A partir da leitura da crônica “Tatuapé”, de Daniel Munduruku, conheceremos um pouco do olhar do narrador para a cidade de São Paulo. O objetivo é instigar o olhar da turma para as maneiras de narrar os espaços.
Escrever crônicas envolve conhecer possibilidades, ler diferentes pessoas, prestando atenção no que escrevem e em como escrevem. Requer experimentar e praticar, em conjunto e individualmente, a escrita da sua própria versão de uma crônica que você leu e de novas crônicas. Implica em compartilhar ideias e alternativas e tomar decisões e, desse modo, construir a sua própria voz de cronista.
A escrita coletiva possibilita que estudantes vivenciem, de maneira coletiva e colaborativa, a prática de buscar o gancho para a escrita, de pensar no que gostariam de dizer, de organizar ideias por escrito, pensar em modos de dizer e seus possíveis efeitos de sentido, de aguçar o olhar para detalhes do texto, de reescrever para aprimorar. Escrevendo juntas(os), irão conhecer os movimentos e os desafios da escrita, compartilhar dúvidas e soluções e saber que podem contar com a ajuda de colegas para aprender e construir o seu próprio texto. Nesta oficina sugerimos a construção de um texto coletivo a partir da leitura da crônica “Tatuapé”, disponível na coletânea deste Caderno, de Daniel Munduruku. Confira as sugestões de leitura e de escrita colaborativa e planeje a sua aula.
Atividades
- Organize a turma em semicírculo para facilitar a interação e a participação de todo mundo na discussão da leitura, na análise da crônica e na negociação de escrita coletiva do texto.
- Explique que lerão uma crônica e a analisarão para depois escrever um texto colaborativamente.
- Discuta com a classe suas expectativas de leitura a partir do título “Tatuapé”. Levante hipóteses sobre o que a palavra significa. Ao final, conte que se trata de um bairro da Zona Leste de São Paulo.
- Peça que a turma leia em silêncio o primeiro e o segundo parágrafos e discuta:
- Qual é a situação apresentada no texto?
- De que modo as características atribuídas ao narrador contribuem para essa situação? Que reflexões poderiam ser feitas a partir da situação levantada?
- De que modo o fato de o narrador ser um sujeito indígena1 afeta seu olhar sobre a cidade?
- Siga lendo o texto até o final do sexto parágrafo e discuta:
- Que informações são apresentadas para trazer diferentes perspectivas sobre o tema?
- Relembre-se das figuras de linguagem trabalhadas nas oficinas anteriores e reflita: de que maneira elas colaboram para a construção da narrativa?
- Convide a turma a ler os últimos parágrafos e expressar seus entendimentos, reações e opiniões:
- Que lembranças e referências o narrador evoca para finalizar o texto?
- Instigue uma conversa sobre a maneira como o narrador descreve a cidade.
- Qual o principal elemento que impacta o narrador em sua visita à cidade?
- Qual espaço e elemento são apresentados em oposição à cidade e ao “tatu metálico”?
- Mostre para a turma uma imagem do mapa do metrô de São Paulo e pergunte quantos conhecem esse meio de transporte: https://www.metrocptm.com.br/veja-o-mapa-de-estacoes-do-metro-e-cptm/
- Se possível, exiba um trecho do vídeo Estação Tatuapé (CPTM) – Movimentação de Trens #01 (10:22 – 12:05), assim a turma consegue visualizar os elementos descritos por Munduruku em sua crônica.
- Para você, quais elementos impactam as pessoas que chegam, pela primeira vez, na sua cidade?
- Que elementos você utilizaria para descrevê-la numa crônica?
- Que título você daria para a crônica sobre a sua cidade?
- Você usaria um tom poético, crítico ou bem humorado?
- Analise com o grupo a construção da voz na crônica (em primeira pessoa: autor-personagem).
- Observe com a turma a organização de parágrafos e os efeitos de sentido de tempos verbais.
- Que marcas textuais constroem a voz do texto (quem escreve)? Como a identidade do narrador impacta seu olhar para a cidade?
- Ressalte como, na crônica, a construção da voz no texto é essencial para que o diálogo com o leitor seja estabelecido, a partir da presença das memórias do narrador se fazendo presentes para construir a conversa. O pacto de leitura leva em conta que a crônica é um gênero que pode reunir características de realidade e de ficção.
[…] nas crônicas de inscrição subjetiva, há uma voz textual recíproca à identidade do autor empírico, o que verificamos por meio de indícios textuais, entre eles informações biográficas, nome do autor, entre outros. Esse enunciador fala sobre sua identidade, sobre sua trajetória, como acontece em gêneros biográficos – autobiografia, cartas, diários etc. Ao falar de si, o cronista cria uma persona, uma imagem, quase uma personagem […]. Dessas imprecisões, bem como dos discursos assumidos, pode surgir uma autoficção, um “dizer a si mesmo” que não se aprisiona ao factual, que é, também, criação. (BECKER, 2013a, p. 46)
[…] por definição [a crônica] não pretende ser ficcional in toto, e portanto [é] um texto da ordem da dissertação no sentido de ser um depoimento de uma voz real, de alguma pessoa real. (FISCHER, 2009, p. 82)
- Registre na lousa o quadro a seguir, para analisar o propósito de cada parágrafo e os tempos verbais utilizados. Complete as informações sobre o primeiro parágrafo com a turma, para dar um exemplo, e peça que, em duplas, completem as informações sobre os demais parágrafos. Após, discuta as respostas com a turma.
Tempo verbal e função |
Exemplo |
Presente – descrever fluxo de pensamento atual. |
“Penso no homem da floresta, acostumado com o silêncio da mata, com o canto dos pássaros ou com a paciência constante do rio que segue seu fluxo rumo ao mar. Penso nos povos da floresta.” |
Presente – apresentar situações rotineiras e fatos corriqueiros. |
“Os índios sempre ficam encantados com a agilidade do grande tatu metálico.” / “O tatu da floresta tem uma característica muito interessante: ele corre para sua toca quando se vê acuado pelos seus predadores.” |
Passado – referir-se a uma ação já ocorrida. |
“Ficava muito tempo atrás desse tatu, apenas para observar o caminho que ele fazia.” |
Passado – Retomar memórias e situações antigas. |
Pensei também no tempo de antigamente, quando o Tatuapé era um lugar de caça ao tatu. |
- Com base nas atividades a seguir, explique os efeitos de sentido do uso do presente histórico, contrastando-o com o uso dos verbos no passado. Confira se a turma percebe como o uso do presente histórico confere vivacidade ao texto, convidando quem lê a se colocar na cena descrita como se tivesse presenciando os acontecimentos, acompanhando o fluxo de pensamento do narrador.
- expressar a mudança de opinião da narradora, por exemplo, com expressões referenciais opostas (substantivos e adjetivos); orações justapostas ou subordinadas para marcar o antes e o agora; uma narrativa de ter feito uma tatuagem e o que o corpo dizia antes e diz agora;
- finalizar a crônica, por exemplo, expressando um sentimento, formulando uma pergunta, marcando uma nova voz para o autor do texto.