Oficina 5

Etapa 3

Recursos discursivos e linguísticos

O objetivo desta etapa é analisar os recursos linguísticos utilizados para construir a crônica, sobretudo a partir do olhar para o cotidiano.

Atividades

  1. Proponha oralmente questões que propiciem ao grupo analisar os recursos discursivos e linguísticos utilizados pelo cronista, bem como determinar o tom predominante. Busque garantir a fala do maior número de estudantes possível.
    • O autor é observador ou personagem (foco narrativo)?
    • Como o narrador introduz as personagens?
    • Existe um elemento surpresa?
    • Que aspectos do cotidiano são narrados? De que forma?
    • Como é o diálogo das personagens?
    • É possível localizar o conflito? E o desfecho?
    • O texto encontra-se no discurso direto, ou seja, há a representação do que cada um das personagens falou. Qual o impacto no texto da presença das falas das personagens?
    • Lembre à turma que a crônica é um texto curto que narra episódios corriqueiros e às vezes banais. O tom da narrativa é o da conversa, do bate-papo informal. Há poucas personagens e o fato ocorre em um tempo breve (minutos, algumas horas, período do dia). O lugar onde o episódio ocorre geralmente é um só, bem determinado.
  2. Peça-lhes que releiam o texto para apreender o tom irônico do autor e o uso de expressões típicas do discurso familiar para revelar as desavenças na vida do casal. Depois, proponha-lhes ensaiar o diálogo em voz alta: uma pessoa fará o papel do narrador e as outras duas, das personagens; planejem a entonação de voz, pausa, gestos, para expressar o diálogo estabelecido entre o marido e a mulher.
  3. Proponha que ouçam essa crônica, disponível na aba Áudios. Comente com a turma que várias são as possibilidades de leitura em voz alta, pois a entonação influencia o modo como o leitor interpreta o texto.
  4. Para enriquecer a análise da crônica de Moacyr Scliar, você poderá compartilhar o texto abaixo.

Sobre “Cobrança”

Observe que o cronista escreve num tom jocoso. Como narrador, não faz rodeios; logo no título vai direto ao tema: trata-se de uma cobrança.

No primeiro parágrafo, de forma também concisa e direta, introduz as personagens: cobrador e devedora inadimplente. Não as caracteriza, não diz nada a respeito delas. Indica algumas ações e onde elas ocorrem – o essencial para que quem lê visualize a cena. Ele também estabelece um diálogo entre ambas, explicitando ligeiramente a situação.

Em seguida o cronista introduz um elemento surpresa: quem lê, agora, já não está na frente de um cobrador, mas de um marido cobrador, o Aristides. A mulher, que não ganha um nome, já não é uma mulher qualquer, mas a mulher do cobrador! Essa revelação altera as previsões da leitura e, por isso mesmo, surpreende; estamos perante uma situação aparentemente inusitada, o que nos obriga a mudar o curso de pensamento.

Utilizando-se do recurso do desdobramento dos papéis (marido/mulher; cobrador/devedora), o cronista viabiliza uma reflexão quando apresenta os diferentes papéis que o sujeito social exerce, que muitas vezes são conflitantes. Com isso, o inédito da situação fica mais acentuado e a narrativa pode continuar, agora enriquecida de um novo aspecto.

Neste momento, entra com maior força o cotidiano – elemento tão fundamental e caracterizador do gênero. O autor do texto apresenta o cerne da questão que a crônica aborda: mulher gastadeira, marido que adverte, mulher que não liga para a advertência e as possíveis consequências disso. Quantos das(os) leitoras(es) não ouviram falar disso ou mesmo já não viveram situação parecida? O diálogo é pontuado por um narrador lacônico que constrói a cena e indica o essencial do estado psicológico da personagem, por exemplo, irritada. Ele interrompe duas vezes o diálogo e indica dados essenciais para que seja possível visualizar a cena e compreender a história. Ao final, fecha o texto, concisamente, retomando o texto inicial.

Assim, essa crônica, como muitas outras, refere-se a um tipo de comportamento humano, um comportamento atemporal, o que, por um lado, facilita a identificação de quem lê e, por outro, estabelece a atualidade do assunto. Além disso, o cronista a escreve com recursos bastante interessantes, de forma que a crônica deixa de ser “descartável”, adquirindo um sabor literário.

  1. Para reforçar os aspectos de construção linguística da crônica “Cobrança”, você pode abrir a aula seguinte com uma atividade escrita. Divida a turma em duplas, assim podem trocar sobre as questões.

Atividade de Análise Linguística da Crônica:

Identificação dos elementos de coesão textual:

a) Identifique três elementos de coesão utilizados na crônica e explique como eles contribuem para a estruturação do texto.

*Elementos de coesão ajudam a estruturar o texto, estabelecendo relações entre as partes e conferindo fluidez à narrativa.

Análise dos recursos expressivos:

a) Identifique um exemplo de ironia presente na crônica e explique qual é o efeito gerado por esse recurso.

*Destaque que a ironia contribui para criar uma atmosfera de tensão e humor na interação entre os personagens.

Identificação dos tempos verbais:

a) Identifique três tempos verbais diferentes utilizados na crônica e explique em que contexto são empregados.

*Incentive a turma a observar em que contextos os diferentes tempos verbais – presente, passado, futuro, subjuntivo – são empregados e como eles contribuem para a narrativa, seja na descrição de ações passadas, no relato de fatos presentes ou na expressão de expectativas futuras.

Caracterização dos personagens:

a) Descreva as características principais dos dois personagens presentes na crônica, com base em suas falas e ações.

*Peça que observem traços de personalidade, papéis sociais, motivações e conflitos dos personagens, e relacionem essas características com o desenrolar da trama.

Análise do estilo de linguagem:

a) Identifique pelo menos um recurso estilístico utilizado na crônica (por exemplo, metáfora, hipérbole, personificação) e explique o uso no texto.

*Relembre como esses recursos contribuem para a expressividade do texto, como podem enfatizar sentimentos, criar imagens vívidas ou estabelecer uma conexão emocional com o leitor.

SUGESTÃO DE GABARITO PARA AS QUESTÕES:

Identificação dos elementos de coesão textual:

a) Elementos de coesão utilizados na crônica são: “Ela”, “ele”, “claro que”, “nada”, “já usei”, “falei”, “expliquei”, “avisei”, entre outros. Esses pronomes e expressões coesivas estabelecem uma conexão entre as falas dos personagens, ajudando a manter a coerência e a estruturação do texto.

Análise dos recursos expressivos:

a) Exemplo de ironia: “Você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.” Nessa fala, o personagem utiliza a ironia para enfatizar a sua indignação com a falta de pagamento da dívida.

Identificação dos tempos verbais:

a) Tempos verbais diferentes utilizados na crônica são: “abriu” (pretérito perfeito do indicativo), “estava” (pretérito imperfeito do indicativo), “caminhando” (gerúndio). Esses tempos verbais são empregados para descrever ações passadas e em andamento na narrativa.

Caracterização dos personagens:

Ela: A personagem demonstra preocupação com as consequências das ações do marido e tenta persuadi-lo a interromper o protesto. Ela argumenta e busca alternativas para resolver a situação, mostrando uma postura mais conciliadora.

Ele: O personagem se coloca como um cobrador profissional, insistindo na cobrança da dívida e utilizando o protesto como forma de pressionar a esposa. Ele demonstra determinação em fazer valer suas responsabilidades, mesmo que isso signifique criar conflitos na relação.

Análise do estilo de linguagem:

Recursos estilísticos utilizados na crônica:

a) Ironia: O uso da ironia contribui para criar um contraste entre as palavras ditas pelos personagens e seus verdadeiros sentimentos. Isso gera um efeito cômico e aumenta a tensão na narrativa.

b) Repetição: A repetição de expressões como “você não pagou”, “problema seu” e “devedora inadimplente” enfatiza a insistência do personagem em cobrar a dívida, criando intensidade na argumentação.

Lembrando que essas são apenas sugestões de respostas para as questões. Você pode acrescentar suas próprias questões, análises e justificativas com base na interpretação do texto da crônica.