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Itaú Cultural exibe até 18 de junho a Ocupação Conceição Evaristo, uma exposição dedicada à escritora mineira. A artista é a 34ª homenageada do programa Ocupação Itaú Cultural, que este ano se dedica a mulheres brasileiras que atuam no campo da arte e da cultura.
Conceição Evaristo nasceu em 1946, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Além de escritora, a autora é educadora, doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e desenvolve pesquisas na área da literatura africana e afro-brasileira. Iniciou suas publicações em 1990, no periódico “Cadernos Negros”, dedicado à difusão de escritores afro-brasileiros. Continuou publicando em coletâneas e antologias ao longo dos anos 90 e, em 2003, com a publicação de “Ponciá Vicêncio”, ganhou reconhecimento nacional e internacional. Nos anos seguintes, publica outro romance, “Becos da Memória” (2006); o livro “Poemas da recordação e outros movimentos” (2008); e os livros de contos “Insubmissas lágrimas de mulheres” (2011), “Olhos d’água” (2014) e “História de leves enganos e parecenças” (2016). É com o livro de contos “Olhos d’água” que Evaristo foi agraciada com o Prêmio Jabuti, maior premiação literária brasileira.
A autora, criadora do termo “escrevivência” – que ela mesma define como a escrita a partir do cotidiano e da experiência pessoal – costuma dizer que sua obra é construída a partir da sua “condição de mulher negra”. Nessa perspectiva, vida e obra são indissociáveis e as memórias são acionadas para a composição literária. Assim, naturalmente questões ligadas à raça, classe e gênero são latentes em sua produção. É comum na obra da autora a evocação de figuras familiares como a filha, mãe, avó, bisavó, etc. Dessa forma, ancestralidade é matéria essencial para suas narrativas, retomando a experiência de seus antepassados a fim de melhor entender as angústias e também felicidades presentes na vida da população negra hoje. Atualmente, Conceição Evaristo é referência para toda uma nova geração de escritores negros.
A Ocupação Conceição Evaristo é uma imersão no universo experiencial e criativo da autora. Cuidadosamente concebida e organizada, a cenografia é acolhedora e convidativa. A sensação é de adentrar uma espécie de morada interior na qual a dimensão simbólica e material são inseparáveis: o visitante pisa um chão de tijolos de barro que remete às construções simples e de poucos recursos, e se desloca entre painéis de tecido com cores, bordados, tramas, texturas e palavras, como se a mesma linha pudesse percorrer um caminho fluido na tessitura de vida e texto. Para realizar essa concepção artística e expográfica em parceria com a equipe do Itaú Cultural, foi convidada Aline Motta, que estendeu o convite a mais outras três artistas negras, Janaína Barros, Lídia Lisboa e Rita Damasceno, responsáveis pelos quatro painéis em tecido, de bastante destaque e impacto na Ocupação.
A exposição traz cartas pessoais, manuscritos originais de suas obras, fotografias de família, livros de referência e vídeos que compõem fragmentariamente memórias e experiências de toda uma vida, como a mudança para o Rio de Janeiro, o casamento, o nascimento da filha e a saudade de casa. A partir dos livros expostos, o visitante tem a possibilidade de conhecer as referências literárias de Conceição Evaristo, além de poder manusear exemplares do periódico “Cadernos Negros”, publicação que ocupa papel fundamental na trajetória da escritora.
O papel da escola aparece em destaque, tanto no que diz repeito à vivência como aluna quanto professora: há fotos de sala de aula, documentos oficiais e uma placa de madeira e metal, da década de 70, com os dizeres: “Maria C. Evaristo - Professora”. Segundo Ana Estaregui, do Núcleo de Educação e Relacionamento do Itaú Cultural, a escritora, que também assina a curadoria da exposição, fez questão de contemplar sua trajetória no campo da educação, que parece ter a mesma importância do seu ofício de escritora.
Dentre os inúmeros elementos significativos presentes na Ocupação, talvez o de maior impacto seja a água. Ela está no áudio e em imagens da videoinstalação, em fitas e tecidos de diferentes tons de azul, nos trechos do conto "Olhos d’Água" e do poema "Meia Lágrima", impressos em algumas das obras, e em uma bacia de alumínio – semelhante às utilizadas pelas lavadeiras, profissão de Dona Joana, mãe da escritora – onde imagens são projetadas. Essa forte presença da água está carregada de dimensão simbólica, como a evocação à natureza fluida da memória e à experiência da diáspora africana.
A Ocupação também foi ocasião para a retomada de um antigo projeto criado por Conceição Evaristo e por amigas escritoras – como Esmeralda Ribeiro, Geni Guimarães e Miriam Alves – chamado “Cartas Negras”, cujo objetivo era a correspondência entre elas, com temas ligados ao universo feminino e negro. Nesse novo momento a iniciativa integrou vozes da nova geração de escritoras negras, como Ana Cruz, Ana Maria Gonçalves, Cristiane Sobral, Débora Garcia, Elizandra Souza, Jenyffer Nascimento, Lívia Natália, Mel Adún e Raquel Almeida. Toda a correspondência foi reunida e publicada em um livreto disponibilizado pelo Itaú Cultural em versões física e digital.
Além da exposição, a iniciativa conta com um site onde estão disponíveis diversos materiais e conteúdos exclusivos, como entrevistas com a escritora e com estudiosos sobre sua obra. Você pode acessar o site, clicando aqui.
Também haverá um encontro presencial de Conceição Evaristo com educadores. O tema é “Discursos literários e inscrições de Afro-brasilidade” e a proposta é a discussão, a partir de textos literários, sobre a diversidade social e étnico-racial da sociedade brasileira. Na ocasião, a autora também vai compartilhar sua experiência como professora de escola pública. O encontro será no dia 27 de maio, no Itaú Cultural (SP) e as inscrições poderão ser feitas de 23 a 26 de maio, no site www.itaucultural.org.br.
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