Uma festa para os livros e para a leitura
literatura, feiras literárias, livros, formação leitora
Nascido em 1960, Jean-Michel Basquiat é um artista plástico nova-iorquino que tornou-se popular pelas ruas do Brooklyn. Ligado à cultura pop, ao grafite e à produção cultural independente de Nova York dos anos 80, não teve formação acadêmica em artes; no entanto, foi com a mãe que iniciou a entrada para o mundo artístico, visitando periodicamente o Museu de Arte Moderna de Nova York. Popularizou-se nos anos 80, fazendo parcerias com grandes nomes da arte, como Andy Warhol e Keith Harring, sendo admirado por uma produção significativa, tanto em termos temáticos quanto estéticos.
A chegada da exposição de Basquiat no Brasil é uma oportunidade de (re)conhecer o artista e sua obra, refletir e agir diante dos importantes desafios presentes no cotidiano do educador, entre eles: seu compromisso em ampliar o repertório cultural de seus alunos; e sua disposição para compreender em quais práticas culturais seus alunos estão inseridos. Assim, aproximando experiência e arte, é possível encontrar referências no dia a dia dos estudantes que se relacionam com a obra de Basquiat. Músicas, produções audiovisuais e a estética urbana de modo geral habitam o imaginário de crianças e jovens brasileiros, seja pela sua experiência nas cidades, seja por meio dos produtos culturais que consomem e produzem. Os trabalhos do artista trazem os “ecos da rua” e nascem de um caldo criativo que incorpora elementos da dita cultura erudita ao lado de referências da cultura pop. Assim, no conjunto da obra coexistem gravuras com esquemas de anatomia do corpo humano, ao lado de telas com referência a super-heróis e outros personagens de desenhos animados. O resultado dessa mistura é muitas vezes inusitado e único em seu potencial expressivo.
São muitos os experimentos com a linguagem, e as técnicas de colagem1 e remixagem2 aparecem nas composições formadas por elementos de universos diversos e criam um jogo entre representação e significado por meio do uso e combinação de diferentes linguagens. Analogamente, produções contemporâneas no âmbito da música e do audiovisual também fazem uso destas técnicas e inspiram trabalhos autorais por parte de jovens, estimulando a criatividade e dando luz a novos produtos culturais, como memes e fanfics.
Palavra escrita e imagem
A palavra escrita também ocupa um lugar importante na obra de Basquiat. Telas e outros suportes como portas, muros e geladeiras são preenchidas com jogos de palavras, slogans, frases avulsas, poemas... E o inglês, sua língua nativa, não é o único idioma presente, mas o espanhol e o francês também aparecem com frequência: são línguas com as quais o artista teve contato devido a sua ascendência haitiana e porto riquenha. O texto escrito nos remete a anotações em um caderno de rascunho, lambe-lambes, pixos e grafites espalhados pelos muros das cidades, letreiros e luminosos de estabelecimentos comerciais. Essas produções evidenciam o caráter imagético do texto escrito: texto é imagem e imagem também é texto. E lembram as marcas que estudantes de diferentes contextos deixam no espaço escolar: frases, recados e assinaturas estilizadas em carteiras, cadernos e portas de banheiro.
Basquiat, a questão étnico-racial e a sala de aula
Do ponto de vista temático, a questão racial é um assunto caro à sua obra e também pode ser uma estratégia de aproximação dos estudantes com o artista, uma vez que, segundo dados divulgados pelo IBGE, mais da metade da população brasileira é formada por negros (pretos e pardos). Os alunos negros dificilmente veem-se representados nos conteúdos trabalhados em sala. As silhuetas e traços marcantes nas telas de Basquiat contribuem para a desconstrução do estereótipo do corpo negro, ao mesmo tempo que sugerem novas formas de representá-lo. A discussão sobre o imaginário do indivíduo negro norte-americano presente nas produções do artista pode ser recontextualizado para a realidade brasileira, fomentando discussões e contribuindo para a ressignificação estética e política da representação de negras e negros.
Assim, são inúmeras as possibilidades de apresentação da produção do artista para os estudantes e de proposição de projetos com grande potencial de engajamento. Nem sempre os professores e professoras de língua portuguesa sentem-se confortáveis com a tarefa de lidar com um terreno muitas vezes desconhecido e explorar a relação entre língua e outras linguagens, mas esse é um desafio que certamente vale a pena. Além disso, essa não precisa ser uma empreitada solitária, docentes de outras disciplinas, como história, educação artística e língua inglesa, podem trabalhar em parceria. E alunas e alunos também podem (e devem!) sempre ser vistos como parceiros.
A exposição ficará em São Paulo até o dia 07 de abril de 2018, e depois seguirá para os CCBBs de Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Todas as unidades do CCBB possuem um Educativo, que recebe diariamente tanto público espontâneo quanto público agendado. Para saber as datas em que a exposição estará nessas cidades e para agendamentos de visitas guiadas para escolas, consulte o site do CCBB.
Listamos alguns conteúdos que podem ajudá-lo a planejar o trabalho com Basquiat na sala de aula:
Direção: Julian Schnabel
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=GsWZyvtX5tU
Downtown 81
Direção: Edo Bertoglio
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=X6GoKk-iMOs
Pixo (Documentário)
Direção: João Wainer e Roberto T. Oliveira
https://vimeo.com/29691112
https://www.wikiart.org/en/jean-michel-basquiat
NOTAS DE RODAPÉ
1. Colagem é a composição feita a partir do uso de matérias sobrepostas ou coladas lado a lado, na tentativa de criação de uma nova imagem e/ou produto.
2. Remixagem é um termo que representa um tipo de composição que transforma e edita obras previamente conhecidas, protegidas ou não por direitos autorais.
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multimodalidade, multissemiose, ensino e aprendizagem de língua portuguesa, BNCC, letramentos, práticas de linguagem contemporâneas
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