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O que dizem os artigos de opinião semifinalistas da Olimpíada 2010

O que dizem os artigos de opinião semifinalistas da Olimpíada 2010

Ana Luiza Marcondes Garcia

01 de dezembro de 2010

Gente é para brilhar!

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Uma análise geral dos textos desta edição da Olimpíada revela que os estudantes se apropriaram das características do gênero Artigo de opinião. Veja quais foram os principais pontos abordados, os êxitos e as dificuldades dos estudantes.

Cento e vinte e cinco artigos de opinião escritos por estudantes brasileiros do ensino médio chegaram à condição de semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, edição 2010, programa promovido nacionalmente pelo Ministério da Educação (MEC). O que essa amostra pode nos revelar? Como são esses textos? E, fundamentalmente, que aspectos poderiam ser aperfeiçoados para que um texto viesse a ser finalista?

A seleção de textos no nível estadual é apenas uma das etapas de um longo processo que teve como um de seus pontos de partida a decisão de se tomar os gêneros do discurso como objeto de ensino-aprendizagem. Inspirado nas reflexões do teórico da linguagem Mikhail Bakhtin (1895-1975) e nas propostas da Escola de Genebra – em particular, na reflexão de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz –, todo trabalho desenvolveu-se embasado no pressuposto de que as diversas esferas da atividade humana estão necessariamente relacionadas a determinados usos que fazemos da linguagem. Cada uma das inúmeras esferas em que vivemos e nas quais circulamos – cotidiana, profissional, escolar, política etc. – desenvolve usos próprios da linguagem na forma de gêneros discursivos.

Antes de produzir o texto para a Olimpíada, os estudantes, orientados por seus professores, participaram de diversas oficinas, na forma de sequências didáticas, para escrever este gênero discursivo: o artigo de opinião. Cabe, portanto, em primeiro lugar, relembrar as características principais desse gênero, antes de olharmos para os textos semifinalistas.

Para tanto, vamos retomar sinteticamente o que já está posto tanto nas oficinas do caderno Pontos de Vista, que orientou o trabalho dos professores, como no CD-ROM que disponibilizou um curso interativo para que os avaliadores realizassem as primeiras análises dos textos.

1. O gênero artigo de opinião

Artigo de opinião é um gênero de texto escrito em que se toma posição acerca de uma questão polêmica de interesse público. Uma questão polêmica é aquela que decorre de um assunto que gera discussões, sobre o qual as pessoas podem ter opiniões distintas. São questões que afetam, direta ou indiretamente, a vida de todos, por isso dizemos que elas são de interesse público ou têm relevância social. Daí a necessidade de debatê-las em profundidade como forma de participar da vida pública de uma comunidade, exercendo o papel de cidadão.

Os artigos de opinião nasceram e subsistem na imprensa escrita, que tem por objetivo não só informar os leitores por meio de notícias, mas também colaborar para análise e discussão da realidade.

Para escrever um artigo de opinião é preciso tomar partido explicitamente em relação a uma questão polêmica. Para tanto é necessário formulá-la claramente; tomar conhecimento do que já foi dito sobre o assunto; inserir a questão na história e no contexto do debate; incorporar a posição de outras pessoas (seja para concordar, seja para discordar); e, fundamentalmente, argumentar, ou seja, justificar a própria opinião com fatos, dados, exemplos, evidências, princípios, comparações, opiniões de especialistas etc.

O artigo de opinião pode tratar de temas que digam respeito a outros cidadãos que não o seu próprio autor; pode partir de fatos que ocorrerem na comunidade e até mesmo de vivências pessoais, mas o autor deve articular o que é local ao geral, demonstrar que o tema é de interesse público.

Questões polêmicas geralmente demandam soluções não consensuais, e para que fiquem claras devem ser formuladas de maneira que seja possível responder a elas com um “sim” ou um “não”, assumindo-se uma posição “contra” ou “a favor”.

Para apresentar o tema, o autor não pode supor que o leitor já esteja a par do debate; pelo contrário, deve inserir o leitor na história e no contexto da discussão; deve dados históricos que fazem diferença para se entender a questão, atualizar o leitor com informações indispensáveis para acompanhar o debate.

No desenvolvimento do texto, o autor assume uma posição diante da polêmica, explicitando a sua opinião; ao final da leitura, deve ser possível identificar a posição do autor em relação ao tema. Mas não basta dar opinião, é preciso sustentá-la com argumentos. O autor deve

apresentar fatos (os dados) que funcionam como ponto de partida para conduzir a uma conclusão (a tese), usando, para isso, justificativas (os argumentos) que sustentam sua ideia. Ainda que alguns desses elementos possam estar implícitos, deve ser possível recuperá-los pelo raciocínio, já que esses três elementos compõem o núcleo da argumentação.

Para convencer o leitor, o autor deve mobilizar informações pertinentes e diversificadas. O texto será mais convincente se o autor eleger e usar variadamente entre seis possíveis tipos de argumento (de autoridade, por princípio, por causa/consequência, por evidência, por exemplificação e por comparação).

Ele também não pode ignorar posições contrárias à sua, pois isso mostrará não só que não está a par do debate como perderá a oportunidade de refutar posições contrárias às suas para provar que são inadequadas e descartá-las. Assim, é importante trazer a voz de diferentes pessoas ou instituições, seja para refutá-las, seja para reforçar sua posição. Há mais chances de convencer o leitor se este perceber que há quem concorde com o autor. A refutação de pontos de vista contrários é importante para mostrar que os argumentos dos opositores já foram considerados e ainda assim não se sustentaram. Apesar disso, o autor não deve adotar um tom excessivamente impositivo, sem dialogar com outras posições, sem negociar com opositores ou atenuar suas afirmações; a estratégia-chave é negociação, e não imposição.

Para concluir o texto, o autor estabelece uma articulação lógica entre as ideias apresentadas anteriormente e a conclusão a que conduz o leitor – esse é o momento de completar o caminho lógico que veio sendo preparado desde a introdução. Nesse caminho, é importante utilizar os conectivos e expressões que introduzem argumentos (“pois”, “porque”, “uma vez que” etc.) e conclusões (“portanto”, “logo”, “então”, “assim” etc.).

Também no final é o momento de articular o local ao geral, caso isso não tenha sido feito. Se as discussões focalizaram predominantemente um problema local, esse é o momento de mostrar por que o tema é de interesse público.

É nessas condições que o artigo de opinião pode ser eficaz em convencer o leitor, influenciá-lo ou conclamá-lo à ação. Ao final da leitura do artigo de opinião, o leitor deve ficar com a impressão de que o autor não deixa de ter razão, mesmo que não concorde totalmente com ele.

2. Os artigos de opinião semifinalistas

Consideradas tais características, o que se pode dizer dos 125 artigos de opinião semifinalistas? Olhando, inicialmente, para a totalidade da amostra, o que fica evidente é que não deve ter sido tarefa fácil escolher os finalistas, pois os textos têm qualidade. Se os compararmos aos artigos de opinião da Olimpíada de 2008, salta aos olhos que desta vez há textos mais fiéis ao gênero, mais bem estruturados, mais bem fundamentados, mais assentados em informações que demandaram pesquisa. Em uma palavra, mais convincentes. Certamente isso se deve à qualidade das oficinas preparatórias, mas principalmente ao empenho e competência dos professores e dos estudantes.

Ainda no plano das observações gerais, é curioso notar que, provavelmente, a busca de um rigor formal para a elaboração do texto pode ao mesmo tempo ter produzido certa homogeneidade na amostra. Há muitos textos que se assemelham, seja na condução argumentativa, seja na escolha do tema. Esse fenômeno se manifesta, por exemplo, na presença relativamente escassa do que se chamou, nas oficinas, de “recursos autorais”: a utilização de procedimentos discursivos que marcam a voz do autor e procuram prender a atenção do leitor. Vale registrar que é mais ou menos comum encontrar textos rigorosamente corretos, mas nem sempre instigantes. Isso não significa que não haja artigos de opinião envolventes (há vários!), mas sim que, entre os 125, muitos não chegaram à reta final por essa razão.

A que se pode atribuir tal fato? Parece-me que a complexidade da tarefa seja um dos motivos. Se considerarmos os outros gêneros discursivos da Olimpíada 2010 – Poema, Memórias literárias e Crônica –, é possível dizer que o Artigo de opinião, comparado aos demais, tem natureza menos subjetiva, ele não “fala de si”, mas do que é público. É também o que menos aceita incursões literárias ou tiradas estilísticas. Convenhamos, então, que encontrar um equilíbrio entre abordar questões de relevância social, sem deixar que as reflexões passem para o plano pessoal, e, ao mesmo tempo, imprimir marcas próprias ao texto não é tarefa trivial.

E sobre o que falam os artigos de opinião? Que temas são mais recorrentes? No que diz respeito ao tema, sem sombra de dúvida predomina o meio ambiente. Pode-se dizer que a polêmica preferida foi “preservação do ambiente ou qualidade de vida versus desenvolvimento”. Generalizando, o título que resumiria uma grande massa de artigos de opinião da amostra seria algo como “O preço do progresso”, conduzindo, na grande maioria dos casos, para a posição de que não vale a pena pagá-lo.

Duas suposições podem ser feitas a esse respeito. A primeira considera a escolha dos próprios estudantes. Como se sabe, a questão ambiental está na pauta das grandes discussões nacionais e internacionais e, certamente, dos nossos currículos, o que pode ter definido a preferência. Pode-se ainda aventar a possibilidade de que os textos sejam um reflexo do atual momento brasileiro de expansão de grandes obras, instalação de indústrias, mecanização da produção, urbanização acelerada etc. e a percepção local de como isso tudo impacta o dia a dia da população. É verdadeiramente significativo o número de textos que focaliza esse aspecto.

Outra suposição seria a de que os professores e os avaliadores tenham, de alguma forma, determinado parcialmente essa escolha, na tentativa de repetir um tema que foi vencedor na Olimpíada de 2008. Não devemos nos esquecer de que esses 125 semifinalistas passaram por três crivos: o da seleção na escola, no município e no Estado. Assim, nada garante que as avaliações não tenham privilegiado temas que, na visão dos professores e analistas, teriam mais chances de se tornarem vencedores – o que não é fato.

Olhando agora para aspectos que não dizem respeito à totalidade da amostra, mas são recorrentes, é possível dizer que vários textos não chegaram à final por dois motivos: ou porque buscaram mais denunciar uma situação do que polemizar ou porque não chegaram a explicitar claramente a polêmica de fundo.

Vejamos um exemplo genérico do primeiro caso. O estudante inicia o texto fornecendo dados históricos sobre uma pequena e pacata cidade, enfatizando a simplicidade da vida local, a tranquilidade dos moradores, e introduz um elemento inédito: a implantação de uma nova lei de trânsito, ou a exigência recente da prefeitura local, o início de uma obra de grande porte na região ou ainda o surgimento de uma prática que “virou moda” na cidade. Com base nisso, o autor enumera os prejuízos, incômodos, problemas, infortúnios ou conflitos decorrentes da nova situação. Em duas ou três linhas, chega até a apontar um outro lado da questão ou trazer uma voz discordante, mas de maneira muito vaga e genérica, sem considerar outras causas, aprofundar os contra-argumentos e refutá-los devidamente. O texto assume um tom de denúncia, geralmente caracterizada de forma simplista como uma luta entre “o bem e o mal”. A lição que se tira daqui é a de que não basta identificar e descrever um problema para instalar uma polêmica.

No segundo caso, o autor focaliza um tema potencialmente controverso, mas não recorta a polêmica dentro do tema com precisão. É o que ocorre em textos que tratam, por exemplo, de assuntos mais amplos, como as políticas públicas educacionais ou agrícolas para determinada região, sem dirigir o debate para um aspecto específico. Há uma certa impressão de generalidade que não se desfaz durante a leitura. É possível até perceber, ao final, que o autor escreveu o texto com uma questão controversa em mente, mas em nenhum momento chegou a formular claramente a polêmica, por exemplo, na forma de uma pergunta retórica que pudesse ser respondida com um “sim” ou com um “não”, deixando, na verdade, essa tarefa para o leitor. O efeito é o de um artigo de opinião que não se sabe exatamente a que veio, um texto que divaga, que leva o leitor a ficar esperando um ajuste de foco. Se tivesse sido possível definir o debate mais precisamente nos primeiros parágrafos, ou mesmo no título, essa impressão não emergiria.

Seja como for, em ambos os casos o autor não deixa de posicionar-se, dar a sua opinião, aliás, esse é um traço que pode ser observado em praticamente todos os textos da amostra: sempre há uma opinião, um posicionamento explícito, enunciado por meio de recursos discursivos adequados, como “penso que”, “na minha opinião”, “quero deixar claro que” etc. Também é verdade que em alguns casos há exageros, excesso de autoafirmação ou enunciados desnecessariamente fortes, fenômeno que talvez possa ser atribuído ao fato de que os autores estejam em plena adolescência. O mesmo motivo provavelmente também explica por que são relativamente mais raros, na amostra, textos que negociam com os opositores, aceitando em parte uma opinião contrária.

Vejamos agora o que se pode observar em relação aos recursos argumentativos empregados nos textos. A primeira questão é que em todos há argumentação: dados que conduzem a uma tese sustentando-se em argumentos. Nem sempre o movimento argumentativo é conduzido de maneira exemplar, mas está lá. O que distingue determinados textos é que há autores que souberam eleger e variar os tipos de argumento empregados de acordo com a situação. O mais utilizado é o argumento por causa e consequência: “como x, então y”. Também os argumentos por exemplificação aparecem bastante, assim como os por evidência. Mais raros são os de autoridade (que dependem de pesquisa e domínio do tema), por comparação (que também demandam a busca de casos similares) e por princípio (assentados em leis, regras e preceitos gerais).

O emprego de argumentos variados no artigo de opinião, assim como a escolha do tipo de argumento mais adequado às diferentes situações, certamente foi proporcional à possibilidade que o estudante teve de praticar, mais ou menos vezes, o jogo da argumentação Questões Polêmicas do Brasil, material que fez parte das oficinas de preparação. O jogo não só proporciona maior familiaridade com os diferentes tipos de argumento como obriga o jogador a realizar um exercício, definido pela sorte, que é, em algumas jogadas, defender uma ideia com a qual não concorda, por meio de argumentos. Isso o leva a “colocar- se na pele de um outro”, favorece a alteridade, reforça a convivência com o diferente, além de levá-lo também a reavaliar a própria opinião, para alterá-la, ou reforçá-la, ou seja, a utilização mais intensa do jogo da argumentação também deve ter garantido que o artigo de opinião produzido não apresentasse um problema já apontado em alguns textos: a falta de aprofundamento na apresentação de vozes discordantes e de posições contrárias.

Outra questão que caracteriza alguns textos da amostra diz respeito à capacidade que o autor demonstrou em articular o local ao geral. Para pensá-la é importante lembrar que o tema da Olimpíada 2010 foi “O lugar onde vivo”. Claro está que tal tema é bastante amplo, já que tanto o bairro onde se vive quanto o país em que se está é “o lugar onde vivo”. Mas as oficinas orientaram os professores no sentido de que o texto a ser produzido se reportasse a algum aspecto da realidade local. Um dos objetivos dessa opção foi levar o estudante a lançar um olhar reflexivo para sua cidade ou região, para retratá-la no texto. Por outro lado, como vimos, é próprio do gênero discursivo Artigo de opinião tratar de temas de interesse público, de relevância social. Por essa razão, as oficinas apontavam para a necessidade de o texto realizar uma articulação entre os aspectos locais e as questões de natureza mais geral, nacional e até mesmo internacional. O que se quis evitar com essa recomendação? Que os artigos de opinião produzidos se fechassem sobre si mesmos, ficassem reduzidos a um plano excessivamente particular.

Mas nem todos os textos da amostra obtiveram sucesso nessa articulação. A leitura de alguns deles – principalmente daqueles mais voltados para a denúncia de uma situação local – mostra que o autor fixou-se apenas em uma situação, sem estender a validade de suas reflexões para aspectos mais gerais, sem mostrar como o fato focalizado é, na verdade, a expressão de um fenômeno social mais amplo.

Bem mais raros foram os textos que apresentaram proposta inversa: trataram de um problema mais amplo – por exemplo, educação, poluição, reciclagem de lixo – sem trazer a discussão para o aspecto local, seja pela utilização de um exemplo da região, seja para tomar uma situação ocorrida na cidade como ponto de partida das reflexões.

Também com menor recorrência na amostra,mas ainda assim com alguma regularidade, há textos cujos autores demonstraram não ter a sensibilidade adequada para equilibrar o espaço dedicado à exposição de dados, números, relatos históricos, detalhamento de informações oficiais e desenvolvimento da argumentação propriamente dita. É como se os escritos não tivessem timing, que, segundo o Dicionário eletrônico Houaiss (2009), significa “senso de oportunidade quanto à duração de um processo”. O texto demora para entrar no que interessa ou alonga-se demasiadamente em algum ponto. Vê-se que o autor realizou uma boa pesquisa, muniu-se de dados e informações, mas não soube eleger o que era relevante. O resultado é um texto pouco instigante, que se “arrasta”.

Esse fenômeno remete a outro, que geralmente ocorre nos textos sem timing, mas não só: artigos de opinião demasiadamente longos, que deveriam ter sido reduzidos. O espaço a ser usado era rigorosamente a frente e o verso de uma folha, mas alguns autores recorreram a uma letra bastante “espremida”, para caber mais – tão espremida, que ficou difícil de ler, atrapalhando a recepção do texto.

Mas isso deve ser visto como um problema? Sim, na medida em que, se foi preciso espremer a letra para caber, o texto ainda carece de revisão, precisaria ser relido, cortado ou “limado”, como dizem os profissionais da escrita. Afinal, a concisão é uma virtude a ser buscada na escrita. De fato, passando em revista bons textos da amostra, nota-se que eles têm, em média, uma página e meia. Não se trata apenas de tamanho ou extensão, mas de precisão no uso das palavras, o que produz um efeito de sentido decisivo: o texto parece “redondo”, como dizem os jornalistas – nada a tirar, nada a acrescentar.

Outro aspecto que merece algumas observações é a escolha de palavras. Nos bons textos nota-se que o autor não usou sempre a primeira palavra que lhe veio à mente, mas buscou aquela que cabia na situação. Isso não significa visar o rebuscamento, nem a sofisticação; pela contrário, simplicidade e clareza devem ser as metas. A escolha lexical expressa também a utilização de recursos autorais: a seleção de um termo que surpreenda o leitor, o uso de uma metáfora para explicar-se, a introdução de aspas em uma palavra para marcar uma ironia etc. Adjetivos e advérbios mais bem escolhidos teriam evitado, na amostra, algumas afirmações exageradas ou excessivamente fortes que apontamos acima.

Finalmente, o título do artigo de opnição: peça importantíssima na engrenagem do texto, a ser feito e refeito antes, no meio e depois da escrita do artigo. Na amostra, há títulos exemplares: adiantam a polêmica, sem “matar” a discussão logo de início, instigam a leitura; mostram-se originais, evidenciando recurso autoral, seja pelo uso preciso da pontuação, seja por recorrerem ao humor; há até mesmo os que fazem referências literárias. Alguns títulos da amostra poderiam ter evitado clichê, obscuridade e falta de concisão.

Uma última observação: as convenções da escrita foram bem observadas. Em geral, os textos estão corretos. Os problemas mais recorrentes são, de longe, crase e pontuação; os menos recorrentes: ortografia, acentuação e concordância; ainda assim, estão lá.

Para terminar, cabe lembrar que os problemas focalizados não co-ocorrem nos mesmos textos, e as observações realizadas são fruto de uma análise mais global da amostra, e não de um procedimento sistemático de análise estatística.

Ana Luiza Marcondes Garcia é professora titular do Departamento de Linguística da PUC-SP, atua na área de formação de professores e de produção de material didático de língua portuguesa.


Referências

BAKTHIN, M. (1953). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das Letras, 2004.

HOUAISS, A. e outros. Dicionário Houaiss eletrônico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

MEC/CENPEC. Pontos de vista – Caderno do professor. São Paulo: Cenpec, 2010. (Coleção da Olimpíada).

—. QP Brasil: O jogo da argumentação. São Paulo: Cenpec, 2010.

RANGEL, E. O. O processo avaliatório e a elaboração de “protocolos de avaliação”. Brasília: Semtec/MEC, 2004.

RIEKE, R. e SILLARS, M. O. Argumentation and the decision making process. Illinois: Scott, Foresman and Company, 1975.

TOULMIN, S. (1958). Os usos do argumento. São Paulo: Martins Fontes, 2001. (Ferramentas).

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