Bloco 2

Oficina 4

Etapa 1

Técnicas de colocar imagens em sequência

A Montagem (ou Edição) é o momento crucial na produção de um filme, pois é aí que se constrói, de fato, a narrativa cinematográfica. É o processo pelo qual se seleciona e se une as cenas filmadas, agora, na sequência desejada para exibição. Não se trata meramente de um trabalho técnico de “colar partes” de um filme, mas de pensar criativamente a construção de sentidos pela imagem. Dessa forma, a montagem consiste na criação de relações entre os planos.

Tipos de Corte

A arte de montar tem a seu dispor várias técnicas diferentes que envolvem os diversos tipos de corte e transições entre as cenas. Por meio desses cortes e transições pode-se estabelecer relações de semelhança, oposição, implicação, continuidade etc., entre os planos de um filme.

São muitos os tipos de cortes existentes. Resumimos, a seguir, alguns deles.

  • Hard cut (também chamado de Corte Direto, Corte Seco, Corte Simples, ou ainda Corte Propriamente Dito) – é quando a passagem de um plano a outro ocorre sem qualquer estado intermediário.
Lawrence da Arábia. David Lean. Estados Unidos, 1962, 228 min. Trecho.

 

Casablanca. Michael Curtiz. Estados Unidos, 1942, 102 min.
  • Cut on action – é o corte de um plano para o outro, centrado no ponto da ação. Ao assistir à montagem finalizada, tem-se a impressão de continuidade. No Cutting on action a personagem começa a ação em um plano e finaliza no outro.
O Fabuloso destino de Amélie Poulain. Jean-Pierre Jeunet. França, 2001, 120 min.

 

Missão: Impossível. Brian De Palma. Estados Unidos, 1996, 110 min.
  • Jump cut – é um corte seco feito em um trecho de imagem do mesmo plano. Em vez de permitir que um plano mostre por completo uma ação ou uma fala, o jump cut suprime pedaços intermediários do plano, causando o efeito de avanço no tempo por meio de saltos, já que o corte normalmente interrompe a impressão de continuidade.
Os Excêntricos Tenembaums. Wes Anderson. Estados Unidos, 2001, 110 min.
Acossado. Jean-Luc Godard. França, 1960, 103 min. Disponível em "Why I hated what I loved: Youtube and the jump cut".
  • J cut – ocorre quando o áudio do plano seguinte se sobrepõe à imagem do plano anterior, de tal forma que o áudio do plano posterior começa a ser reproduzido antes de sua imagem. A explicação para o nome do corte vem da disposição das faixas de imagem e som no software de edição.
  • L cut – acontece quando a imagem muda, mas o áudio permanece o do plano anterior, até ser sobreposto pelo do plano seguinte, de forma não coincidente. De modo semelhante ao anterior, a explicação para o nome do corte vem da disposição das faixas de imagem e som no software de edição.
Disponível em: https://vimeoblog.imgix.net/2012/07/JL-Cut-Graphic-2.png?w=300.
  • Cutaway – interrompe a ação principal inserindo uma imagem no meio dela, momentaneamente, retomando depois o fluxo da ação. É usado para dar contexto à cena e aumentar sua dramaticidade.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Michel Gondry. Estados Unidos, 2004, 108 min.
  • Cross cut – também conhecido como Edição Paralela, é o corte intercalado entre duas cenas que acontecem em lugares diferentes e ao mesmo tempo. Pode aumentar a tensão e o suspense da cena.
O Silêncio dos inocentes. Jonathan Demme. Estados Unidos, 1991, 138 min.
  • Match cut – transição entre planos diferentes na qual a última imagem do plano anterior se assemelha à primeira imagem do plano seguinte, inclusive em posição e tamanho no quadro. Também conhecido como rima visual, permite a passagem de um espaço para o outro sem perder a coerência e sem desorientar o espectador.
2001 - uma odisseia no espaço. Stanley Kubrick. Estados Unidos, 1968, 164 min.

No vídeo abaixo, você pode conferir mais uma vez os cortes que acabou de conhecer:

Técnicas de edição: Tipos de cortes. André Sarti, 2016. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=mgxu-L4qZsg>.

Além dos cortes, a passagem de um plano a outro pode ser feita de maneira mais suave, através de efeitos de transição. Vamos conhecer alguns desses efeitos:

  • Fade – é quando a passagem entre planos ocorre de forma gradual, combinando uma imagem a uma tela neutra (preta, branca ou de qualquer outra cor).
    • Fade out – é o desaparecimento gradual do plano A até uma imagem neutra.
Cisne negro. Darren Aronofsky. Estados Unidos, 2010, 108 min.
  • Fade in – é o aparecimento gradual do plano B a partir de uma imagem neutra.
Apocalypse now. Francis Ford Coppola. Estados Unidos, 1979, 153 min.
  • Fusão – é outra forma gradual de corte, em que o estado intermediário é uma "mistura" entre o plano A e o plano B: no decorrer da fusão (que pode durar alguns fotogramas ou mesmo alguns segundos), a imagem do plano A vai gradualmente desaparecendo enquanto a imagem do plano B vai surgindo.
Cidadão Kane. Orson Welles. Estados Unidos, 1941, 119 min.
  • Sobreposição –é quando dois planos (isto é, duas imagens captadas de forma independente) coexistem na tela durante algum tempo.
Apocalypse now. Francis Ford Coppola. Estados Unidos, 1979, 153 min.

Vale falar ainda de alguns outros recursos da linguagem cinematográfica que permitem criar distintos efeitos de temporalidade na narrativa fílmica:

Elipse – passagem de tempo.

Taxi driver. Martin Scorsese. Estados Unidos, 1976, 116 min.

Flashback – cena que interrompe o fluxo temporal dos acontecimentos para apresentar algo situado no passado. A seguir um exemplo de flashback:

Band of Brothers. Phil Alden Robinson, Richard Loncraine. Estados Unidos, 2001. Trecho.

Flashforward – cena que interrompe o fluxo temporal dos acontecimentos para apresentar algo situado no futuro.

Veja um exemplo:

Sherlock Holmes. Guy Ritchie. Estados Unidos, 2009, 129 min. Trecho. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=bpVfClMnaR0>

Quick Motion – câmera rápida, movimento acelerado.

Veja um exemplo:

Réquiem para um sonho. Darren Aronofsky. Estados Unidos, 2000, 110 min.

Slow Motion – câmera lenta, movimento retardado.

Amor à flor da pele. Wong Kar-Wai. Honk Kong / China / França, 2000, 108 min. Trecho.

Freeze – congelar, manter estática uma imagem.

Os incompreendidos. François Truffaut. França, 1959, 99 min. Trecho.

Split Screen – divisão da tela, mostrando dois acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo.

Kill Bill – Vol. 1. Quentin Tarantino. Estados Unidos, 2003, 112 min. Trecho. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=dWI4G9PB31c>.

Ao final, deve estar claro que cortes, transições e efeitos ajudam a construir determinados efeitos de sentido na edição.

Atividades

  1. Assista com seus alunos(as) ao trailer do documentário Nós que aqui estamos, por vós esperamos:

 

Dica: ao longo do filme você verá alguns comentários da equipe do Programa Escrevendo o Futuro. Se desejar assistir sem as observações, clique no ícone de comentários para desativá-los.

Nós que aqui estamos, por vós esperamos. Marcelo Masagão. Brasil, 1999, 73 min. Trecho.

Depois, discuta com os alunos(as) que tipo de corte e quais transições estão presentes no trailer. Observe as relações de continuidade estabelecidas entre as cenas de Fred Astaire e as de Garrincha. A forma como uma cena se conecta à outra é característica de que tipo de corte cinematográfico? Que efeitos as fusões e sobreposições de imagens adquirem nas cenas do alfaiate? E as fusões entre as cenas da cidade e as de fábrica quais sentidos provocam?

Agora, leia os comentários sobre o trailer.

Se desejar, você pode assistir ao filme completo aqui. Se houver tempo, também é possível exibi-lo na íntegra para os alunos(as) ou selecionar trechos com os quais consiga trabalhar em sala de aula.