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Palavrear

Palavrear

texto - Ricardo Aleixo; ilustração - Criss de Paulo

07 de agosto de 2023

Saberes e práticas em tempos de mudança

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Minha mãe me deu ao mundo

e, sem ter mais o que me dar,

 

me ensinou a jogar palavra

no vento pra ela voar.

 

Dizia: “Filho, palavra

tem que saber como usar.

 

Aquilo é que nem remédio:

cura, mas pode matar.

 

Cuide de pedir licença,

antes de palavrear,

 

ao dono da fala, que é

quem pode lhe abençoar

 

e transformar sua língua

em flecha que chispa no ar

 

se o tempo for de guerra

e você for guerrear

 

ou em pétala de rosa

se o tempo for de amar.

 

Palavra é que nem veneno:

mata, mas pode curar.

 

Dedique a ela o cuidado

que se deve dedicar

 

às forças da natureza

(o bicho, a planta, o ar),

 

mesmo sabendo que a dita

foi feita pra se gastar,

 

que acaba uma, vem outra

e voa no seu lugar”.

 

Ainda ontem, lá em casa,

me sentei pra conversar

 

com as minhas duas meninas

e desatei a lembrar

 

de casos que a minha mãe

se esmerava em contar

 

com luz de lua nos olhos

enquanto cozia o jantar.

 

Não era bem pelo assunto

que eu gostava de escutar

 

aquela voz que nasceu

com o dom de se desdobrar

 

em vozes de outras eras

que tornarão a pulsar

 

sempre que alguém, no vento,

uma palavra jogar.

 

Gostava era de ver

a voz dela inventar

 

mundos inteiros sem quase

nem parar pra respirar

 

e ganhar corpo e fazer

minha cabeça rodar

 

como roda, ainda hoje,

quando, pra me sustentar,

 

eu jogo palavra no vento

e fico vendo ela voar

 

(jogo palavra no vento

e fico vendo ela voar)

 

 

In: Ricardo Aleixo. Pesado demais para a ventania — Antologia poética.

São Paulo: Todavia, 2018, pp. 109-111.

 


Ricardo José Aleixo de Brito é mineiro de Belo Horizonte (MG), poeta, músico, produtor cultural, artista plástico e pesquisador intermídia.

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