Uma festa para os livros e para a leitura
literatura, feiras literárias, livros, formação leitora
Ronaldo da Silva Santos
Rondon Pará - Pará
Durante quase quatro meses de trabalho com o gênero crônica nas Olimpíadas de Língua Portuguesa, tivemos – eu e os alunos – experiências maravilhosas de ensino e aprendizagem, mas também momentos que nos deixaram aflitos e angustiados. Falo de aflição e angústia no plural porque tenho certeza de que meus pupilos também tiveram que refletir sobre o trabalho. Por isso, muitas vezes perdemos o sono. A cada oficina eu aprendia um pouco mais e descobria que ensinar o gênero crônica não era uma tarefa fácil, começando pelo fato desse gênero ser híbrido e ter um contexto muito flexível; isso acabava confundindo a cabeça dos meus alunos.
Bem, das várias angústias que vivi, a que me deixou mais preocupado foi, sem dúvida, a Oficina 3 – "Primeiras linhas". O resultado dessa oficina me tirou o sono, pois quando recolhi os textos e iniciei a leitura das primeiras ”crônicas”, percebi que os alunos não conheciam o gênero apresentado. Digo isso porque, para minha surpresa, esses textos vieram materializados, em sua grande maioria, no gênero conto. Percebi que a turma não ainda não conhecia bem o gênero que estávamos trabalhando e não seria muito fácil fazer com que todos realmente entendessem que crônica, era sim, um gênero discursivo com características peculiares.
Fazendo uma reflexão, procurei entender o motivo de terem construído seus textos com total predominância daquele gênero. Estava claro que a crônica, por ser bastante flexível, permite que outros contextos discursivos entrem na sua composição. Isso poderia explicar a mistura nas produções dos alunos. Outra razão seria o fato da oficina ter acontecido nas duas últimas aulas do dia; os alunos não estavam muito concentrados, visto o cansaço já estampado em seus rostos, depois de assistidas quatro aulas de disciplinas diferentes. Por fim, pensei que também poderia ter ocorrido uma falha na minha maneira de conduzir a aula, mesmo sabendo que essa oficina objetivava encorajar os alunos a escrever uma primeira crônica e essa era apenas a primeira produção. Para que uma aula seja produtiva é preciso conhecer bem a turma e o tempo de aprendizagem de cada um, fazendo as adequações necessárias.
Diante dos resultados dessa oficina, questionei-me sobre o que poderia ser feito e me perguntava: como podem fazer uma crônica interessante se nem mesmo conhecem gênero textual? Uma coisa era certa: eu teria que planejar algumas ações para reverter aquela situação. Por isso, após ler os textos de meus cronistas iniciantes, achei que não seria interessante colocar recadinhos com sugestões de aprimoramento. Decidi que seria melhor rever a oficina 2 passo a passo, redirecionando a aula para as questões mapeadas.
Era uma quinta-feira; tínhamos duas aulas. Não pensei duas vezes: corri atrás de novos materiais para planejar estratégias de trabalho. Busquei em livros e na internet várias crônicas, de diferentes autores e tons: humor, crítico, argumentativo, poético. Iniciei a aula falando sobre os textos que havia recebido, e da "fugidinha" que os alunos deram em relação ao gênero.
A seguir, pedi que eles se organizassem em duplas e distribuí os textos selecionados durante minha pesquisa, pedindo que eles fizessem a leitura. Conversamos sobre as crônicas, destacando a temática, o conteúdo do texto, o autor, o estilo.
Na aula seguinte, iniciei uma conversa informal sobre vários temas: política, economia, futebol, factóides. A proposta era que escolhessem um tema ligado ao cotidiano e produzissem uma crônica. Para ajudar, fizemos um cartaz listando os elementos necessários para uma produção: título sugestivo, cenário curioso; escolha do foco narrativo e dos personagens; definição do enredo. Deveriam escolher um acontecimento, um episódio banal do dia a dia, e a partir dai, narrar o fato. Era importante escolher o tom – poético, humorístico, irônico ou reflexivo; utilizar uma linguagem coloquial, decidir o desfecho.
As produções tiveram muitos avanços. Fez toda a diferença planejar detalhadamente cada oficina. Além disso, a escolha das estratégias também facilita o desenvolvimento dos aspectos necessários para a produção de textos de um determinado gênero.
Dessa forma, constatei que para desenvolver boa prática é necessário que sejamos verdadeiros professores-pesquisadores. Afinal é importante que todo profissional busque refletir constantemente sobre seu fazer, a fim de intervir de forma assertiva para ensinar cada vez mais e melhor.
Uma festa para os livros e para a leitura
literatura, feiras literárias, livros, formação leitora
Letramentos e as práticas de linguagem contemporâneas na escola
ensino e aprendizagem de língua portuguesa, multissemiose, letramentos, práticas de linguagem contemporâneas, BNCC, multimodalidade