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Muita gente não sabe a diferença entre edição de som e mixagem de som. As pessoas ficam ainda mais confusas quando, durante a premiação do Oscar, uma equipe ganha o prêmio de melhor edição de som e outra o prêmio de melhor mixagem de som. Mas vejamos qual a diferença entre essas categorias.
Durante a gravação de um filme, a equipe de som é responsável por toda a captação de áudio nos sets de filmagens: diálogos, sons ambientes, sons dos movimentos de objetos e das personagens. Para a realização dessa captação, são utilizados inúmeros cabos, mesas de som e diferentes tipos de microfones. É na edição de som que esses sons capturados serão escolhidos e organizados em consonância com a edição de imagem. O prêmio de Melhor Edição de Som vai para a equipe ou profissional que faz esse trabalho.
Após a edição de som, vem o trabalho de mixagem de som, que equilibra e nivela os sons escolhidos e organizados na edição para construir a identidade sonora final do filme. É esse profissional que concorre à estatueta de Melhor Mixagem de Som.
E. Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti, Miguel Antunes Ramos. Brasil, 2014, 17 min e 51 seg.
Agora, leia uma breve análise do curta-metragem.
E discute o processo de apropriação privada da cidade por uma lógica econômica que privilegia o transporte individual. O filme mostra os efeitos dessa lógica, sempre pautada pela maximização do lucro, como a destruição dos espaços de memória e de afeto para a instalação de estacionamentos, que posteriormente darão lugar a edifícios de alto padrão.
Para dar conta desse diagnóstico, o documentário reúne imagens de estacionamentos e de carros, além de imagens obtidas pelo Google Street View, normalmente usadas em contraste com imagens dos mesmos locais em registro mais atual, revelando transformações drásticas em lugares registrados há pouco.
No âmbito da imagem, chama a atenção a hegemonia de carros e a ausência marcante da figura humana. Quando muito, pessoas aparecem congeladas em painéis artificiais, exibidos justamente para humanizar os ambientes impessoais e áridos dos estacionamentos.
A presença humana fica reservada à trilha sonora. Ela traz, em primeiro lugar, a narração em voz over de uma figura masculina sem maiores credenciais, que é responsável pela coleta de depoimentos (entrevistas) e que anuncia, em alguns pontos do filme, listas de atributos de diferentes tons de cinza ou de empreendimentos imobiliários.
Os depoimentos, sempre apresentados como trechos de falas maiores às quais não temos acesso, trazem comentários sobre a lógica econômica que orienta a proliferação de estacionamentos, mas trazem sobretudo memórias afetivas ligadas a um espaço que não existe mais e que vemos, na imagem, desfigurado pela invasão de carros. Por vezes, como aos 4 min e 56 seg, há a ironia de ouvir a descrição da distribuição da plateia no antigo cinema assistindo aos carros fazendo as vezes de espectadores. Sem dúvida, esse e outros momentos embasam o argumento do filme: onde antes existia a figura humana, agora existem os carros.
Além de dotar o documentário de uma camada mais humana, o som é responsável por criar atmosferas expressivas, compostas de ambientes sombrios, ruídos metálicos e abruptos, e efeitos agudos e dissonantes. Preste atenção no trecho que vai dos 9 min aos 10 min e 55 seg. A combinação de elementos perturbadores cria uma sonoridade que evoca, em determinados momentos, filmes de terror, noutros, filmes de ficção científica. A trilha sonora busca dialogar com gêneros cinematográficos nos quais a figura humana se encontra ameaçada por elementos grotescos, máquinas ou alienígenas: no caso, os carros, os estacionamentos e a lógica econômica que ataca os espaços da cidade e seus habitantes.