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(180 minutos)
A presença de policiamento nas escolas inibe a violência?
O tema do debate e os contextos escolares
Professora, professor, o tema do debate deste caderno é uma sugestão. Trata-se de uma questão polêmica – como é pertinente ao artigo de opinião. Entretanto, caso este seja um assunto sensível em sua comunidade, é possível mudar a pergunta provocadora, bem como adaptar ou suprimir indicações da oficina de alimentação temática que você considere como “gatilhos” para estudantes.
Uma possibilidade de pergunta é “Como construir a cultura de paz na escola?”. Outras propostas são igualmente pertinentes à faixa etária, como o uso excessivo das redes sociais por adolescentes ou os limites do humor. Você tem experiência profissional e conhece os grupos com que trabalha. Por isso, é a pessoa indicada tanto para definir a temática quanto para mediar uma discussão de forma imparcial, objetiva, ética e respeitosa.
[…] a alimentação temática refere-se à proposição de diferentes atividades em sala de aula, com o objetivo de favorecer a ampla reflexão sobre um determinado assunto, de modo a potencializar a condição de os estudantes “terem o que dizer”.
É importante compreender que o trabalho envolvido na alimentação temática não deve se limitar ao gênero foco de uma SD, ou seja, ainda que o objetivo seja favorecer o aprendizado de um gênero discursivo como o artigo de opinião, o planejamento docente deve contemplar a seleção criteriosa de exemplares de textos deste e de outros gêneros discursivos, tomando como referência a questão a ser tratada. Assim, a variedade de gêneros na escolha das atividades de alimentação temática torna-se elemento-chave para a mais completa e consistente apreensão de sentidos sobre determinado assunto em estudo.
Trecho do artigo “7 razões para navegar pelos Percursos Formativos” publicado no Portal Escrevendo o Futuro. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/sobre-o-programa/301/7-razoes-para-navegar-pelos-percursos-formativos Acesso em: 9/7/2023.
A cultura de paz consiste em valores, atitudes e comportamentos que refletem e inspiram a interação social e a partilha com base nos princípios de liberdade, justiça e democracia, todos os direitos humanos, tolerância e solidariedade, que rejeitam a violência e se esforçam para prevenir conflitos, enfrentando suas causas profundas para resolver problemas através do diálogo e da negociação e que garantem o pleno exercício de todos os direitos e os meios para participar plenamente no processo de desenvolvimento de sua sociedade”.
Trecho da Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução A/53/25) 1998
Disponível em: https://www.unesco.org/biennaleluanda/2021/pt/recursos-sobre-cultura-da-paz Acesso em: 10/9/2023
Telma Vinha, professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, explica porque o policiamento não é a única solução para a violência nas escolas.
Entrevista com Telma Vinha (Brasil, 2023, 9min17s)
“A escola é a principal responsável por políticas escolares transformadoras da cultura da paz, porém ações fora do perímetro escolar e de remediação imediata necessitam de apoio do poder público na figura do policial ostensivo especializado naquele ambiente. Por isso, a necessidade de um policiamento escolar que atenda os princípios dos Direitos Humanos, e colabore com o planejamento pedagógico de forma construtiva”.
Trecho de artigo de Renata Braz das Neves Cardoso (Doutoranda e Mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília) e Fagner de Oliveira Dias (Doutorando e Mestre em Administração pela Universidade de Brasília).
Disponível em: https://fontesegura.forumseguranca.org.br/a-violencia-escolar-e-a-funcao-do-batalhao-de-policiamento-escolar/ Acesso em: 10/10/2023
O presente projeto de lei tem por objetivo garantir a segurança das escolas públicas estaduais, oferecendo uma opção de segurança armada aos alunos, professores e demais funcionários. A presença de policiais militares de folga pode ajudar a prevenir e inibir a ocorrência de crimes e violências nas escolas, aumentando a sensação de segurança dos envolvidos.
A presença do tráfico de drogas próximo às escolas públicas vem aumentando, representando boa parte do lucro dos traficantes. Diariamente, criminosos se aproveitam da inocência de crianças e adolescentes para vender narcóticos ou atrair esses jovens para a vida do tráfico. É fundamental dar fim a essa realidade.
Além disso, alunos e professores passam constantemente por situações de risco no ambiente escolar. Um levantamento recente feito pelo Instituto Locomotiva junto ao Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) revelou que 48% dos estudantes e 19% dos professores da rede pública paulista sofreram algum tipo de violência nas dependências das escolas que frequentam […]”.
Projeto de lei nº 447/2023, apresentado pelo deputado estadual Guto Zacarias à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em abril de 2023
Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/spl/2023/04/Propositura/1000486028_1000623295_Propositura.pdf Acesso em: 10/10/2023
“[…] Aumentar a presença do policiamento nas escolas e nos arredores, criar aplicativos ou botões que podem ser acionados em casos de emergência para alertar órgão da polícia ou dos bombeiros são algumas das ações discutidas atualmente pelos governos do Rio de Janeiro e de São Paulo, por exemplo, [para aumentar a segurança nas escolas].
‘As experiências que vimos nos Estados Unidos, como o que aconteceu em Uvalde, no Texas, nos indicam que colocar detector de metais ou ronda policial dentro da escola não aumenta a segurança de fato. Essas medidas acabam por piorar a situação porque deixam todos os adolescentes e a comunidade escolar em estado de alerta, principalmente estudantes negras(os) e de outras minorias que são vítimas da violência policial diariamente fora da escola’, ressalta Letícia Oliveira, editora do site do coletivo de informação El Coyote”.
Trecho de reportagem de Stephanie Kim Abe sobre ataques às escolas para o Cenpec.
Disponível em: https://www.cenpec.org.br/noticias/violencia-escola Acesso em: 10/10/2023
O que é uma audiência pública?
O site Politize! explica como as audiências funcionam e conta como participar desse tipo de atividade, que faz parte do exercício da democracia.
Acesse: https://www.politize.com.br/audiencias-publicas-como-participar/
Ator social | Posicionamento | Aluna(o) ou Grupo |
Mediador do debate | Neutro | Função pode ser assumida pela equipe docente |
Secretárias(os) de segurança pública | A favor do policiamento dentro das escolas | |
Sindicato de professoras(es) | Contra o policiamento dentro das escolas | |
Representantes de alunas(os) de escolas públicas e privadas – Grupo 1 | Contra o policiamento | |
Representantes de alunas(os) de escolas públicas e privadas – Grupo 2 | A favor do policiamento | |
Especialistas e pesquisadores de universidades | Contra o policiamento | |
Associações de bairro | A favor do policiamento dentro das escolas | |
Avaliadores do debate | Neutros |
Como se preparar para um debate regrado
Investigação é a base: Pesquise informações em fontes de confiança sobre o tema e sobre todos os atores sociais envolvidos na discussão. Valem sites de notícias confiáveis, artigos acadêmicos, entrevistas de especialistas, leis e vídeos de divulgação científica, por exemplo.
Poucas e boas: Em vez de recorrer a muitas fontes, escolha algumas e aprofunde-se nas informações. Leia os implícitos e os explícitos para estruturar a argumentação.
Cartas na manga: Faça sínteses, por escrito, de argumentos e de estratégias.
Treino é treino, jogo é jogo: Antecipe potenciais argumentos dos outros participantes e organize respostas em tópico, por escrito. Membros do grupo podem também assumir diferentes papéis como forma de praticar o improviso diante de um dado ou argumento surpresa lançado por oponentes.
Contadores de história: Use casos reais, atrelados a histórias de pessoas, para ganhar a atenção – e a emoção – de quem assiste ao debate.
Em voz alta: Treine a apresentação dos argumentos – com o espelho do banheiro, com os colegas, com professoras(es) – para praticar a oralidade e combater a ansiedade de falar em público.
Dinâmica do debate
Discursos iniciais: Até 1 minuto para cada grupo (cerca de 6 minutos no total)
Cada grupo que representa os atores sociais será chamado pelo mediador para fazer um discurso inicial, de até um minuto, em que apresente seu posicionamento e as principais razões que conduziram a tais ideias.
Debate mediado: Até 1min30s para cada grupo (cerca de 30 minutos no total)
O mediador organizará uma lista de inscrição para o debate e cada grupo poderá falar até três vezes (1min30s de duração cada). A cada fala, é possível apresentar novos argumentos, fazer perguntas ou rebater ideias apresentadas por outros grupos. É possível também combinar estratégias coletivas de argumentação com aliados. Entre um turno de fala e outro, as(os) estudantes podem se reunir para rever a estratégia, desde que não atrapalhem a dinâmica.
Debate sem mediação: De 5 a 10 minutos
O mediador determina um tempo para esta oficina do debate, os grupos se levantam de suas posições e organizam com autonomia os turnos de fala.
Discursos finais: Até um minuto (cerca de 6 minutos no total)
Os grupos retomam momentos-chave do debate para reforçar a defesa de sua perspectiva sobre o tema para os avaliadores.
Sugestão de critérios de observação
Professora(or),
em uma época de polarização política e de criação de bolhas sociais como a que vivemos, o papel – atribuído também à escola – de formação democrática e cidadã se amplia. Aqui, propusemos uma simulação de debate, que preza pelo exercício do diálogo e remete a situações da vida na esfera pública. É evidente que a atividade, além de contribuir para a escrita dos artigos de opinião, pode extrapolar o papel didático e embasar assembleias com temáticas relativas ao universo da escola em que você atua, para que as(os) estudantes tenham experiências efetivamente partícipes dos processos decisórios de uma instituição que frequentam quase diariamente.
Na Oficina 5, discutiremos a função social e a estrutura composicional do artigo de opinião. A análise desses textos demonstrará como argumentos construídos no debate público se transformam em escritos – e como a escrita de artigos de opinião fomenta o debate público, alimentando, portanto, um ciclo de reflexões por meio da linguagem em suas diferentes formas.