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Ressignificando a formação no aprender pela experiência

Ressignificando a formação no aprender pela experiência

texto - Shirlei Marly Alves; ilustração - Criss de Paulo

15 de agosto de 2023

Palavra de educador(a): viver para contar e contar para viver. Experiências da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa

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Entusiasmo e certa inquietação foram as emoções que experimentei ao ouvir o convite da Patrícia Calheta para trabalharmos juntas na coordenação dos formadores que atuariam nos Encontros de Estudantes Semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa, em sua 7ª- edição. O desafio de ir além de minha atividade como docente formadora, que já exerço há onze anos, também me alvoroçou o ânimo, por ver ali mais uma oportunidade de aprender, de experimentar, de sorver, nos encontros e nas parcerias, os aprendizados que só um estar junto denso e intenso possibilita acontecer.

Estava ali a inquietação típica dos momentos de encarar “a primeira vez”, pois, mesmo já tendo conduzido várias formações de professores, tanto no contexto da Olimpíada quanto no âmbito acadêmico, o desafio na coordenação de formadores trazia componente inusitado: orientar, pactuar, estabelecer parcerias para desenvolverem uma atividade que ocorreria totalmente a distância, envolvendo crianças, adolescentes e jovens, do 5º- ao 9º- ano do Ensino Fundamental à 3ª- série do Ensino Médio. Importante destacar que, com as alterações promovidas no concurso de textos, também se reconfigurou a formação dos estudantes, antes restrita aos autores dos textos selecionados na Etapa Estadual. Agora, ampliada para o conjunto de estudantes vinculado aos professores semifinalistas.

Nesse novo cenário formativo, cabia-me, como coordenadora (em parceria com a querida Patrícia Calheta), realizar a formação pedagógica de 20 formadores e acompanhar suas atividades com os estudantes, atuando, sobretudo, como uma interlocutora constante, para que, no transcurso da formação dos estudantes, também continuasse a formação dos formadores. Por isso, em lugar de “formação dos estudantes”, preferimos nomear de “formação com os estudantes” tudo o que foi realizado nas cinco semanas de atividades, concretizando um dos pensamentos luminares de Paulo Freire de que, ao formar, o formador também se forma.

Nesse sentido, investimos no “movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”, ainda na trilha dos direcionamentos freirianos, incentivando os profissionais a investir em uma ação formativa na qual a descrição dos encontros com os estudantes, a informação sobre os pactos estabelecidos nas duplas de formadores, a reflexão e a partilha de experiências alimentassem um diálogo pensado como uma relação de construção de saberes, como orienta o mestre Paulo Freire.

Era importante garantir um engajamento multidimensional, o qual precisaria ser, antes de tudo, ancorado na parceria, na empatia, no afeto, de modo que, assim como os coordenadores pedagógicos e técnicos, eu e Patrícia, também os formadores – envolvidos pelo que carinhosamente chamamos de “espírito olímpico” – percebessem a importância de propiciar um ambiente acolhedor e estimulante para os estudantes, com quem estariam juntos em cada ambiente virtual1.

Diante desse novo contexto, em que o apoio, a confiança e a garantia de que todos estaríamos juntos e solidários, aos poucos, fui também me ressituando como formadora, principalmente no que diz respeito a algumas convicções relativas aos modos de formar. Refletindo sobre a envergadura da proposta – uma formação para estudantes de todo o Brasil, no meio de tantas adversidades e atropelos trazidos pela pandemia da Covid-19 –, percebi que era preciso aceitar os riscos, apostar na comunhão de esforços e, sobretudo, não duvidar do poder que emana de pessoas motivadas e engajadas num projeto em que acreditam. Com essa perspectiva, percebi que a melhor estratégia na coordenação seria fortalecer a convicção de que no diálogo diário, compartilhando os aprendizados, as experiências, os achados, as intuições, poderíamos fazer um percurso calcado no apoio mútuo, garantindo menos tensão e mais possibilidade de darmos fluidez aos impasses inevitáveis quando se trabalha a distância, em ambientes virtuais, principalmente aqueles relacionados ao acesso dos estudantes aos videoencontros.

Em nossos encontros com formadores e formadoras, nos contatos pelos fóruns, durante os dois meses de atividades com estudantes de todo o Brasil, assim como na convivência dos encontros virtuais, a partilha de saberes e vivências foi a marca indelével da formação, concretizada em uma experiência altamente significativa para todos, nos tocando e transformando nossa cognição, nossa sensibilidade e nossa visão de mundo. Traduzem bem tudo isso as luminares palavras de Jorge Larrosa Bondía2:

O sujeito da experiência tem algo desse ser fascinante que se expõe atravessando um espaço indeterminado e perigoso, pondo-se nele à prova e buscando nele sua oportunidade, sua ocasião.”

 

 


Na 7ª- edição da Olimpíada, Shirlei Marly Alves compartilhou a coordenação de formadores e formadoras de estudantes ao lado da parceira Patrícia Calheta, que também colaborou nesta edição da revista (pp. 38-41). Faz parte da rede de ancoragem da Olimpíada no Estado do Piauí. Estudante de escolas públicas durante toda a infância e adolescência, Shirlei atuou como professora de Português na Educação Básica por doze anos. É especialista em Educação a Distância pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutora em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com pesquisa sobre discurso e trabalho do tutor da educação a distância.


Notas de rodapé

1. Google Meet para os encontros síncronos e Moodle para as atividades assíncronas.
2. Professor titular de Filosofia da Educação da Universidade de Barcelona, Espanha, quando participou do I Seminário Internacional de Educação de Campinas. Disponível em <https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC>.

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