Bloco 1

Oficina 2

Etapa 5

Documentário performativo

Os documentários performativos caracterizam-se por uma abordagem essencialmente subjetiva, trazendo o próprio documentarista para o centro do filme. O diretor torna-se personagem, narrador e protagonista da história.

Nesses filmes, é comum o discurso em primeira pessoa, a narração em voz over pessoalizada, a autorreflexão, a utilização de imagens de arquivo, a ironia e o humor e a encenação como forma de reinventar a si mesmo.

Bill Nichols observa que os documentários performativos correm o risco de se tornarem narcisistas e também de estarem ameaçados pela possível dificuldade do realizador de se encarar como personagem, resgatar sua memória, lidar com suas instabilidades emocionais, suas dúvidas, suas perdas etc.

Abaixo, um exemplo de documentário performativo. Assista a ele e leia a análise:

Dica: ao longo do filme você verá alguns comentários da equipe do Programa Escrevendo o Futuro. Se desejar assistir sem as observações, clique no ícone de comentários para desativá-los.

Babás. Consuelo Lins. Brasil, 2010, 20 min.

Agora, leia uma breve análise do curta-metragem.

Atividades

1. Exiba o trailer de Diário de uma busca (2011), de Flávia Castro:

Diário de uma busca. Flávia Castro. Brasil, 2010, 108 min. Trailer.

Faça com que os alunos(as) a percebam que logo nos minutos iniciais importantes características do documentário performativo estão presentes.

A fim de auxiliá-lo(a) a identificar as estratégias de performatividade, situamos brevemente o contexto do documentário e indicamos algumas linhas de abordagem.

Breve contextualização

Em 1984, quando Flávia tinha 19 anos, seu pai, Celso Afonso Gay de Castro, morreu em circunstâncias misteriosas. O filme traz entrevistas da diretora com familiares, policiais, jornalistas, legistas e amigos que falam não apenas da morte de seu pai, mas da vida dele em família e de sua militância política durante a ditadura militar da década de 1960. No documentário, mais do que elucidar o crime que vitimou o pai, Flávia busca resgatar a memória dele.

Linhas de abordagem da performatividade

É Flávia quem narra o documentário. É dela a voz que ouvimos durante a exibição de imagens e entrevistas. Ela faz questionamentos sobre o passado e vai em busca de algumas informações sobre o pai.

Chame a atenção dos alunos(as) para o fato de o discurso em primeira pessoa, a narração voz em off pessoalizada, as estratégias de autorreflexão e a utilização de imagens de arquivo são recursos que conferem forte carga subjetiva ao documentário. Aí estão as estratégias de performatividade.

Conheça outros exemplos de documentário performativo que você pode usar em sala de aula clicando no título dos seguintes filmes:

33. Kiko Goifman. Brasil, 2002, 74 min.

Um passaporte húngaro. Sandra Kogut. Brasil, 2001, 72 min.

Os dias com ele. Maria Clara Escobar. Brasil, 2012, 105 min.

2. Peça aos alunos(as) que procurem uma foto antiga de família para filmá-la e ao mesmo tempo gravar um comentário pessoal sobre a imagem.

3. Analise em sala os trabalhos produzidos, prestando atenção à forma como, nos comentários dos alunos(as), o passado evocado pela imagem fotográfica retorna ao presente.

Para saber mais

Documentários performativos de ativismo político

A pesquisadora Stella Bruzzi (Bruzzi, 2006, apud Valles, 2016) classifica como performativos os documentários em que o realizador intervém em espaços públicos, mesmo com a negativa de autoridades ou instituições concederem permissão para o registro audiovisual, e se coloca nesses ambientes de maneira intrusiva. Bruzzi afirma que, em geral, os diretores desse tipo de documentário praticam ativismo político ou abordagem de cunho investigativo. Ainda segundo a autora, com base no uso midiático de seus atos performáticos e numa abordagem narrativa que transita entre o irônico e o sarcástico, esses filmes buscam mostrar o real por uma perspectiva assumidamente parcial, na mesma medida em que também se reconhecem como entretenimento.

Os filmes do diretor americano Michael Moore  são um exemplo desse tipo de documentário. Moore é conhecido pela sua postura crítica à sociedade americana, sobretudo em relação à violência armada nos Estados Unidos, às grandes corporações, às desigualdades econômicas e sociais e à hipocrisia dos políticos, tendo sido particularmente crítico ao ex-presidente George W. Bush e à invasão do Iraque.

Para conhecer alguns documentários de Michael Moore, clique nos títulos abaixo:

Tiros em Columbine. Estados Unidos, 2002, 120 min.

Fahrenheit 9/11. Estados Unidos, 2004, 122 min.

SiCKO: SOS Saúde. Estados Unidos, 2007, 123 min.