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Presente de Makunaimã (Makunaimã taanii)

Presente de Makunaimã (Makunaimã taanii)

texto - Kamuu Dan Wapichana; tradução - Nilzimara de Souza Lima; ilustração - Aju Paraguassu

30 de agosto de 2023

Semear, reflorestar e sonhar o Brasil

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Kaimem! Essa história é dedicada ao meu amigo Frederico Magalhães, servidor da Funai aposentado, comprometido com a causa indígena desde sua juventude.

Kaimen! Diura’a kutyainhau unminhayda’y Frederico Magalhães ati’u kaydinhayzu KFUNAI ii, kaminkeyta’u dunuzuinhau patuminnaryn di’ik.

 

Os iribiennau Wapichana tinham muitas coisas
valiosas e entre elas estava o maziki.

O milho foi um presente que Makunaimã deixou
para nós. Além de cozido e assado, com ele fazemos
mingau e bebidas para nossas festas.

Os karaiwenau entraram em nossas aldeias
e trouxeram milhos muito bonitos e grandes com
espigas bem vistosas.

Quando a comunidade abandonou os milhos que
cultivava, o Pajé mais velho se retirou da aldeia
e se recusou a receber aquele milho karaíwe.

Foi para bem longe e levou todas as sementes dos
milhos nativos que ele guardou. No primeiro plantio,
os milhos dos karaiwenau ficaram muito bons.

Mas com o passar dos anos foi deixando de produzir
e as espigas já não eram tão bonitas! Tuxaua logo
chamou os karaiwenau e falou do problema, mas eles
afirmavam que a doença era por causa da terra
que era fraca e que tínhamos que colocar mais adubos
e venenos para controlar as pragas.

O Tuxaua explicou que a comunidade jamais tinha
colocado adubo ou veneno, pois a terra era boa.
Os karaiwenau continuaram dizendo que a terra
era fraca e que os insetos eram os causadores
das doenças e que para resolver tudo isso seria
necessário trazer outras variedades de milhos mais
resistentes. No entanto, a partir daquele momento,
os iribiennau Wapichana teriam que pagar pelo milho.

Descontente com os karaiwenau, o Tuxaua chamou
vários pajés pra saber o que estava acontecendo com
os milhos. Naquela noite, os pajés fizeram um ritual,
bateram folha e chamaram os espíritos do milho pra
saber qual era a sua doença. Mas o espírito não veio!
Os pajés descobriram que aquele milho não tinha
espírito! Desiludidos, eles não sabiam o que fazer.

Apesar da tristeza, notaram que um pajé não estava
ali. O Tuxaua perguntou: Onde está o velho pajé? E
responderam: continua isolado, bem longe da aldeia. O
Tuxaua organizou um grupo e foi ao encontro do sábio
pajé. Depois de dois dias de caminhada na floresta,
chegaram ao local. Logo o espanto tomou a todos,
pois naquele lugar os milhos do pajé não tinham sido
afetados por nenhuma praga ou doença! Todos ficaram
maravilhados, porque o pajé tinha guardado todas as
variedades de milho que os Wapichana cultivavam.

Por um instante ficaram paralisados contemplando
a plantação, mas de repente se deram conta de que
ainda não haviam cumprido o propósito da longa viagem.
Envergonhados, se aproximaram do velho pajé e contaram
o que havia acontecido. Humildemente, pediram que ele
voltasse para a comunidade. O velho pajé sabia que não
bastava voltar, já que era grande o trabalho que teria
pela frente, trabalho que ele não poderia fazer sozinho.
A grande missão era fazer um ritual pedindo permissão
para plantar novamente suas sementes sagradas,
chamando os espíritos de volta. Deste modo, concordaram
em organizar tudo, pegando o máximo de sementes
disponíveis. Então voltaram para a aldeia.

Naquele dia, o Tuxaua ordenou que as pessoas da
comunidade abandonassem os milhos karaiwenau
e voltassem a cultivar novamente as sementes que
Makunaimã lhes tinha dado de presente.

Como o velho pajé previu, não foi um trabalho muito fácil,
mas o envolvimento de todos contribuiu para que o espírito
de Maziki voltasse para as terras férteis da comunidade.

Iribennau wapichannau dia’a kainha’au da’i iribe
aimeakannau dubatau na’ik inhau bi’i kainha’u maziki.

Maziki yryy makunaimã taanii ywa’akanii waynau at!
Yryyid, wawarakan, pidiaytan, watuma kududuu na’ik
riunii watyzannii watyzapan dun tan naa.

Dayna’a karaiwenau murutan waynau wiiz dia’a, inhau
na’akan maziki tyykia’u ykunaynyman, ydary’u na’ik
ykadynaa kaimen ytykapkau.

Wiizei wa’akan dun mazikinhau pakaiweapanii,
marynau tynarynau su’utinhan wiizei ai na’ik aunaa
yzamatan taury’y maziki karaiwe taaniiaz.

Ymakun mynapu na’ik yna’akan ipei maziki yda
suda’uraz ysaabanniaz. Kiwini’u paukau, mazikinhau
karaiwe tanniiaz kunaynam tyykii ykaimenan.

Mazan wyn dubatan yryynaa yautan na’ik kadynaa
aunaanaa ykunaynyman, na’ik tuxau dapadan
karaiwenau na’ik ykuadan yuian, mazan karaiwenau
kian ykarinhan, amazada mamauzakan idi’u na’ik
inhau myydakiz pawa’azii kasarai watakiz iinnau.

Tuxau kuadan wiizei aunaa na’apainim inhau myydan
na’apau, amazada kaimena’u karaiwenau pakawan
kian amazada aunaa ymauzkan, na’ik panaukazinhau
tau rinhei na’ik inhau na’akannii pawa’azii pabinaka
mazikinhau mauzkainhau, yryyid iribeninhau.
wapichannau kawinpenatan nii maziki.

Aunaa inhau kunaykian karaiwenau tym tuxau
dapadan iribe marynaunau inhau aichapkiz
kanam ni’u maziki karaiwenau tanii xa’apnym, yryy
aiweaka’an marynaunau kaydinhan, zuichan zi’inaba
na’ik inhau dapadan maziki urunaa inaichapkiz
xa’apauram rinhei mazan aunaa durunai wa’atin. Yryy
marynaunau aichapan taury’y maziki karaiwe aunaa
ydurunaa nii, karauran auna inhau aichapan na’apam
paxa’aptinhan, kaxauran.

Inhau tykypan aunaa marynau nii na’ii, tuxau pixan
na’iam marynau tynarynau? Inhau dakutin pakawan
izikidinpen, mynapu wiizei ai, tuxau baukuptan
paribennau na’ik inhau makun marynau aichapabau
kanapu it. Kamuu dayna’an inchi’ikipan kanubau na
inkawan na’it tyykii inhau tarian taury’y amazada ii
aunaa panaukaznhau nii na’ii aunaa baydap marynau
mazikin karinhan. Ipei inhau kunaykian, marynau
saaban ipei pabinaka maziki wapichannau
paupayzuniaz.

Maxa’apkiaka inhau di’itipan pauribeibau
da’y, mazan aunaa ytumynyikin inkian
aunaazii intuman ipei pamakukiz,
pakibe’azun py’y inhau maunapdinhan
tynarynau marynau di’it inhau kuadan
aimeakan xa’apan,na’ik inhau pixan ykiwen
wiizei it pawa’it.inhau tuman kunaykikery
inpixan papawan pawa’it taury’y maziki
kaimena’uraz na’ik dapadan inhau
durunaa pawa’at aunaa yxa’aptan
pabaurantin. Kaipa’a inhau baukuptinhan
inzeamatan ydai na’ik inkiwen wiizei it.

Yryy kamuu dun tuxau diydan
papidianannau wa’akan karaiwe mazikin
na’ik inhau kaiwen pawa’it pamazikin
kuxan ydai makunaimã taaniaz.

Tynarynau marynau kian kawan at aunaa
maxa’apannau man, mazan baukupinhau
kaminkeytan maziki ydurunaa dapadakau
kiukiz pawa’at imi’i baara kaimena’u
dia’ata wiizei at.

 


Glossário

Kaimem – gratidão.

Iribiennau – parente, tratamento para outro indígena mesmo sendo de povo diferente.

Wapichana – povo indígena de Roraima e Guiana Inglesa (Povo Wapixana).

Maziki – milho.

Makunaimã – divindade sagrada dos povos indígenas de Roraima.

Karaiwenau – não indígenas (plural).

Karaiwe – não indígena (singular).

Tuxaua – liderança da comunidade.

 

 

Sobre o autor

Kamuu Dan Wapichana nasceu na capital Boa Vista (RR), residente no Distrito Federal desde 2007, escritor, contador de histórias, artivista-educador socioambiental popular, premiado três vezes pelo Concurso Tamoio para escritores indígenas com os títulos A árvore dos sonhos (2015), O sopro da vida (2017) e A ciranda da roça (2019). Defensor do meio ambiente, da cultura medicinal tradicional, se dedica ao trabalho de formação continuada para o ambiente escolar com a temática indígena-ambiental em sala de aula, tendo como base a importância da literatura de autorias indígenas.

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