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Programa Escrevendo o Futuro lança dois cursos on-line, gratuitos e certificados

Formações abordam o processo da escrita e sua produção como prática social

Marina Almeida

13 de setembro de 2023

Neste semestre, o Programa Escrevendo o Futuro irá lançar dois cursos on-line, gratuitos e certificados em torno da temática “A escrita e a construção de autoria”. “A escrita como prática social: na trilha do relato pessoal” terá inscrições abertas no dia 27 de setembro, e “O processo de escrita: nos passos do miniconto” começará a ser ofertado no dia 11 de outubro. 

Voltados para professoras(es) de Língua Portuguesa, as formações unem vivências práticas e reflexões sobre a produção escrita e o trabalho na escola. Cada curso tem carga horária de 30 horas e, como acontece no formato remoto, as atividades podem ser realizadas nos horários de preferência das(os) cursistas. 

Conheça mais sobre sua concepção e acompanhe o Portal para não perder a abertura das inscrições.

 

Da prática à reflexão teórica

Tereza Ruiz, coordenadora do Programa Escrevendo o Futuro
Tereza Ruiz, coordenadora do Programa Escrevendo o Futuro

“Os novos cursos expandem e aprofundam uma frente que sempre foi cara ao Programa Escrevendo o Futuro: o investimento no saber docente e no papel do professor(a)-autor(a)-pesquisador(a). Acreditamos que esses três papéis são indissociáveis na prática cotidiana e que é preciso reconhecer a complexidade e riqueza do fazer docente, muitas vezes inclusive em meio a condições de trabalho bastante adversas”, explica Tereza Ruiz, coordenadora do Programa Escrevendo o Futuro.

Margarete Schlatter, autora dos novos cursos do Programa Escrevendo o Futuro
Margarete Schlatter, autora dos novos cursos do Programa Escrevendo o Futuro

“Os cursos são diferentes dos que costumamos ver por aí. Buscamos proporcionar uma vivência prática e, em seguida, propor uma reflexão a partir dessa experiência. É um formato que tem a ver com o próprio processo de escrita”, explica Margarete Schlatter, uma das autoras dos novos cursos. 

Além de Margarete – que é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autora do curso “Leitura vai, escrita vem: práticas em sala de aula”, entre outros materiais do Programa Escrevendo o Futuro - a criação dos cursos contou com a participação de Luciana Soares, mestra em Letras pela UFRGS e professora da rede pública, e Giovana Segat, mestra em Linguística Aplicada pela UFRGS e professora de português e espanhol. 

Alana Queiroz, técnica do Programa Escrevendo o Futuro
Alana Queiroz, técnica do Programa Escrevendo o Futuro

“A composição da equipe de autoras contribuiu para uma perspectiva equilibrada entre o chão da escola, o que temos de mais inovador na universidade e a experiência na formação de professores, leitores e escritores.”, pondera Alana Queiroz, coordenadora de produção dos novos cursos do Programa. Ela ainda destaca o foco na escrita das professoras e professores de Língua Portuguesa. “Esse movimento é fundamental para uma formação reflexiva e para a construção de vozes e narrativas que dizem respeito ao universo escolar.” Já Tereza ressalta o percurso construído pelas formações: “os cursos colocam a experiência com a escrita no centro, iniciando com a retomada de memórias afetivas, passando pelo convite de escrever com leveza e prazer, e caminhando em direção ao registro reflexivo e compartilhado dos desafios e aprendizados do dia a dia do fazer docente”.

Luciana Soares, autora dos novos cursos do Programa Escrevendo o Futuro
Luciana Soares, autora dos novos cursos do Programa Escrevendo o Futuro

Proporcionar formas de interação entre as(os) cursistas, favorecendo as trocas e a constituição de uma comunidade de aprendizagem, apesar do desafio trazido pelo formato on-line, foi uma questão importante na criação dos cursos. Para isso, o ambiente virtual de aprendizagem conta com fóruns para o compartilhamento das atividades de escrita propostas e o espaço Sala de professoras(res), onde as conversas podem acontecer de forma mais informal e sem tema pré-definido.“Convidamos as(os) cursistas a postarem nos fóruns suas produções textuais e a comentarem as de suas(seus) colegas. E sugerimos que elas(es) compartilhem sua produção também com uma(um) professora(or) de sua escola ou alguém próximo, aproveitando esse retorno para pensar sobre a reescrita de seu texto”, conta Luciana. Já Alana ressalta que as estratégias criadas para dar voz e prestigiar a escrita docente equilibram muito bem a relação entre a teoria e a prática, trazendo leveza com consistência teórica e reflexiva. “Fizemos um curso pensando nas condições de trabalho de professoras e professores, que é muitas vezes exaustiva, e em como viabilizar a necessidade e desejo de continuarem investindo na sua própria formação, por isso a carga horária menor e possível de ser cumprida com flexibilidade ao longo de dois meses”.

Giovana Segat, autora dos novos cursos do Programa Escrevendo o Futuro
Giovana Segat, autora dos novos cursos do Programa Escrevendo o Futuro

As autoras destacam a importância da escrita docente, ponto central das duas formações. “Às vezes, a(o) professora(or) é a(o) última(o) a ser ouvida(o) no debate educacional, mas é ela(e) que está na sala de aula lidando todos os dias com os inúmeros desafios que aparecem. Ao compartilhar suas reflexões e vivências num jornal, num livro, num site ou numa rede social, a(o) professora(or) retoma um espaço importante, que muitas vezes acaba sendo ocupado por pessoas que não compreendem o cotidiano de uma escola, especialmente a pública”, defende Luciana. Já Giovana lembra que exercitar a escrita ajuda a(o) docente a se colocar no lugar de sua(seu) estudante, relembrar como a atividade pode ser desafiadora e o quanto é necessário ter coragem para se expor por meio de um texto. “Propomos atividades que vão apoiar as(os) professores em sala de aula, mas que também podem reverberar em sua atuação na sociedade como um todo”, resume.

 

Curso “A escrita como prática social”

Curso “Na trilha do relato pessoal

Na formação “A escrita como prática social: na trilha do relato pessoal”, que abrirá inscrições em 27 de setembro, a(o) cursista será convidada(o) a rememorar sua história pessoal com a produção escrita, desde a alfabetização, sua relação com os livros até seus estudos superiores e o trabalho em sala de aula. “Para que essa(e) professora(or) escreve? Para quem? O que ela(e) costuma escrever? E o que lê?”, indaga Luciana. A partir dessa análise pessoal, as(os) cursistas também serão convidadas(os) a pensar sobre a relação que constroem com a escrita de suas(seus) alunas(os).

Para ampliar sua percepção sobre a diversidade de experiências relacionadas à escrita, a professora entrevistou algumas(uns) colegas sobre o tema. “Eu me surpreendi com o interesse delas(es) em participar. As(Os) professoras(es) sentem falta de espaços para falar sobre sua relação com o que ensinam”, diz. Ela explica que alguns depoimentos foram incorporados, de forma anônima, ao conteúdo.

Giovana ainda ressalta que, por fazer referências às memórias, a formação remete aos jogos e brincadeiras da infância, convidando as(os) participantes a se divertir por meio das atividades. “A ideia que perpassa a área das linguagens é a do aprendizado que se faz por meio da experiência. Eu não aprendo a jogar vôlei sem experimentar a prática do jogo. E eu não aprendo a escrever sem praticar a escrita”, explica Margarete.

A partir dessa rememoração de suas vivências e da relação afetiva com sua área de ensino, o curso incentiva a autoestima da(o) professora(or), que também é fundamental para a escrita. “A pessoa não vai escrever um texto público ou dar uma palestra, se ela não acredita que tem algo a dizer. Por isso, reforçamos esse ponto de que todo mundo tem uma contribuição”, reforça Giovana.

O curso também retoma diversos temas importantes para o trabalho com a produção escrita, como função social, gênero, adequação e avaliação, permitindo que a(o) cursista revise conceitos e possa se aprofundar nas questões que considerar desafiadoras em sua prática.

Luciana reforça que a formação aborda os gêneros dentro do seu contexto de práticas sociais de escrita: “a escola tem várias situações que podem envolver a produção de textos para serem lidos pela comunidade. Podemos fazer o convite para uma festa junina, por exemplo, o material para divulgação nas redes sociais, podemos publicar um post contando como foi a festa... Tudo isso é letramento, linguagem e uso da escrita, ao mesmo tempo que faz parte da vida escolar das(os) estudantes, de seu ambiente.”

 

Curso “O processo da escrita”

Curso “Nos passos do miniconto

Já a segunda formação, “O processo de escrita: nos passos do miniconto”, que abrirá inscrições em 11 de outubro, propõe atividades que ajudem as(os) cursistas a vencer bloqueios e a desenvolver seu processo de produção de textos, encontrando sua voz na criação escrita. 

As autoras do curso explicam que entendem a autoria como uma construção que se dá pela prática e pela interação com a(o) leitora(or), movimento que a formação procura proporcionar. “É muito importante que o texto seja lido e comentado, saia da gaveta, pois é isso que dá sentido à produção. É só assim que conseguimos ter a percepção de como nossa escrita chega em diferentes leitoras(es). Como saber se consigo provocar o humor, por exemplo, se ninguém leu o que escrevi? Não vou saber se as pessoas acham engraçado ou não”, explica Luciana, que discutiu a questão em sua dissertação de mestrado. “Esse é um passo muito coletivo dessa construção. E eu preciso de mais de uma(um) leitora(or), com experiências diferentes, para descobrir essa voz autoral na escrita”.

Para facilitar as trocas e leituras das produções durante o curso, as autoras optaram por trabalhar com minicontos. O gênero permite a expressão da subjetividade das(os) cursistas e o exercício dessa voz autoral por meio da arte, ao mesmo tempo em que facilita a interlocução por conta de seu tamanho menor. “Esse formato permite que a(o) professora(or) consiga participar, lendo e produzindo textos, mesmo que precise trabalhar muitas horas por semana. Escrever um miniconto é rápido, é divertido, pode dizer muito em poucas palavras e facilita que a(o) cursista encontre outras(os) leitoras(es), mesmo dentro de um curso autoformativo”, explica Margarete.

Assim como o primeiro curso, esta formação parte da experiência para a reflexão, propondo à(ao) professora(or) primeiramente vivenciar a produção do texto, num formato de sequência didática – o material pode, inclusive, ser acessado pela(o) docente que quiser trabalhar o gênero com suas(seus) estudantes. As autoras ainda contam que, no processo de criação do curso, também escreveram seus próprios minicontos: “nós fizemos o que pedimos para as(os) professores fazerem, até para ver se era factível. E foi muito divertido para todas”, diz Margarete.

A formação também trabalha com uma metáfora para as atividades propostas. Aqui as referências aproximam escrita e dança, como exercícios cujo aprendizado precisa passar pela experimentação no próprio corpo, exigindo disponibilidade e certo nível de exposição. 

Margarete lembra que o curso também inclui discussões sobre os programas de inteligência artificial de produção de textos, como o ChatGPT. “Propomos um exercício e uma atividade discutindo a autoria desses programas em relação à de pessoas de carne e osso. Hoje, não é possível que uma(um) professora(or) de Língua Portuguesa ou de qualquer área que trabalhe com escrita não leve em conta que existe essa tecnologia e que ela(e) precisa lidar com isso também”.

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