Lembranças que o tempo não apagou
Aluno: Danley Dênis da Silva
Ainda recordo as férias escolares do mês de julho… sempre com endereço certo. Enquanto outros garotos sonhavam com viagens para lugares desconhecidos, eu contava os dias para retornar ao meu pequenino cantinho do mundo – nem se chamava Campo Grande do Piauí. pois não passara ainda para a categoria de cidade, naquela época, apenas um pequeno povoado às margens da BR-316. Hoje, sim, Campo Grande do Piauí, terra do caju.
Hoje sou adulto e carrego nos ombros as responsabilidades que a vida me trouxe, mas quero me reportar àquele tempo de garoto, quando andava descalço, camisa aberta no peito, cabelos revoltos pelo vento e o sol a seguir-me pelas longas trilhas. Eram as minhas férias de julho, não tão prolongadas como as de final de ano, mas era naquela época que a farinhada acontecia.
A casa de farinha de “padim” João Marcos – era assim que a meninada o chamava; já os adultos tratavam-no por tio João ou seu João. Lembro-me de que era um velhinho alto, acho que o mais idoso da região, já envergado pelo peso da idade – companheiro inseparável de uma bengala que lhe servia de apoio nas suas incansáveis idas e vindas diárias.
Eu não sei o que me atraía tanto naquela casa de farinha, tinha horas que aquilo lá fervilhava de gente: uns trabalhando, outros passeando e os mais preguiçosos sem nada a fazer. Quando o motor começava a triturar a mandioca, os trabalhadores, nas suas conversas, tentavam superar o barulho infernal que se fazia no ambiente.
Na casa principal – disso tenho a nítida lembrança –, era lá que estava meu encanto pessoal. A sala não era um cômodo grande, encostada numa parede ficava uma cristaleira que tinha como principal adorno o símbolo das bodas de ouro do senhor daquela casa e de sua esposa. No centro da sala uma rede, sempre estirada, um verdadeiro convite para uns vai e vem. Ao pé da rede reinava uma cadeira – senhora quase absoluta daquele ambiente simples –, e sobre ela, sempre de prontidão, duas tigelinhas: uma, contendo farinha, e na outra, rapadura.