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No cinema de ficção pode-se repetir uma cena quantas vezes forem necessárias para se obter aquilo que se almeja, por isso podemos dizer que o controle sobre a filmagem é total.
O documentário, por sua vez, está sujeito ao “risco do real”. O diretor não consegue exercer domínio absoluto sobre as situações que ocorrem no mundo real.
Na filmagem de conflitos, por exemplo, é comum ele enfrentar as seguintes situações: não poder enquadrar a cena ao seu feitio; não conseguir estabilizar a câmera e assim só obter imagens tremidas; não ser capaz de acompanhar toda a ação que está sendo filmada, tendo que desligar a filmadora antes de a ação ser finalizada. Ou seja, as preocupações com as técnicas de filmagem (enquadramento, foco, iluminação) ficam submetidas às necessidades do registro.
Aliás, durante a filmagem de manifestações, conflitos urbanos e guerras, o cinegrafista que filma no meio do povo corre o risco de registrar imagens insatisfatórias, além de colocar em risco sua própria vida.
Abaixo, pode-se assistir ao vídeo militante Braço armado das empreiteiras, produzido e colocado para circular no calor da ação de reintegração de posse de um terreno localizado no Cais José Estelita, em Recife.
Braço armado das empreiteiras. Ernesto de Carvalho, Juliano Dornelles, Marcelo Pedroso, Pedro Severien. Brasil, 2014, 3 min e 50 seg.
Braço armado das empreiteiras mostra um enfrentamento corpo a corpo entre policiais e militantes. As câmeras captam o que ocorre no momento e a montagem preserva a ordem sequencial dos fatos: os PMs chegam, os manifestantes circundam o terreno da ocupação e gritam palavras de ordem (“Abrace o Estelita”, “Ocupar – Resistir”); os PMs fazem uso de balas de borracha, os manifestantes gritam, correm; os manifestantes sentam no chão para evitar o avanço da polícia, que, por sua vez, emprega spray de pimenta, os manifestantes permanecem sentados; a polícia avança, recomeça a disparar balas de borracha, usa gás lacrimogêneo, o que provoca mais tumulto, confusão, prisões; no final, os manifestantes terminam se afastando do local da ocupação e seguem em direção a um viaduto.
O vídeo é curto e forte. Não há quem fique impassível diante do que vê e ouve. As imagens tremidas e fora de enquadramento que predominam no vídeo são uma assinatura física de quem filma, revelando o engajamento político e emotivo dos cinegrafistas.
Peça aos alunos para realizarem uma filmagem-teste de uma situação simples e curta, realizada por apenas uma pessoa, e que disponha de começo, meio e fim. Pode ser, por exemplo, escovar os dentes ou passar café. O ideal é que a mesma situação seja trabalhada por todas as equipes. A definição de como filmar a situação fica a critério dos alunos. Um dos integrantes da equipe pode servir de personagem que realiza as ações.
Os alunos precisam filmar a mesma situação duas vezes, de maneiras distintas:
Depois de concluídas as filmagens, reúna a turma e exiba os resultados. A seguir, discuta com os alunos os seguintes pontos, avaliando prós e contras, acertos e dificuldades:
Nos dias de gravação, peça aos alunos que chequem as condições dos equipamentos e dos acessórios necessários para filmagem (cartão extra de memória, baterias, carregadores, extensões, fita crepe, tesoura e outros itens que possam ser úteis). Todos devem saber quais serão suas funções no momento da gravação: quem vai conduzir as filmagens, realizar as entrevistas, operar a câmera, monitorar o áudio, ser o responsável pelas autorizações de filmagem, produção do set, deslocamento e alimentação da equipe.
No final de cada filmagem, lembre os alunos de descarregar os cartões de memória no computador onde será realizada a edição ou em HDs externos. Oriente-os a fazer o upload desse material de forma a facilitar o processo de edição. Assim, é preciso identificar os arquivos e organizá-los em pastas.