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O documentário está fortemente associado ao campo do jornalismo, isso porque ambos, jornalismo e documentarismo, são tomados como discursos que buscam oferecer acesso ao real, à verdade.
No entanto, tal objetivo é inalcançável, pois a representação do mundo é sempre determinada por um ponto de vista, nunca é a coisa em si mesma.
Se no início de sua história o documentário buscou representar a realidade de forma objetiva e imparcial, aos poucos ele foi se distanciando desse fim. Até mesmo, como se verá adiante, muitos são os documentários que questionam essa possibilidade.
O jornalismo, por sua vez, apesar de discutir a questão nas redações e faculdades, e muitas vezes em outros espaços públicos, ainda preza a imparcialidade e a objetividade. Assim, não é permitido ao repórter de um telejornal tomar posição perante um fato; se assim o fizer, será considerado parcial, tendencioso e acusado de manipular a notícia. A tomada de posição fica reservada a comentaristas e, por vezes, apresentadores.
Já o documentário é um gênero fortemente marcado pela subjetividade do(a) autor(a). Ele(a) pode opinar, tomar partido, expor-se, deixando claro para o espectador(a) qual o ponto de vista que defende sem precisar camuflar a sua própria opinião ao narrar um evento.
O fato de o documentário ser um gênero marcado pela subjetividade do(s)/ da(s) autor/autores(as) permite um trabalho bastante construtivo com a argumentação nas aulas de língua portuguesa, levando o aluno a perceber de que forma texto, imagem e montagem vão criando efeitos de sentido.
Outro aspecto que aproxima jornalismo e documentarismo é o fato de ambos serem vistos como instrumentos de transformação social. Muitos prêmios são oferecidos a jornalistas e documentaristas que conseguem mobilizar a opinião pública, as instituições e as autoridades com suas reportagens de denúncia social.
Provavelmente, muitos dos documentários a serem realizados pelos alunos irão nessa direção. São comuns os filmes de estudantes que mostram as condições precárias de saneamento básico dos locais onde moram, os problemas com o recolhimento do lixo e com o meio ambiente, a falta de áreas de lazer etc.
Um alerta: documentários que seguem a linha da denúncia social devem buscar um trabalho criativo com as imagens e a trilha sonora, para que o filme não fique centrado exclusivamente no texto, seja ele referente à fala das pessoas entrevistadas, seja uma narração em voz over do repórter. Assim, evita-se que o documentário adquira um formato muito próximo do jornalismo.
Veja abaixo um bom exemplo de documentário de crítica social que explora os recursos de linguagem do audiovisual.
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A câmera na mão parece acompanhar o movimento dos corpos e veículos da cidade, além do fluxo da água. A montagem alterna imagens em primeiro plano da água de chuva escorrendo por calçadas e bueiros e, em plano médio, imagens desfocadas de lixo nas calçadas. Como recurso sonoro, ao barulho da chuva se mistura um emaranhado de sons ruidosos que remetem à atmosfera caótica da cidade.
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A cidade de São Paulo é filmada em plano geral, escolha que apresenta a dimensão da cidade grande ao mesmo tempo em que revela a presença do rio em meio a esse espaço urbano. O ritmo da imagem em movimento é acelerado por um recurso de linguagem conhecido como time-lapse, ou câmera-rápida. A aceleração da imagem parece remeter ao ritmo da cidade que se move rapidamente e se contrapõe ao ritmo do rio. A oposição fica clara quando vemos a imagem que se segue: um plano médio da superfície da água do rio, ondulante e suave, com a cidade refletida.
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A montagem dispõe em sequência, uma após a outra, imagens de recortes da vida no rio e nos seus arredores: o voo da garça, um cavalo pastando, uma vaca. Nesse trecho, a câmera é mais suave que no início e o ritmo de encadeamento dos planos é mais lento. Essas duas escolhas de linguagem criam uma sensação de suspensão do tempo acelerado da cidade. E ao mesmo tempo, podem causar um efeito cômico para aqueles que conhecem São Paulo ou outras cidades grandes e sabem o quão inusitado é ver uma vaca dentro desse contexto.
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O grupo de "pescadores", que depois saberemos ser a própria equipe de gravação, é apresentado em plano geral e surge como uma "mancha amarela" quebrando a monotonia do cinza da estrutura da ponte. A escolha pelo plano geral aqui é interessante porque suscita no espectador ao mesmo tempo estranhamento e curiosidade. Quem são aquelas pessoas, o que estão fazendo ali em um espaço que parece destinado aos veículos motorizados? Para só depois, ir revelando aos poucos outras informações visuais sobre o grupo.
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Depois de ver o grupo ao longe, agora é possível acompanhá-lo de perto e em movimento, como se o espectador passasse a ser um dos integrantes. O recurso de linguagem que proporciona essa aproximação é o travelling frontal.
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A câmera subjetiva é aquela que assume o lugar de uma das personagens e assim mostra seu ponto de vista. Aqui é como se a câmera estivesse no lugar da cabeça da pessoa que está caminhando. O uso desse recurso aproxima muito o espectador da personagem.
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À medida que se aproximam do lixo, as pessoas aparecem enquadradas em plano médio e sua imagem é alternada com as imagens do lixo em primeiro plano. Essa alternância de imagens entre lixo e pessoas estabelece uma relação entre elas. Aquele grupo parece não só caminhar em direção ao lixo, mas, principalmente, motivado por ele. Além disso, a escolha do primeiro plano para enquadrar o lixo garante destaque para esses elementos.
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É também por meio dos primeiros planos que é possível reconhecer nos detalhes objetos e gestuais típico de uma pescaria: como a linha e a vara, um copo com água para encarar a sede sob o sol. A água potável à beira de um rio poluído evidencia o contraste entre a cor das duas águas: uma clara e outra escura. Além disso, a proximidade salta aos olhos a garrafa plástica da água que é servida e se transformará em lixo.
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A montagem paralela, com a alternância de planos médios de um dos "pescadores" e planos gerais de uma retroescavadeira, cria uma conexão entre o movimento mecânico que recolhe o lixo e o movimento da vara de pescar, também recolhendo lixo. O plano médio, em relação ao plano geral, cria uma proximidade maior com o trabalho manual que com a ação da máquina.
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Uma sequência de primeiros planos mostram mãos com luvas que lavam os objetos possivelmente retirados do rio. Há uma sobreposição entre essas imagens e a imagem de uma espuma que parece cobrir todos os planos. Esse recurso de linguagem aproxima a espuma do detergente à espuma que já vimos anteriormente no rio. E assim cria um efeito de ironia visual, já que o mesmo elemento usado para a limpeza é justamente um dos grandes poluentes.
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A escolha de filmar os objetos na galeria ao longe, em plano geral, reforça a dispersão do olhar do espectador, sensação similar à falta de atenção que os transeuntes dão aos objetos expostos. A câmera apresenta para o espectador a pergunta "Alguns destes objetos lhe pertence?", por meio de um movimento de câmera, o travelling lateral, que parece reproduzir o sentido da leitura e o movimento que poderiam ser do próprio espectador, se transformando em transeunte. Assim, a pergunta interpela também o espectador, sugerindo que ele, como os transeuntes, são os responsáveis pela degradação do rio.
Pescaria de merda. Coletivo Santa Madeira. Brasil, 2009, 8 min.
Agora, leia a descrição e a análise desse documentário:
Observação:
Nessa análise, por vezes, utilizamos uma linguagem técnica. O intuito é apontar quais são os efeitos causados pelo uso de certos recursos da linguagem audiovisual. Os termos técnicos estão assinalados. Acreditamos que, ao assistir o vídeo e ler a análise, não será difícil entender do que se trata. Mas, para saber a definição exata do(s) termo(s), você pode consultar tanto o Bloco 2, dedicado à linguagem audiovisual, quanto o Glossário.
O curta-metragem Pescaria de merda faz uma denúncia de cunho ambiental sobre o lixo descartado no Rio Pinheiros, na cidade de São Paulo. Num documentário clássico, tal denúncia seria realizada por meio de recursos tradicionais, tais como narração em voz over ou entrevistas, pois garantem que as informações sejam transmitidas de maneira direta, privilegiando a clareza de exposição – não à toa, são os recursos mais usados por uma reportagem de TV. Aqui, ao contrário, o documentário opta por um caminho diverso.
Logo de início, a pretensão de objetividade e imparcialidade são abandonadas. Chove na cidade, mas a chuva e seu efeito – o escoamento do lixo pelo esgoto – não aparecem em planos gerais, normalmente mais descritivos, pois situam bem a geografia da cena. O que vemos são planos fechados, pedaços da cidade sem uma localização precisa. Além disso, alguns planos são acompanhados de efeitos como desfoque de movimento e inversão de cores. Essa preferência pelos planos de detalhes e por efeitos na imagem marcam a opção do filme por apresentar o espectador a um olhar marcadamente subjetivo, que orientará as escolhas estéticas.
Essa opção é enfatizada pelo uso do som. O registro objetivo da chuva dá lugar a trechos de diferentes programas de rádio sintonizados pelos carros, criando uma pequena poluição sonora, que lembra a poluição visual depositada na cidade, servindo também para embaralhar a percepção do espectador. A objetividade do discurso vai cedendo espaço a uma construção mais indireta.
A escolha fica mais evidente na sequência seguinte, que se inicia aos 58 segundos, logo após o título. Se, por um lado, o plano geral de São Paulo serve para nos situar espacialmente – estamos às margens do Rio Pinheiros –, por outro somos apresentados, a seguir, a um grupo peculiar de personagens. Uma série de jovens, protegidos por uma indumentária amarela de corpo inteiro em pleno dia de sol, e portando outros apetrechos como chapéu e varas de pescar, caminha em direção ao rio. O filme não oferece nenhuma pista sobre quem são, mas pretende mesmo assim que nos identifiquemos com eles. Em mais de uma oportunidade, somos convidados a compartilhar o olhar desses personagens por meio de planos subjetivos, cujo propósito é exatamente o de colocar o espectador no ponto de vista do personagem, compartilhar suas perspectivas. E o olhar desses personagens nos mostra um trânsito torto, descompensado com o horizonte, e se interessa sobretudo pelo rio e pelo lixo que o polui.
Por meio dos planos subjetivos e da proximidade física da câmera em relação a esse grupo de personagens, criamos um vínculo com eles, mas não a ponto de percebermos suas individualidades. Não distinguimos quem é quem. O filme oferece poucos planos próximos dos rostos desses personagens, o que ajudaria a diferenciá-los. Também não nos deixa ouvir suas vozes, o que facilitaria a distinção, já que cada pessoa tem uma voz característica. Não há diálogos, ninguém conversa entre si – ou o filme não nos abre a possibilidade de acompanhar essas conversas. Ele prefere manter os personagens na categoria de grupo, um coletivo.
O registro do som é bastante peculiar. Tirando uma ou outra intervenção da cidade, como som do trem que passa, o filme não reproduz os sons que vemos, não reproduz os ruídos ou sons ambientes. A trilha sonora é ocupada majoritariamente por uma música, que não é uma música qualquer. Em vez de ser composta por uma melodia marcante, ela parece ser construída em cima de pedaços de sons concretos, encontrados na cidade, ou tocada por instrumentos pouco convencionais – talvez coisas apanhadas ao acaso na rua, destinadas ao lixo. A trilha é feita desse acumulado de sons, e às vezes traz um sentido paródico, como o som que acompanha a retroescavadeira, presente aos 4 min e 32 seg, que lembra o ruído agudo que sai de uma bexiga esticada pela boca, enquanto esvazia.
Diante dessas lacunas todas de informação, o que o filme privilegia é a ação dos personagens. Ele parece levar ao pé da letra a orientação clássica de que os filmes devem mostrar em vez de contar. Já instalados às margens do Rio Pinheiros, o grupo se prepara: arma suas varas de pescar e se refresca antes de realizar esse projeto inusitado e sem sentido já anunciado, lá atrás, no título, pescar o que sai do esgoto e chega no rio. Os planos abertos – planos americanos, planos de conjunto e planos médios – enfatizam, por um lado, que aquilo não é um truque, de fato o grupo está empenhado em mexer com a poluição do rio; por outro, deixam claro que tem muita coisa pra tirar até que se possa considerar o rio completamente limpo. Se nem a retroescavadeira, em sua ação mecânica diária, é capaz de dar conta, não é o grupo que vai salvá-lo. E a música, com uma melodia que passa a ser meio circense, colabora com a sensação de descompasso entre a ação pontual do grupo e o tamanho do problema.
Depois dessa pescaria no Rio Pinheiros, os objetos são levados para uma oficina, onde são limpos. Até aqui, só sabemos o que os personagens foram fazer. Ainda não sabemos quem eles são, e muito menos por quê. Em grande parte do documentário, permanecemos às cegas sobre o propósito dessa ação aparentemente despropositada. Pois é o fim do filme que decifrará para nós esse enigma.
Na esquina das avenidas Paulista e Consolação, os objetos pescados são exibidos numa instalação provocativa, que pergunta, a quem parar pra prestar atenção, se algum daqueles objetos lhe pertence. A provocação é enfatizada quando o plano em zoom in de uma cabeça de boneca funde-se com o que seria o plano subjetivo desse objeto inanimado. Essa pequena subversão – dotar de subjetividade um objeto sem vida – reforça, no entanto, o argumento contra a poluição. Afinal, se os objetos pertencem a alguém, se possuem vida, deveriam receber um cuidado maior em seu descarte. Além disso, o plano subjetivo acrescenta que a cidade segue indiferente, e os planos seguintes registram que ela continua seu passo sem se importar.
Abdicando de estratégias tradicionais do documentário clássico, o filme renova as estratégias de abordagem sobre um tema já saturado, o descaso com o esgoto e o lixo, e a consequente poluição do Rio Pinheiros. Ninguém desconhece o problema, e no entanto já nos tornamos insensíveis a ele. Por meio de um percurso indireto, de informações escassas, o filme consegue recolocar a questão, sensibilizando o espectador, instigando-o ao propor uma charada que só encontrará resposta ao final.
A maior parte dos espectadores tem nos programas jornalísticos de TV, como o telejornalismo, sua única referência de registro documental.
Um telejornal constitui-se de um mosaico de informações. Por causa disso, o tempo dedicado a cada assunto costuma ser breve. Essa escassez de tempo faz com que as informações não possam ser aprofundadas.
Nesse contexto, as entrevistas também costumam ser curtas. Muitas vezes, os entrevistados só aparecem nas matérias para ilustrar, confirmar, provar aquilo que está sendo dito. Por exemplo, nas entrevistas colhidas na rua (o chamado “povo fala” no jargão da TV), as pessoas não são mostradas como indivíduos nas suas particularidades, mas sim como categorias sociais: o desempregado, o endividado, o empresário de sucesso, o pai de família, o artista etc.
O próprio documentarismo brasileiro já se valeu (e por vezes ainda recorre a ele) dessa forma de entrevista. Em seu livro Cineastas e imagens do povo (1985), Jean-Claude Bernardet cunhou o termo “modelo sociológico” para se referir a tais documentários. Segundo esse cineasta e crítico cinematográfico, o modelo sociológico consiste, basicamente, na voz over de um locutor que narra – por cima das imagens – as ideias centrais do filme. Essas imagens são intercaladas por depoimentos de pessoas que dão crédito ao argumento sustentado pelo documentário. Enquanto os entrevistados representam a voz da experiência, a voz over nunca fala de si e possui um dono que não se identifica. A voz over, narrada em terceira pessoa, dissolve os entrevistados em estatísticas e ideias generalizantes. Dessa forma, os entrevistados funcionam como amostragem do discurso do narrador.
Na contemporaneidade, no entanto, o documentário tem tentado se afastar do modelo sociológico e investido em entrevistas que objetivam revelar as singularidades do homem comum. Para tanto, dedica tempo maior às personagens a fim de que elas possam se pôr em cena com toda a sua complexidade, gerando no espectador interesse por suas histórias de vida, por aquilo que dizem e fazem, e não apenas pelo que representam ou ilustram na escala social e no contexto da cultura.
1. Comece perguntando aos alunos se eles costumam assistir ou já assistiram a um documentário. Anote os exemplos que surgirem para que você possa investigá-los em aulas subsequentes.
2. Procure saber quais foram as mídias através das quais eles assistiram aos documentários mencionados: televisão (em canais abertos ou por assinatura), cinema, internet (YouTube, Vimeo etc.), e se na percepção deles os documentários adquirem propriedades distintas de acordo com o veículo onde foram exibidos. Por exemplo, maior ou menor credibilidade, maior ou menor cuidado estético no tratamento das imagens, do som, da edição etc.
3. Exiba trechos de telejornal onde apareçam entrevistas no estilo “povo fala”, aquelas entrevistas de rua. Leve os alunos a perceberem como as pessoas entrevistadas geralmente são apresentadas, não como sujeito singular, mas como representantes de uma categoria social (o pobre, o trabalhador, o desabrigado etc.).
4. Exiba o curta-metragem de caráter documental, indicado abaixo, sobre o alfaiate Manoel Santos. O objetivo é mostrar aos alunos(as) o quanto difere das reportagens televisivas na forma de dar a conhecer a personagem. Se desejar, leia aqui um breve comentário que pode ajudá-lo(a) a refletir sobre como trabalhar esse filme com seus/suas alunos(as).
Esse curta faz parte da Série Ofícios, que fala de profissões em extinção. Diferente da entrevista jornalística tradicional, que investiria predominantemente em perguntas sobre o ofício em si, as quais poderiam ser respondidas por qualquer alfaiate, o minidocumentário se interessa pela vida particular de seu Manoel dos Santos. Observe que, embora aborde aspectos mais previsíveis de uma matéria que busca elucidar o ofício de alfaiate, por exemplo, saber quando e de que forma o sr. Manoel ingressou nessa profissão, o curta adentra terrenos inusitados, como sua relação com a morte. Perceba como o próprio tempo de condução da conversa é lento, pausado, em consonância com a temática da série que aborda profissões em vias de extinção. A fala final do sr. Manoel, no entanto, se contrapõe a todo esse cenário de desaparecimento. Assim como seu ofício sobrevive num mundo de roupas padronizadas e industrializadas, ele também resiste. É “teimoso”. Diz não querer morrer e pede à equipe de filmagem que não se esqueça dele. Nesse momento seu rosto ocupa a tela inteira. Toda a atenção está sendo dirigida à sua pessoa. Leve os alunos a notarem que a própria forma de captação das imagens em primeiro plano e plano detalhe (agulha, carretel de linha) traduz a delicadeza do mundo do sr. Manoel. Tudo isso contribui para dar ao filme um tom poético.
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Esse curta faz parte da Série Ofícios, que fala de profissões em extinção. Diferente da entrevista jornalística tradicional, que investiria predominantemente em perguntas sobre o ofício em si, as quais poderiam ser respondidas por qualquer alfaiate, o minidocumentário se interessa pela vida particular de seu Manoel dos Santos.
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O filme apresenta o personagem pelo seu espaço de trabalho, por meio de planos detalhes de diferentes objetos ligados ao ofício: cabides e arara; maquinário de costura; calça de alfaiataria. E pela voz off do personagem, que parece preencher todo o espaço. Para em seguida revelar Santos trabalhando, por meio de em planos médios, planos detalhes e planos gerais que vão compondo o espaço e a natureza do trabalho.
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A escolha de enquadramento das imagens em primeiro plano e plano detalhe (agulha, carretel de linha, máquina de costura) valorizam a precisão e delicadeza do mundo do sr. Manoel e contribui para dar ao filme um tom poético.
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Observe que, embora aborde aspectos mais previsíveis que buscam elucidar o ofício de alfaiate, por exemplo, saber quando e de que forma o sr. Manoel ingressou nessa profissão, o curta adentra terrenos inusitados, como sua relação com a morte. Perceba como o próprio tempo de condução da conversa é lento, pausado, em consonância com a temática da série que aborda profissões em vias de extinção.
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A fala final do sr. Manoel, no entanto, se contrapõe a todo esse cenário de desaparecimento. Assim como seu ofício sobrevive num mundo de roupas padronizadas e industrializadas, ele também resiste. É “teimoso”. Diz não querer morrer e pede à equipe de filmagem que não se esqueça dele. Nesse momento, seu rosto ocupa a tela inteira, em BIG CLOSE. Toda a atenção está sendo dirigida à sua pessoa.
Santos – ofício alfaiate. Dannyel Leite. Brasil, 2014, 8 min e 36 seg.