.scoop.it/t/ir-e-vir-vice-e-versa
Acesso em 23/5/2012.

 

O importante desse processo é não só dar lugar à voz dos alunos, mas também qualificá-la por meio da pesquisa; é colocar a leitura a serviço do dizer pela perspectiva não de revozear textos, mas de replicá-los, concordando com eles ou refutando-os, complementando- os, questionando-os, emocionando-se, indignando-se ou surpreendendo-se com eles, pela perspectiva de concretização de uma atitude responsiva ativa, tal como prevista por Bakthin (2003) e também por Rojo (2004, p. 2), que afirma:

"Mas ser letrado na vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar da liberalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; é, enfim, trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela."

1. Geografia – 5º- ano. São Paulo: Moderna, 2009, p. 30. Coleção Conviver.

Jacqueline Peixoto Barbosa é mestre e doutora em linguística aplicada pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/PUC-SP); professora do Departamento de Linguística da PUC-SP. Atua com formação continuada de professores nas redes pública e privada.

Cristiane Cagnoto Mori é mestre em linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL/Unicamp); professora do Departamento de Linguística da PUC-SP. Atua com formação continuada de professores nas redes pública e privada.


Referências

 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução, Paulo Bezerra. 4ª- ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ROJO, Roxane Helena Rodrigues. “Letramento e capacidades de leitura para a cidadania”. Texto de divulgação científica elaborado para o Programa Ensino Médio em Rede, in: CD do Programa Ensino Médio em Rede, Rede do Saber/Cenpec/SEE-SP, 2004.

GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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