Saltar para o conteúdo Saltar para o menu Saltar para o rodapé

Histórias vividas, histórias narradas

Histórias vividas, histórias narradas

texto - Maria Pankararu; ilustração - Criss de Paulo

07 de agosto de 2023

Em cada rosto um Brasil

Explore a edição / Baixar PDF

“Existe muito estereótipo. As imagens passadas dos índios são sempre na selva, caçando, pescando, como se todos os índios seguissem o mesmo modelo. Ser indígena não é definido pelo fato de onde a pessoa mora simplesmente, se na fl oresta ou na cidade. O que conta é o espírito de pertencimento, a manutenção e incorporação dos valores e da cultura da etnia.”
Maria Pankararu

 

Depois da emoção da notícia vem a ansiedade da viagem. Professores e estudantes semifinalistas de diferentes regiões do país, representantes do gênero Memórias literárias, se encontram em Maceió. Olhares curiosos, sorrisos alegres, burburinhos de conversas em busca de pistas: o que vai acontecer?

Da programação robusta dos encontros regionais, escolhemos contar para os leitores o percurso de aprendizagem vivido por esses alunos-autores em Maceió – desde a preparação para a entrevista até a escrita do texto final.

 

Maria Pankararu

Leitura e muita conversa para conhecer a vida indígena da entrevistada Maria das Dores de Oliveira.

Quem é ela?
Nasceu na aldeia Brejo dos Padres, em Tacaratu, sertão de Pernambuco. Quando criança, andava mais de hora a pé para chegar à sala de aula mais próxima da aldeia. Quando ela tinha seis anos, sua família – fugindo da seca – mudou-se para São Paulo: “Lá, fui para a escola pela primeira vez. Foi como descortinar o mundo”. Maria e seus nove irmãos não esqueceram suas raízes: “Durante toda a minha vida, minha identidade étnica foi preservada pelos meus pais. Nossa casa em São Paulo era uma verdadeira aldeia. Nunca perdemos o vínculo com o nosso povo”.

Ser índio
Nasceu na aldeia Brejo dos Padres, em Tacaratu, sertão de Pernambuco. Quando criança, andava mais de hora a pé para chegar à sala de aula mais próxima da aldeia. Quando ela tinha seis anos, sua família – fugindo da seca – mudou-se para São Paulo: “Lá, fui para a escola pela primeira vez. Foi como descortinar o mundo”. Maria e seus nove irmãos não esqueceram suas raízes: “Durante toda a minha vida, minha identidade étnica foi preservada pelos meus pais. Nossa casa em São Paulo era uma verdadeira aldeia. Nunca perdemos o vínculo com o nosso povo”.

Cultura indígena
Ouvindo a música Chegança, disponível em www.youtube.com/watch?v=vIwP2TsKee4, do CD Madeira que cupim não rói, de Antonio Nóbrega, planejamos com os estudantes os temas da entrevista com Maria Pankararu: recordações da vida na aldeia, infância, escola, crenças, rituais, valores, identidade étnica, cultura do povo Pankararu, constantes deslocamentos para várias cidades brasileiras, curiosidade em aprender, esforço e a emoção de se tornar a primeira indígena a receber o título de doutora, celebração na aldeia Brejo dos Padres.

Povo Pankararu
A entrevista com Maria Pankararu no programa Conexão Futura e o depoimento do jovem Anderson Cleomar dos Santos, aluno de música da UEFS revela segredos da etnia Pankararu.

 

Bate-papo animado com Maria Pankararu

Roteiro da entrevista

A organização da família Pankararu é diferente da de outras etnias?

Qual a lembrança mais remota da aldeia em que você nasceu?

Mesmo longe da aldeia, seus pais preservaram as tradições, os costumes, o ritual da festa do umbu, a identidade da cultura Pankararu?

Os indígenas são defensores da natureza. Qual a sua opinião sobre desmatamento, poluição, falta de água, essa destruição?

Como foi sua primeira viagem para São Paulo? A sensação de respirar o ar poluído da cidade?

Na escola você se assumia como indígena? Pensou em desistir de estudar por causa do preconceito?

A cultura indígena se transformou com o uso das redes sociais, a chegada da tecnologia à aldeia? 

Como você descobriu o gosto pela leitura? E o seu relacionamento com a vida universitária, como foi?

Qual a sensação de ser a primeira indígena a receber o título de doutora?

Acesse e ouça a entrevista.

Da prosa oral a prosa escrita

Pela voz do entrevistado evocam-se as lembranças do lugar. A entrevista, por ser um gênero da modalidade oral da língua, traz várias marcas próprias da conversa informal. A passagem da linguagem oral para a escrita não é automática. O estudante terá o trabalho de retextualizar, transformar aquele texto oral em texto escrito, incluir toques ficcionais que envolvam o leitor.

Escuta apurada

Alertamos sobre os cuidados na passagem da modalidade oral (entrevista) à modalidade escrita (texto de memória literária):

■ leia as anotações, as observações coletadas na entrevista;
■ selecione as informações, fatos pitorescos que podem ser utilizados na produção do texto;
■ organize os conhecimentos, os dados, os turnos de fala, preservando a linguagem, as marcas linguísticas, a pronúncia, a fidelidade à fala da pessoa entrevistada;
■ evite frases imprecisas ao narrar os acontecimentos, assegurando a progressão temática;
■ procure transmitir ao leitor as lembranças, as sensações, as emoções que surgiram durante a entrevista, sem perder de vista o tom literário.

Narrar o vivido

Pedimos aos estudantes que ao escrever o texto mostrassem o olhar particular da indígena Maria Pankararu sobre aquilo que ela viu e viveu, levando em consideração:

■ diferentes vozes do discurso – voz da pessoa entrevistada, do aluno-narrador, do aluno-personagem;
■ narrativa em primeira pessoa, para envolver, conduzir o leitor por cenários e situações reais e imaginárias;
■ costura de acontecimentos reais com os inventados (ficcionais), preservando a estética da linguagem literária;
■ pontuação; as repetições e redundâncias;
■ releitura, revisão e reescrita do texto.

 

Fragmentos de textos dos alunos-autores semifinalistas no encontro em Maceió

"Tornar visível a diversidade da cultura indígena"
Maria Pankararu

Rastejos do passado trazidos pelo vento

“O dia começava cedo e o sol aparentava mostrar o rosto na aldeia Brejo dos Padres, em Tacaratu, interior de Pernambuco. Era aí que iniciava a repentina trilha que ia até a escola mais próxima de minha aldeia, eu andava no caminho de terra seca como couro velho e estreito como labirinto, características do interior nordestino. Só depois de algumas horas de estudo retornava ao aconchego familiar.” Ester Pereira Lima, Boca do Acre (AC)

Raízes da memória

“Essas são as raízes de minha memória plantadas como uma árvore numa rocha firme que jamais vou esquecer.” Sulamita Pinheiro Santos, Careiro da Várzea (AM)

Pankararu sempre

“Nasci nesta terra onde as águas são limpas e cristalinas, onde o amor ao próximo predominava e a religião o ponto inicial. Porém, essas memórias só estão presentes em meus pensamentos como uma semente que depois de semeada brota para revigorar e dar vida.” Kairo de Oliveira Costa, Pereiro (CE)

Lembrancas da infancia

“Enfim... Apesar de todo o preconceito e até mesmo as humilhações que ainda sofremos, a cultura indígena é extremamente importante na
sociedade, pois mesmo nos mínimos detalhes do dia a dia percebemos alguns de nossos costumes na vida de outras pessoas.” Milena Gomes Cardos, Itapuranga (GO)

Entre as raízes do Umbu

“Passando por uma estrada coberta por um tapete de seca, avistei um umbuzeiro carregado de frutos maduros. Logo lembrei-me da minha infância, da minha cultura, das minhas raízes. Nasci na aldeia Brejo dos Padres, em Tacaratu, no meio do seco e branco sertão pernambucano.” Gabriela Chaves Santos, Coronel Xavier Chaves (MG)

O reflexo no espelho

“Quando conheci uma biblioteca o mundo se descortinou. Passei a gostar muito de ler. Quando lia, parecia estar embarcando em uma viagem; conheci muitas histórias que faziam minha imaginação flutuar.” Valdirene Prestes dos Santos, Jardim Alegre (PR)

Meus costumes, meu povo, minha aldeia

“Somos indígenas, filhos da terra. Abençoados pela natureza, aprendemos a prezar o que ela tem a nos oferecer. [...] Ainda sinto alguma tristeza
queimar o meu coração ao lembrar-me do preconceito que as pessoas tinham para com os índios em São Paulo. Nossa cultura fora tão reprimida que ainda me recordo dos diversos rituais que realizávamos na calada da noite para não alertar os vizinhos.” Vitor Hugo Bueno, Santa Fé do Sul (SP)

 


Revista Na Ponta do Lápis
Ano XI
Número 25
Março de 2015

Explore edições recentes

Edição nº41, Setembro 2024

"Uma revista para educadoras(res) e apaixonadas(os) pela Língua Portuguesa"

Explore
Edição nº40, Agosto 2023

"Centenas de povos indígenas e suas línguas habitam, cultivam e preservam o território multicultural do nosso país."

Explore
Edição nº39, Novembro 2022

"Como repensar as questões étnico-raciais na educação"

Explore
Edição nº38, Abril 2022

"Palavra de educador(a): viver para contar e contar para viver. Experiências da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa"

Explore

Comentários


Ninguém comentou ainda, seja o primeiro!

Ver mais comentários

Deixe uma resposta

Olá, visitante. Para fazer comentários e respondê-los você precisa estar autenticado.

Clique aqui para se identificar
inicio do rodapé
Fale conosco Acompanhe nas redes

Acompanhe nas redes

Parceiros

Coordenação técnica

Iniciativa

Parceiros

Coordenação técnica

Iniciativa


Objeto Rodapé

Programa Escrevendo o Futuro
Cenpec - Rua Artur de Azevedo, 289, Cerqueira César, São Paulo/SP, CEP 05.404-010.
Telefone: (11) 2132-9000

Termos de uso e política de privacidade
Objeto Rodapé

Programa Escrevendo o Futuro
Cenpec - Rua Artur de Azevedo, 289, Cerqueira César, São Paulo/SP, CEP 05.404-010.
Telefone: (11) 2132-9000