Oficina 3

Etapa 5

Paráfrase / Paródia Coletiva

Sobre a organização dos dois blocos de versos

Sintaticamente, os dois versos de Otávio Roth se organizam pela enumeração de expressões nominais diversas:

a) substantivo seguido de adjetivo ou locução adjetivapijama de flanelaalmoço de domingorevoada de flamingo;

b) substantivo seguido de adjunto adverbialpassarinho na janelabrigadeiro na panela;

c) substantivo seguido de oração adjetivaherói que fuma cachimbo;

As expressões nominais – substantivos, adjetivos e palavras que exercem essa função – nomeiam os elementos da realidade de forma estática, enquanto os verbos nomeiam os elementos da realidade de forma dinâmica. Levando isso em conta, podemos dizer que os versos de Otávio Roth tendem para o estático, pelo predomínio de expressões com valor nominal; já nos versos de Ruth Rocha, empregam-se tanto substantivos quanto formas verbais no infinitivo: Ver gelatina tremendo no prato / Nadar depressa usando pé de pato / Mostrar a língua pra tirar retrato. Este recurso sugere dinamismo.

Atividades

  1. A turma vai observar as duas listas de “coisinhas” importantes para a felicidade do e da poeta e, talvez, de outras pessoas. Tanto as banais quanto as essenciais são importantes, todas preenchem nossa vida.
  2. Procure levar a classe a observar que tanto a sonoridade – as rimas – quanto a combinação de palavras – organização sintática – contribuem para o sentido do texto e garantem sua unidade, sua composição coerente. No poema, todos os aspectos são importantes para a significação do texto.
  3. Em seguida, os alunos e alunas vão compor, em grupos, um poema com recursos parecidos. Assim, deverão criar um texto com as seguintes características:
    • semelhante a uma lista – de meia dúzia, de uma dúzia, duas ou três dúzias de coisas que considerem importantes;
    • composto de cinco ou mais versos – que apresentem rimas internas e, se possível, externas.

    Os alunos e alunas podem optar novamente por uma paráfrase ou por uma paródia dos versos lidos.

  4. Peça a cada aluno ou aluna que pense numa “coisinha” e a anote no caderno. A palavra selecionada deve combinar com outras para compor uma expressão. A seguir, cada qual vai procurar dois colegas cuja expressão rime com a sua. Incentive os alunos e alunas a buscar palavras e encontrar rimas para elas. Sugira-lhes que façam listas e procurem termos no dicionário. Você pode utilizar um dicionário impresso ou um dicionário virtual. Devem evitar o uso de aumentativo e diminutivo, porque esta seria uma solução fácil e por vezes empobrecedora. Dê atenção a todos os grupos para ajudá-los com sugestões, quando for preciso.
  5. Se os alunos e alunas não conseguirem outras expressões com a mesma rima, deverão mudar as palavras, buscar sinônimos ou trocar as escolhas, até juntar três com as mesmas rimas. Formam-se assim grupos de três pessoas, sendo importante que cada trio obtenha três “coisinhas” incluídas em três expressões que rimem.
  6. Em seguida, caso optem por criar como Otávio Roth, o trio vai compor um verso, comparando as escolhas de cada um de seus membros, para decidir em que ordem elas vão aparecer: qual a primeira, a segunda, a terceira. Cada trio apresentará, então, o que compôs. O conjunto talvez resulte num longo poema. Para compô-lo, apresente os versos para a classe que, em conjunto, vai decidir em qual ordem eles devem figurar no poema. Você pode orientar essa organização, por exemplo, do particular para o geral ou o inverso – tudo dependerá do que vai ser proposto pelos alunos.
  7. Caso prefiram uma coisinha por verso, como fez Ruth Rocha, devem decidir em que ordem colocar as três selecionadas, para compor um poema, como o da poeta. O processo seguinte será o mesmo apontado acima: apresentar os versos para que a classe, em conjunto, selecione a ordem na estrofe de três versos e, depois, organize os tercetos criados para compor o poema.
  8. Ao comporem os versos, podem optar pelo uso exclusivo de nomes, sugerindo estaticidade; ou usar também verbos, que indiquem dinamismo.
  9. Chega então a vez do título. Conte quantas coisinhas à toa deixam a classe feliz e peça aos alunos que sugiram um título para os poemas.

Sugestão de atividade complementar: mais quadras

Atividades

  1. Embora seja uma forma poética popular, a quadrinha também está presente em obras consideradas cultas. Grandes poetas compuseram quadrinhas, entre os quais Fernando Pessoa, um dos mais consagrados poetas da língua portuguesa.
  2. Os estudiosos de sua obra registraram mais de quatrocentas quadras, algumas sem data. Acredita-se que ele tivesse a intenção de compor um livro com elas, mas isso nunca ocorreu.
  3. Antes de iniciar os exercícios, explique à turma que muitos poetas usam pseudônimo: um nome inventado para assinar alguns poemas ou até mesmo livros. O estilo da produção com nome verdadeiro e aquele com pseudônimo se assemelham. Já com o heterônimo isso não ocorre. Nesse caso, o poeta ou a poeta assume outra personalidade, outro modo de compor, outro estilo. A obra do heterônimo não se parece com aquela assinada pelo próprio poeta.
  4. Inicie a atividade apresentando Fernando Pessoa aos alunos e alunas. Fale da importância dele e leia a frase que ele escreveu sobre as quadras: “A quadra é um vaso de flores que o Povo põe à janela da sua alma”.

Fernando Pessoa, Lisboa (Portugal), 1888-1935. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Em sua obra, ele usou vários heterônimos, que formavam personalidades completas: tinham biografia, estilos literários próprios, maneiras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encarnasse outras pessoas imaginadas por ele. Em alguns poemas, Pessoa assinava o próprio nome. Em outros, assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da natureza e preferia linguagem e vocabulário simples. Em outros ainda, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma humanística de ver o mundo e procurava um equilíbrio similar ao dos clássicos. Outro heterônimo era Álvaro de Campos, um poeta moderno, um homem identificado com o gosto e os costumes de seu tempo. Clique aqui para conhecer mais sobre o poeta.

    1. Projete as “Quadras ao gosto popular” em classe, por meio de datashow e ouça a leitura com a turma.

Quadras ao gosto popular

Eu tenho um colar de pérolas

Enfiado para te dar:

Enfiado para te dar:

O fio é o meu penar.

Quadra 2 (27/8/1907)

A caixa que não tem tampa

Fica sempre destapada.

Dá-me um sorriso dos teus

Porque não quero mais nada.

Quadra 9 (11/7/1934)

No baile em que dançam todos

Alguém fica sem dançar.

Melhor é não ir ao baile

Do que estar lá sem lá estar.

Quadra 17 (4/8/1934)

Vale a pena ser discreto?

Não sei bem se vale a pena.

O melhor é estar quieto

E ter a cara serena.

Quadra 18 (18/8/1934 – data provável)

Não digas mal de ninguém,

Que é de ti que dizes mal.

Quando dizes mal de alguém

Tudo no mundo é igual.

Quadra 62 (11/9/1934)

Fernando Pessoa. Obra poética VI. Porto Alegre: L&PM, 2008.

  1. Peça à turma que leia novamente as quadrinhas. Pergunte-lhes que palavras rimam em cada quadra. Observe com eles que nas três primeiras quadras o segundo verso sempre rima com o quarto: dar/penar; destapada/nada; dançar/estar. Nas duas últimas, o primeiro verso rima com o terceiro: discreto/quieto; ninguém/alguém; e o segundo com o quarto: pena/serena; mal/igual.
  2. Caso prefiram uma coisinha por verso, como fez Ruth Rocha, devem decidir em que ordem colocar as três selecionadas, para compor um poema, como o da poeta. O processo seguinte será o mesmo apontado acima: apresentar os versos para que a classe, em conjunto, selecione a ordem na estrofe de três versos e, depois, organize os tercetos criados para compor o poema.
  3. A seguir, peça para cada grupo criar uma quadra. Se verificar que eles têm dificuldade para iniciar, sugira um primeiro verso. Veja alguns exemplos:
    • Essa noite tive um sonho…
    • Você diz que sabe tudo…
    • Menina dos olhos tristes…
    • Atirei um cravo n’água…
    • Você vive reclamando…
    • Que passeio divertido…
    • Um jardim cheio de flores…
    • Uma máquina moderna…
    • Meu medo de tempestade…
    • Na curva daquele rio…
  4. Assim que terminarem, peça-lhes que leiam as quadras para a turma. Depois de revisadas, elas deverão ser passadas a limpo e divulgadas, pode ser no mural ou no blog da turma.