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(90 minutos)
Estrutura dos textos dissertativos
O texto dissertativo tende a se organizar em três grandes partes (introdução, desenvolvimento e conclusão), que, grosso modo, correspondem, respectivamente, às decisões tomadas pelo articulista a respeito de como começar o seu texto, dar a ele a melhor sequência e, por fim, “passar a palavra”, com a convicção de “ter dado o recado”.
Introdução: Cumpre várias funções, pois apresenta o assunto; aponta, direta ou indiretamente, a questão polêmica; situa essa questão no tempo e no espaço (contextualização); especifica o âmbito do debate; indica, direta ou indiretamente, quem são seus interlocutores – apoiadoras(es), adversárias(os), as(os) próprias(os) leitoras(es -; esclarece as motivações da(o) articulista (“Escrevo esse artigo porque…”) etc. Pode, ainda que não obrigatoriamente, apresentar a tese – ou o ponto de vista – da(o) autora(or). Normalmente, ocupa um parágrafo, logo no início do texto.
Desenvolvimento: Parte do artigo em que o articulista explica e justifica as posições e a opinião dele sobre o assunto – apresentando argumentos, indicando as condições em que devem ser recebidos (“é certo”; “é provável”; “é possível”; “em tais ou quais situações” etc.), expressando convicções, esclarecendo o sentido de algum vocábulo importante, analisando e avaliando fatos, examinando dados de pesquisas, resumindo e contestando posições contrárias defendidas por adversários etc. Assim, a principal função do desenvolvimento é reunir e examinar informações que sirvam de argumentos adequados para a sustentação da tese.
Conclusão: Como o próprio nome indica, a conclusão não é apenas o fechamento do texto, mas, principalmente, o ponto de chegada de todo o raciocínio desenvolvido. A principal função da conclusão é (re)apresentar explicitamente a opinião da(o) articulista. Mesmo que ela já tenha aparecido na introdução – ou, menos provavelmente, no desenvolvimento –, é na conclusão, ou seja, depois de todo um adequado trajeto argumentativo, que ela aparece como opinião fundamentada e, portanto, como tese.
Retrocesso cultural: Tudo começa com “um passinho”?
Rayana do Nascimento Cruz
[INTRODUÇÃO]
[DESENVOLVIMENTO]
[CONCLUSÃO]
Que informações a autora usa para contextualizar o tema?
Note-se que o grande tema do artigo de Rayana é a cultura no estado em que vive, Pernambuco, por isso, ela lança mão da enumeração de fenômenos culturais como as rodas de coco e as xilogravuras de J. Borges.
Qual é o tema central do artigo e a questão polêmica que procura debater?
A resposta está no final da introdução: “atualmente, tem sido invadido por uma nova febre popular – o passinho – que tomou conta do cenário artístico pernambucano, nos fazendo refletir: – É um retrocesso cultural?”. A autora falará sobre uma nova manifestação cultural e discutirá se representa progresso ou retrocesso para a região.
O que a autora defende?
Ao longo do texto, Rayana aprofunda-se na contextualização do tema para explicar às(aos) leitoras(es) o que é o passinho. Apresenta aspectos positivos da prática, como a inserção social de jovens em situação de vulnerabilidade social, como acontece no segundo e no terceiro parágrafos. Entretanto, também demonstra insatisfação com o conteúdo de algumas letras de músicas tocadas nas batalhas de passinho.
Em que momento do texto a tese – ou o ponto de vista – da autora fica claro?
Vale chamar atenção para a conclusão, no quinto parágrafo, em que a autora responde à questão proposta na introdução: “Acredito que o passinho não seja um retrocesso propriamente dito, pois é fato que está ajudando a vida dos jovens nas comunidades de Itamaracá. Mas para ser reconhecido como mobilização, precisa de uma “reforma” sem deixar vestígios de preconceito, machismo e conteúdos eróticos que infelizmente são fortemente consumidos pela indústria”. Desse modo, embora a questão polêmica seja identificada na introdução, é apenas na conclusão, como derivação do desenvolvimento argumentativo, que a autora deixa claro seu ponto de vista, “passa o recado” para o público.
A estabilidade nos gêneros do discurso
Falamos apenas através de certos gêneros do discurso, isto é, todos os nossos enunciados têm formas relativamente estáveis e típicas de construção do conjunto. Dispomos de um rico repertório de gêneros de discursos orais (e escritos). Em termos práticos, nós o empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos podemos desconhecer inteiramente a sua existência. […] Nós aprendemos a moldar o nosso discurso em forma de gênero e, quando ouvimos o discurso alheio, já adivinhamos o seu gênero pelas primeiras palavras, adivinhamos certo volume (isto é, uma extensão aproximada do conjunto do discurso), uma determinada construção composicional, prevemos o fim, isto é, desde o início temos a sensação do conjunto do discurso que, em seguida, apenas se diferencia no processo de fala. Se os gêneros do discurso não existissem e nós não o dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente cada enunciado e pela primeira vez, a comunicação discursiva seria quase impossível (p. 38 e 39).
Trecho do texto “Os gêneros do discurso”, de Mikhail Bakhtin, disponível no livro de mesmo nome, com tradução de Paulo Bezerra (Editora 34, 2016). Grifos do autor.
Professora(or),
tendo como ponto de partida a realidade das(os) estudantes, procuramos consolidar o conceito de gênero textual associado às práticas reais de uso da linguagem. Valorizamos também os olhares sobre o território para problematizar questões sociais e, mais uma vez, relacionar o estudo do artigo de opinião ao impacto sobre a vida cotidiana e à vivência crítica e democrática.
Na oficina 6, nossa pauta será o planejamento dos artigos de opinião. Após a reflexão sobre função social e estrutura composicional, faremos uma prática de cartografia para investigar o território. Também discutiremos estratégias para construir o ponto de vista sobre um tema e maneiras de organizar as ideias que as(os) estudantes desejam defender.