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Chegou a hora tão esperada!
Nesta oficina os alunos e alunas escreverão um poema individualmente. Não se esqueça de que do seu entusiasmo vai depender o bom êxito da proposta de trabalho.
De 15 em 15 minutos
Um ônibus passa aqui em frente
O Feitoria Cohab
Levando e trazendo gente
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
Pra poder chegar no céu
Desde o centro da cidade
Percorre a avenida inteira
Dobra no arroio Peão
Meu lugar da brincadeira
Na última rua ele entra
À direita, prédios cinzentos
É a primeira parada
Dos blocos de apartamentos
Avança e logo freia
Chega na parada 1
Eu corro por entre os blocos
Subo veloz e zum!
Escolho o banco pra sentar
Quero perto da janela
Pra ver a Cohab passar
Quer dizer, eu passar por ela
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
Desenrola o carretel
Logo ali já vem a 2
E com ela um quebra-mola
Grafite que salta aos olhos
No muro da minha escola
E é tanto quebra-mola
Sobe e desce, sobe e desce…
Gangorra quebrada na praça
Imagem que me entristece
Sinto o cheiro no ar
Do xis que não comi
É na terceira parada
Lugar que nunca desci
Olho as garotas na rua
Estão passando batom
Cuidando o outro lado
Onde alguém liga o som
Agora o postinho da 4
Vacina, hoje, não!
Vejo minha antiga escola
Amiga do coração
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
E os rabiscos no papel
Na curva da 5 pra 6
Sobe nela o pensamento
Estou mais alta que as casas
No rosto me bate o vento
Na 7 é calmaria
Mas já vou me preparando
Seguro firme no banco
Porque a lomba vem chegando
Iupiiiiii!
Sinto um frio na barriga
8, 9 e 10
Ah, já vai terminar a descida!
A 12 é a última parada
Dela não posso passar
Na 11 já fico atenta
É quase hora de saltar
As portas se abrem
Pulo e saio na corrida
Da parada 12 pra 1
A rua é muito comprida
Não posso me atrasar!
Entre os blocos vou voando
Lá vem outro carrossel
Meu Feitoria chegando
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida…
Um dia não desço na 12!
Um dia eu chego no céu!
O poema é formado por quadrinhas, exceto pelas três últimas estrofes que têm 3, 1 e 1 versos, respectivamente. Enquanto as quadras expressam um ritmo de ônibus em movimento que vai parando (mudando de estrofe) conforme as “paradas” onde as pessoas descem e sobem dele, as últimas estrofes quebram essa regularidade. Essa quebra, no entanto, é paulatina e harmônica, pois primeiro diminui-se para 3 versos e, em seguida, as duas últimas estrofes contêm apenas um verso cada. Essa diminuição paulatina sugerem a suavidade do próprio carrossel encerrando seus giros.
As rimas, assim como a presença do belo refrão, colaboram para a manutenção da regularidade do ritmos e, por fim, as metáforas e outras figuras de linguagem (sobretudo a equiparação entre ônibus e carrossel, e a onomatopéia criada pela repetição de termos como “ronca ronca o motor”) acrescentam um profundo lirismo ao texto.
Vale destacar também que não há uma exaltação da cidade, antes, uma exibição dela a partir de um ônibus em movimento, como uma câmera focalizando aspectos bastante corriqueiros e guiada pelos olhos curiosos e carinhosos de uma criança.