"Uma revista para educadoras(res) e apaixonadas(os) pela Língua Portuguesa"
Uma volta olímpica em 20 vozes
Uma volta olímpica em 20 vozes
ilustração - Criss de Paulo
14 de agosto de 2023
Palavra de educador(a): viver para contar e contar para viver. Experiências da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa
Estes fragmentos foram selecionados a partir dos 20 Relatos de Prática vencedores da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, compondo um passeio por variadas narrativas e estratégias criadas por educadoras e educadores ao longo do percurso com suas turmas. São passagens que levam a muitos cantos do Brasil, por caminhos recém-trilhados para o ensino de gêneros discursivos em tempos desafiadores.
Passeio por relatos de prática vencedores
Aqui estão trechos dos quatro relatos de prática vencedores escritos por professores(as) que trabalharam o gênero DOCUMENTÁRIO.
Vinícius Delfino Silva
IFES – Campus Avançado Viana, Viana (ES)
E agora, professor?
“As conversas para resolver como aconteceria a escolha dos documentários representantes da turma tomavam forma. Os próprios estudantes bateram o martelo: não se sentiam totalmente seguros para optar por dois documentários. Dessa maneira, a votação deveria contar com mais jurados: professores da própria instituição e convidados externos. Na verdade, idealizamos um momento para exibir todos os documentários da classe – sim, todos os estudantes produziram, incrível, não é? – e, ao final, haveria a votação. Antes disso, preparei uma espécie de cardápio com a sinopse dos documentários, com o link dos vídeos. Assim, o jurado poderia assistir com mais calma e realizar seus apontamentos. Os discentes estavam empolgados. Um assistiria ao documentário do outro, haveria interação, comentários, torcida e tudo mais. E foi justamente esse o clima: o apoio de um trio para com o outro era lindo de se ver! Passamos quase uma tarde toda de sexta-feira nos deliciando com os documentários – cada um com uma perspectiva singular. Teve choro – do professor também! –, palmas, muitas risadas, elogios e a exigência de todos ficarem com a câmera ligada enquanto durar o momento. “
Juliana Dantas de Macêdo Nóbrega
EE Monsenhor Amancio Ramalho, Parelhas (RN)
Um roteiro de experiência gravado pela sensibilidade educacional
“Na medida em que assistiam ao documentário, observava-se um encanto, uma emoção em cada olhar... Um redescobrir do próprio lugar onde moram, sua história. Um trio de estudantes escolheu como tema a questão “Quilombola” no nosso município, e abordou questões referentes à cultura, à educação, além de explanar sobre a situação em que eles vivem atualmente na comunidade Boa Vista. Sem dúvida, essa foi uma escolha diferenciada, que oportunizou aos estudantes não só conhecimento, mas o exercício de valores como: empatia, respeito, solidariedade e paz. Esse documentário nos apresenta uma Parelhas de muitas cores, muitos sabores, cheiros, de muito sol e de um constante nascer de um novo dia, de um povo amoroso, com garra e que enfrenta as dificuldades com coragem, que acredita que tudo passa e que a educação pode transformar qualquer realidade. São verdadeiros valentes sertanejos, que sabem da importância de sua cultura.”
Mylenna Vieira Cacho
IFRN – Campus São Gonçalo do Amarante,
São Gonçalo do Amarante (RN)
Abram as câmeras! Aqui também tem Olimpíada
“Assistíamos, em algumas aulas síncronas, a documentários. Os primeiros foram Flores do meu bairro e O lugar onde vivo tem dona Militana. O contato com esses dois curtas provocou identificação com as temáticas, respectivamente, do preconceito da sociedade com os bairros periféricos, e do destaque à maior romanceira de versos e histórias do Brasil, natural de São Gonçalo do Amarante. [...] Senti, com essa experiência, que precisava continuar abordando narrativas próximas da realidade dos estudantes. Solicitei-lhes a visualização de Remoto, que retrata dificuldades, expectativas e experiências dos personagens do Campus Zona Norte, no que diz respeito ao ensino remoto emergencial no âmbito do IFRN. [...] Entrei em contato com Justino Neto, diretor e roteirista desse vídeo, a fim de explicar, através de uma roda de conversa, como ocorreu o processo de produção, bem como possibilitar uma melhor compreensão dessa linguagem multissemiótica. No encontro, outras questões apareceram, como a ética e o planejamento da escrita nos gêneros que antecedem a produção. “
Shantynett Souza F. Magalhães Alves
EE Betânia Tolentino Silveira, Espinosa (MG)
Não desiste deles não, viu!
“As produções iniciais foram chegando timidamente. Ao analisar os textos, pude perceber o quanto o trabalho de pesquisa destacaria a singularidade, os aspectos da história e da cultura desse lugar de pertencimento. Juntos, fomos desafiados, estimulados, a buscar, a conhecer e a dar visibilidade às diferentes vozes de poetas, de pesquisadores, de antigos moradores, entre outros, de nossa cidade, que embasariam as produções, tanto a escrita quanto a audiovisual. Aos poucos, os textos foram sendo revisados e encaminhados com a devolutiva; as versões iniciais foram sendo aprimoradas, adquirindo mais consistência. [...] Algo inédito aconteceu no que diz respeito à produção de documentários em nossa cidade, diferentes segmentos da sociedade nos auxiliaram na construção fílmica — sociedade e escola criando espaços de aprendizagem em um momento desafiador. Do pequeno produtor rural ao destaque empresarial. Membros da rede pública e particular de ensino. Amigos, vizinhos, ex-estudantes da nossa instituição, familiares, o pároco. Todos contribuindo para a construção do conhecimento, para o êxito de uma educação pública de qualidade que assegure e amplie o letramento de nossos estudantes.“
Passeio por relatos de prática vencedores
Aqui estão trechos dos quatro relatos de prática vencedores escritos por professores(as) que trabalharam o gênero POEMA.
Mayara Almeida Liberino Tavares da Silva
EC Monjolo, Brasília (DF)
Convit(d)e à(a) poesia
“[...] Tão prontamente o professor e poeta Antonio Victor aceitou nosso convite, tivemos uma aula muito especial com a participação de todos os professores, direção e servidores da escola. Estávamos com a sala virtual cheia. De forma espontânea a entrevista foi acontecendo. [...] A estudante Sabrina Santos, como se já sentisse dentro de si uma alma poeta, indagou: “Como você soube que gostava de poesia?”. A admiração pela expressão poética! O autor teve essa experiência através da convivência com pessoas mais velhas que falavam “de um jeito diferente”. Contou que em uma tarde estava ameaçando de chuva com clarões dos relâmpagos e barulhos de trovões e ouviu um velho tio dizer: “Os relâmpagos estão a nos fotografar”. Isso era encantador! Admirava essa maneira poética de se expressar, linguagens figuradas. Até as crianças sentiram, naquele momento, essa beleza! Começaram a abrir os olhos para a poesia, despertaram o interesse por essa linguagem.”
Richardson Farias Gonçalves
Escola Nossa Senhora do Livramento, Barreirinha (AM)
Vivência enriquecedora
“Foi proposto aos estudantes que fizessem um passeio por onde moram e identificassem quais lugares poderiam servir de inspiração para esses poetas. Foram visitados o porto da comunidade, a frente da igreja que fica à beira do lago que banha o local, o porto de um morador que o construiu em forma de trapiche, o campo de futebol, a quadra poliesportiva etc. O desafio de descrever esses lugares, em forma de poesia, foi lançado a eles. Isso posto, restava agora esperar e analisar quais elementos ainda precisariam ser reparados. Para surpresa do professor, foram entregues poesias com melhora significativa em relação aos primeiros poemas.”
Fernanda Valeska Mendes da Silva
EMEF Professora Cícera Lima do Nascimento, Polo V, Igarapé-Açu (PA)
Na coletividade, constroem-se versos e rimas do meu lugar
“Resolvi, primeiramente, investigar o que minhas crianças e suas famílias sabiam sobre o gênero Poema. Como a pandemia limitou a pesquisa de campo, decidi que essa investigação seria feita no espaço domiciliar. Propus uma entrevista e o resultado foi muito legal, pois revelou um cenário diverso. O que mais me chamou a atenção foram as memórias de uma cultura oral rica, presente, em especial, nos lares em que os avós foram entrevistados. Esse era o gancho que precisava para trabalhar as quadras populares. Pedi a eles para que ampliassem a pesquisa e montassem um varal, o qual deveria ficar exposto no cantinho da casa que eles utilizavam para estudar. Em seguida, pedi que escolhessem a quadrinha de que mais gostaram para fazer um pequeno vídeo declamando-a. Essas gravações fizeram o maior sucesso entre eles. Realizamos um pequeno sarau virtual, em que cada um publicou seu audiovisual no WhatsApp.”
Rosana Maria Lopes
EM Juscelino K. de Oliveira, Cezarina (GO)
Música e poesia: narrativas de pensamentos/reflexões e recriação de novos saberes
“Ao observar a relevância da música como elo motivador da escrita, busquei incorporá-la no meu planejamento, trazendo a cultura de nossa região. Durante as aulas no Meet, compartilhava a tela com as crianças e assistíamos aos vídeos no YouTube. [...] Elas já estavam familiarizadas com a melodia da canção sertaneja, com o ritmo das batidas das mãos e dos pés do catira. Eu já sabia a importância da leitura utilizando a cadência. Mas, nesse momento, eu sentia falta da ousadia e da criatividade no momento da escrita. Assim, trouxe a “Batalha de Rap” e o “Repente”, ambos trabalham a rima de forma bem-humorada, e tratam em seu contexto de situações em que se deve tomar partido por um dos lados da disputa. O Rap, bem popular no Brasil, e o Repente, bem característico da região Nordeste, foram recursos que envolviam a música, a rima, a escrita e a criatividade da criança no momento da construção do poema.”
Passeio por relatos de prática vencedores
Aqui estão trechos dos quatro relatos de prática vencedores escritos por professores(as) que trabalharam o gênero CRÔNICA.
Francisco de Assis da Silva Jr.
EM José Adelaide de Carvalho, Icó (CE)
Aula em casa – conectando vidas, pessoas e lugares
“Nessa aula, chamada de “Entre fatos e fotos”, nós começamos a estudar, debater e discutir sobre fatos históricos e culturais e as mudanças que ocorrem no município de Icó e seus distritos, que é o lugar onde a maioria dos estudantes da turma nasceu e vive até hoje. Por meio de videoaula, tiveram acesso a fotos antigas e atuais do município; além disso, discutimos questões sobre o regionalismo sertanejo, a simbologia nordestina e as vivências desses estudantes e seus familiares nos distritos e sítios em que moram. Para a atividade prática dessa aula, eu propus que os estudantes, individualmente, com um celular na mão, saíssem em busca de fotos instigantes, cenas da cidade, fatos do dia a dia, situações diversas. Pedi a eles imagens que retratassem o cotidiano deles e das pessoas que vivem nas comunidades em que moram. Depois, essas imagens foram registradas em um ambiente virtual chamado Padlet e, em conjunto, a turma criou um mural virtual com esses registros.”
Jussara Biazotto
EM Viver e Conhecer, Capinzal (SC)
O cringe pode ser massa!
“Fizemos a seleção dos textos, e fomos bem ecléticas: caprichamos não só nos escritores consagrados, mas também nos pequenos escritores, pois pegamos vários textos de estudantes finalistas e semifinalistas de edições anteriores da Olimpíada. Cheguei à sala com um arsenal: pasta com as fichas de leitura, borrifadores de álcool e um fardo de papel toalha. Nesse momento, os olhares que recebi mostravam-me a vontade dos estudantes em fazer um meme daquela situação. Quem sabe uma foto minha com um borrifador de álcool na mão e uma frase do tipo “Corona, saia deste texto!”? Brincadeiras à parte, a aula foi um sucesso. Logo de cara eles se apaixonaram pelo nosso vizinho gaúcho Luis Fernando Verissimo. Seu tom humorístico foi contagiante e a ficha da crônica “Aprenda a chamar a polícia”, se fosse gente, teria ficado tonta com tantos borrifos de álcool, pois pousou em todas as carteiras e provocou muitos risos e comentários por onde passou. “Professora, esse ‘tchô’ é muito bom!”. Tchô?”, para quem não é íntimo do vocabulário do Meio-Oeste de Santa Catarina, significa homem, sujeito.”
Josefa Maria Taborda do Nascimento Silva
EE Professor Irineu da Gama Paes, Macapá (AP)
Nas asas da esperança
“Sidecut ou piercing? Divididos entre essas duas opções, a escolha da maioria dos estudantes foi pelo piercing, na atividade em que tinha a crônica “Tatuagens para todos”, de Carol Bensimon, como mote para a construção do texto coletivo. Consideram “estiloso” usar piercing, mesmo que isso fosse mal visto por algumas pessoas na vizinhança onde moravam. Não aguentei e perguntei na mais sincera ignorância: “Gente, e o que é sidecut? Alguém pode me explicar?”. Fez-se silêncio total. Talvez indicando a perplexidade deles diante do fato de eu não saber algo que para eles era tão comum. Até que a voz segura do José me respondeu: “Profe, é um tipo de corte de cabelo em que se raspa só um lado. Dá pra homem, dá pra mulher, qualquer pessoa pode fazer. Só não faço porque é muito caro”. Com suas sugestões e respostas, os estudantes deixavam ideias e sentimentos expostos nesses momentos de trocas espontâneas, proporcionados pelas produções textuais coletivas.”
Dayane da Costa Silva
UEF Deputado Elígio Almeida, Bacabal (MA)
Ressignificação: a metodologia para uma nova realidade
“A crônica pode surgir de qualquer fato até então visto como banal em nosso cotidiano. Não apenas observar aspectos físicos, mas a história, tradições, personagens e contextos relevantes do lugar onde vivem. Eis o desafio! Em diversas produções textuais os estudantes limitavam-se a observar apenas os aspectos físicos de ruas e bairros da cidade. Vimos vídeos, trocamos mensagens de texto e áudio, realizamos reuniões virtuais. Tudo para melhorar a escrita dos textos. [...] Trabalhar com o modelo remoto, híbrido e tantas novas configurações e palavras para esse novo normal também é um grande desafio. Ressignificação! É a palavra e, portanto, a metodologia-chave para nossa mais nova realidade. [...] Um processo de descobertas, erros e acertos, cair e levantar, onde o meu papel foi passar confiança e promover o incentivo. Facilitar a compreensão, a viagem no imaginário, a criação. O giro em volta à sua realidade seja qual ela for. Foi ser porto seguro, mesmo em meio a um momento tão delicado. Abrigo em dia de chuva. Morada e não solidão.”
Passeio por relatos de prática vencedores
Aqui estão trechos dos quatro relatos de prática vencedores escritos por professores(as) que trabalharam o gênero MEMÓRIAS LITERÁRIAS.
Joelma Inês Casa
EMEF Santa Cruz, Farroupilha (RS)
O lugar onde eu vivo é o lugar de outras pessoas também
“Eles precisavam se identificar, apesar da pouca idade, como seres que já carregam suas próprias bagagens, suas próprias memórias e que as estão construindo a cada dia. Pensando nisso, estudantes e professora trouxeram objetos especiais e representativos de suas vidas. Entre os objetos escolhidos por mim, estava o livro Estudo e produção de textos: gêneros textuais do relatar, narrar e descrever, elaborado pelas minhas professoras da universidade, o qual contém, como exemplo de Memórias Literárias, um texto de minha autoria, em que relato a história de minha bisavó: uma imigrante italiana que se aventurou a vir para o Brasil. Aproveitei esse momento para expor que eu elaboraria o Relato de Prática e que nosso trabalho seria coletivo, já que todos produziríamos material escrito. Eles compreenderam que estávamos na mesma embarcação e precisaríamos remar para o mesmo lado. Assim como eu os ajudava na elaboração das produções, eles constantemente lembravam e davam dicas do que eu poderia colocar no relato. Não éramos mais estudantes e professora apenas, éramos incentivadores uns dos outros.”
Maria Silmara Saqueto Hilgemberg
CE do Campo de Faxinal dos Francos, Rebouças (PR)
Palavras para além do Tempo
“As primeiras produções chegaram até mim como uma transcrição das entrevistas, a maioria era um amontoado de respostas curtas e sem informações relevantes sobre o lugar ou sobre a trajetória de vida do entrevistado. Uma mera descrição, sem afetividade, sem encantamento. Era preciso recomeçar. Pedi que dessa vez não entrevistassem, mas conversassem com os idosos, tentando captar as emoções e as expressões, que dessem atenção, e tivessem paciência ao ouvir. Era preciso reinterpretar a escuta, para deixar o texto literário. Os que conseguissem poderiam trazer os áudios ou gravações para as aulas. Deixei recados individuais na primeira correção, mas falei apenas dos pontos que poderiam ser realçados na próxima reescrita, sobre o lado positivo de cada produção.“
Maria de Fátima Sousa Lima
EM Presidente Costa e Silva, Senador La Rocque (MA)
Tempos remotos são memórias em meio às aulas remotas, hoje
“A semente foi plantada e as leituras aconteceram a contento. Entretanto, faz-se necessário ressaltar que só os(as) estudantes frequentes nas aulas on-line, ou seja, os que aderiram ao ensino remoto, puderam fazer as leituras, porque as fizeram de forma virtual. Utilizei quase todo o primeiro bimestre para realizá-las, orientar as produções na primeira escrita e na reescrita. Inseri outros gêneros textuais para acalorar as reflexões e só no final do primeiro bimestre é que iniciei a proposta de trabalho com o gênero Memórias Literárias. Organizei o material, mas a cada dia tínhamos um desafio diferente. Era o arquivo que não abria, o(a) estudante que não conseguia entrar nos aplicativos digitais e precisava de um atendimento diferenciado, quando a sua internet estivesse boa… Mas, mesmo assim, não desisti. [...] Antes das entrevistas repassei no grupo o histórico da cidade: a fundação, a emancipação e evolução econômica, desde o surgimento do povoado Mucuíba, que deu origem à cidade de Senador La Rocque, aos dias atuais.”
Rute da Silva Santos
EEPE Giuliano Moretti, Tocantinópolis (TO)
Na simplicidade das memórias
“Rememorar momentos do nosso passado e resgatar as raízes de nossa origem é importante para mostrar quem somos e que significado tem na nossa vida presente. [...] A maior dificuldade dos estudantes foi a de usar a linguagem literária, fazendo uso da subjetividade e dos recursos que marcam o tempo passado para que o texto pudesse ser classificado como memórias. Alguns apenas copiaram as respostas da entrevista, sem fazer a passagem do modo objetivo para o modo subjetivo. Precisei intervir e apresentar a diferença para o grupo, ou individualmente. Na segunda versão que recebi, os textos ainda necessitavam de mais um toque de poesia. Fiz mais observações, solicitei que lessem mais textos e que tentassem colocar sentimento no que escreviam; dei exemplos, fiz sugestões, corrigi os desvios ortográficos, substituí expressões e pedi que reescrevessem a terceira versão e me enviassem digitada.”
Passeio por relatos de prática vencedores
Aqui estão trechos dos quatro relatos de prática vencedores escritos por professores(as) que trabalharam o gênero ARTIGO DE OPINIÃO.
Lívia de Oliveira Silva
EE Professor José Quintella Cavalcanti, Arapiraca (AL)
Longe dos olhos e perto do coração
“Primeiro definimos algumas questões polêmicas, entre elas: o Enem é um exame democrático, como forma de acesso à universidade? Deve-se proibir o uso de celular em sala de aula? O(A) estudante deve participar das questões relativas ao que é ensinado em cada semestre? Depois, reforcei, a partir das questões, algumas regras que estavam no caderno dos docentes. Percebi que o melhor era deixá-los à vontade a fim de que escolhessem seus grupos de debate. Essa empatia tem me ajudado a desenvolver um trabalho que depende da parceria com os estudantes, ou seja, sem eles não seria possível. O debate foi muito proveitoso. Eles se posicionaram e, apesar de certa fragilidade na escolha de argumentos, notei e valorizei o esforço feito por todos em pesquisar sobre os temas. Ao término da aula, vi a satisfação com a atividade, inclusive estudantes contentes, um deles até enviou uma mensagem que vale a pena destacar: “Faz mais aulas assim, ‘prof’. Eu amei!”.”
Antônio Augusto Braico Andrade
CEFET – Unidade Belo Horizonte, Belo Horizonte (MG)
Lecionar para quem me surpreende...
“Era preciso que o estudante se mostrasse, evidenciasse a marca autoral dele, assinalasse o seu lugar no mundo. Henrique surpreendeu ao trazer um tema contemporâneo e, diria, de apelo mundial, localizando-o na realidade dele, do local onde vive e entre aqueles que têm a mesma faixa etária dele. Com propriedade, tratou da homofobia e da necessidade de uma educação inclusiva, esclarecedora, que forme cidadãos melhores para o mundo em que vivemos. Fez isso a partir de um acontecimento com um personagem caro ao mundo dos jovens (um influencer) e, a despeito de trazer repertório sociocultural com grandes filósofos, ainda finalizou o texto com a menção a um MC. Isso tudo em um artigo de opinião que, conforme disse a eles, não deve ser visto como um gênero elitista, mas que evidencie a marca do seu autor.”
Gilmar de Oliveira Silva
EE Rocha Cavalcanti, União dos Palmares (AL)
Um poema em louvor da estrada
“Ainda com intuito de reforçar a identidade palmarina (nosso adjetivo pátrio), resgatamos a produção de podcasts em forma de programa de rádio, atividade exitosa em 2020, para refletir sobre temáticas distintas relativas à nossa história. Eram produzidos diariamente, de segunda a sexta, trazendo convidados diferentes a cada programa. Foram professores e funcionários da escola e da universidade, ex-estudantes, integrantes de movimentos sociais, artesãs, que seguraram nossas mãos e embarcaram com a gente nessa viagem através do podcast denominado “Rádio Rocha”, expondo reflexões sobre questões sociais, históricas, ambientais, culturais do povo palmarino. Os podcasts eram distribuídos no feed do Instagram da escola e nos grupos de WhatsApp das turmas, construindo embasamento para as produções de artigos de opinião. Dessa maneira, os podcasts foram além dos espaços postados, chegaram a atrair a comunidade escolar, parentes e amigos distantes de estudantes, levando as reflexões a uma dimensão maior do que planejamos, surgindo até a proposta de um programa convencional de rádio.”
Melqui Zedeque Lopes Ribeiro
EE Deputado José Medeiros, Paulo Jacinto (AL)
Produção textual: superando o desafio de desenvolver a habilidade de leitura e a produção de artigos de opinião em tempos de pandemia
“Identificada a dificuldade dos estudantes em relação à apresentação de argumentos sólidos, fundamentados e capazes de persuadir, de convencer ao auditório, resolvemos dividir esse encontro em dois momentos: uma hora para o debate e outra para a produção de textos. O tema escolhido nesse dia foi: “É possível inibir o discurso de ódio propagado pelas redes sociais contra quem pensa diferente? Até que ponto as fake news contribuíram para isso?” Para favorecer o debate, o professor apresentou diversos vídeos abordando os impactos negativos provocados pelas fake news na vida dos cidadãos brasileiros. Em seguida, após o debate, os estudantes receberam a seguinte incumbência: pesquisar maneiras de como verificar se um vídeo publicado nas redes, por exemplo, é falso ou verdadeiro, e depois gravar um pequeno vídeo (com 5 minutos, no máximo), orientando as pessoas quanto aos perigos das fake news e como combatê-las.”
Nota: visando a preservação de sentido nos trechos — aqui destacados de seu contexto original — e a sua adequação ao espaço delimitado da revista, pequenos ajustes de edição foram realizados.
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