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Puccini (2009) afirma que as imagens do filme documentário podem ser de três tipos:
1. Imagens obtidas através de tomadas em direto – Todo e qualquer registro de imagens obtidos originalmente para a construção do documentário. Esses registros podem, por sua vez, ser divididos em dois tipos:
1.1 Registros de eventos autônomos – Todo e qualquer evento que ocorra de forma independente à vontade de produção do filme, de maneira não controlada pelo filme, o que inclui manifestações populares, cerimônias oficiais, tragédias naturais, acontecimentos esportivos etc.
O curta Braço armado das empreiteiras é um exemplo de registro de evento autônomo. Ele é analisado no Bloco 4, Oficina 2, Etapa 4. Assista:
Braço armado das empreiteiras. Ernesto de Carvalho, Juliano Dornelles, Marcelo Pedroso, Pedro Severien. Brasil, 2014, 3 min e 50 seg.
1.2 Registros de eventos integrados – São aqueles que ocorrem por força da produção do filme, organizados e integrados ao filme, sucedem exclusivamente para o filme. Incluem-se, entre os eventos integrados, entrevistas, imagens de cobertura para ambientação do documentário, apresentações musicais, encenação.
O curta Gilmar - ofício cabeleireiro é um exemplo de registro de evento integrado. Ele é analisado no Bloco 4, Oficina 2, Etapa 3. Assista:
Gilmar - ofício cabeleireiro. Dannyel Leite. Brasil, 2014, 11 min e 4 seg.
2. Imagens obtidas em material de arquivo – São imagens em movimento, filmes e vídeos que podem ter origem diversa, desde cinejornais, filmes institucionais, reportagens de telejornalismo, especiais de TV, ou até mesmo incluir materiais retirados de outros filmes, de ficção ou documentário. Normalmente, o uso dessas imagens é permitido desde que o detentor de direitos das imagens conceda uma autorização ao projeto.
3. Imagens obtidas através de recursos gráficos – Essas imagens incluem os intertítulos, ou cartelas de informação textual inscritas na tela, as animações (figurativas ou não), a inserção e ilustração de dados técnicos (números, escalas, gráficos) e as imagens em still, como fotografias e documentos relevantes (recortes de revistas e jornais e documentação diversa, como certificados, certidões etc.). O uso das fotografias e dos documentos está também sujeita à negociação de uma autorização com o detentor de direitos dos materiais.
Nós que aqui estamos por vós esperamos é um bom exemplo dos itens 2 e 3. O documentário é construído a partir de imagens de arquivo, e também faz uso de recursos gráficos como legendas e intertítulos. Ele é analisado no Bloco 4, Oficina 3, Etapa 4. Assista:
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Ao intercalar na edição planos de Fred Astaire dançando e Garrincha jogando futebol, o filme estabelece uma relação de continuidade e semelhança entre ações que a princípio podem parecer muito distintas: jogar e dançar.
Essa aproximação promovida pela edição é possível graças à utilização do Match cut, técnica que combina, na montagem, cenas distintas: os movimentos de sapateado de Fred Astaire são sucedidos pelos dribles de Garrincha e vice-versa; enquanto um domina a bola, o outro transforma um objeto inusitado, o mancebo, em parceiro de dança.
O cuidado em relação ao ponto de corte de cada cena e a forma de conectá-las é que produz o efeito de continuidade. A trilha musical também é essencial nesse sentido, tanto para a sensação de continuidade quanto para o ritmo das ações que se encadeiam.
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Nessa segunda parte do trailer, as legendas, recurso inserido durante a edição do filme, desempenham importante papel. Primeiro, veremos um homem e o texto na tela nos diz seu nome, data de nascimento e de morte. Em seguida, a informação de sua profissão, alfaiate, o que causa certa surpresa e até um efeito cômico. O que estaria fazendo um alfaiate no topo da Torre Eiffel? E por fim, temos a graça final: surge a legenda "Objetivo imediato", com uma imagem sobreposta à imagem anterior, por meio de um efeito visual: uma pomba branca voando. Juntando as duas imagens compreendemos que o objetivo do alfaiate, também inventor, era voar. E é a edição que permite esse jogo entre o texto verbal e as imagens.
Nós que aqui estamos, por vós esperamos. Marcelo Masagão. Brasil, 1999, 73 min. Trailer.