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A Montagem (ou Edição) é o momento crucial na produção de um filme, pois é aí que se constrói, de fato, a narrativa cinematográfica. É o processo pelo qual se seleciona e se une as cenas filmadas, agora, na sequência desejada para exibição. Não se trata meramente de um trabalho técnico de “colar partes” de um filme, mas de pensar criativamente a construção de sentidos pela imagem. Dessa forma, a montagem consiste na criação de relações entre os planos.
A arte de montar tem a seu dispor várias técnicas diferentes que envolvem os diversos tipos de corte e transições entre as cenas. Por meio desses cortes e transições pode-se estabelecer relações de semelhança, oposição, implicação, continuidade etc., entre os planos de um filme.
São muitos os tipos de cortes existentes. Resumimos, a seguir, alguns deles.
No vídeo abaixo, você pode conferir mais uma vez os cortes que acabou de conhecer:
Técnicas de edição: Tipos de cortes. André Sarti, 2016. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=mgxu-L4qZsg>.
Além dos cortes, a passagem de um plano a outro pode ser feita de maneira mais suave, através de efeitos de transição. Vamos conhecer alguns desses efeitos:
Vale falar ainda de alguns outros recursos da linguagem cinematográfica que permitem criar distintos efeitos de temporalidade na narrativa fílmica:
Elipse – passagem de tempo.
Flashback – cena que interrompe o fluxo temporal dos acontecimentos para apresentar algo situado no passado. A seguir um exemplo de flashback:
Band of Brothers. Phil Alden Robinson, Richard Loncraine. Estados Unidos, 2001. Trecho.
Flashforward – cena que interrompe o fluxo temporal dos acontecimentos para apresentar algo situado no futuro.
Veja um exemplo:
Sherlock Holmes. Guy Ritchie. Estados Unidos, 2009, 129 min. Trecho. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=bpVfClMnaR0>
Quick Motion – câmera rápida, movimento acelerado.
Veja um exemplo:
Slow Motion – câmera lenta, movimento retardado.
Amor à flor da pele. Wong Kar-Wai. Honk Kong / China / França, 2000, 108 min. Trecho.
Freeze – congelar, manter estática uma imagem.
Os incompreendidos. François Truffaut. França, 1959, 99 min. Trecho.
Split Screen – divisão da tela, mostrando dois acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo.
Kill Bill – Vol. 1. Quentin Tarantino. Estados Unidos, 2003, 112 min. Trecho. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=dWI4G9PB31c>.
Ao final, deve estar claro que cortes, transições e efeitos ajudam a construir determinados efeitos de sentido na edição.
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Ao intercalar na edição planos de Fred Astaire dançando e Garrincha jogando futebol, o filme estabelece uma relação de continuidade e semelhança entre ações que a princípio podem parecer muito distintas: jogar e dançar.
Essa aproximação promovida pela edição é possível graças à utilização do Match cut, técnica que combina, na montagem, cenas distintas: os movimentos de sapateado de Fred Astaire são sucedidos pelos dribles de Garrincha e vice-versa; enquanto um domina a bola, o outro transforma um objeto inusitado, o mancebo, em parceiro de dança.
O cuidado em relação ao ponto de corte de cada cena e a forma de conectá-las é que produz o efeito de continuidade. A trilha musical também é essencial nesse sentido, tanto para a sensação de continuidade quanto para o ritmo das ações que se encadeiam.
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Nessa segunda parte do trailer, as legendas, recurso inserido durante a edição do filme, desempenham importante papel. Primeiro, veremos um homem e o texto na tela nos diz seu nome, data de nascimento e de morte. Em seguida, a informação de sua profissão, alfaiate, o que causa certa surpresa e até um efeito cômico. O que estaria fazendo um alfaiate no topo da Torre Eiffel? E por fim, temos a graça final: surge a legenda "Objetivo imediato", com uma imagem sobreposta à imagem anterior, por meio de um efeito visual: uma pomba branca voando. Juntando as duas imagens compreendemos que o objetivo do alfaiate, também inventor, era voar. E é a edição que permite esse jogo entre o texto verbal e as imagens.
Nós que aqui estamos, por vós esperamos. Marcelo Masagão. Brasil, 1999, 73 min. Trecho.
Depois, discuta com os alunos(as) que tipo de corte e quais transições estão presentes no trailer. Observe as relações de continuidade estabelecidas entre as cenas de Fred Astaire e as de Garrincha. A forma como uma cena se conecta à outra é característica de que tipo de corte cinematográfico? Que efeitos as fusões e sobreposições de imagens adquirem nas cenas do alfaiate? E as fusões entre as cenas da cidade e as de fábrica quais sentidos provocam?
Agora, leia os comentários sobre o trailer.
Se desejar, você pode assistir ao filme completo aqui. Se houver tempo, também é possível exibi-lo na íntegra para os alunos(as) ou selecionar trechos com os quais consiga trabalhar em sala de aula.
Para ajudá-lo(la) a refletir, leia os comentários sobre o trailer:
Nós que aqui estamos, por vós esperamos tem uma hora e treze minutos de duração. Na maior parte desse tempo, Masagão utiliza imagens de arquivo (fotografias, filmes antigos, registros de TV) para contar uma “breve história do século XX”.
O filme não tem locução ou entrevistas. A história do século passado vai sendo relatada por meio das imagens que são intercaladas por títulos e legendas.
O filme não possui somente acontecimentos históricos e personalidades que marcaram o século XX, mas também pessoas anônimas. Assim, Masagão vai criando uma tessitura bastante interessante entre eventos importantes do século XX e a vida cotidiana desse período. Tudo isso para mostrar que a história é feita tanto por grandes quanto por pequenos acontecimentos e personagens.
Um dado bastante relevante na construção do filme é a edição , ou seja, a forma como o diretor relaciona uma imagem a outra para construir sentidos. Muitas vezes, Masagão estabelece metáforas visuais para dizer o que pretende. Para tanto usa várias das técnicas de edição existentes.
Ao fazer uso dessas técnicas, ele consegue potencializar o sentido das imagens. A trilha sonora é outro elemento importante na construção de sentidos. Tudo isso fica evidente no próprio trailer do documentário.
Perceba as relações de continuidade que Masagão estabelece entre as cenas de Fred Astaire dançando e as de Garrincha jogando futebol. Apesar de serem cenas que retratam ações, a princípio, em nada parecidas, ele costura uma a outra de forma muito harmoniosa a ponto de o espectador conseguir enxergar ali uma dança imaginária entre sapateado e futebol. Isso é possível porque ele utiliza a técnica do Match cut, que combina cenas distintas, mas que mantêm entre si algum tipo de semelhança.
Por exemplo, os movimentos de sapateado de Fred Astaire são sucedidos pelos dribles de Garrincha em campo. As mínimas paradas da dança do bailarino são conectadas às paradinhas do jogador frente a seus adversários. É esse cuidado com relação ao ponto de corte de cada cena e a forma de conectá-las que produz o efeito de continuidade. A trilha tem também papel fundamental na construção do efeito de continuidade dessa sequência , pois, dá ritmo às ações que se encadeiam.
A segunda sequência do trailer mostra a figura de um homem vestido com uma indumentária estranha na Torre Eiffel. De início, ao lado da imagem do homem, aparece a legenda “M. Reisfeldt, 1867-1911”. Inferimos que se trata de informações sobre a identidade do sujeito em tela e sua data de nascimento e morte. Depois somos informados por outra legenda de seu ofício – “Profissão: alfaiate”. Por fim, surge a legenda “Objetivo imediato”, seguida da imagem de uma pomba branca sobreposta à imagem anterior.
Juntado as duas imagens, deduzimos que o objetivo do alfaiate e inventor Reisfeldt era voar. Isso nos é dito pelo jogo entre texto verbal e imagens. E é a edição que permite esse jogo.
A sequência final do trailer mostra uma fusão de várias imagens: fábricas, trens, pessoas e carros transitando pelas cidades. Todos esses são signos da modernidade que marcou o início do século XX. Além da fusão, essas imagens surgem na tela em ritmo acelerado, conotando a rápida e radical mudança de um século para o outro.
A par de todo esse complexo jogo entre imagens e sons proporcionado pela montagem , faça os alunos perceberem as muitas estratégias de construção de sentido que esse breve trailer carrega.