Oficina 5

Etapa 4

Brincando de contar sílabas poéticas

    1. Peça à turma que copie as duas primeiras estrofes do poema “Brasil”, de Eliane Potiguara. Explique que nessa atividade vamos aprender a separar e contar sílabas poéticas e que para isso teremos que treinar dizer os versos em voz alta, para saber quais sons se juntam uns aos outros.
    2. Solicite que encontrem a última sílaba forte de cada verso (pois na contagem de sílabas poéticas esta é sempre a última que vale para o número final).
    3. Depois que encontrarem a última sílaba tônica de cada verso, apresente um modelo de contagem para a primeira estrofe:

Que/ fa/ço/ com a/ mi/nha/ ca/ra/ de/ ín/dia? (10 sílabas poéticas)

E/ meus/ ca/be/los (4 sílabas poéticas)

E/ mi/nhas/ ru/gas (4 sílabas poéticas)

E/ mi/nha his//ria (4 sílabas poéticas)

E/ meus/ se/gre/dos? (4 sílabas poéticas)

    1. As crianças vão estranhar uma divisão silábica como essa, que junta “pedaços” de palavras diferentes em uma única sílaba (versos 1 e 4), então, pergunte o que acham dessa proposta de divisão, se concordam em separar dessa forma as sílabas e qual o total de sílabas em cada verso. É provável que discordem da divisão e da contagem apresentada, então explique a elas que os sons valem mais do que a escrita, na hora de contar sílabas poéticas. Por exemplo, numa leitura “corrida”, não fazemos pausa entre as palavras “minha” e “história”: falamos “minhistória”, como se fossem uma única palavra. Se não se convencerem, peça a um voluntário ou voluntária que fique repetindo as duas palavras, como um trava-línguas, cada vez mais rápido. Depois pergunte aos demais se ouviram “minha história” ou “minhistória”. Então peça para que separem as sílabas de “minhistória”: mi/nhis/tó/ria
    2. Se necessário, chame a atenção para a diferença entre a fala e a escrita em muitas frases do dia a dia da própria turma (escolha frases comuns do cotidiano, por exemplo a saudação “beijos, com amor”: pergunte se pronunciam “beijos, com amor”, ou “beijos, c’amor”). Reforçe que na poesia contamos as sílabas ouvindo os sons e não vendo a forma como foram escritos os versos.
    3. Peça que tentem separar as sílabas poéticas da segunda estrofe (ela mantém a mesma estrutura: 10 no primeiro verso e 4 nos demais), depois faça perguntas:
      • notaram alguma semelhança entre a primeira e a segunda estrofe? (devem notar que têm a mesma estrutura métrica)
      • o fato de a autora usar a mesma medida nas duas estrofes tem algum impacto no ritmo do poema? (Devem notar que provoca um ritmo estável)
    4. Retome, em seguida, o poema “Trem de Ferro”, de Manuel Bandeira, especificamente o trecho:

(…)

Oô…

Vou mimbora

Vou mimbora

Não gosto daqui

Nasci no sertão

Sou de Ouricuri

    1. Divida a turma em grupos e peça que contem as sílabas do poema.
    2. Pergunte se o poema tem uma forma fixa (mesma quantidade de sílabas em cada verso) ou não. Eles e elas deverão notar que não há uma forma fixa, pois os versos variam em tamanho e em quantidade de sílabas poéticas.
    3. Pergunte que sensação as variações de medidas (quantidade de sílabas nos versos) provoca em quem lê. Ajude a turma a perceber que os versos regulares lembram o trem em movimento, enquanto que os irregulares sugerem parada súbita (“virge maria que foi isso maquinista”) ou desaceleração. Se necessário, repasse o vídeo “Trem de ferro/Manuel Bandeira”.
    4. Chame a atenção para os versos em destaque (vou mimbora/ vou mimbora) e pergunte se a escrita está correta (vou-me embora). Ajude a turma a levantar hipóteses sobre a escolha do poeta ao grafar duas palavras como se fossem uma só. Teria a ver com manter o ritmo que imita o trem de ferro? Tem a ver com o jeito que falamos popularmente? Aqui, todas as hipóteses são bem vindas, mas aproveite para reforçar a diferença entre linguagem escrita e falada, e sobre a contagem de sílabas poéticas levar em conta a fala, mais que o jeito que escrevemos.
    5. Projete agora o poema “Tem gente com fome”, de Solano Trindade, já com as marcações das sílabas poéticas.

Tem gente com fome

Trem sujo da Leopoldina (8)

correndo correndo (5)

parece dizer (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

 

Piiiiii (1)

 

Estação de Caxias (6)

de novo a dizer (5)

de novo a correr (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5

 

Virio Geral (5)

Lucas (1)

Cordovil (3)

Brás de Pina (3)

Penha Circular (5)

Estação da Penha (5)

Olaria (3)

Ramos (1)

Bom Sucesso (3)

Carlos Chagas (3)

Triagem, Mauá (5)

trem sujo da Leopoldina (8)

correndo correndo (5)

parece dizer (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

 

Tantas caras tristes (5)

querendo chegar (5)

em algum destino (5)

em algum lugar (5)

 

Trem sujo da Leopoldina (8)

correndo correndo (5)

parece dizer (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

tem gente com fome (5)

 

nas estações (5)

quando vai parando (5)

lentamente começa a dizer (9)

se tem gente com fome (6)

de comer (4)

se tem gente com fome (6)

de comer (4)

se tem gente com fome (6)

de comer (4)

 

Mas o freio de ar (6)

todo autoririo (5)

manda o trem calar (5)

Psiuuuuuuuuuuu (1)

 

Professora, clique aqui para saber mais sobre Solano Trindade.

  1. Leia o poema em voz alta, com a colaboração da turma: as partes destacadas (o refrão), as que estiverem dentro do retângulo, devem ser lidas em coro. Ensaie algumas vezes esse coro, para ficar bonito.
  2. Peça para compararem os dois poemas sobre trem de ferro. (Devem notar que a métrica dos dois poemas contém períodos de maior e menor regularidade, mas que ainda assim é possível “ouvir” o trem de ferro.

Sugestão de atividade complementar: Para brincar com sons

Atividades

  1. Fale rapidamente um trava-língua que você conhece ou escolheu na lista a seguir (treine bem antes, para não fazer feio!). Pergunte aos alunos se conhecem algum outro e peça-lhes que os digam para a classe e os anotem. Depois, copie os exemplos da lista e desafie os alunos a decorá-los e apresentá-los para o grupo. Se preferir, projete-os com o auxílio do datashow.

Trava-línguas

    • Um tigre, dois tigres, três tigres.
    • A pipa pinga, o pinto pia, quanto mais o pinto pia, mais a pipa pinga.
    • Olha o sapo dentro do saco, o saco com o sapo dentro, o sapo batendo papo e o papo soltando vento.
    • Não tem truque, troque o trinco, traga o troco e tire o trapo do prato. Tire o trinco, não tem truque, troque o troco e traga o trapo do prato.

Domínio público.

    1. Divida a classe em grupos. Cada um deles ficará responsável por um trava-língua.
    2. Dê-lhes um tempo para que se preparem, pois um aluno de cada grupo será sorteado para apresentar o trava-língua. Falar trava-línguas é uma verdadeira arte e com certeza a turma vai se divertir muito.
    3. Depois desse primeiro momento, vocês irão ouvir algumas das “travatrovas” de Ciça. Então, projete-as por meio de datashow e convide-os a lê-las.

O pedreiro Pedro Alfredo

O pedreiro Pedro Alfredo,

o Pedro Alfredo Pereira,

tramou tretas intrigantes,

transou truques, pregou petas,

pois Pedro Alfredo Pereira

é um tremendo tratante!

Se um dia me der na telha

Se um dia me der na telha

eu frito a fruta na grelha

eu ponho a fralda na velha

eu como a crista do frango

eu cruzo zebu com abelha

eu fujo junto com a Amélia

se um dia me der na telha.

Chegou “seu” Chico Sousa

Só sei que “seu” Chico Sousa

chegou e trouxe da China

a seda xadrez da Célia

o xale roxo da Sônia

o xale cinza da Sheila

e a saia chique da Selma.

Ciça. Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. © Ciça Alves Pinto.

  1. Você pode solicitar a alguns dos alunos – por exemplo, os que se saíram melhor na 1ª etapa – que leiam em voz alta os poemas. Peça-lhes que observem as aliterações presentes nos trava-línguas e nos travatrovas.
  2. Em seguida, em duplas ou mesmo individualmente, os alunos deverão criar novos trava-línguas ou travatrovas e anotá-los. Oriente-os, dando dicas. Por exemplo: usar palavras que tenham encontros consonantais seguidos de r ou l (br, bl; cr, cl; dr, dl; fr, fl; gr, gl; pr, pl; tr, tl; vr, vl) ou palavras cujos sons sejam parecidos, como s ou c/x (cedo, passe, próximo), ch/x (chave/xarope) ou, ainda, alternar palavras com r/rr (caro/carro) e s/ss (casa/passa).
  3. Os alunos podem ler para o grupo os trava-línguas deles ou então trocá-los entre si, para uma leitura do que foi produzido.
  4. Peça-lhes que passem a limpo o que produziram para ser exposto no mural ou postado no blog da turma.

Para brincar com a métrica

    1. Divida novamente a sala em duas equipes e projete novamente essas duas travatrovas de Ciça

Se um dia me der na telha

Se um dia me der na telha

eu frito a fruta na grelha

eu ponho a fralda na velha

eu como a crista do frango

eu cruzo zebu com abelha

eu fujo junto com a Amélia

se um dia me der na telha.

Chegou “seu” Chico Sousa

Só sei que “seu” Chico Sousa

chegou e trouxe da China

a seda xadrez da Célia

o xale roxo da Sônia

o xale cinza da Sheila

e a saia chique da Selma.

Ciça. Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. © Ciça Alves Pinto.

    1. Sorteie para ver qual equipe ficará com qual texto.
    2. Explique que terão o desafio de separar em sílabas poéticas cada verso do texto que correspondeu à sua equipe.
    3. Vence o desafio o grupo que separar primeiro e corretamente todas as sílabas poéticas.
    4. Use este gabarito para comparar com as respostas de suas equipes:

Se um dia me der na telha

Se um dia me der na telha

eu frito a fruta na grelha

eu ponho a fralda na velha

eu como a crista do frango

eu cruzo zebu com abelha

eu fujo junto com a Alia

se um dia me der na telha

 

Chegou “seu” Chico Sousa

seique “seu” Chi co Sousa

che goue trouxe da China

a seda xadrez da lia

o xale roxo da nia

o xale cinza da Sheila

e asaia chique da Selma

  1. Os versos do Travatrova estão todos em redondilha maior – o que significa que têm sete sílabas poéticas cada um – uma vez que encontrem a medida de dois versos, logo perceberão que esses poemas têm forma fixa, ou seja, todos os versos têm a mesma medida. Desafio um pouco maior será separar e contar corretamente. Lembre as equipes de que, na hora de contar sílabas poéticas, devem levar em consideração a pronúncia dos versos, não sua grafia. Lembre-as também de que só se conta até a última sílaba tônica da última palavra de cada verso. A organização de cada equipe, para que terminem mais rapidamente é livre: podem criar uma comissão, dividir um verso para cada três integrantes da equipe ou outra forma: o importante é dividir corretamente e no menor tempo possível.
  2. Após ambas as equipes apresentarem seus trabalhos de contagem, projete o gabarito, verifique quem acertou mais e declare a vencedora.
  3. Ao projetar o gabarito, mostre como cada cor está correspondendo a uma sílaba poética. Pergunte porque algumas sílabas não foram coloridas. Eles e elas deverão notar que as últimas sílabas estão sem cor e, caso não se recordem, reitere que tudo o que vem após a última sílaba tônica deixa de valer para a contagem.
  4. Caso sinta necessidade, pode acrescentar outros poemas de forma fixa para analisarem: sonetos, canções em redondilha maior ou menor, cordéis, etc