Poetas da Escola

Introdução ao gênero

Sobre poemas e poetas

Convite

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

José Paulo Paes. Poemas para brincar. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
Clique aqui e conheça outros poemas do escritor José Paulo Paes.

Seus alunos e alunas certamente já leram ou ouviram poemas: parlendas, cantigas de roda e trava-línguas que fazem parte das brincadeiras; músicas que ouvem e cantam, repentes, quadrinhas e cordel – todas são formas poéticas.

Um poema pode, ou não, apresentar rimas; pode, ou não, ter ritmo uniforme; pode ser regular ou irregular. Ele pode ainda falar sobre qualquer assunto: pessoas, ideias, sentimentos, lugares ou acontecimentos comuns, por exemplo, “uma pedra no meio do caminho”, como fez Carlos Drummond de Andrade em seu poema “No meio do caminho”. No entanto, há um aspecto que diferencia o poema de um texto informativo ou de outro texto literário, como o romance ou o conto – é o modo pelo qual o poeta escreve seu texto.

O poema é criado como se fosse um jogo de palavras. Ele motiva o leitor a descobrir não apenas a leitura corrente, mas também a buscar outras leituras possíveis. E como o poeta faz isso? Ora… com as palavras e com tudo o que se pode fazer com elas.

O poeta busca mostrar o mundo de um jeito novo, com a intenção de sensibilizar, convencer, fazer pensar ou divertir os leitores. Ele sugere associações entre palavras, seja pela posição que ocupam no poema, seja pela sonoridade, seja por meio de outros recursos.

Observe o início do poema “Convite”, de José Paulo Paes:

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola,
papagaio, pião.

O verbo “brincar” é repetido, como uma pista para deduzir que tudo aquilo com que se brinca poderia ser aproximado: “poesia, bola, papagaio, pião”. “Convite” sugere que a leitura de poemas pode ser uma atividade divertida.

Outro trecho:

Nessa passagem, a repetição do comparativo “como” leva o leitor a associar os termos “palavras”, “água do rio” e “cada dia”.

Qual o sentido do termo “novo” nesse caso? No contexto do poema, ele é sinônimo de renovado, em permanente movimento.

Sugere-se assim o caráter original e inovador da palavra poética. Quanto mais o poeta usa as palavras, mais ele se torna capaz de criar sentidos novos para elas, num processo de renovação permanente, como o movimento do rio e a sucessão dos dias.

No final do poema, vem o convite, em forma de pergunta:

Vamos brincar de poesia?

Ao estabelecer esse diálogo, o poeta motiva o leitor a se interessar pela leitura de outros poemas, outros jogos de palavra marcados pelo ritmo das repetições e pela originalidade.

O poeta é o artista que usa as palavras para fazer uma obra de arte – o poema. Ele sabe como combinar as palavras, como dar ritmo a essa combinação, como fazer com que elas conquistem e surpreendam o leitor.

As atividades propostas neste Caderno visam à apropriação, por parte de crianças e jovens, da linguagem e das palavras como meios de comunicação e de expressão da criatividade. São brincadeiras sérias, na medida em que exigem treino de leitura e percepção; e também divertidas, porque a poesia permite que se brinque com as palavras. Ler e produzir poemas pode ser uma atividade lúdica, criativa e original.

Brincar de poesia é exercício para uma vida – quanto mais se sabe, mais se quer descobrir e aprender. É um exercício de perceber o que se diz, como se diz ou se escreve e, ainda, como se busca levar o leitor a interpretar o sentido. José Paulo Paes, além de poemas, escreveu ensaios. Num deles, ele afirma:

[…] é a lucidez da técnica e da experiência do poeta – técnica e experiência cuja aquisição exige anos de leitura e de aplicação quase diária ao ofício de escrever – que irá desenvolver as sugestões oníricas em poemas acabados e compreensíveis. Enquanto o sonho é pessoal e só comove ou impressiona quem o sonhou, o poema tem de comover e impressionar, se não todas as pessoas que o leem, pelo menos aquelas cuja sensibilidade foi aprimorada pela leitura regular de poesia.

José Paulo Paes. Quem, eu? – Um poeta como outro qualquer. 5ª ed. São Paulo: Atual, 1996.

Nas oficinas, você encontrará atividades que ajudarão a construir brincadeiras com as palavras, a brincar de poesia.

Marisa Lajolo, no livro Palavras de encantamento, da Coleção Literatura em Minha Casa, nos fala de poetas, poemas e poesia:

[…] poeta brinca com as palavras […] parece que o poeta diz o que a gente nunca tinha pensado em dizer […]
[…] um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Além de diferentes pela sonoridade e pela disposição na página, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas […]
[…] poeta é, assim, quem descobre e faz poesia a respeito de tudo: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia a dia da vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com pessoas que conhecemos, de episódios que nunca imaginamos que poderiam acontecer e até a própria poesia! […]
Marisa Lajolo. Palavras de encantamento: antologia de poetas brasileiros. v. 1. São Paulo: Moderna, 2001.