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Portal Escrevendo o Futuro
10 de setembro de 2009
Em nossos estudos e reflexões sobre gêneros textuais, partimos do pressuposto que eles são as diferentes formas que as interações humanas assumem cotidianamente, ao longo do tempo. Consideramos, também, que eles são produzidos nas inúmeras esferas de atuação humana e são marcados pelo discurso dessas áreas onde nascem. Os gêneros jurídicos, por exemplo, são diversos, mas todos são marcados pelo discurso do ambiente jurídico.
Os gêneros são vivos, isto é, começam a ser usados em certos momentos da história, podem perdurar durante longo tempo e também podem desaparecer. Os gêneros textuais têm relativa estabilidade enquanto duram, isto é, ao mesmo tempo em que conservam características que os definem, sofrem transformações. Exemplos de gêneros novos são aqueles associados à internet, que nasceram e vêm se diversificando ao longo da última década, tomando, por vezes, o lugar de gêneros tradicionais: é o caso do blog, que vem substituindo, no cotidiano, algumas formas de diário pessoal. Podemos facilmente identificar gêneros que se transformam rapidamente ao longo da vida das pessoas: os gêneros musicais populares brasileiros são um exemplo disso. Há gêneros que deixam de circular em sua forma original como, por exemplo, o folhetim publicado nos rodapés dos jornais.
Outra reflexão que fazemos a respeito dos gêneros é que eles podem ser agrupados de acordo com a capacidade discursiva que neles predomina. Neste caso, temos considerado que podem ser reunidos em cinco grupos: Narrar, Argumentar, Expor, Relatar e Instruir .
O agrupamento do Narrar inclui todos os gêneros, orais e escritos, que estão a serviço do imaginário humano e que se valem, para serem produzidos, da subjetividade e da ficção. É nesse agrupamento que se encontram as narrativas tradicionalmente transmitidas pela oralidade, entre elas o conto de fadas, da tradição celta, o conto maravilhoso da tradição oriental, o conto de ensinamento, a fábula, a lenda, o mito, a paródia, os contos de animais e outros.
Todas essas narrativas possuem elementos comuns, que as aproximam: cenário (que engloba tempo e lugar imaginários em que ocorre a ação), personagens, enredo, conflito, resolução do conflito e desfecho final. Em oposição a essa estrutura comum a todas, cada uma apresenta aspectos singulares, permitindo o estabelecimento de diferenças entre elas.
O cenário: nas narrativas, o tempo é elemento essencial: nelas são contados acontecimentos encadeados no tempo, ainda que, no caso da tradição oral, seja um tempo do faz-de-conta, um tempo fora do tempo, a temporalidade da imaginação. A esse tempo imaginário se incorpora um espaço igualmente misterioso, formando com ele um todo inseparável, o que é indicado pelas fórmulas iniciais Era uma vez... ou Em um lugar muito distante vivia... Certa vez... É nesse todo que se inicia a constituição do narrado: que direção que a narrativa tomará? A ação ocorrerá em um lugar espacialmente distante, exótico para os ouvintes, ou em lugares já vividos e internalizados, mas carregados de referências familiares como a casa, a aldeia, o castelo, a estrada, o caminho, o campo, a floresta? Esses lugares estarão sombreados pelas emoções geradas pelo medo do novo ou estarão iluminados pela perspectiva da mudança trazida pela aventura?
Personagens: as narrativas da tradição oral são construídas em torno da ação do herói ou heroína. Nos contos de ensinamento, esses personagens centrais são pessoas pobres, mas capazes de vencer os poderosos usando a astúcia, a esperteza; nos contos de fadas, não é a esperteza que faz os heróis solucionarem os conflitos, mas elementos mágicos que podem ser fadas, duendes, seres extraordinários de um modo geral; nos contos maravilhosos, as personagens vivem e atuam em cenários carregados de referências a construções, espaços, mobiliário, roupas orientais e a presença do elemento mágico também é uma constante; nas fábulas, animais assumem vozes humanas que discutem questões sociais e políticas, caminhando para um desfecho moral.
Conflito: no conto tradicional, é o choque entre a personagem central, que em geral representa o bem, e forças do mal que se opõem a ela. É um acontecimento que quebra a tranquilidade inicial e obriga o herói ou heroína a “sair pelo mundo”, um acontecimento que “faz a narrativa andar”. O mal pode ser representado pelo vilão da história ou por seres mágicos, divindades etc.
Enredo: é a sucessão de acontecimentos ao longo da narrativa.
Resolução do conflito: é o momento em que o herói vence o vilão ou as forças do mal, usando a esperteza (se for um conto de ensinamento ou um conto de animais, por exemplo) ou apoiando-se em um elemento mágico (no caso dos contos de fadas ou maravilhosos).
Desfecho: momento final em que a história se resolve.
A organização das narrativas com base nesses elementos transfere-se da tradição oral para a escrita. Durante séculos, em diferentes momentos da história da literatura, é possível identificá-los em diferentes gêneros narrativos. É no final do século XIX e início do século XX que novos movimentos literários reúnem autores que quebram essa estrutura, buscando novos paradigmas para a organização de contos, romances e outros.
Ainda neste mês de setembro aprofundaremos um dos gêneros da tradição oral, o conto maravilhoso.
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